quarta-feira, 30 de março de 2011

Governo para Portugal


Num momento de crise política, avançamos com uma proposta, elaborada em 2010, para um Governo de Salvação Nacional.


Texto Victor Hugo Cristo


Presidente da República: Fernando Nobre
Primeiro-Ministro: António Guterres
Ministro da Agricultura: António Barreto
Ministro do Ambiente: Francisco Ferreira
Ministro da Administração Interna: Pacheco Pereira
Ministro da Cultura: Hermano Saraiva
Ministro da Defesa: Freitas do Amaral
Ministro da Economia:João Salgueiro
Ministro da Educação: Roberto Carneiro
Ministro do Ensino Superior: Mariano Gago
Ministro das Finanças: Hernâni Lopes
Ministra da Justiça: Maria José Morgado
Ministro do Negócios Estrangeiros: João de Deus Pinheiro
Ministro das Obras Públicas: Manuel Pinho
Ministro da Solidariedade Social: Bagão Félix
Ministro da Saúde: António Arnaut (pai)
Ministro Assuntos Parlamentares: Manuel Alegre.

Desenho reproduzido do semanário "Expresso" de 16/10/1999.

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sexta-feira, 25 de março de 2011

A Ciência da Polis X


Na décima parte, a última deste ensaio político, defende-se o poder legítimo, aquele que é capaz de assegurar a alimentação e a habitação digna a todos e, além destes direitos adquiridos, elevar a qualquer cidadão, a sua condição humana: mais cultura aos pobres e filantropia aos ricos.

Texto José Luís Maio fotografia Dina Cristo


Vamos continuar a debruçar-nos sobre os campos principais de actividade que exigem dos responsáveis da polis uma acurada atenção e intervenção com vista à satisfação dos direitos de todos os cidadãos. Convém, no entanto, ter presente que estes são não só 1. indivíduos que, se devidamente estimulados, podem desenvolver determinadas capacidades que lhes permitam concretizar certos objectivos, individuais e colectivos (nacionais ou internacionais), o que os enobrece, dignifica e realiza, pessoal e socialmente, mas, sobretudo, 2. seres espirituais em potência, idealmente mais conscientes do propósito de transformar essa potência em acto, isto é, em manifestar de modo visível essa natureza divina. Quer isto dizer que o Homem, sendo (em essência, em germe, em semente) um ser divino, tem a oportunidade de, através da sua vinda à existência e por meio de um esforço constante de aprimoramento da sua consciência, fazer desabrochar paulatinamente essa semente, ou essa potencialidade, que chamamos de “divina”. Ora isso pressupõe, inquestionavelmente, que no passado mais ou menos recente muitas etapas foram arduamente percorridas (com “sangue, suor e lágrimas”) e várias metas alcançadas.
Em extensões cada vez mais vastas do planeta conseguiu-se um elevado desenvolvimento humano a todos os níveis. Neste caso, é a conquista do que habitualmente se designa por direitos humanos, desde os físicos até aos sociais, como o direito à vida e à saúde e o direito ao saber e ao bom-nome. E se a tudo isto chamamos progresso, evolução, cultura e civilização, ao seu contrário teremos de chamar retrocesso, atrofia, incultura e barbárie e, perdoe-se-me o neologismo, selvilização.
O simples facto de alguém nos negar a possibilidade de percorrer as etapas necessárias aos legítimos fins a que a nossa natureza mais nobre aspira, seja porque nos barra o caminho que temos diante de nós, seja porque nos obriga a repetir as etapas já anteriormente calcorreadas, é por si só inconcebível à luz do senso comum mais elementar, como seria igualmente absurdo que qualquer estudante, após ter prestado boas provas académicas no fim do ensino secundário, fosse obrigado a repetir todos os anos da escolaridade obrigatória, ou vedar-lhe a entrada no ensino superior sem qualquer justificação ou por mero capricho.
Será que, nesta esteira, ou seja, para que possamos ascender a uma vida digna, culta, nobre e espiritualmente realizada, por meio de uma actividade cada vez mais intensa da alma – representada pelos “bens divinos” de Platão, “a sabedoria, a moderação, a justiça e a coragem” –, o direito à vida elementar, através de uma alimentação e uma habitação básicas – representada pelos “bens humanos” platónicos, “a saúde, a beleza, o vigor e a riqueza” –, está assegurado a todos os portugueses? É óbvio que não! Quais dos poderes institucionais zelam pelo cumprimento da nossa Constituição nesta matéria? Nenhum, evidentemente, pois quem exerce (ou devia exercer) tal função fiscalizadora pertence à (ou dela é refém) mesma “família” político/partidária governante!
Passemos agora a algumas considerações básicas:
1. Assim, nem a alimentação, nem a habitação, nem o acesso às fontes básicas de sobrevivência de alguém poderão jamais depender da obtenção de um mero emprego ou profissão, sob pena de, como tem acontecido, o “homem continuar a ser o lobo do homem”, devorando-lhe as entranhas físicas, morais e espirituais. Todo o Estado digno desse nome tem de garantir a qualquer cidadão, só pelo simples facto de ter nascido, o direito a uma alimentação e a uma habitação condignas.
Recentemente, mais precisamente em Maio de 2008, deparámo-nos novamente com a prova, perniciosa e atávica, de falta de informação e de conhecimentos que ainda influenciam a esmagadora maioria da mentalidade nacional. Ei-la, extraída de uma entrevista do jornal Público ao coordenador do estudo “Um Olhar Sobre a Pobreza”, Alfredo Bruto da Costa (o sublinhado é nosso):
Pergunta: «Há uma afirmação dura: “A sociedade portuguesa não está preparada para apoiar as medidas necessárias” no combate à pobreza...».
Resposta: «Isso porque num inquérito europeu de 2002 dois terços dos portugueses atribui a pobreza a factores que não são solúveis: fatalismo, má sorte, preguiça dos pobres. Se eu disser que vou tomar uma medida que terá alguma desvantagem para os que têm mais rendimentos, a sociedade portuguesa não vai perceber isto. Um dos programas de luta contra a pobreza tem que ser o de esclarecer a opinião pública sobre as verdadeiras causas da pobreza».
Custa a acreditar que um povo, que se quer culto, desenvolvido, bem-educado e despido de preconceitos tão obsoletos, mantenha esta reserva mental sobre um problema tão grave como é o da pobreza. Mas como factos são factos, e “contra factos não há argumentos”, tentemos, ao lado de Bruto da Costa, determinado e lúcido combatente pelo Bem Comum, compreender (para depois esclarecer) “as verdadeiras causas” deste tipo de conservadorismo, no mínimo vergonhoso e decadente. Não nos parecerá difícil consegui-lo se o fizermos à luz de um excerto publicado em "A Ciência da Polis III":
“A Igreja Católica é a maior fraude da História. Há 1700 anos que oprime as consciências. Dos cérebros, tantas vezes perversos e tantas vezes cruéis, dos que fizeram a sua ortodoxia, saiu a teologia absurda, pueril e monstruosa, partilhada nos aspectos essenciais pelas Igrejas protestantes saídas do seu seio. Os melhores e mais puros cristãos, juntamente com os sábios pagãos – mais a sua magnífica filosofia, ciência, arte e cultura – foram perseguidos e eliminados. Pensar, estudar e investigar foram amaldiçoados por Papas e seus ideólogos. O estigma do pecado e da condenação ao inferno, a eliminação da liberdade de pensamento, a hecatombe de vítimas provocadas pelos apaniguados da Igreja Romana desvirtuaram o genuíno sentimento religioso e condenaram milhões a acreditar nas mais estúpidas concepções”.
Estes factos, que são verdades irrefutáveis, ainda ecoam no subconsciente (onde reside o nosso instinto de sobrevivência) da maioria dos portugueses, afectando a sua lucidez mental e a sua nobreza de sentimentos. Como se isto não bastasse, e na outra vertente, a política de educação continua a exigir-lhes a mesma e obsoleta dependência e menoridade face ao autoritarismo dos poderes. Não será, portanto, de admirar que na sociedade portuguesa do século XXI – que, enquanto país membro de uma das maiores potências mundiais – a União Europeia – em inúmeros domínios, como o económico, político, científico e social, já deveria estar livre do ferrete do obscurantismo, do fanatismo, da superstição, do egoísmo e do preconceito – ainda se usem conceitos tão abstractos e com tantas implicações em todos os níveis da realidade humana como “fatalismo”, “má sorte”, “preguiça dos pobres”!
Talvez a maior parte dos dois terços de portugueses que responderam ao inquérito de 2002 dessem, hoje, uma resposta diferente, pois teriam uma consciência mais lúcida, mais próxima do quotidiano, porque expostos não só aos seus próprios fatalismos e más sortes, mas principalmente à sua própria preguiça, agora na situação de novos pobres. É que, quando o mal bate não apenas à porta dos outros, mas também à nossa, parte da sobranceria que nos tolhe a razão desaparece. Já devíamos ter aprendido o suficiente com a sabedoria popular para saber que “há males que vêm por bem” e para, quando confrontados com os problemas económicos, deixarmos de nos iludir com o sedutor, mas nunca eficaz, “passar a batata quente das nossas mãos para as dos outros”!
Finalmente, os pobres: terão eles, de facto, uma tendência natural para a preguiça? É, no mínimo, estranho que assim seja, pois é duvidoso que lucrem algo com ela. E os ricos…? Quem beneficiará com a posse da riqueza, os ricos ou os pobres? Então, será que tal bênção divina estimulará os ricos a trabalhar para acabar com tais privilégios? Pelos vistos, houve, nesse célebre inquérito, quem se tivesse esquecido do nosso Almeida Garrett nas “Viagens na Minha Terra”, publicado em 1846!: “…Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal; comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas-políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico. Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já deve de andar orçado o número de almas que é preciso vender ao Diabo, o número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro – seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis”.
Ao não garantir este direito basilar – comida e habitação – nenhum dos órgãos do poder político, até ao presente, é legítimo (cumpridor da Lei), pois defrauda de forma grosseira e vergonhosa as expectativas (isto é, a Lei suprema, o Espírito em cada ser) que cada cidadão activo ou potencial, isto é, adulto ou criança, nele deposita, pois, sem vermos assegurados os direitos fundamentais, os “bens humanos”, jamais poderemos obter os “bens divinos”. É como acreditar que conseguimos criar belas e inspiradoras obras de todo o género, ou pensar abstractamente em valores universais e princípios humanos ou em novas formas de organização social quando a fome nos faz contorcer de dor.
Quanto ao significado real de pobreza, parece não restar dúvidas de que esta se encontra hoje reduzida à dimensão mais visível e material: a monetária. Mas será mesmo assim? Quantos pobres nunca permitiram que ninguém lhes retirasse a dignidade? E de quantos ricos podemos dizer o mesmo? Bastará recordar o simbolismo bíblico de Job, que exemplifica na perfeição um tipo psicológico que faz parte do Reino Humano.
E, quanto à alegada e inerente compensação em dinheiro pelo esforço efectuado em qualquer actividade ou profissão, é suficiente pensarmos nas crianças (criadoras por excelência, segundo Platão e João dos Santos, distanciados no tempo mais de dois milénios), tão bem referenciadas num projecto belo, inovador e pleno de potencialidades – o Projecto Vénus: «Os seres humanos precisam de um ‘estímulo’ recompensador para fazer coisas significativas? Esta é uma perspectiva triste e incrivelmente negativa do que seja o ser humano em geral. Supor que uma pessoa precise de ser “motivada estruturalmente” ou “forçada” a fazer algo é simplesmente absurdo. Lembremo-nos de quando éramos crianças e não tínhamos a menor ideia do que fosse dinheiro. Nós brincávamos, éramos curiosos e fazíamos muitas coisas... Porquê? Porque queríamos. No entanto, conforme o tempo passa no nosso sistema, a curiosidade e auto-motivação naturais são extirpadas das pessoas, pois elas são forçadas a ajustar-se a um sistema de trabalho especializado, fragmentado, quase pré-definido para poderem sobreviver. Por sua vez, isso costuma criar uma revolta interior natural nas pessoas devido à obrigação, e foi assim que separámos os momentos de “lazer” e de “trabalho”; e a preguiça, que aqueles que defendem o sistema monetário (por alegar que ele cria estímulo) não reconhecem. Numa sociedade verdadeira, as pessoas seguem as suas inclinações naturais e trabalham para contribuir para a sociedade – não porque são “pagas” para isso, mas porque têm a consciência de que colaborar com a sociedade ajuda tanto a si próprias quanto a todas as outras pessoas. Esse é o estado elevado de consciência que esperamos transmitir. A recompensa pela sua contribuição para a sociedade é o bem-estar daquela sociedade... o que, por consequência, é também o seu bem-estar…».
2. Contrariamente ao que perpassa pelas esferas dos vários poderes ilegítimos – e ouso acrescentar que não temos hoje nenhum poder que não o seja, pois todos têm degradado a condição humana, em vez de a elevar, seja a dos pobres (tornando-a menos pobre e ignorante e mais culta e exigente), seja a dos ricos (tornando-a menos rica e mais filantropa) –, existem de facto direitos adquiridos. Trata-se dos direitos civilizacionais, daqueles que permitem que jamais se regrida da civilização para a selvajaria e pelos quais tantos dos nossos antepassados sacrificaram a própria vida e o que de melhor e mais nobre possuíam.
Somente aqueles que pretendem e lutam para que um dia os poderes se tornem legítimos são capazes de compreender, transmitir e garantir que a consolidação da observância desses direitos se deve estender aos que deles ainda estão arredados, e nunca – como alguns ditadores encobertos e disfarçados de democratas pretendem – que sejam os “deserdados” o termo de comparação para que os considerados “privilegiados” percam os frutos do progresso, pois o resultado inexorável deste tipo de mentalidade será o despojamento final da dignidade de todos, como nos recorda a triste trilogia do passado “clero, nobreza e povo”. A eliminação dos direitos adquiridos significará a absoluta paralisia de toda a acção, vida, movimento, produção e investigação inerentes a todos os indivíduos, mesmo primitivos, bem como a total hecatombe e desmoronamento da Humanidade. Façamos a analogia deste conceito de “direitos adquiridos” – para avaliar da sua pertinência e sustentabilidade – com um exemplo físico, material: a construção de uma ponte. Como todos sabemos, só é possível unir as duas margens de um rio, que significa unir horizontalmente cada extensão do tabuleiro, após a consolidação vertical dos pilares sobre o leito do mesmo. A partir dos pilares, vai-se avançando na direcção desejada até se cobrir toda a extensão desse abismo inicial. Em casos particulares, a ponte possui um único pilar – que fica situado a meio do leito do rio –, de onde saem simetricamente, isto é, avançando em simultâneo para as duas margens, uma espécie de “braços ou carrinhos” até se consumar a ligação à terra firme. A colocação simétrica e simultânea dos dois “braços” evita a queda do pilar, que seria inevitável com a projecção de um único para uma margem (com a intenção de só depois se ligar à margem oposta). Nesta analogia, podemos metaforicamente vislumbrar facilmente a ascensão e o reencontro final da Humanidade – inicialmente separada pelo abismo das desigualdades, dos egoísmos e da indiferença individual e de grupos isolados –, cujos pilares suportam e permitem o progresso sempre renovado e cada vez mais abrangente e inclusivo. Assim, as conquistas anteriores – ou direitos adquiridos de hoje – de alguns pioneiros no passado tornar-se-ão no futuro património de todos.
3. Nenhum trabalho, ofício, instituição deverá ser um fim em si mesmo, mas antes um instrumento ao serviço do Bem Comum e a sua extinção não pode significar a desgraça para os seus profissionais, mas, pelo contrário, a ascensão a um patamar superior de cultura, consciência e civilização. Basta pensarmos numa sociedade sem prisões nem hospitais para compreendermos isto.
Aliás, a ser assim, aqueles que tivessem escolhido a profissão de guarda prisional estariam definitivamente dependentes da existência e do aumento de condenações a prisão efectiva dos seus compatriotas. Nenhum juiz ou advogado deveria querer ver perpetuadas as situações de litígio para garantir a sua sobrevivência e dignidade, nem nenhum médico deveria desejar para o seu país um mau sistema educativo só para ter doentes que lhe garantissem uma posição social de destaque e uma situação financeira invejável. Antes de mais, todos estes profissionais são membros de um reino da natureza dotados de Vida, Qualidade e Aparência – ou Espírito, Alma e Personalidade – especificamente humanas, com tudo o que isso representa na sábia economia da Natureza (“obter-se o melhor resultado com o mínimo esforço”) para a incomensurável Mente Cósmica.
Ensina-nos Aiax, um Mestre da Humanidade: “Quando um animal começa a vibrar no pólo da mente, torna-se num homem. Quando um homem principia a vibrar no pólo da alma, torna-se num discípulo. Quando o discípulo se capacita a elevar-se ao pólo da alma, torna-se num iniciado. Quando um iniciado principia a vibrar no pólo do espírito, transfigura-se. Quando um alto iniciado transfigurado se capacita a elevar-se ao pólo do espírito, é iniciado perante o Cosmos e torna-se num Mestre…”. (1).
Estas palavras poderão parecer destituídas de objectividade ou de sentido prático para a pseudo-intelectualidade vigente. Nem surpreende que assim pensem os seus protagonistas, inclusive alguns “filósofos”, ou melhor, “sofistas” – os mercenários do ensino na Grécia antiga –, pois, na verdade, são eles os cegos proclamadores das “verdades” convenientes para a manutenção do ignóbil status quo social que pretendem preservar e ampliar à escala global.
A este propósito, vale um ensinamento proveniente da fonte antes referida: “Um homem que é só um homem não pode sentir a eternidade. Por isso, os filósofos que não se superaram a si mesmos jamais puderam encontrar respostas para as questões metafísicas. A eternidade somente pode ser consciencializada por um Deus. Assim, se procurais encontrá-la, sabei que o buscador adequado é o Deus interno. Do mesmo modo, se procurais a Beleza e a Verdade eternas, sabei que existe em vós a centelha divina capaz de ecoá-las. A única forma de as vivenciar depende, porém, do grau em que sois conscientemente essa centelha. Se vos identificais com o mutável, movediço e incerto mundo da morte, se vos identificais com o não-Ser, desesperai de encontrar o Ser. O caminho do Ser é um caminho de sintonia entre essências iguais. O semelhante é o único capaz de encontrar o semelhante. Por isso, se quereis encontrar o Amor, o Saber e o Poder, deixai que o pólo espiritual em vós vibre e se expresse. Deixai o vosso Deus Eu Sou encontrá-los” (2).

(1) As Novas Escrituras, vol. II, Mensagens dos Avatares Invisíveis, do CLUC, pág. 79. (2) Idem, pág.77.

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quarta-feira, 23 de março de 2011

Em jejum


Em tempo de Quaresma, de abstinência e renúncia (alimentar), e colados ao Equinócio da Primavera, uma das épocas mais propícias para jejuar, evocamos a sua utilidade. Um exemplo para alimentar a alma e restabelecer o corpo, desde que praticado com precaução.

Texto e desenho* Dina Cristo

Saudável e benéfico seria o hábito da moderação à mesa e a prática de uma dieta vegetariana e frutífera, com alto poder alimentício, devido à capacidade de absorção das células – por longo tempo. Contudo, mais vulgar é a gula, um vestígio do instinto de sobrevivência. A dieta carnívora, típica do tipo de sangue O (o mais comum), sobrecarrega o organismo; pela sua decomposição rápida exige (mais) refeições frequentes, envenena o sangue e desgasta os órgãos.
Esta alimentação incorrecta pode e deve ser corrigida, através da prática de jejum. A privação de alimento, durante um tempo limitado, pode regenerar o organismo exausto. «É bom jejuar de vez em quando pelo menos vinte e quatro horas. Aquele que sabe como jejuar compreende que o jejum é uma outra forma de se alimentar. Sim, quando se priva um pouco o corpo físico de alimento, são os outros corpos, mais subtis – etérico, astral e mental – que começam a alimentar-se. Quando o nosso corpo físico não recebe todo o alimento a que está habituado, é dado um alerta e, como há no organismo entidades que velam pela nossa sobrevivência, vêm então, de uma região mais elevada, entidades que nos proporcionam o que nos faz falta e nós começamos a absorver certos elementos subtis que se encontram na atmosfera (…)»(1).
Existe, contudo, o risco de prolongá-lo: «Em certas condições, o jejum durante um ou dois dias é, sem dúvida, benéfico; mas assim como há glutões, também há outros que vão ao extremo oposto, jejuando em excesso. Aí reside o grande perigo», escreveu Max Heindel (2).
O jejum pode ser benéfico ao permitir pacificar as células e depurar o corpo. Se adequado, nomeadamente ao tipo de sangueA, B, AB ou O, e efectuado com moderação e lucidez, permite fortalecer a vontade e clarificar a mente, mas não deve ser praticado por pessoas em estado de vulnerabilidade. Os casos excepcionais, como o místico indiano Prahlad Jani, são isso mesmo: excepções.
Sugestão
De acordo com Alberto Chang, terapeuta de medicina natural, o jejum, de 24h, pode ser constituído por três litros de água com sumo de limão ou laranja. Deve ser antecedido por um dia com três quilos só de um tipo de fruta neutra (maçã, melancia, papaia, pêra, pêssego ou kiwi), nas mais variadas formas e acompanhado por dois litros de água ou chá (nomeadamente de alecrim, que é depurante) e um clister, de camomila morna.
No dia anterior a este, a preparação é feita com base em fibras vegetais: o pequeno-almoço com leite (de soja) e frutos secos, como nozes e/ou amêndoas. A principal refeição, ao almoço, à base de arroz integral com uma salada, com azeite, por exemplo, de alho, beterraba, cebola, cenoura, couve rouxa, espinafre, nabo e rabanete. À noite, uma sopa de legumes, com quinoa, trigo serraceno ou amaranto. No dia anterior deverá fazer-se uma refeição mais ligeira, à base de peixe.
Após o dia de jejum, propriamente dito, recomeçará a mesma dieta mas em sentido inverso: o quinto dia será igual ao terceiro (com outra fruta - uma oportunidade neste ano em que o Borda D`Água prevê a sua abundância) e o sexto ao segundo, o sétimo ao primeiro. Desta forma, pode obter-se um jejum saudável. «A terra exausta», como escreveu Helena Blavatsky, «deve ficar sem lavoura até que possa abrigar um novo plantio» (3).
Na Primavera ou no Outono, a privação alimentar, regulada, praticada com equilíbrio, nas actuas condições de irracionalidade alimentar, pode constituir um meio útil de se preparar para os novos desafios das estações mais extrovertidas ou introvertidas. Pode ser realizado em época de Lua Cheia e completado com meditação, numa espécie de purificação integral. Ao desintoxicar, vitaliza e restaura o organismo proporcionando uma sensação de leveza, um renascimento, tão bem simbolizado na Páscoa, após a quarentena.

* Anos 70. (1) AIVANHOV, Omraam Mikhael – Pensamentos quotidianos. Publicações Maitreya, 2011 (13 de Março). (2) HEINDEL, Max - Princípios ocultos da saúde – a cura. Zéfiro, Projecto Apeiron, 2010, p.33. (3) Citado por "O Teosofista" Maio 2008 de "Collected Writings”, H. P. Blavatsky, Theosophical Publishing House, Adyar, Índia, volume IV, 718 pp., ver p. 299. Publicado inicialmente em “The Theosophist”, Adyar, January 1883, p. 91.

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quarta-feira, 16 de março de 2011

Défice florestal

No Ano Internacional das Florestas e antes do Dia da Árvore, transcrevemos parte de um capítulo do livro “Aqui e Agora”*, esgotado, de Carlos Cardoso Aveline, autor e editor de livros e, hoje, websites sobre temas filosóficos e tesóficos**. Denominado "O dióxido de carbono" o texto explica como o nível de desmatamento leva à destruição do equilíbrio ambiental. Estávamos, então, em 1985.

Texto Carlos Cardoso Aveline fotografia Dina Cristo


«(...) Paralelamente ao problema da fome, Jimmy Carter fez uma séria tentativa de enfrentar a crise ecológica. Logo em 1977 pediu ao Congresso um “Informe Global sobre o Ano 2000”.
“Problemas ambientais”, afirmou ele na década, “não obedecem a fronteiras nacionais. Na década passada, nós e as outras nações tivemos que reconhecer a urgência de esforços internacionais para proteger o meio ambiente comum a todos nós”.
Quando o Informe ficou pronto, entre as suas conclusões, podiam ler-se duas especialmente graves:
- As grandes florestas estão desaparecendo no mundo todo à proporção de 18 a 20 milhões de hectares por ano, com a maior parte da perda ocorrendo na América Latina, África e Ásia. São 830 hectares por minuto e 50 mil hectares por dia de matas derrubadas.
- As concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e substâncias químicas que eliminam o ozónio chegarão a um volume que pode alterar significativamente o clima do mundo e a temperatura atmosférica até ao ano 2050. A chuva ácida ameaça os lagos, os solos e as lavouras.
O Informe 2000 dizia, ainda, que “como o clima tem um profundo efeito sobre nossas vidas e nossa economia, não podemos ignorar estes problemas que fazem incerto o nosso futuro”. Mas foi exactamente isso que aconteceu. Jimmy Carter foi considerado um “fraco”, dentro da política norte-americana. A direita reaganiana conquistou a gerência da máquina do grande império. No resto do mundo, nenhuma outra potência quis ou pôde dar real importância ao assunto. O meio ambiente é de todos. O que é de todos não é de ninguém”.
Como consequência, a devastação – que é um bom negócio a curto prazo – prosseguiu como se não houvesse perigo. Um dos fenómenos que se alastraram foi o incêndio das florestas. As causas não são simples. Uma delas é que o solo do planeta está esgotado e fraco por falta de elementos minerais. A desmineralização, mais o excesso de dióxido de carbono (CO2) acaba enfraquecendo as árvores. Elas vão secando e ficam vulneráveis ao fogo. Uma faísca incendeia uma floresta, e o fogo se alastra, lançando mais dióxido de carbono no ar, o que aumentará o ritmo dos incêndios.(1)
A Austrália sofreu em 1980 o pior incêndio desde a Segunda Guerra, com a destruição de 40 mil hectares de florestas. Na Espanha, um incêndio de Barcelona a Alicante. Na mesma época doze mil acres ardendo no Arizona, e dez mil destruídos no Colorado, USA. John Hamaker cita dezenas de exemplos documentados no seu livro “A Sobrevivência da Civilização” (pág.90-91). Na Grécia, 90 mil soldados são mobilizados para o combate a um incêndio em centenas de milhares de acres de florestas. A notícia está no “San Francisco Examiner”, de 6/7/1981.
As advertências do Informe 2000, aparentemente, estavam esquecidas. Ninguém pensou no significado desta onda de incêndios. Quem gostaria de parar as fábricas e deixar de lado a sociedade industrial consumista para construir um modo de vida mais simples e mais durável? Mais fácil continuar como está para ver como fica. Eram todos individualmente demasiado vivos para que pudessem ser colectivamente inteligentes.
Em Novembro de 1982 a revista Time dedicou uma reportagem de capa ao problema da chuva ácida, “a praga silenciosa”. A devastação “é silenciosa, invisível, penetrante”, dizia o semanário norte-americano, no primeiro parágrafo da reportagem. Mas devia ter dito, em vez de silenciosa, silenciada. Silenciada pelos mesmos grandes grupos industriais que lançavam elementos tóxicos na atmosfera, causando a chuva ácida. Há mais de 200 lagos perto de Nova Iorque já sem qualquer forma de vida em si, dizia a Time. A opinião pública se mobilizava. Numa visita ao Canadá, Reagan foi recebido com vaias e protestos, devido à chuva ácida oriunda dos Estados Unidos que causava danos aos canadenses. Mas os protestos não foram levados em conta.
Em Fevereiro de 1984, um expert da ONU informou: “Os desertos estão avançando, a cobertura verde do planeta está desaparecendo, e no ano 2000 a terça parte das terras até aqui agricultáveis estarão reduzidas a pó e a deserto”.(2) Meses depois, um filme da BBC de Londres choca a Europa. Milhões de pessoas esperam a morte por fome no norte da África. Seus países viraram desertos. Ninguém é responsável pelo fato. A ajuda internacional é insignificante.

Um banho de ácido sulfúrico.

A expressão “chuva ácida” foi criada em 1872 pelo químico inglês Robert Angus Smith para descrever as precipitações cada vez mais ácidas em Manchester, um dos centros da revolução industrial da época.
O processo químico é simples. Quando combustíveis fósseis como carvão e petróleo são queimados, libertam grandes quantidades de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogénio. Uma vez na atmosfera, estes gases reactivos se combinam com a água e o oxigénio para formar os ácidos sulfúrico e nítrico, que caem sobre a terra, rios e lagos, como chuva ácida. É certo que estes ácidos podem também cair na sua forma gasosa original, - ou ainda como partículas muito finas. Os cientistas chamam o fenómeno em suas várias formas de “deposição ácida”. Mas a palavra chuva é mais expressiva e ficou conhecida popularmente.(3)
Em 1980, as emissões de dióxido de enxofre chegaram a 24,1 milhões de toneladas, só nos Estados Unidos. Dois terços vinham de centrais eléctricas e 22% de indústrias. As fusões de metais também emitem muito SO2.
Depois que a chuva ácida se mistura ao húmus no solo dos bosques, a morte das árvores é uma questão de tempo. A árvore retira sua nutrição básica de elementos como cálcio, magnésio e potássio, presentes entre os minerais do solo. A deposição ácida acrescenta ao solo íons de hidrogénio (ávidos de combinações) que retiram estes nutrientes.
O cálcio, por exemplo, é essencial para a vitalidade das árvores. Tem a ver com a formação das células e o transporte dos açucares, da água e de outros nutrientes – desde a raiz até as folhas.
Magnésio é um elemento vital na fotossíntese e um portador de fósforo para a produção do DNA, principal componente do material genético. Não é só decisivo na constituição das sementes, mas também na reprodução das células que ocorre continuamente em todo organismo vivo.
Esta retirada de elementos vitais ocorre ao mesmo tempo em que se acentua no solo e na atmosfera a presença de metais pesados como chumbo, zinco, cobre, cádmio, cromo, manganês e vanádio, todos, quando em excesso, adversários da vida.
O efeito da chuva ácida não é apenas devastar florestas e despovoar lagos. Ela afecta a saúde humana, através do ar e dos alimentos. Amostras dos cientistas norte-americanos indicam que a água, particularmente, está demasiado ácida.
“As florestas estão morrendo na Suíça”, dizia a Agência Associated Press num telegrama de Genebra em Abril de 1984. Dados oficiais mostravam que uma de cada cinco árvores da área florestal suíça estava doente devido à poluição. “As florestas estão morrendo devido ao ácido nítrico lançado pelos carros, tóxicos lançados pelas fábricas, e à conhecida chuva ácida”, diziam os jornais.
“As árvores mortas, morrendo, ou muito doentes se multiplicam na Europa e nos Estados Unidos devido à chuva ácida” diz o Instituto World watch. No leste norte-americano, a morte das florestas é uma das questões que mais preocupam a opinião pública. O governo da Alemanha Ocidental revelou que um terço das florestas do país está em sério perigo. Entre as mais atacadas está a área da famosa Floresta Negra. Na Tcheco-Eslováquia, 485 mil hectares de floresta estão doentes. Na Polônia, estima-se que até 1990 tenham desaparecido 2,83 milhões de hectares de florestas atualmente enfermas”.(4)
Na Europa, 56% a emanação de CO2, dióxido de carbono, vêm de centrais elétricas e térmicas movidas a carvão. Vinte e seis por cento são lançados por indústrias de produção, 13% por estufas e calefações privadas, 3% por ônibus e automóveis. O jornalista Joelmir Beting escreve sobre o problema:
“Na Tchecoslováquia, um programa de reflorestamento deu com as mudas no nada: as árvores negaram viço. Ou se vingaram, porque, como se descobre agora, a natureza não se defende, apenas se vinga…”
“Que tal uma chuvinha fina de ácido sulfúrico? Não é o caso de Los Angeles, mas é o caso de São Paulo: alto teor de enxofre no óleo diesel verde-amarelo provoca alterações químicas na massa poluente dos ônibus e caminhões, do que resulta, ao cair da primeira garoa, um banho de ácido sulfúrico na vida da gente?” (5)
Em 23 de Junho de 1985, a repórter Ivone Cassol pergunta na Zero Hora, de Porto Alegre: “Será chuva ácida?” Acontece que, em Canoas, as folhas das árvores estão pretas, e as abelhas não produzem mel. Há muito tempo os pássaros desapareceram dos céus da cidade. Ao invés deles, o que paira no ar são minúsculas e invisíveis partículas que lentamente se depositam principalmente sobre as árvores. “Canoas quer saber exatamente o que está respirando”, diz o jornal.

O Desmatamento.

Numa reunião do Banco Mundial nos Estados Unidos, em Setembro de 1984, o fundador da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, Agapan, José Lutzenberger, denunciou que são destruídos na Amazônia 100 mil quilómetros quadrados de mata virgem por ano – uma área igual à metade do Rio Grande do Sul. Até 1988, Lutzenberger prevê que as florestas de Rondônia terão desaparecido. “É uma destruição irreversível”, diz ele. Enquanto isso, os incêndios são frequentes. Um deles destruiu 10 quilômetros quadrados de reserva florestal no Parque Nacional de Itatiaia, estado de São Paulo.
Igualmente importante é a devastação da Mata Atlântica. Da exuberante mata que cobria a faixa litorânea, ocupando 2 milhões de quilómetros quadrados quando aqui chegou Pero Vaz de Caminha, restam apenas cerca de três por cento. O que avança hoje não são as matas, mas o território das secas e enchentes sucessivas. E a devastação por parte do homem continua numa proporção de 300 mil hectares por ano. O diretor do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, Adelmar Coimbra, acrescenta a estes dados que a ilusão de usar a terra desmatada para a agricultura ou pecuária não dura mais que três anos. Quando se devasta a mata, nem a cinza das queimadas fica no solo desprotegido. A chuva a leva para os rios e a natureza fica sem o húmus que levou milhões de anos para produzir.
Isto constitui um suicídio ecológico. “Primeiro morrem as árvores, depois morremos nós”, advertiam os ecologistas anos atrás. As florestas tropicais da América do Sul estão desaparecendo ao ritmo de 40 mil quilómetros quadrados por ano, diz o relatório do Congresso para a Conservação da Natureza, em Madri. O dado é mais otimista que a cifra de Lutzenberger (100 mil quilómetros quadrados só na Amazônia), e mostra as dificuldades para fazer um cálculo exato. “As florestas tropicais ocupam 35% do território sul-americano e têm função determinante no clima mundial”, informa o congresso madrilenho. (6)
Há vários anos Lutzenberger vem atribuindo a sequência de enchentes que atinge o Sul e outras regiões do país à devastação das florestas. Lutzenberger não está só.
[Nota de 2011: Mais adiante, José Lutzenberger passou a trabalhar para os poluidores do meio ambiente, chegando ao ponto de entrar em choque frontal com os defensores da natureza]
“As repetidas enchentes no Sul têm como uma das suas causas principais o desmatamento, e o Governo Federal é responsável por isso, pois não estimula a preservação das matas, nem o reflorestamento”, disseram os líderes da Igreja Evangélica Luterana (IECLB), da Igreja Episcopal e da Igreja Metodista, em Porto Alegre, em Agosto de 1984. A notícia está na Zero Hora do dia 18. Os religiosos citaram dados concretos: há 150 anos atrás, havia 37% de matas nativas no território gaúcho. Hoje as matas são 1,8%. O número vale como alerta para o que está acontecendo no resto do país.
Apesar de já desmatado, o Rio Grande ainda continua perdendo 45 mil hectares de matas por ano, enquanto são replantados apenas 12.700 hectares. Em 1984 esperava-se que mediante um esforço especial fossem replantados cerca de 40 mil hectares, reduzindo o deficit anual para cinco mil hectares. No entanto, o Rio Grande do Sul, apesar de tudo, é um dos estados onde a consciência ecológica é mais forte. No resto do país o desmatamento está ocorrendo em maior velocidade.

Reverter a Contaminação

Paralelamente ao agravamento dos problemas ecológicos, surgem as primeiras respostas. Nem todo o mundo está paralisado diante do problema.
Os suecos conseguiram diminuir consideravelmente a poluição no ar e na água. Descobriram que a contaminação causava prejuízo de 5,5% do PIB. Com um terço destes recursos, reduziram em muito o envenenamento, com filtros e outras precauções. Já na Suíça, novas leis limitam o uso de carros e outras atividades poluidoras. Os suíços redescobriram recentemente os passeios a pé pelas montanhas. Organizam caminhadas individuais ou em grupos, longe dos ruídos das cidades. As rotas organizadas do excursionismo têm cerca de 50 mil quilómetros. (7) O novo hábito traduz uma volta à simplicidade que se encontra em todas as partes, sob mil diferentes formas.
Na Alemanha, o governo adota um programa radical de redução de gases sulfurosos da indústria, que serão reduzidos a 10% do volume anterior. Há um projeto parecido em relação às térmicas de carvão.
Na Austrália, anos atrás, jovens ecologistas passaram a fazer grandes mutirões de reflorestamento aos domingos. Quem conta é a ecologista Betsan Coats, de passagem pelo Brasil em 1984 para dar palestras sobre a desregulação climática como resultado do excesso de CO2.
Nos Estados Unidos há um movimento com o objectivo de criar “florestas urbanas”, e um milhão de árvores foram plantadas a partir de 1980 na cidade de Los Angeles. Este dado foi fornecido por dona Wanda Seibt, da Associação Democrática Feminina Gaúcha, ADFG, uma das principais entidades ecológicas do país.
O Departamento de Recursos Renováveis, da Secretaria da Agricultura do Estado gaúcho, criou em 1984 uma Bolsa de Sementes florestais que tem despertado enorme interesse por parte da população. Em poucos meses, centenas de pessoas haviam trocado ou ganhado mudas e sementes de árvores nativas e exóticas para plantar em grandes ou pequenas áreas e mesmo em seus quintais.
Entre as espécies preferidas estão araçá, butiá, gerivá, figueira e capororoca. O engenheiro agrónomo José Carlos Dias explicou que em 1985 a Secretaria da Agricultura mantinha convénio com mais de 80 municípios gaúchos, dando assistência técnica e treinando pessoal, para programas de reflorestamento surgidos nos últimos anos. Cerca de 500 milhões de mudas foram produzidas deste modo.
A EMATER, empresa de extensão rural, a Fundação Zoobotânica e a Prefeitura de Porto Alegre lançaram uma campanha para reflorestar a cidade (Zero Hora, 12 de Junho de 1985), com venda de mudas nativas a preço de custo e total assistência técnica aos plantadores.
O reflorestamento está sendo feito por escolas, pais e mães de família, crianças, prefeituras municipais, delegacias de educação do interior do Estado e amantes da natureza em geral. Sua importância não é apenas numérica. Está também no novo padrão cultural de relacionamento com a natureza que ele tende a estabelecer e que em breve se estenderá a toda a sociedade, impedindo a devastação.
O ritmo com que o governo federal toma medidas preservacionistas tem sido muitas vezes inferior ao que seria necessário para efetivamente garantir algum equilíbrio ambiental. Será preciso uma transformação radical na atitude frente ao problema durante o governo da Nova República. Esta transformação não pode ocorrer por decreto. Terá que dar-se simultaneamente em todos os níveis, e será consequência de uma nova maneira de ver (e de viver) a natureza».

* AVELINE, Carlos - Aqui e Agora - Para Viver até ao Século XXI. Editora Sinodal. Brasil. 1985. O capítulo, cinco, começa na página 51 e a transcrição na página 53. Ambos terminam na pág. 61.
** Atualmente Carlos Cardoso Aveline é o editor geral dos websites http://www.filosofiaesoterica.com/, http://www.teosofiaoriginal.com/, http://www.esoteric-philosophy.com/ e http://www.theosophyonline.com/.
(1) John Hamaker, "The Survival of Civillization", Hamaker-Weaver Publishers, Michingan, USA, 1982. "Solar Age or Ice Age?" bulletin, December 1983, 88 p.; "Solar Age or Ice Age?" bulletin, August 1984, 120 p., Revista "Time", 8/11/1982. (2) "Indian Express", India, 20/2/1984. (3) Science Digest, revista de Nova Iorque, USA, September 1984, vol.92, nº9, p.39 to 49. (4) Dados do Instituto Worldwatch, citados no jornal Zero Hora, de Porto alegre, dia 2/4/1984. Ver também Zero Hora, 6/5/1984. (5) Zero Hora, 5/5/1984. (6) Incêndio no Itatiaia: Zero Hora, 14/8/1984, Lutzenberger; Zero Hora 25/9/1984 e Zero Hora 3/6/1984. Mata atlântica; revista "Interior", do Ministério do Interior, Brasília, maio/junho/1984, p.31 a 47. florestas sul-americanas; Zero Hora, 8/11/1984. (7) "Jornal do País", Rio, 7 a 13/fevereiro/1985.

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sexta-feira, 11 de março de 2011

Roberto Carlos


Nesta nossa quarta Primavera celebramos o poder de regeneração da Natureza, através de algumas das centenas de canções que o Rei da música popular do Brasil cantou ao longo de 50 anos de carreira, agora perto de completar sete décadas de vida, inteiramente dedicada ao amor.


Selecção e fotografia Dina Cristo

Esse cara sou eu (2012):


Sentado à beira do caminho (1987):



Quando digo que te amo:



Só vou gostar de quem gosta de mim (1967):

Não se afaste de mim (1981):

Amor perfeito (2004):

Às vezes penso (1979):

Você não serve pra mim (1967):

Se você pensa:

De tanto amor (Com Roberta Miranda):

Cavalgada (2004):

As baleias (1981):

Desabafo (1979):

Fera ferida (1982):

Aleluia (1997):

Amada amante (1994):

O Homem (1975):

Ternura:

A guerra dos meninos (1982):

Amiga (1982):

O progresso:

Me conte a sua história:

Eu preciso de você (1981):
Do fundo do meu coração (2009): Coimbra:Canzone per te (1968):Mulher de 40:Meu querido, meu velho, meu amigo:Quero que vá tudo p´ro inferno: Como vai você: Eu te amo, te amo, te amo: Proposta (1974): Namoradinha de um amigo meu (1968): Outra vez (1979): Emoções (1981): Olha (1976):Detalhes (2004): O gosto de tudo (1980):

Ele está p`ra chegar (1982):

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quarta-feira, 9 de março de 2011

Povo sai à rua

Na próxima semana completam-se 35 anos sobre a marcha contra a instalação de uma central nuclear, em Ferrel. Eis algumas fotografias, a três dias de uma manifestação nacional.


Fotografia José Nascimento



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