quarta-feira, 12 de março de 2008

Barrar a água?


Barragem de Vilarinho da Furna

Depois da comemoração, há oito dias, da luta dos atingidos pelas barragens, esta Sexta-Feira é dia internacional contra estas construções. Bruxelas suspendeu o Sabor e dá ordens para economizar energia, mas Portugal, com um consumo irracional, avança para a construção de nada menos do que… dez barragens.

Texto e fotografia Dina Cristo

O Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) tem previsto a construção de uma dezena de novas barragens em Portugal, sobretudo na bacia hidrográfica do Douro. São elas Almourol, Alvito, Daivões, Foz do Tua, Fridão, Girabolhos, Gouvães, Padroselos, Pinhosão e Vidago, cujo custo económico total estimado de execução é 2,278 milhões de euros, além dos anuais de exploração que são, ao todo, mais cerca de 12 milhões de euros.
Pronunciaram-se contra este programa entidades como a Quercus, o GEOTA, a LPN ou os “Verdes”. Referem, entre outros, o facto de a verdade técnica e científica contrariar argumentos (emocionais) apresentados pelo Governo. Alguns deles são a independência energética de Portugal, a criação de mais empregos, o desenvolvimento económico das regiões. Os especialistas lembram que, por exemplo, em termos de União Europeia a estratégia é de poupança e eficiência energética, estando em curso um plano para a redução, até 2020, de 20% do consumo.
Os danos da construção de barragens têm sido contestados, no Brasil, em Espanha e agora também em Portugal. Se olharmos para o passado podemos recordar as consequências para a comunidade humana e natural da edificação da barragem em Vilarinho da Furna, há 40 anos, e de Alqueva, com os efeitos sobre a Aldeia da Luz: foram centenas de portugueses que se juntaram aos cerca de 80 milhões de deslocados em todo o mundo devido a estas obras.
O PNBEPH prova que há alternativas à construção da barragem no Sabor - como defendeu a Plataforma Sabor Livre, chumbada pela União Europeia, motivo pelo qual foi excluída das 25 hipóteses iniciais. Como refere a Quercus no seu parecer «Se a opção Baixo Sabor tivesse sido incluída neste programa seria mais que evidente que os seus custos ambientais seriam inaceitáveis e seria, em sequência disso, uma das 15 opções excluídas (…)».
Efeitos destrutivos
Cada khw produzido custa 10g de CO2, sendo mais de dois terços correspondentes à construção dos empreendimentos. É sabido que as barragens diminuem a qualidade da água, destroem ecossistemas, alteram o clima, agravam a erosão costeira, levam à perda de diversas espécies, à submersão de floresta e, além destes e outros custos ambientais, cujos benefícios de imediato não ultrapassam algumas décadas, possuem também preços sociais, como o abandono territorial progressivo. Em 2007, o “Público”
[1] defendia que «O Governo (…) deve obrigar as empresas que explorarem as barragens a pagar impostos nas regiões onde produzem os bens que comercializam».
Contra a vontade das populações e os pareceres técnicos, que privilegiam a pequena hídrica em detrimento das grandes, por todo o mundo continuam-se a construir mega-barragens, que desafiam o equilíbrio ecológico, do qual dependemos. A vantagem lucrativa, particular e imediata esmaga o interesse público, humano, de médio e longo prazo. É contra esta exploração de comunidades e habitats que, também à escala internacional, emerge uma nova cultura da água, a favor da vida dos rios, do seu livre curso, da fluência das suas correntes.
Da água (cujo dia mundial se irá comemorar daqui a dez dias), base de toda a existência, depende o futuro da Terra e da humanidade. Se, como diz o povo, parar é morrer, qual será, pois, o nosso destino se optarmos por bloquear hoje o livre curso das águas dos rios? Que espécie de liberdade nos iludimos ter quando prendemos um dos nossos bens mais preciosos? Estaremos, de facto, a evoluir quando paramos o curso das correntes de água? E que qualidade de vida podemos ter com base em águas estagnadas? Ao abusarmos destas barreiras estaremos a ser humanos, racionais e a proteger os direitos das gerações futuras e dos seres vivos, para um desenvolvimento efectivamente sustentável? E como reagiríamos nós se alguém detivesse o impulso vital de nos movimentarmos?.

[1] 8/3/2007

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1 Commentarios:

Anonymous Anónimo disse...

A propósito, chamo a vossa atenção para estes dois artigos da Quercus:
http://www.quercus.pt/scid/webquercus/defaultArticleViewOne.asp?categoryID=567&articleID=2380
http://www.quercus.pt/scid/webquercus/defaultArticleViewOne.asp?categoryID=567&articleID=2475

quinta-feira, 24 julho, 2008  

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