quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Edição Especial


Faz vinte anos, este Domingo, 16 de Dezembro. Passadas duas décadas, a ética e o mercado, a informação e o espectáculo, o conteúdo e a imagem continuam presentes. Eis a realidade da ficção.

Texto Dina Cristo

James L. Brooks argumentou, realizou e produziu. Deixou-nos há duas décadas uma longa metragem que retrata a realidade do jornalismo televisivo de hoje. Nela, expõe uma trilogia com que telespectadores e profissionais se defrontam: a ética e o rigor, representada por Jane Craig (Holly Hunter), a cultura e a vida interior, por Aaron Altman (Albert Brooks) e a imagem e a aparência, por Tom Grunick (William Hurt).
Neste, que é também um triângulo amoroso, Brooks confronta Jane com os seus princípios e valores profissionais (o relato - mais - puro da realidade) com a atracção por um homem (Tom) que, reconhece, encarna “o que eu considero perigoso” - “o demónio”, nas palavras de Aaron que, enciumado, lhe diz: “tens de admitir que ele personifica tudo o que tu lutas contra”.
Jane é uma produtora de elevado nível profissional que enfrenta os seus altos padrões de ética, numa realidade de concorrência televisiva, com frequentes crises de choro. Em reportagem com Aaron, na Nicarágua, por exemplo, opõe-se radicalmente a encenar seja o que for: “Não estamos aqui para criar notícias! Façam o que têm a fazer. As decisões são vossas”, ao que o soldado decide calçar as botas. Quando lhe dizem que foi fantástica ela apenas responde: “Não houve falhas de maior (…) Vocês são muito bons”.
Aaron adora Jane, de quem é imensamente amigo. É um homem de conhecimentos gerais bem fundados, grande repórter, que um dia quer experimentar ser apresentador; com o seguinte resultado: “Ali estava eu a promover-me, sentado sobre o casaco. A dar ênfase às ideias, mas acontece que tive um ataque de suor. Perdi um dos teus chumaços. Foram na cheia. Até recebemos telefonemas (...) de preocupação se eu estava a ter um ataque de coração”, conta a Jane. “Foi tão ridículo que se tornou engraçado (…) O suor a correr, a maquilhagem a entrar-me nos olhos. Tentaram secar-me com secadores de cabelo para eu poder ler as instruções dos repórteres que, afinal, é o que eu gosto de ser”.
Tom é fisicamente atraente, mas com enormes lacunas de conhecimentos e de expressão; não passa sequer nos mais singelos testes que (Jane e) Aaron frequentemente (lhe) faz e admite: “Na maioria das vezes não entendo as notícias que leio. Isto não são complexos de inferioridade, acredite! Sou mesmo mau!”. Ao contrário de Aaron, a sua imagem começa a ser imediatamente reconhecida, dentro e fora da redacção. Inexperiente, mas dominando as técnicas televisivas da imagem, supera os testes da estação e, mesmo perante um despedimento em massa, é promovido para Londres. No final, é ele quem desafia Aaron: “Se te fartares de Portland, informa-me”.
Saber (ou) vender?
Quando a redacção em peso está a ver o trabalho encenado de Tom, Aaron pergunta: “Posso ligar para as notícias?”, e perante os protestos dos colegas ironiza: “Está bem, sexo e lágrimas devem ser as notícias”. Contudo, quando se trata de enfrentar as câmaras, é Tom quem o aconselha: “Senta-te um pouco sobre o casaco. Fica com melhor aspecto, olha para o monitor, não mexas os olhos durante cada frase(…) Não estás só a ler. Estás a narrar notícias. Estás a vender-lhes a tua imagem”.
Jane, ao descobrir que Tom criou a sua própria emoção, através da fabricação de lágrimas “a posteriori”, recusa o seu convite para irem até uma ilha: “É terrível o que fizeste (…) Passaste a fronteira entre a ética e o lixo (…) Cometes uma violação à ética e procedes como se eu fizesse uma tempestade num copo de água?!”.
A extraordinária menina que escreve à máquina e que interrompe para dizer ao pai (por)que não está obsessiva é a exigente profissional cujo reconhecimento lhe dará o cargo de editora. Tom, que não era um bom aluno mas teimava em esforçar-se, não o precisa fazer. Quando enfrenta o desafio das câmaras, a primeira coisa que faz é escolher a camisa a vestir; o texto virá de Jane e as dicas de Aaron que, mesmo em casa, a ler e a ouvir música, o informa sobre o que apresenta na TV: “Falo aqui e aparece ali!”, diz estupefacto. Aaron, quando termina o liceu, como um dos melhores alunos, diz num discurso crítico: “Nunca sairão daqui (…), não conseguirão escrever ou ter um pensamento original”. Contudo, apesar da sua competência, acabará numa estação secundária, (a segunda de Portland).
A fita “abre” com Jane numa conferência: preparada para falar sobre a celebridade, o lucro, a economia, “Oh! Ia mostrar-vos uma cassete duma notícia dada, em todos os noticiários da mesma noite. Na mesma noite em que deixaram escapar uma mudança política importante sobre o desarmamento nuclear. Aqui está o que nos mostraram… Sei que é divertido. Eu gosto de me divertir. Só que isto não são notícias!”. Conforme fala assim as pessoas lhe viram costas, excepto Tom. No fim do filme, fecha-se o ciclo: é Tom a estrela aplaudida. E tudo o que ele tem para dizer ao público que enche a sala é… apresentar a sua noiva.

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1 Commentarios:

Anonymous Anónimo disse...

Broadcast News, um filme que nos reporta ao tempo em que o mercado se regulava pela ética e não a ética pelo mercado...

quarta-feira, 16 abril, 2008  

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