quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ilhas descobertas


S. Tomé, um dos países presentes na Cimeira UE-UA, comemora dia 21 de Dezembro mais um aniversário da sua descoberta. Uma oportunidade para o conhecermos melhor.

Texto e fotografia Pascoal Carvalho

São Tomé e Príncipe é um arquipélago, formado por duas ilhas insulares situadas no golfo da Guiné com cerca de 300 km, separado do continente africano. Composto por duas ilhas principais – a de S. Tomé e a do Príncipe – e várias ilhotas (cabras, rolas, sete pedras, santana, bombom, tinhosas, boné de Joker, dois irmãos), vulgarmente denominadas por ilhéus, num total de 1 001 Km2, é o segundo país mais pequeno de África, depois das Ilhas Seychelles. Segundo o último censo, de 2001, a sua população ronda os 140 000 habitantes. Estimativas mais recentes, de 2006, apontam para 150 000 habitantes, dos quais menos de 10 000 habitam no Príncipe.
Quem olha para estes números e descrições muito facilmente juntaria o útil ao agradável: paraíso natural, onde as mais diferentes e diversificadas abundâncias da natureza ali se podem encontrar e desfrutar, ladeando sempre a fulcral vertente de que é um país pobre do terceiro mundo onde paira uma acentuada pobreza e desnível social marcado por alguns com muito e outros com apenas pouco ou nada. Mas não é de todo um pensamento errado ou deturpado a ideia sobre as mais reais belezas que o divino assim concedeu aos são-tomenses. Os seus filhos, contudo, têm-no destruído por diferentes razões e caprichos, que envolve não só a má governação aliada à corrupção multisectorial mas também a de um pensamento muito arcaico e definitivamente prejudicial, que é o desleixo acentuado e agravante do sempre a tempo para tudo, sem pressa e nas calmas.
Essas maravilhosas ilhas desde sempre tiveram conturbado desenvolvimento histórico isto porque, para além de 21 de Dezembro de 1470 ser a descoberta da ilha de São Tomé e 17 de Janeiro do ano seguinte a do Príncipe, outros historiadores afirmam que essas ilhas foram encontradas apenas um ano mais tarde. Contudo, é a primeira versão a mais conhecida e utilizada. Entretanto, sabe-se que os navegadores que as descobriram estavam ao serviço de um rico comerciante de Lisboa, chamado Fernão Gomes, cujo objectivo era explorar e descobrir terras no sul da Serra Leoa. Estes territórios, descobertos por João de Santarém e Pêro Escobar, foram baptizados com nomes dos santos padroeiros dos respectivos dias de descoberta, que são Santo Tomé e o Santo António. Agora é conhecida por ilha do Príncipe por ter sido doada pelo rei ao seu filho, sendo na altura, aquando das entregas, dízimas e desembarques dos produtos vindos de Portugal, destinadas à ilha do Príncipe.
Essas ilhas serviram de refúgio para navios piratas, embarcações que precisam de reparação durante longos anos.
O povoamento de S. Tomé teve o seu início em 1485 quando a coroa real resolveu doar a João de Paiva, escudeiro português, que por sua vez resolveu povoa-la. A ilha do Príncipe, ainda S. António na altura, só começou a ser povoada cerca de 15 anos depois, em 1500, após a sua doação a António Carneiro, “Conde de Vimeiro”.
Um pensador nato diria que o actual e progressivo subdesenvolvimento do país se deve à preguiça dos genuínos deste território, que desde sempre aguardaram pelos dividendos da mesma para se alimentar e não só. Eram povos que nunca gostaram de trabalhar até aos tempos de hoje.
Os trabalhadores das roças e fazendas que por lá existiam, em cuja situação se encontram até hoje os seus filhos, foram escravos importados de outras colónias portuguesas, como Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e Moçambique.
Tendo sido colonizados por uma sociedade católica, os são-tomenses também herdaram esta forma de crer e adorar Deus sobre todas as coisas. Mas nos tempos modernos, e com a aparição de inúmeras seitas religiosas de diversos cantos do globo, também se aceitam outras formas dos poderes da divindade. Essas seitas religiosas provieram de países como Gabão, Camarões, Nigéria, Guiné Equatorial, entre outros, cujos emigrantes começaram neste milénio a ver S. Tomé e Príncipe como um porto seguro e de confiança para fazerem negócio.
Do primeiro regime à democracia
De uma coisa que os são-tomenses jamais esquecerão é dos primeiros tempos após a democracia, em que pairava o respeito pelos outros e pelo meio social em que se encontravam, pelos valores culturais, educacionais e pelo civismo que desde a infância era incutido.
Depois dela, veio a ilusão de se poder dizer tudo, fazer o que melhor convém e, como resultado, vê-se hoje um país com diversas reclamações e uma ausência crónica de um pulso capaz de trazer de volta esse respeito e tempos idos.
Tal como em todo o lado onde a liberdade democrática existe, S. Tomé e Príncipe não foge à regra: também a escolha dos representantes que são legitimamente eleitos pelo povo iludido aquando das campanhas eleitorais. Mas o facto da pobreza ter invadido o país e a sociedade, eis que ela no contemporâneo está sensível a subornos, aldrabices e a um inúmero leque variado de formas e meios de se poder “safar”, lema este que é bem conhecido pelos demais habitantes destas ilhas que o assumem com toda a franqueza.
Entretanto, essa desonestidade não se restringe apenas a modalidades pouco ou nada influentes como também chega a enfraquecer a consciência dos mesmos que se deixam vender, sobretudo na altura das campanhas, com o único sentimento de que doravante mais nada interessa. Como resultado são as reclamações da população aquando das sucessivas subidas dos preços, principalmente dos artigos da primeira necessidade. Falo sem dúvida nenhuma do actual e bem conhecido “banho” que tem estado em uso, e é sem dúvida nenhuma o principal motivo do empobrecer acentuado, visível, aceite e conformado, patente nestes inconfundíveis rostos de sorriso e de alegria que a pobreza não consegue banir mas varrer, porque os mesmos não são sinónimo de felicidade.

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