quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Economia ou humanidade?



Quem recusa enriquecer uma comunidade com a sua específica maneira de ser, de estar ou de fazer? Globalização: uns estão a favor, outros nem tanto. Vamos espreitar um pouco o Fórum Mundial Social a decorrer neste planeta. Sábado é Dia de Acção Global, também em Portugal.

Texto Dina Cristo fotografia Victor Hugo Cristo

Na mesma altura em que na Suiça se reúne o Fórum Económico Mundial (FEM) por todo o mundo se comemora a oitava edição do Fórum Social Mundial (FSM). De um lado os países do Norte, materialmente mais ricos, a economia, o mercado, os lucros, do outro, os países do Sul, materialmente mais pobres, a sociedade civil, a ética, a humanidade. Será que podemos dividir, com tanta simplicidade, os que estão a favor e os que estão contra a globalização?
A "aldeia global" é um processo de unificação, integração, livre e voluntário, com vista à construção de um mundo a várias vozes, rostos e cores. Um só globo, com toda a diversidade, natural, humana, cultural, política, religiosa, social, que decorre da elevação da consciência humana. Na verdade, já estamos a ser "processados" e é natural, como escreve José Manuel Anacleto, que até mesmo os manifestantes anti-globalização ouçam música inglesa, vejam filmes americanos, telenovelas brasileiras, utilizem aparelhagens japonesas, calcem sapatos italianos, usem perfumes franceses, conduzam carros alemães, entrancem os cabelos de forma africana, se colorem com roupas orientais.
A globalização nada mais é do que a pertença a um todo maior, como antes representava a Nação em relação aos conflitos regionais. A oposição a ela é, na verdade, mais uma resistência à integração forçada, imposta - e que elimina identidades, oblitera património cultural, história, artes, letras, tradições e imaginários tradicionais - do que à pureza da sua formulação teórica. Afinal, quem não quer pertencer a um colectivo maior, preservando a sua peculiaridade?
FSM
Nasceu há sete anos, no Brasil. Começou por juntar 20 mil pessoas à volta do lema “Um outro mundo é possível”. Pretendeu ser uma alternativa, em alguns casos mesmo uma oposição, ao Fórum Económico Mundial, que ocorre no primeiro mês de cada ano, em Davos, na Suiça. Ao contrário deste, é organizado pelas ONG e movimentos sociais.
Depois dos primeiros três anos (de 2001 a 2003) sedeado em Porto Alegre, realizou-se em 2004 na Índia, em 2006 teve dois centros, um em África (Mali) e outro na América Latina (Venezuela) e em 2007 voltou ao continente africano, mais propriamente ao Quénia. O próximo encontro mundial de povos será daqui a um ano, também no Brasil.
O quarto realizado no Brasil foi em 2005, quando foi subscrito o Consenso de Porto Alegre, com doze propostas (assinado entre outros pelos portugueses José Saramago e Boaventura de Sousa Santos) entre as quais a promoção da economia solidária e da autonomia dos “media” alternativos. Nesse ano, o Fórum Social Mundial reuniu mais de 150 mil participantes, entre os quais cerca de 2500 relacionados com a economia solidária e quase 2800 voluntários; houve cerca de uma centena de espectáculos, filmes e exposições.
Dia global
A proposta deste ano é de uma Semana - de Mobilização Global - com a participação de múltiplos agentes sociais cuja acção culminará este Sábado, num Dia de Acção Global. O objectivo, a essência do FSM, é celebrar a diversidade e procurar alternativas sociais para os problemas do mundo.
Os eventos serão acompanhados numa comunhão de esforços mediáticos da imprensa alternativa através da Ciranda Internacional da Informação Independente, organismo criado no primeiro FSM, em 2001, cujo objectivo é compartilhar informação multimédia, através de plataformas livres que permitam uma comunicação horizontal.
Fruto do II FSM, o Observatório Global de “Media” (criado em Porto Alegre e formalizado um ano depois em França), pela mão do jornal “Le Monde Diplomatique” e da Agência Internacional de Imprensa, IPS, tem como finalidade a constituição de um quinto poder e a promoção do direito de qualquer cidadão deste mundo a ser bem informado. Tenta reunir jornalistas, consumidores e académicos a fim de denunciar o poder dos grandes meios de informação e identificar incumprimentos em relação à imparcialidade e ao rigor.

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