quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cocteau twins

Nas vésperas do Dia Mundial da Música, publicamos uma investigação, realizada em 2006, sobre os Cocteau Twins, um grupo formado há 30 anos, cujo mistério passou pelas páginas do Blitz.

Texto João Cerca



Os Cocteau Twins formaram-se em 1979 em Grangemouth no norte da Escócia. A sua formação inicial era composta por Elizabeth Fraser (voz), Simon Raymonde (baixo), Robin Guthrie (guitarrista), e Will Heggie (baixista), que abandonou a formação pouco depois. Da discografia do grupo contam-se oito álbuns (seis para a 4 AD e outros dois para a Capitol Records), dez EP (oito na 4AD, dois na Capitol), nove Singles (dois na 4AD e sete na Capitol). Fazem também parte da discografia do grupo várias compilações, a última das quais editada em Novembro de 2005, reunindo todos os seus singles, com o nome de “Lullabies to Violaine: Singles and Extended Plays”. A banda acabou em 1997.


O grupo foi alvo de várias notícias, reportagens, uma entrevista e também referências noutros artigos no semanário. No período analisado, os artigos escritos sobre o grupo foram na maioria sobre os álbuns editados. As referências ao grupo foram sobretudo em artigos sobre outros grupos, em comparações com esses grupos, colaborações dos membros do grupo na interpretação e/ou na produção.

Sobre os concertos houve pouca informação, comparativamente ao número de artigos sobre a discografia, por causa de terem estado em Portugal duas vezes. Da sua relação com a imprensa, muito devido ao espírito da banda, apenas resultou uma entrevista para o jornal português. De salientar, o facto de ter havido vários leitores a pedir informações sobre a banda ao longo dos anos, através da secção D. Rosa. Essas informações foram sempre relativas à discografia da banda.
Notícias

A primeira notícia no Blitz sobre o grupo surgiu a 20 de Novembro de 1984
[2]. Houve uma referência ao novo álbum do grupo, Treasure, editado nesse mesmo dia na Grã-Bretanha e produzido pela banda. “O registo inclui dez temas inéditos e foi editado pela 4AD”. Foi também referida, para Dezembro desse ano, uma pequena digressão, de nove espectáculos, pela Grã-Bretanha, três deles em Londres.
No dia 18 de Dezembro do mesmo ano
[3], saiu uma análise, por António Sérgio, ao projecto “This Mortal Coil – Ilusão e Enigma”, onde o grupo e os seus elementos são referidos várias vezes: “A primeira realização seria um 12 polegadas com os títulos «Sixteen days» e «Song to the Siren», este último original de Tim Buckley repescado das paixões auditivas de Ivo, e reunindo a vocalista Elizabeth Fraser mais Robin Guthrie e Simon Raymonde dos Cocteau Twins (…). A versão brilhante e a vocalização inesquecível de Liz Fraser atirariam repentinamente This Mortal Coil para as atenções da imprensa musical”.
Já sobre a edição do primeiro álbum do projecto, António Sérgio disse que “De resto lá estão os Twins habituais, com outra inesquecível prestação de Liz Fraser na recriação do tema de Roy Harper "Another Day”. No mesmo artigo saiu também uma pequena foto de Elizabeth Fraser, com a seguinte legenda: “Liz Fraser, a cantora dos Cocteau Twins que foi chamada ao projecto dos This Mortal Coil para cantar a sua soberba versão de Song to the Siren.”
Com o título “Cocteau Twins a voz dos deuses”, António Sérgio fez, na de 24 de Dezembro de 1984 do Blitz
[4], uma exposição do todo o trabalho dos Cocteau Twins até então, desde Garlands a Treasure (ambos LP).
Quase um mês depois, o mesmo António Sérgio vem revelar as escolhas, do seu programa de rádio (Som da Frente), para o ano de 1984. Nessas escolhas, publicadas no Blitz de 22 de Janeiro de 1985
[5], encontra-se Elizabeth Fraser como Melhor Voz Feminina, Pearly-Drewdrops’ Drops em 10º lugar na lista de Máxi-Singles e Treasure em 13º na lista de LP.
No dia 12 de Fevereiro de 1985
[6], eram divulgados os 50 temas mais votados pelos ouvintes do programa de John Peel, na BBC Rádio One, todos eles referentes ao ano de 1984. Nesta lista estavam incluídos sete temas dos Cocteau Twins: 2 – Pearly Dewdrops Drop; 4 – Spangle Maker; 16 – Ivo; 22 – Donimo: 38 – Pandora; 39 – Beatrix; 49 – Pepper Tree. Nesta lista os Cocteau Twins foram um dos grupos com mais criações, a par dos The Smiths. De referir ainda os dois temas do projecto This Mortal Coil, em que um deles – Another Day – é interpretado pela vocalista dos Cocteau Twins, Elizabeth Fraser. O outro tema chama-se Kangaroo.
Três meses depois, a 14 de Maio de 1985
[7], o nome Cocteau Twins surgui numa rubrica do jornal intitulada ‘ROCKcionário’, onde eram “dadas pistas” sobre vários géneros musicais: “POS-NEW WAVE: São, afinal, os grandes grupos do momento. The Smiths, Pale Foundation, Aztec Camera, Dance Society e Cocteau Twins, numa mistura de poesia e pureza do pop primordial, pouca electrónica e um certo revivalismo do psicadelismo.”
Num artigo publicado a 4 de Junho de 1985
[8], Rui Monteiro faz uma análise aos álbuns Treasure dos Cocteau Twins e It’ll End In Tears do projecto This Mortal Coil, pondo em evidência o comum entre as duas obras, a própria música, Elizabeth Fraser e a sua voz: “Não têm nada para oferecer, This Mortal Coil e Cocteau Twins, só ideias para partilhar.”
Na semana seguinte, voltava a ser feita uma referência aos Cocteau Twins e ao seu álbum Treasure: “Treasure, o álbum dos Cocteau Twins é como já disse nestas páginas uma obra fundamental que merece a atenção de todos. É um daqueles raros achados onde a beleza é uma constante e onde a voz de Elizabeth Fraser é um constante murmúrio de ternura. É ainda um acto de inteligência, uma manifestação exemplar de criatividade.” Foi atribuída uma classificação de quatro estrelas a esta obra, num total possível de cinco.
No dia 31 de Dezembro de 1985
[9], Rui Monteiro fez um balanço do ano que tinha passado. Com o nome de “Ano de todas as cópias. Gringos e outras”, o jornalista elevou ao expoente máximo da beleza vários álbuns e vozes, Treasure e a voz de Elizabeth Fraser foram incluídos:
“Os louros e as esperanças, os abraços de congratulação pela ousadia devem ser distribuídos a outra gente; os que sem recusarem influências, mas sem delas fazerem dogmas ou paradigma estético, procuram arte mais que a mera música popular e procuram a diferença da comunicação numa delicadeza de sensibilidades despertas (...) Canções como a beleza reunidas em Raindogs e Treasure (dos Cocteau Twins) vozes privilegiadas com as de Tom Waits e Elizabeth Fraser, são raridades da música popular, excepções minoritárias e um pouco marginais no negócio. Nestes dois discos, reúnem-se a poesia e a modernidade, mais ou menos experimentalista, em canções de uma beleza magoada.”
Integrada no ciclo de cinema “O Musical”, que decorreu de 21 a 24 de Janeiro de 1986, a iniciativa “Vídeo Clips Anos 80”, organizada por Miguel Esteves Cardoso, pretendeu mostrar 120 “videoclips” por autores tendo sido a Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian o local escolhido para receber o evento. No programa, publicado no Blitz
[10] do dia 21 de Janeiro de 1986, estavam incluídos os “clips” Aikea-Guinea e Song to The Siren (Cocteau Twins e This Mortal Coil respectivamente) realizados por John Scarlett-Davis.
Uma semana depois, a 28 de Janeiro de 1986
[11], a análise ao evento era feita por Rui Monteiro. Com o título “Videoclips anos 80, depois da técnica, a estética”, o autor escrevia: “A atitude generalizada de que o teledisco é um mero veiculo promocional, compartilhada aliás por muitos realizadores – alguns deles bons -, impediu de certa maneira a compreensão de que mais do que canções com imagens se estava perante exemplos de uma nova estética audiovisual que, embora titubeante, introduziu novos conceitos na arte contemporânea. A reacção do público, do ponto de vista musical exigente (o primeiro teledisco aplaudido foi «Aikea-Guinea», de Cocteau Twins, por Scarlett-Davis), enfermou esse preconceito e brilhantes telediscos que incluíam péssimas canções não foram apreciados com a estima que os realizadores merecem.”
Em Fevereiro de 1986 (dia 2), o Blitz
[12] deu a notícia do lançamento, por cá, dos novos EP da banda. Não especificando quais, o lançamento estava agendado para Março seguinte.
A 8 de Julho de 1986
[13], Rui Monteiro traçava pontos de contacto entre os álbuns Old Rottenhat (Robert Wyatt) e Victorialand. Num extenso artigo intitulado “A função social da canção”, o jornalista introduziu assim a justificação para o encantamento com tais discos: “Poupe-se o olhar, antes dos ouvidos sentirem a música nas capas de «Old Rottenhat» e Victorialand. São ambas bonitas e atraentes – melhor -, são belas de ver. E, como os discos de Robert Wyatt e Cocteau Twins que envolvem, apenas informam na medida mesma das suas funções sociais. Num exemplo – «Old Rottenhat» - serve um desejo que não desliga a arte da agitação e propaganda favorável às nobres causas, e no outro – reduzida a informação ao título e à identidade dos autores – serve para recordar que apenas a arte é importante.” Duas semanas depois, 22 de Julho de 1986[14], Rui Monteiro deu ao álbum dos Cocteau Twins, Victorialand, uma classificação de quatro estrelas.
A 25 de Novembro de 1986
[15] o semanário dedicou um longo artigo sobre a editora 4AD. Em “O secreto refúgio da 4AD", João Lisboa falava do estranho mundo da pequena editora independente, da criação, dos artistas, da música. “Escondida, secreta, defendendo-se ferozmente do contágio com as realidades menos decentes do mundo exterior (…)”. Os Cocteau Twins foram referência obrigatória no artigo, “Mesmo quando o seu grupo que maior notoriedade até agora atingiu – os Cocteau Twins – [a 4AD] acede relutantemente a falar para a Imprensa (…)”.

Foram feitas também referências aos elementos da banda (Elizabeth Fraser, Simon Raymonde), às participações noutros projectos e aos álbuns: “Assim, Elizabeth Fraser (dos Twins) participa em gravações dos Wolfgang Press ou Dif Juzz, Richard Thomas (destes últimos) aparece em Victorialand dos Cocteau Twins (LP em que, sem problemas, o baixista Simon Raymonde não se inclui). (…) Filigree and Shadow é a ressurreição do projecto [This Mortal Coil] com data de Setembro do ano corrente [1986]. (…) Os temas de outros autores são literalmente reinventados e transfigurados: (…) A última versão é de um tema de Van Morrison, Come Here My Love (…) totalmente desmaterializado pela voz da igualmente desconhecida Jean e pelos teclados de Simon Raymonde (…)”.
Outra referência ao grupo estaria num artigo sobre um outro projecto da mesma editora intitulado Dead Can Dance. A sonoridade próxima dos grupos e as semelhantes vozes dos elementos femininos foram o motivo de tais referências: “Ouvindo o seu registo [Spleen and Ideal] com atenção são patentes as influências do canto gregoriano, e alguns ouvintes mais atentos não deixarão de notar as semelhanças no caminho escolhido com as vias traçadas, por exemplo, pelos Cocteau Twins em algumas das suas produções (...) O electrónico som melodioso de fundo, completa a voz de Lisa [Gerrard dos Dead Can Dance] como um emaranhado de sons (ao idêntico dos Cocteau Twins de Liz Fraser)”.

Manuel Falcão colocava também em causa, no semanário do dia 9 de Dezembro de 1986
[16] (nº 110), a importância de ambos (Cocteau Twins e Dead Can Dance) como referências principais da editora naquela época, “Na Via Láctea, seara espacial onde navegam as coisas raramente puras, uma estrela de brilho claro pertence aos Dead Can Dance: o duo que tende a tornar-se o porta-estandarte da 4AD já que os Cocteau Twins repetindo paisagens, parecem tombar do regaço onde eram acariciados pelos músiconovistas.”
Numa pequena notícia, o Blitz na sua edição de dia 30 de Dezembro de 1986
[17], revelou a posição do álbum Victorialand nas listas do semanário britânico New Musical Express (NME). O álbum ficava-se pela 15ª posição, num total de 30.
Na edição do dia 15 de Dezembro de 1987
[18] era dada uma classificação de quatro estrelas ao álbum Garlands. A reedição tinha sido em LP, cassete e CD, estava na secção “Tabela Escaparate”.
Uma pequena análise à reedição do álbum Head Over Heels saiu dia 16 de Fevereiro de 1988
[19]. Nessa edição o jornal dava uma classificação de duas estrelas, com a seguinte justificação: “Nem tudo o que é luz é ouro, paciência acabou-se o tempo dos encantos, os Cocteau Twins não conseguiram dar a volta que estava a ser preciso. Se a atracção permanece, o fascínio perde-se. São os incondicionais quem mais sofrem.”
Na semana seguinte ao lançamento das reedições de dois dos álbuns da banda (Treasure e Head Over Heels), o Blitz fez uma simples referência. Foi a 15 de Março de 1988 (nº 176, p. 6)
[20] na secção Discos Editados. Outra alusão ao grupo apareceu dia 19 de Abril de 1988[21], aquando da saída de uma edição da 4AD intitulada de “Le Mystiere Des Voix Bulgares, volume 2”. Na análise ao álbum a referência, ao grupo, seria a citação do radialista Andy Kershaw, “Isto é popular porque vem da 4AD. É popular porque surgem conexões com a 4AD/Cocteau Twins…”
Os Cocteau Twins foram também referenciados na publicidade a uma fanzine. Na rubrica “Edições à Margem”, da edição de 22 de Março de 1988
[22], aparecia um texto sobre a fanzine da Rádio Universidade Tejo chamada Ibérico. Entre vários grupos, de música moderna, com que a revista se identificava estavam os Cocteau Twins.
Mais tarde, a 30 de Agosto de 1988
[23], saiu a notícia de que Blue Bell Knoll era lançado no mercado dia 19 de Setembro. A notícia confirmou-se a 6 de Setembro[24], com o título “Novo álbum dos Cocteau Twins” e constou do seguinte: “Os Cocteau Twins editam dia 19 de Setembro o seu primeiro álbum desde há dois anos e meio sob o título genérico Blue Bell Knoll. O álbum inclui dez temas. No lado A: Blue Bell Knoll, Athol-Brose, Carolyn’s Fingers, For Phoebe Still a Baby, e The Itchy Glowbo Blow. No lado B: Cico Bluff, Sucling The Mender, Spooning Good Singing Gum, A Kissed Out Red Floatboat, e Ella Megablast Burls Forever.”
A propósito do lançamento de Blue Bell Knoll o Blitz fez um especial sobre o grupo. Na edição do dia 11 de Outubro de 1988
[25] era dado algum destaque ao conjunto escocês, com uma fotografia de Simon Raymonde junto de Elizabeth Fraser[26] e invulgares comparações ao álbum: “Um dia destes há-de haver alguém que explique que o prazer retirado dos discos deste grupo se assemelha estranhamente a onanismo obsessivo. Mas até que tal ente se disponha a escrever, deixem-se ficar com os vossos prazeres íntimos.”[27]
O especial à banda continuou com um artigo de página inteira. No artigo “Situação azul: gémeos (e uma sereia)”
[28] Jorge Pires deixava no ar questões acerca do futuro dos Cocteau Twins dando ênfase, uma vez mais, a todo o mistério que sempre envolveu a banda. Na edição seguinte, dia 18 de Outubro de 1988[29], o jornal revelou as preferências do britânico NME sobre o mês de Setembro. Blue Bell Knoll ficou na lista.
Os balanços da década foram divulgados nas edições de 14
[30] e 21 de Fevereiro de 1989[31] respectivamente. Elizabeth Fraser foi considerada tanto pelo grupo de jornalistas do Blitz como pelo público, através de votação, como melhor voz estrangeira: “Vá lá que nos entendemos todos na escolha de melhor cantora estrangeira, Elizabeth Fraser.” Na mesma categoria estavam Lisa Gerrard (Dead Can Dance) e Kate Bush. (…) Conte-se, por exemplo, (…) como Elizabeth Fraser foi campeã com quase 10 voltas de avanço (o que quer dizer quase 100 votos sobre o conjunto formado por Kate Bush e Lisa Gerrard).”
A vocalista dos Cocteau Twins seria novamente citada pelo semanário, desta vez no jornal de dia 17 de Junho de 1989
[32]. Pinheiro de Almeida escreveu: “Há quem diga que a nova voz, Sarah MacLachlan, é uma mistura do melhor de Kate Bush, Enya, e Liz Fraser.” O dia 29 de Dezembro de 1989[33] (nº 269) foi marcado no Blitz com uma edição dedicada, quase na totalidade, à 4AD. Fazia-se o balanço dos 10 anos da editora, referências aos Cocteau Twins não faltaram.
Numa breve notícia acerca dos Lush, outro grupo da 4AD, a 13 de Março de 1990
[34], foi citado o nome de Robin Guthrie pelo seu papel como produtor do EP do grupo. O mesmo Robin Guthrie foi de novo referido, mas desta vez acerca de um mini-LP que iria ser editado pelos A.R.Kane. Robin Guthrie participou nessa obra, não especificando, no entanto, o jornal que função teria o guitarrista dos Cocteau Twins. A publicação data de 26 de Junho de 1990[35].
A notícia de um novo álbum dos Cocteau Twins foi publicada no dia 3 de Julho de 1990
[36] dizendo o seguinte: “De momento ainda sem título, os redondinhos dos Coteau Twins estão a finalizar as misturas do seu próximo álbum, a ser editado em Setembro. Antecedido por um “single”, este novo LP baseia-se em canções de orientação mais pop, com aquelas coisas sussurradas por Liz Fraser, desta vez, mais perceptíveis. Uma digressão mundial está também a ser preparada. Até que enfim e abram-se alas!”
Quatro semanas mais tarde, os Cocteau Twins eram novamente referenciados (31 de Julho de 1990
[37]), desta vez sobre uma digressão pelo Reino Unido. Essa digressão seria coincidente com a edição do álbum de originais seguinte, que sairia em Outubro. O álbum mais recente do grupo era analisado passado pouco mais do que um mês, a 18 de Setembro de 1990[38]. Com o título “Subir para baixo”, Miguel Francisco Cadete daria uma classificação ao álbum Heaven or Las Vegas de dois pontos em cinco possíveis.
Duas semanas depois, a rubrica “Picadas”, (9 de Outubro de 1990
[39]) do Blitz, apresentava uma lista de artistas que nessa semana tinham lançado singles ou álbuns. Entre estes encontravam-se os Cocteau Twins com o “single” Iceblink Luck, retirado do álbum Heaven or Las Vegas: “Com novos sete e doze polegadas estão os COCTEAU TWINS (Iceblink Luck)”. Foi também feita referência às posições alcançadas com o álbum e primeiro “single”: “O último disco dos COCTEAU TWINS, brilhantemente intitulado Heaven or Las Vegas, encontra-se actualmente em primeiro lugar no top independente de álbuns do Reino Unido, e o single Iceblink Luck, entretanto retirado do LP, está posicionado no oitavo posto da respectiva tabela de singles.”
O dia 23 de Outubro de 1990
[40] trouxe uma análise, mais positiva no semanário, do primeiro “single” extraído do álbum Heaven or Las Vegas. Fernando Santos Marques atribuiu uma pontuação de três.
As preferências da revista britânica Q, para o ano de 1990, eram reveladas a 18 de Dezembro
[41]. Na lista de 50 nomes da revista constaram os Cocteau Twins com Heaven or Las Vegas. A lista estava ordenada alfabeticamente.
As escolhas dos semanários Melody Maker e NME também foram divulgadas pelo jornal português a 31 de Dezembro de 1990
[42]. Enquanto que para o Melody Maker “o ano musical foi «brilhante»”, nos 30 discos do ano os Cocteau Twins ficaram no 4º posto com Heaven or Las Vegas, já para o NME a lista de melhores do ano reflectiu-se numa lista de 50 nomes. O grupo liderado por Elizabeth Fraser ficou-se pelo meio da tabela (28º posto).
A análise (19 de Fevereiro de 1991
[43]), por parte do jornalista Miguel Santos, ao álbum de outra banda da 4AD, os Lush, foi pretexto para mencionar os Cocteau Twins, “A acrescentar, apenas, o facto de que este etéreo grupo se justifica por, juntamente com os seus amigos Cocteau Twins, serem grandes admiradores desses autênticos fabricantes de hits populares vindos das altas terras frias do Norte da Europa.”, e um dos seus elementos, “(…) (nem sequer Robin Guthrie, dos Cocteau Twins, soube ajudar) [acerca da importação deste grupo e não de outro da mesma editora]”.
O abandono da editora por parte dos Cocteau Twins foi motivo de notícia no Blitz a 2 de Abril de 1991
[44]. Na notícia foi dito: “Uma das bandas de ponta da independente britânica 4AD, os COCTEAU TWINS (ex-libris do som típico da companhia desde há dez anos), abandonaram a editora que os viu crescer, devido sobretudo, a problemas económicos. Nos Estados Unidos, os Twins assinaram contrato com a Capitol.”
Com o título “As veias de um sonho”, acerca do terceiro registo do projecto This Mortal Coil, escreveu-se, a 7 de Maio de 1991
[45], que: “(…) ao contrário do que algum de vós ainda pensa, This Mortal Coil não é, nunca foi o alter ego dos Cocteau Twins nem sequer é mais um grupo da casa 4AD. E Blood confirma-o.” Seguidamente, a 17 de Setembro de 1991[46], o jornal revelou a edição de uma caixa de CDs, parceria 4AD/Capitol, com todos os “singles” e EP do trio. A caixa continha também um CD bónus com três temas originais.
A caixa do grupo seria de novo notícia a 24 de Dezembro de 1991
[47]. Com o título “Cocteau Twins e David Sylvian luxuosos”, foi noticiada a chegada da caixa ao mercado português, assim como mais informações respeitantes à mesma: “Já chegou ao mercado português a caixa de dez CDs, Cocteau Twins, que retrata a maior parte da carreira da banda de Elizabeth Fraser. A caixa, editada pela Momentum Music, reúne temas dos LPs, EPs e singles do grupo, para além de algumas raridades como Dials, o instrumental Oomingmak (ambos inéditos), Crowded (editado originalmente na compilação da 4AD Lonely Is A Eyesore) e High Monkey Monk (que saiu na compilação Gigantic Two, organizada pelo Melody Maker).” O preço, previsto, da respectiva caixa foi de 18 contos.
O assinar de contrato da banda de Grangemouth com a Fontana Records e a promessa de um novo registo de originais levou a uma pequena notícia por parte do jornal. A 7 de Abril de 1992 o Blitz dava conta, além da assinatura do contrato, dos “oito meses de privação” em que o grupo esteve, e dos “seis álbuns em nove anos” gravado para a 4AD.
O jornalista Hugo Moutinho, na edição de 11 de Abril de 1992
[48], fez a análise ao álbum dos Lush (“Spooky"). O baixista do grupo escocês, Robin Guthrie, foi referido devido ao seu papel como produtor do álbum: “Há certos produtores (normalmente aqueles que também são músicos) que, como por magia, conseguem pôr as bandas que produzem a soar à sua banda. Com Robin Guthrie aconteceu mais ou menos isso, já que a sua influência levou os Lush para um caminho a que já deram o nome de «vaga pós-Cocteau Twins»”. As referências das músicas entre os grupos também não faltaram, “Spooky revela-se, acima de tudo, como uma ponte imaginária entre os Cocteau Twins (o que é óbvio) e os My Bloody Valentine.” O jornalista não teve problemas em assumir o que achava do grupo escocês, “(…) ainda que, o espírito invisível dos Cocteau Twins (banda que, honestamente, abomino) estivesse presente.”
Dezasseis meses depois, a 10 de Agosto de 1993
[49], chegaram notícias do novo álbum do grupo. Intitulado Four Calendar Cafe, o disco saiu a 27 de Setembro sendo antecedido por um “single” de nome Evangeline. O mesmo inclui dois temas que não fizeram parte do álbum, Mud and Dark e Summerblink. De destacar ainda o facto de o disco ser “o primeiro da banda para uma editora estabelecida – Fontana (Polygram) – e todo o trabalho de artes gráficas” ser da responsabilidade da banda.
No dia 21 de Setembro de 1993
[50] saiu a análise, por Pedro Fradique, ao tão esperado álbum de Liz Fraser e companhia. O artigo teve o nome de “O paradigma perdido”.
Quando saiu o álbum dos Dead Can Dance, “Into The Labyrinth”, Miguel Cunha fez, no final do artigo, uma pequena comparação desse com o dos Cocteau Twins, Heaven or Las Vegas. O jornalista dizia que era “francamente melhor do que o último dos Cocteau Twins”. O artigo saiu a 28 de Setembro de 1993
[51].
Na primeira terça-feira de Fevereiro de 1994
[52], dia 8, saiu uma notícia sobre um concerto da banda no nosso país. Outra informação veiculada nesse mesmo texto foi a do lançamento de outro single (Bluebeard).
A referência seguinte aos Cocteau Twins surgiu na análise, por Pedro Gonçalves, ao disco dos Future Sound Of London, intitulado “Lifeforms”. Já quase no fim do artigo surgiu a referência: "Perto das sensações de frescura que, em tempos, me assaltavam com a audição de lirismos cantados pela senhora Cocteau Twins, Liz Fraser (e não será por acaso que é dela um forte contributo na versão EP de “Lifeforms”), os Future Sound Of London aparecem, através deste depoimento, à cabeça de potenciais candidatos a disco do ano, na área de ambient-house.” A análise saiu a 20 de Setembro de 1994
[53].
O artigo intitulado de “O Mel e o Fel”
[54] (4 de Outubro de 1994) serviu de análise ao concerto da banda Lush em Portugal. No artigo estava uma pequena nota acerca dos Cocteau Twins, “fugindo amiúde de melancolias enunciadas por dedilhadas à Cocteau Twins (bem patente nos registos discográficos)”.
A comparação Cocteau Twins/Dead Can Dance, de resto sempre presente em análises de qualquer obra de cada um dos grupos, foi retomada em 13 de Dezembro de 1994
[55]. Desta vez foi a arte de Dead Can Dance a ser posta em causa: “Longe vão também os tempos em que os Dead Can Dance construíam mantos de filigranas que, juntamente com alguma obra dos Cocteau Twins, caracterizaria o «som 4AD».”
Na análise ao disco a solo de um dos elementos dos Dead Can Dance (Lisa Gerrard, no dia 24 de Agosto de 1995
[56]), foi mais uma vez referida a capacidade criativa de ambas as bandas: “Pergunta: porque é que os discos lançados pela 4AD já não despertam o interesse que em tempos chegaram a merecer, um após o outro? Resposta: porque as fórmulas repetidas, mesmo que bem engendradas, acabam por cansar. Foi esse cansaço que derrotou projectos como os Cocteau Twins ou Dead Can Dance, duas das imagens de marca da editora londrina.”
Pouco dias antes da vinda do grupo a Portugal, no dia 23 de Abril de 1996
[57] era analisado por Miguel Cunha Milk & Kisses, na época o mais recente álbum dos Cocteau Twins. A classificação atribuída ao disco foi de dois em cinco possíveis.
A referência seguinte à banda aconteceu na edição de 27 de Maio de 1997
[58], aquando da análise ao álbum “A new stereophonic sound spectacular” do grupo Hoover[59]: “Numa primeira análise, os Hoover soam como uns Cocteau Twins com samples e sistema home-theatre (“Innervoice” é o mais claro exemplo disso), um som muito mais envolvente e perverso do que a pop cristalina do grupo de Liz Fraser mas, por vezes, tão melancólica e profundo como aquela.”
Na análise ao álbum “The Space Between Us” de Craig Armstrong (3 de Fevereiro de 1998
[60]) foi feita uma referência a Elizabeth Fraser devido à sua participação no álbum: “Se exceptuarmos os dois únicos temas em que existe contribuição vocal – “This Love”, com Elizabeth Fraser, a voz cristal dos Cocteau Twins (…)”.
Outra das participações de Liz Fraser, em álbuns de outros artistas, foi motivo de referência. Neste caso na análise ao concerto de apresentação do 3º álbum de originais dos Massive Attack, “Mezzanine”: “Sem Liz Fraser (dos Cocteau Twins), que cantou em algumas canções de Mezzanine (…) Se havia quem pensasse possível a presença de Liz Fraser neste espectáculo de lançamento de “Mezzanine”, natural se tornou que as atenções recaíssem na solução encontrada para a substituição, tanto da vocalista dos Cocteau Twins como da própria Shara Nelson”. O artigo saiu a 14 de Abril de 1998
[61]. Poucas páginas depois[62] saiu uma entrevista com um dos mentores do grupo, Robert Del Naja(3D), oriundo de Bristol. A certa altura, da entrevista, o artista é questionado acerca das participações no álbum[63].
Elizabeth Fraser foi de novo referida por causa dos Massive Attack, neste caso foi a vinda deles a Portugal para apresentação do álbum Mezzanine (10 de Novembro de 1998
[64]). Sónia Pereira questionou Del Naja sobre se traziam convidados especiais, à qual o membro do grupo respondeu: “Sim, sem dúvida. O Horace [Andy] vai estar de certeza connosco, e, se tivermos sorte, pode ser que a Elizabeth também esteja, embora seja pouco provável. Tentámos persuadi-la, mas ela teve um bebé recentemente e, não sei, se calhar vai ser complicado, mas estamos a tentar tudo.”
A falta da Elizabeth Fraser no concerto dos Massive Atack foi também motivo de referência aquando da análise do mesmo: “A voz feminina, por sua vez, tanto nos entrega relíquias soul como aproximações à pop, substituindo a aguardada presença de Elizabeth Fraser (…)”. O jornalista Pedro Gonçalves transmitiu, assim, a 17 de Novembro de 1998
[65], o concerto que presenciou no Pavilhão Atlântico Multiusos de Lisboa.
Na vinda dos Massive Attack ao nosso país para o concerto no Festival Sudoeste, foi feita uma retrospectiva da banda (3 de Agosto de 1999
[66]). Nesse mesmo resumo foi inevitável falar de Elizabeth Fraser: “O tal álbum número 3 viria a chamar-se “Mezzanine” e, em nova entrevista concedida por 3D ao Blitz em Abril de 1998, falava-se em detalhe do processo criativo, (…) da forma como músicos e cantores convidados (no caso deste álbum, o habitual Horace Andy e Elizabeth Fraser dos Cocteau Twins) interagem criativamente e contribuem para cada tema.” Era dado assim o “background”, por Jorge Manuel Lopes, para quem fosse assistir ao concerto do grupo.
Mais uma vez a ausência da vocalista dos Cocteau Twins no concerto dos Massive Attack, do Festival Sudoeste, foi notada pelos jornalistas do Blitz. Uma semana depois
[67] escreveram que “apesar da presença da cantora Valerie Etienne no elenco de palco e compreendo que sem a presença de Tracey Thorn, Nicolette ou Liz Fraser não vale a pena recorrer a uma substituta (…)”.
Várias sessões para a BBC, transpostas para disco, foram objecto de análise por parte de Jorge Mourinha. BBC Sessions, único registo ao vivo e oficial do grupo escocês, foi ‘examinado’ pelo jornalista tendo recebido, no final, uma pontuação de seis em dez possíveis. A análise saiu a 12 de Outubro de 1999
[68].
Mais tarde, a 18 de Janeiro de 2000
[69], saiu um extenso artigo sobre Tim Buckley, intitulado de “Pai Herói”. No “lead” foi feita a referência a Elizabteh Fraser enquanto intérprete do projecto This Mortal Coil: “De Tim Buckley recordam-se duas coisas: Song To The Siren, que os This Mortal Coil imortalizaram na voz de Elizabeth Fraser; e o filho Jeff Buckley, que nos deixou cedo demais – tal como o pai, aliás”.
Na secção “MP3litz” do dia 16 de Maio de 2000
[70] é dada a informação de que nasceu uma parceria da 4AD com o site de vendas online Atomic Pop. Com essa parceria os grupos da 4AD, Cocteau Twins incluídos, teriam as suas músicas disponíveis para venda para qualquer utilizador.
A propósito da edição de “Stars and Topsoil, a Collection (1982-1990)”, o jornalista Jorge Mourinha escreveu um artigo (14 de Novembro de 2000
[71]) onde fez uma síntese a toda a carreira dos Cocteau Twins. O artigo chamou-se “Cocteau Twins, o jardim secreto”.
Concertos A banda escocesa esteve em Portugal duas vezes (1994 e 1996) num total de cinco actuações, no entanto apenas foram analisados dois concertos. Na edição anterior a cada concerto houve um resumo do percurso da banda. Contudo, várias notícias surgiram sobre a vinda da banda ao nosso país.
A primeira notícia de uma possível vinda do grupo surgiu na edição de 18 de Junho de 1985[72]. Com o título “Cocteau Twins em Lisboa”, noticiou-se na altura que as negociações para a vinda do grupo a Portugal estavam “bem encaminhadas”. Os únicos pormenores que faltavam ajustar eram as datas e o respectivo contrato. Os dados da notícia tinham sido apurados pelo jornal junto da representante da editora da banda.

No dia 8 de Fevereiro de 1994
[73] saiu uma notícia, “Cocteau Twins e 4 Non Blondes em Portugal”, que dava conta de um concerto da banda em Portugal, no âmbito de Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura. Segundo a notícia o concerto teria lugar no Verão. Outra informação veiculada nesse mesmo texto foi a do lançamento de outro “single” (Bluebeard).
A confirmação dos concertos no nosso país chegou no Blitz passado dois meses
[74]: “(…) estão também confirmados os concertos dos Cocteau Twins (já durante este mês de Abril, marcados definitivamente para dia 27 em Lisboa, dia 28 no Porto e dia 30 em Braga) (…) Todos estes estão agendados para locais com capacidade inferior a cinco mil pessoas.”
Sob o título “Lloyd Cole e Cocteau Twins – outra vez por cá” o Blitz (19 de Março de 1996
[75]) noticiou a vinda do grupo ao nosso país para mais uma actuação: “Outro regresso a Portugal é marcado pelos Cocteau Twins, que vão estar em Portugal no dia 3 de Maio para um espectáculo único no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Este concerto é da responsabilidade da R&B.”
A confirmação do concerto veio na primeira terça-feira do mês seguinte (2 de Abril de 1996
[76]). Noticiou o jornal, com o título de “Cocteau Twins confirmados”, o seguinte: “Os Cocteau Twins viram esta semana ser confirmados os seus concertos em Portugal – já anteriormente noticiados pelo Blitz -, dia 1 de Maio no Coliseu do Porto e dia 3 do mesmo mês no Coliseu dos Recreios, com a organização da Ritmos & Blues.”
Um dia antes do espectáculo de 27 de Abril de 1994, no Coliseu dos Recreios em Lisboa, Miguel Francisco Cadete fez uma retrospectiva da história da banda com um artigo intitulado de “Fora d’horas”
[77]. Sobre o concerto propriamente dito, o jornalista António Pires (3 de Maio de 1994[78]) apresentou aos leitores a sua apreciação. A análise saiu no artigo intitulado “O éter e o chumbo”.
Na segunda vinda dos Cocteau Twins a Portugal, muitas questões, acerca da banda, foram desvendadas através de uma entrevista efectuada ao baixista, Simon Raymonde: “O milagre da reunião” foi o título da entrevista publicada a 30 de Abril de 1996
[79]. Sobre aquele que foi, até hoje, o último concerto efectuado pela banda em território nacional – a 3 de Maio de 1996 no Coliseu dos Recreios com primeira parte do grupo português Cool Hipnoise – Jorge Manuel Lopes escreveu no Blitz de 7 de Maio de 1996[80] a sua versão do acontecimento. “Fazer o céu” foi o título dado, pelo jornalista, ao artigo. D. Rosa Esta secção do jornal serviu para os leitores esclarecerem as dúvidas que tinham sobre os seus artistas favoritos, bem como dar também informações que pudessem/quisessem partilhar com outros leitores.
No dia 19 de Outubro de 1993[81], um leitor perguntou sobre a existência de um CD de uma banda chamada Felt. O leitor estava interessado numa música de nome “Primitive Painters”, em que Liz Fraser cantava. A resposta foi que esse CD-single não estava disponível em Portugal, e que o leitor poderia optar pelo álbum da banda que continha a música, “Ignite the Seven Cannons”. Esse álbum foi produzido por Robin Guthrie, “daí a participação especial de Liz Fraser”.

Na edição de 30 de Novembro de 1993
[82] surgiram perguntas acerca da discografia completa dos Cocteau Twins e participações dos elementos e/ou grupo noutros projectos.
A(o) jornalista foi questionada(o) como era possível adquirir o “single” Snow à qual a resposta foi que não era possível porque, além de ter sido apenas editado na Grã-Bretanha, já tinha sido retirado do mercado. O single continha as músicas Winter Wonderland e Frosty The Snowman. Estas dúvidas surgiram a 3 de Maio de 1994
[83]. Nessa mesma edição na rubrica K7 Pirata[84] foram reveladas algumas das escolhas de Simon Raymonde, baixista dos Cocteau Twins.
No mês seguinte
[85], um leitor pergunta à D. Rosa sobre se “será ainda possível encontrar ainda a [caixa de singles] Pandora Box?” D.Rosa responde que “quanto à Pandora Box, ou seja, a caixa reunindo todos os CD singles do grupo para a 4AD, está já fora do mercado dado que apenas foi publicada em quantidade limitada. Mas os 10 CD singles que a compunham foram lançados individualmente e podem ser encontrados ou encomendados com alguma facilidade.”
Sobre a participação de Liz Fraser na canção Song To The Siren (19 de Julho de 1994
[86]), do projecto This Mortal Coil, a D. Rosa foi também questionada. A resposta à questão foi que Liz Fraser tinha apenas participado nessa canção[87]. Mais uma explicação foi dada sobre a discografia dos Cocteau Twins. A questão foi posta no Blitz de 25 de Outubro de 1994[88].
A 28 de Novembro de 1995
[89], um leitor questionou a D. Rosa sobre a discografia dos Cocteau Twins, a resposta, neste caso, foi ainda mais completa do que os outros esclarecimentos anteriores. Numa outra edição a morada da banda foi pedida por um leitor à D. Rosa. A edição data de 2 de Julho de 1996[90].
A 17 de Novembro de 1998
[91] um leitor questionou a D. Rosa sobre os alinhamentos de alguns concertos de bandas em Portugal, entre eles os Cocteau Twins. No entanto a(o) jornalista não tinha informações disponíveis. Uma leitora, além de referir os projectos em que Elizabeth Fraser tinha participado, questionou, na edição de 7 de Dezembro de 1998[92] do semanário, a D. Rosa sobre o que na altura estava a ser feito pela vocalista dos Cocteau Twins.
A música do anúncio do perfume “Noa” foi também alvo de consulta. A D. Rosa respondeu assim a um leitor, na sua coluna do dia 6 de Abril de 1999
[93]: “É Song To The Siren, da autoria de Tim Buckley, gravada pelos This Mortal Coil (aqui compostos por Elizabeth Fraser e Robein Guthrie dos Cocteau Twins). Está no álbum de 1984 It’ll End In Tears (4AD CAD 411 CD) que encontra nas boas discotecas.”
A D. Rosa, a 6 de Março de 2000
[94], esclareceu uma leitora em relação à biografia e discografia do projecto This Mortal Coil. Sobre o contributo dos Cocteau Twins, a(o) jornalista escreveu na resposta: “O momento mais célebre da existência dos This Mortal Coil ocorreu logo em 1983 com a primeira edição do projecto, uma versão de Song To The Siren, de Tim Buckley, cantada por Elizabeth Fraser dos Cocteau Twins; (…)” .

[1] Edições 220 a 334 e 401 a 426 [2] Nº 3/página 4 [3] Nº 7/página 5 [4] Nº 8/página 6 [5] Nº 12/página 16 [6] Nº 15/página 4 [7] Nº 28/página 13 [8] Nº 31/página 14 [9] Nº 61/página 9 [10] Nº 64/página 4/5 [11] Nº 65/página 6 [12] Nº67/página 3 [13] Nº 88/página 10 e 11 [14] Nº 90/página 17 [15] Nº 108/páginas 10 e 11 [16] Nº 110/página 9 [17] Nº 113/página 3 [18] Nº 163/página 7 [19] Nº 172/página 7 [20] Nº 176/página 6 [21] Nº 181/página 20 [22] Nº 172/página 17 [23] Nº 200/página 2 [24] Nº 201/página 6 [25] Nº 206 [26] Capa [27] Página 6 [28] Página 7 [29] Nº 207/página 3 [30] Nº 224 [31] Nº 225 [32] Nº 243 [33] Nº 269 [34] Nº 280/página 3 [35] Nº 295/página 2 [36] Nº 296/página 2 [37] Nº 300/página 2 [38] Nº 307/página 19 [39] Nº 309/página 2 [40] Nº 312/página 18 [41] Nº 320/página 2 [42] Nº 322/página 2 [43] Nº 329/página 10 [44] Nº 335/página 2 [45] Nº 340 [46] Nº 351/página 2 [47] Nº 373/página 3 [48] Nº 380 [49] Nº 438/página 2 [50] Nº 464/página 27 [51] Nº 465/página11 [52] Nº 484/página3 [53] Nº 516/página 26 [54] Nº 518/página 10 [55] Nº 528/página 25 [56] Nº 565/página 24 [57] Nº 599/página 29 [58] Nº 656/página 34 [59] O álbum que aparecia no Blitz tinha este como nome do grupo, no entanto, hoje em dia o nome que consta no álbum é Hooverphonic, visto que mudaram o nome da banda. [60] Nº 692/página 30 [61] Nº 702/página 11 [62] Páginas 20, 21 e 22 [64] Nº 732/página 22 [65] Nº 733 [66] Nº 770/página 25 [67] Nº 771/página 10 [68] Nº 780/página 33 [69] Nº 794/página 28 [70] Nº 811/página 48 [71] Nº 838/página 30 [72] Nº 33/página 3 [73] Nº 484/página 3 [74] Nº 492/página 3 [75] Nº 594/página 2 [76] Nº 596/página 7 [77] Nº 495/página 14 [78] Nº 496/página 13 [79] Nº 600/páginas 16 e 17 [80] Nº 601/página 10 [81] Nº 468/página 11 [82] Nº 474/página 14 [83] Nº 496/página 10 [84] Nesta rubrica, a D. Rosa interpelava pessoas ligadas ao mundo da música pedindo-lhes uma selecção de músicas na duração de uma cassete. [85] Nº 503/página 10 [86] Nº 507/página 10 [87] Esta explicação não é completamente correcta, visto que, Elizabeth Fraser participou também na música Another Day, do álbum It’ll End In Tears. [88] Nº 521/página 10 [89] Nº 578/páginas 14 e 15 [90] Nº 609/página 27 [91] Nº 733/página 26 [92] Nº 736/página 28 [93] Nº 753/página 31 [94] Nº 801/página 32

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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Individualismo


Hoje prefere chamar à sociedade actual hipermoderna. No ensaio de há vinte anos, este professor de filosofia já lhe diagnosticava os sinais da mudança. Nas vésperas do seu aniversário, vamos revê-los, através de um texto escrito em 1991.

Texto Dina Cristo


Numa primeira abordagem ao tema da obra – o individualismo contemporâneo – o autor caracteriza os conceitos fundamentais, presentes ao longo do livro. É o caso de hedonismo, o prazer como fim último da vida.
Gilles Lipovetsky mostra a diferença entre a sociedade moderna e pós-moderna. Na primeira crê-se no futuro, na ciência e na técnica, em nome do universal, da razão e da revolução. Na segunda, o importante é a realização pessoal imediata – “o que se quer é viver já, aqui e agora”; na informação é a expressão a todo o custo e a indiferença pelos conteúdos.
Na sociedade de consumo distingue duas fases: a primeira, correspondente a Hollywood, de consumo passivo, e a segunda – mais absorvida pela qualidade de vida – em que a paixão pela personalidade faz criar correntes ecologistas, criativas e revivalistas.
Lipovetsky define o narcisismo individual, um sobreinvestimento nas questões subjectivas, característica do individualismo total, e o narcisismo colectivo em que os indivíduos desejam encontrar-se com outros semelhantes, como no caso da vida associativa.
Por fim, uma ligeira caracterização da sociedade actual: o máximo de opções e o culto da libertação pessoal, a vontade de autonomia.
Sedução
Gilles Lipovetsky analisa as características da sedução e a sua influência na sociedade e na política.
Na sociedade é a cultura do “feeling”, do prazer e da realização de desejos – no neofeminismo a sexdução. Na política é a descentralização da democracia que humaniza a nação e aproxima o poder dos cidadãos; a autogestão em que cada indivíduo é considerado um sujeito político autónomo.
A sociedade, actualmente personalizada, deseja o contacto humano, é hostil ao anonimato e à linguagem estereotipada. É o predomínio da comunicação, da escolha livre, da diversidade e realização dos desejos em detrimento da coerção, da homogeneidade e austeridade.
Indiferença
Gilles Lipovetsky atribui à hipersolicitação a causa da indiferença pós-moderna; afirma que hoje os comportamentos coexistem sem se excluírem e lança a pergunta: “o que é que se mostra ainda capaz de espantar ou escandalizar?”
O autor apresenta como características desta indiferença a paixão pelo nada e pelo extermínio total (caso de Hiroxima), a apatia das massas, a descrença no esforço, na poupança e na consciência profissional.
A indiferença manifesta-se em diferentes domínios. A vida não tem finalidade nem sentido, “o futuro já não entusiasma ninguém”. Constata-se a dúvida perante o saber e a abstenção nas eleições. A moda, os tempos livres e a publicidade têm em comum a futilidade.
São indiferentes a solidão - o solipsismo – e a revolução, como o Maio de 68, considerada a primeira revolução do género pelo autor. O suicídio torna-se a patologia das massas: “(…) o indivíduo pede para ficar só, cada vez mais só e simultaneamente não se supunha a si próprio, a sós consigo. Aqui, o deserto já não tem começo nem fim”. Todos estes aspectos conduzem à alienação, ao tédio e à monotonia.
Vazio
O autor descreve em que domínio se manifesta o vazio e as suas consequências. Na política assiste-se a uma crise de confiança nos dirigentes, é o caso do Watergate e do terrorismo, daí a crescente despolitização e dessindicalização.
Enquanto isso aumenta o consumo de consciência, expresso através do yoga, da psicanálise, da expressão corporal e meditação transcendental. Há, também, uma grande necessidade de viver o presente, viver tudo imediatamente, por isso desaparecem as grandes iniciativas que merecem sacrifício ao longo da vida.
O fascínio pelo auto-conhecimento e auto-realização é uma das facetas do narcisismo. Esta era do “amor-próprio” caracteriza-se também pela libertação, autonomia e independência do eu. A necessidade permanente de valorização e de ser admirado está presente.
O corpo torna-se objecto de culto. É quase obrigatório continuar jovem e lutar contra o tempo. No que diz respeito à confraternização, ela faz-se numa base comum (o mesmo bairro, região ou sentimento) mas, embora haja autenticidade, os actos não são espontâneos, os indivíduos retraem-se e interiorizam-se.
O vazio, traduzido numa vida solitária, na incapacidade de sentir, revela-se como um mal-estar e uma vida absurda. Por detrás de uma aparência de carácter sociável está a exploração dos sentimentos do outro e a procura do interesse próprio. “As relações humanas são baseadas na dominação e intimidação”.
(Pós)modernismo
No período do modernismo há o culto da novidade e da mudança. Os principais valores são a imediatez, o impacto e a sensação. O hedonismo encoraja a gozar a vida, a obedecer aos impulsos. O culto do consumo uniformiza os comportamentos. Assim, predomina a homogeneidade, o ideológico e o universal.
A experiência pessoal torna-se, no modernismo, fonte de inspiração. A arte desliga-se do passado e torna-se mestra de si própria. Neste contexto, o indivíduo está propenso à angústia, ansiedade, stress e depressão.
O pós-modernismo consagra o novo, faz triunfar a anti-moral e o anti-institucionalismo. O natural, espontâneo e improvisado tornam-se os principais valores. Aumenta a reivindicação de liberdade na vida familiar, no vestuário e na comunicação.
No período pós-moderno predomina o desejo de ócio (de auto-realização e liberdade) em detrimento do trabalho, considerado monótono. O mesmo acontece com a imaginação em relação ao saber técnico. Dá-se a crise do Estado Providência.
Há, ainda, uma decadência estética: a arte torna-se híbrida, ao integrar todos os estilos, e esgota-se num arquétipo. Todos têm vontade de expressão artística, livre e aberta a qualquer indivíduo.
A coabitação dos contrários é uma realidade na sociedade pós-moderna: “(…) não há interesse pelos programas políticos, mas faz-se questão de existência de partidos; não se lêem jornais, mas defende-se a liberdade de expressão, quanto mais o diálogo se institucionaliza mais sós se sentem os indivíduos e quanto mais cresce o bem-estar, mais a depressão triunfa”.
Humor
Gilles Lipovetsky traça a evolução do cómico na sociedade. Até ao Renascimento o riso está ligado à profanação do sagrado e à violação das regras oficiais. O cómico medieval rebaixa e ridiculariza. A partir da idade clássica, o riso desenvolve formas modernas como o humor, a ironia e o sarcasmo.
Depois do séc.XVIII e até ao séc.XIX o riso livre é consideradobaixo de mau tom e como um comportamento a desprezar. Contudo, o sentido de humor difundido nestes dois séculos acentua o lado engraçado das coisas.
Ainda no séc.XIX e primeira parte do séc.XX, o outro era o alvo principal de humor. Hoje, ri-se muito menos dos vícios e defeitos dos outros e mais do próprio eu - é o caso de Woddy Allen. Actualmente rimo-nos mais com o outro e não do outro.
Hoje, o Homem tem cada vez mais dificuldade em sair de si e sentir entusiasmo. O riso e as gargalhadas espontâneas são cada vez menos. O tom humorístico é ligeiro; é feito de jogos de palavras e fórmulas indirectas. Contudo, hoje, ninguém é sedutor se não for simpático. O humor torna-se uma qualidade a exigir do outro.
Os valores da primeira metade do séc.XX, como a castidade, sacrifício, poupança, convidam mais ao sorriso do que ao respeito. Hoje em dia, as coisas mais sérias e formais assumem um tom cómico. A hipertrofia lúdica vai dissimulando a infelicidade quotidiana. O código humorístico veicula a linguagem das ruas, em tom familiar e despreocupado.
O humorístico introduziu-se as áreas mais diversas. A moda prima pelo desleixado e descontraído, “o novo deve parecer usado e o estudado espontâneo”, coexistem diversos estilos. Na arte vê-se de tudo e tudo é permitido. A publicidade explora os slogans mais descontraídos. Na tecnologia há já robôs que se destinam a rir e a fazer rir.
Violência
Durante milénios, a violência e a guerra foram valores dominantes. Numa época em que prevalecia o interesse do grupo, a crueldade estava legitimada: a violência tinha como objectivo o prestígio ou a vingança. Esta moral de honra podia mesmo levar à luta até à morte.
Com o advento do Estado, a guerra torna-se a missão honrosa do soberano, um meio de conquista e expansão. O excesso de represália deu origem a leis destinadas a moderá-la. Mais tarde, com a era individualista, desaparece a legitimidade de crueldade e retaliação. As sociedades tornam-se policiadas e a partir do séc.XVIII começam a diminuir os crimes.
No início do séc.XIX renuncia-se aos castigos corporais e, no séc.XX, diminuem o número de execuções, condenações à morte e violência privada. A vida torna-se, para o Homem individualista, o valor supremo e a sobrevivência a lei fundamental. Dá-se uma pacificação dos comportamentos, as discussões são cada vez menos.
Actualmente reina a indiferença: o outro passa a ser um estranho, um anónimo. Paradoxalmente, há cada vez maior sensibilidade à dor do outro e um desejo de comunicar e conhecê-lo.
Hoje, a violência de classe dá lugar a outra de jovens desqualificados, minorias raciais ou grupos periféricos – é o crime em pleno dia, por quase nada. Entre os mais jovens crescem as tentativas de suicídio, mas “o individuo pós-moderno tenta matar-se sem querer morrer (…)”.
Sedução, indiferença ou vazio são, pois, elementos da mesma realidade: o individualismo contemporâneo. Gilles Lipovetsky contrapõe à época moderna – da produção e revolução – a pós-moderna, da informação e expressão. Diz o autor que o narcisismo é a comunicação sem finalidade nem público, em que o destinador se torna o seu principal destinatário.

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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Prémio Informação Solidária


No início do terceiro ano de actividade, abrimos as votações aos nomeados para o primeiro Prémio Informação Solidária (PIS) em Portugal.

Texto Dina Cristo fotografia e escultura Cristina Lourenço

São sete os (programas de) órgãos de comunicação social portugueses nomeados para o 1º PIS 2009 que criamos: Imprensa - "Biosofia", "Cais" e "Tempo livre"; Internet - "IM Magazine"; Rádio - "Mais cedo ou mais tarde" (TSF); Televisão - "Aqui & Agora" (SIC) e "Sociedade civil" (RTP2). A partir de agora, e durante exactamente três meses, os internautas podem votar na sondagem. A entrega do prémio, simbólico, uma estatueta - na fotografia - da autoria de Cristina Lourenço será entregue em Dezembro. Dar a conhecer a IS praticada em Portugal, reconhecer o seu trabalho, valorizar a inovação e incentivar a sua prática são os principais objectivos da distinção.
Como referiu Carlos Cardoso Aveline, pensador desta escola, no seu livro editado em 2001, “A informação solidária – a comunicação social como prática de uma nova ética”, a Comunicação Social da Nova Era possui sete características essenciais: «1)- Ensina como o cidadão pode assumir mais responsabilidade sobre sua vida, mostrando hábitos saudáveis e dando conhecimentos que permitem viver com sabedoria. 2)- Aponta soluções e alternativas para os problemas que aborda. Descreve atos generosos, destaca pessoas que agem com altruísmo. Inspira sentimentos positivos. 3)- Descreve o ser humano com suas crises e contradições, mas mostra que ele está voltado para o bem e que busca a felicidade. 4)- Obedece ao poder da verdade. Põe limites ao jogo de conveniências, abre espaço para leitores e espectadores, e ganha prestígio seguindo um bom padrão ético. Conquista espaço por sua coragem editorial. 5)- Dá destaque a causas nobres e projectos sociais altruístas. 6)- Fala a partir dos dois hemisférios cerebrais, especialmente o direito, que é positivo, intuitivo, criador e voltado para o futuro. 7)- Não tem medo de enfrentar as questões cruciais, porque confia no ser humano e no futuro.»
Como declarei à ESEC TV, em 2007, aquando da Conferência que antecedeu a criação deste projecto informativo, a IS apresenta uma nova forma de fazer informação, com critérios inovadores. Depois do conflito, da guerra, do ódio, do crime e da superficialidade, os novos valores-notícia da harmonia, da paz, do amor, da generosidade e da consistência começam a ser recuperados. Esta corrente defende igualmente a mudança de fontes philodoxas, amigas da opinião, para outras, philosophas, amigas do saber, privilegiando novos actores sociais mais altruístas.
Inovação informativaAtravés da IS mudam os objectivos, que deixam de ser apenas e desmedidamente os lucros, mas também os modos de produção, distribuição e recepção da informação. Doravante, com o esgotamento do sistema industrial, por um lado, e a expansão da rede digital, por outro, estão criadas as condições para se investir numa informação correcta, orientada pela ética, por dever, assente no paradigma do belo, bom e bem.
Deixa de estar apenas baseada nos fenómenos de efeitos pontuais para passar a estar ancorada num tripé em que se ocupa, para além do contexto dos acontecimentos, também das suas causas e consequências. Mais do que triangular, trata-se de uma informação que “vai mais fundo”, nas palavras de Gabriela Oliveira, jornalista freelancer, vocacionada para a integralidade da vida, dos seres ou da actualidade.
Sem se centrar, forçar ou explorar a subjectividade e a emoção, a IS não as esconde. Mais feminina, intuicional, a Informação Solidária faz uso do 6º sentido, latente, prescindindo da prioridade à informação política (partidária), económica, desportiva (futebol) ou internacional (conflitos). É uma informação especialmente vocacionada para pessoas (hiper)sensíveis, cuja natureza é ferida pelo excesso de estimulação, sobretudo visual e/ou sonora.
Mais humana, natural, simples e extensiva, é também mais artesanal, lenta e com alma. Adequada ao movimento de transição, com aposta na escala local, mas sem esquecer a dimensão planetária, é uma informação com preocupações ecológicas, sustentáveis, alternativas, comprometida, interventiva, independente e participativa. De carácter eminentemente voluntário, criteriosa e cooperativa, dirige-se a um público mais consciente e responsável que pretende desenvolver.
Mais de dois anos após termos dado início a este projecto informativo, inspirado na IS, a palavra "solidário", sobretudo depois da explosão da crise, deixou de parecer tão estranha. Se a expressão "fraternidade", ideal promovido pela Revolução Francesa, parece ter caído em desuso, com o crescimento do digital aumentam as oportunidades colaborativas, em rede, também ao nível jornalístico. Hoje, as questões da solidariedade social começam a integrar a agenda mediática, evocam-se os órgãos de comunicação social cooperativos, criam-se regiões solidárias, organizam-se festivais solidários e até o Google se tornou solidário.
Como escreveu Oscar Quiroga no seu "Diário de bordo" de 2 de Julho deste ano «(..) as coisas estão mudando, e para melhor. Por todo lado há humanos cheios de espírito e boa vontade que fazem o necessário para servir seus semelhantes, mas com certeza não merecem uma nota de rodapé nos jornais, porque a horda de seres estimulados pela crítica agressiva são os consumidores de notícias e não lhes interessa constatar que há espírito e boa vontade no seio humano. Porém, o número de pessoas de bem cresce diariamente e logo chegará o dia em que se tornará maioria e, pela magia das leis do mercado, provocará a mudança de tom das notícias veiculadas diariamente».

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