quarta-feira, 25 de março de 2009

Desburocratizar?


Três anos depois do Programa Simplex, um poema que nos recorda os martírios da burocracia portuguesa.


Texto Fernando J. Pinto Basto
«Ensinam…
Ensinam a preencher
Formulários, questionários e
Outros impressos obituários
Dizem que é para a harmonia
Fiscal, patrimonial e
Outras que tal
Prescrevem as formas,
As normas, os critérios
E demais impropérios
Justificam as opções,
As tabelas, os quadros
Com legislação decretada
Demonstram ser
Burocrática a via
Democrática que
Atenta e jurisprudente
Impõe regras
Aos cidadãos
Penitentes
Contribuintes renitentes
À mercê das
Instituições desafiantes
E obsolescentes.
Pressuposto imputável
À lei da selva
Administrativa são
Os custos do imobiliário
E da saliva
Resíduos, refugos e
Desperdícios
Sob o olhar atento
Do auditor prudente
Implacável na análise
Da quantidade de plumbagina
Excedente
Quotas, taxas e
Outros emolumentos
São aplicados
Em papel miudinho
Documentadamente cuspido.»
Porto 14/11/2000

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quarta-feira, 18 de março de 2009

Perpétuo

Pelos 80 anos do Borda D´Água, revisitamos os almanaques. Uma história que se iniciou com a tipografia e perdura até hoje.


Texto Dina Cristo

Diz uma lenda judaica que o livro de todo o saber, gravado para a humanidade vindoura nas vésperas do dilúvio, era um almanaque. Sabe-se que existiu entre os povos antigos. Em Portugal, há manuscritos com matéria astrológica que remontam à primeira metade do séc. XIV, mas é com a imprensa que a sua divulgação se torna popular e anual.
Em 1496 é publicado o “Almanach Perpectuum”, de Abraão Zacuto, numa tipografia judaica, em Leiria. Este almanaque foi utilizado para a elaboração de tábuas solares náuticas dos Descobrimentos. Eram os repertórios dos tempos (o primeiro fora editado por Valentim Fernandes em 1518) também chamados lunários.
A folhinha de lua é uma publicação anual com calendário, informações científicas, tabelas, registo de aniversários e textos humorísticos ou recreativos. Entre os seus autores estavam astrólogos, matemáticos, médicos, professores e clérigos. Alguns tiveram o contributo de nomes como Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão.
Contendo muitos dados variados - «abrir um almanaque é correr-se o risco de saber um pouco de tudo (...)»
[1]- predominavam as informações de carácter meteorológico (o calendário, as efemérides), religioso (festas e feriados), astrológico (fases da lua), agrícola (cultivo da terra) e higiénico; informações úteis que facilitassem a vida quotidiana, como comer, sobreviver, cultivar a terra, governar-se, distrair-se, informar-se e discernir.
O repertório era o ponto de contacto da cultura popular com a escrita. O seu conteúdo transpunha para o papel parte da cultura de tradição oral e era uma forma de difusão de saberes para as classes pobres, adquiridos por via mais erudita. No século XVIII muitos começavam por “como vão ouvir”, reflexo de uma audição colectiva e popular.

Popularidade

Dirigido a um público mais rural, entre os séculos XVI e XVII, passa depois desta vida agrária para um meio urbano, nobre e burguês (a exigir informações burocráticas e administrativas precisas). No séc. XVIII houve títulos que procuraram atingir leitores urbanos, como o “Almanaque de Lisboa”, publicado pela Academia das Ciências da capital.
No séc. XIX explodem em quantidade (sobretudo a partir da segunda metade) e diversidade, passando a abarcar um maior leque de público e novas formas de o utilizar, como a familiar. Em 1873, publicaram-se, em Lisboa, 47 almanaques diferentes e, neste final de século, imprimiam-se, por ano, cerca de 16 mil folhinhas de algibeira.
Chegou mesmo a haver uma pequena livraria editora de almanaques na Rua Augusta. Os cegos eram os seus principais vendedores ambulantes – uma forma de venda que persistiu pelo menos entre o século XVIII e XIX. A feira da ladra foi outro local de venda, a que se juntaram depois outras feiras e romarias.
Com as facilidades de impressão, especializa-se, por um lado, ao mesmo tempo que se torna enciclopédico. Evolui de poucos saberes fundamentais para uma pulverização de conhecimentos e surge o almanaque político, diplomático, regional, literário (que se impôs e distraiu alguns serões), teatral, fadista, tauromáquico, familiar, feminino, recreativo e escolar.
Dão-se no séc. XIX as alterações mais profundas. Começam a integrar anúncios e transformam-se num subsidiário da imprensa: jornais e revistas recorrem a ele como forma de brindar o público. Depois, perante um ritmo que se torna inadequado à vida citadina, vai esmorecendo, mas sobrevive, até ao século XXI, o almanaque rural, com as luas e indicações agrícolas.

RADICH, Maria Carlos - Almanaque - tempos e saberes, Centelha, s/d, pág.65

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quarta-feira, 11 de março de 2009

Armas de criação massiva



Esta é a penúltima parte do documentário de Petter Jeseph, que estreia a nível mundial este Domingo, dia Z. “Zeitgeist – Addendum” desenvolve a terceira parte, do filme de há um ano, dedicada ao sistema monetário.


Texto Dina Cristo

Em cerca de duas horas, o vídeo – disponível em português – explica a actual mecânica monetária, que cria dinheiro a partir da dívida, e como constitui um sistema moderno de escravidão geral. A nível individual, através dos empréstimos, dos juros e da inflação; a nível nacional pela ganância, corrupção e golpes de… globalização. Desde os anos 50 (Irão, Guatemala) aos anos 80 (Equador e Panamá) até ao século XXI (em 2002 na Venezuela) são desfilados exemplos de “assassínio económico”, cujos oponentes são baptizados de "terroristas". Dívida pública, desemprego e poluição são alguns dos efeitos identificados do abuso económico.
O filme expõe as fragilidades do que chama “corporatocracia” – economia corporativa e poder financeiro – e do “monetarismo”, sistema que coloca em primeiro lugar o dinheiro e o interesse particular, sustentado na percepção da escassez e na perseguição do lucro, gerando crime abundante. Uma “guerra económica”, classifica, liderada pelo Banco Central Norte-Americano (a Reserva Federal, ao nível americano), o FMI (a nível internacional) e o Banco Mundial, cujos resultados têm sido o aumento da pobreza e desigualdade social.
A esta “ditadura dos ricos”, de elite, baseada no egoísmo, na competição, na guerra e na agressão, com consequências ao nível da dependência da generalidade das pessoas e repercussões ao nível da exploração, da fome e da destruição, o autor propõe um novo sistema social baseado em “armas” de criação massiva. Defende que é tempo da sociedade mudar para um novo paradigma civilizacional, de unificação e comunidade, radicalmente diferente.

Prosperidade geral

Partirá de um pressuposto contrário: hoje, o ser humano tem, à sua disposição, recursos e tecnologia (mais do que) suficientes para gerar abundância, sustentabilidade e bem-estar a todos os habitantes deste planeta. Chegou a hora de passar a ser civilizado, decente, ético e a ter novos incentivos de vida bem mais amplos e humanizados.
Jacque Fresco, do Projecto Vénus, cujo teor o filme desenvolve, defende que é preciso desenhar novos valores. Existe bastante conhecimento tecnológico para que tenhamos energia acessível, limpa e infinita. Basta aproveitar os quatro elementos naturais (e daí retirar a energia solar, eólica, das ondas e geotérmica), e desbloquear a electricidade (no caso dos automóveis) e o comboio de levitação magnética - maglev (no caso dos aviões).
Neste sistema não haveria lugar para a publicidade, a legislação, as armas, as prisões, as compras e o próprio Estado. Ocupado com o seu desenvolvimento mental, o ser humano estaria preocupado na sua verdadeira contribuição colectiva em vez de ser obrigado a trabalhar para pagar as dívidas, contraídas para ter acesso aos bens e serviços básicos.
Colocado a circular em 2008, antes de se revelar a dimensão da crise, o documentário indicava dois sinais importantes de mudança: desconfiança política e incumprimento económico; davam-se também sete dicas para o comportamento, aqui e agora, de cada um: expor a fraude bancária, desligar o noticiário da televisão, boicotar o exército e as companhias de energia, rejeitar o sistema político e juntar-se ao movimento.
Nesta nova atitude destaca-se a transformação da própria consciência sobre o lado simbiótico da vida - a sua interdependência - e a importância do sentimento de ligação - comunicação - êxtase que traz alegria. Oitenta anos após o seu nascimento, as palavras de Martin Luther King parecem ressoar: «Eu acredito que a verdade desarmada e o amor incondicional terão a palavra final na realidade».

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Filmes

Brindamos a chegada da nossa segunda Primavera com algumas das mais belas obras da sétima arte. À memória de Fernando J. Pinto Basto.



Selecção e fotografia Dina Cristo


FORMAN, Milos - Hair (1979):


EDEL, Uli - Avalon (2001):



REDFORD, Robert - Quiz show (1994):
/p

EASTWOOD, Clint - Outra vida (2010):

MASTROIANNI, Armand - Profecia celestina (2006):
CHAPLIN, Charles - Tempos modernos (1936): ALLEN, Woody - Os dias da rádio (1987): QUEIROGA, Perdigão - Fado, história de uma cantadeira (1947): SCHNITZLER, Gregor - A nuvem (2006): CARO, Niki - Terra fria (2005): GIBSON, Brian - What`s love got to do with it (1993): STONE, Oliver - Alexandre, o grande (2004): CAMERON, James - Avatar (2009): AMENÁBAR, Alejandro - Ágora (2009): BROOKS, James L. - Edição especial (1987): SHYAMALAN, Night M.- Sexto sentido (1999): EMMERICH, Roland - O dia depois de amanhã (2004): ANNAUD, Jean-Jacques - Sete anos no Tibete (1997): CHAPMAN, Brenda; HICKNER, Steve - Príncipe do Egipto (1998): GAGHAN, Stephen - Syriana (2005): VASCONCELOS, António-Pedro - Jaime (1999): STONE, Oliver - J.F.K. (1991): BENIGNI, Roberto - A vida é bela (1997): COSTNER, Kevin - O mensageiro (1997): EPHRON, Nora - Sintonia de amor (1993): SPIELBERG, Steven - A lista de Schindler (1993): Jackson, Peter - O Senhor dos Anéis (2001-2003): LOPES, Luís Vidal - Mensagem (1988): MONSON, Shaun - Terráqueos (2005): ZWANIKKEN, Gertjan & SOETERS, Karen - Uma verdade mais que inconveniente (2008): GOORJIAN, Michael - You can heal your life (2007): MOORE, Michael - Sicko (2007): ROCHA, Luís Filipe - Adeus pai (1996): BERTRAND, Yann Arthus - O mundo é a nossa casa (2009): BOAVIDA, Cristina; ESPÍRITO SANTO, Ricardo - Amo-te Teresa (2000): GIONO, Jean - O homem que plantava árvores: STREISAND, Barbra - As duas faces do espelho (1996): TORNATORE, Giuseppe - Cinema paraíso (1989): OLIVEIRA, Manuel - Vale Abraão (1993): CAMERON, James - Titanic (1997): BARTLETT, Hall - Fernão Capelo Gaivota (1973): GEORGE, Terry - Hotel Ruanda (2004): EPHRON, Nora - Você tem uma mensagem (1998): KIM, Ki-duk Kim - Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera (2003): MEDEIROS, Maria - Capitães de Abril (2000): PARKER, Alan - Culpado ou inocente (2003): GIBSON, Mel - A paixão de Cristo (2004): VIEIRA, Leonel - Zona J (1998): ZUCKER, Jerry - Ghost, o espírito do amor (1990):MEIRELLES, Fernando - Fiel jardinero (2005): ZEMECKIS, Robert - Contacto (1997): EASTWOOD, Clint - As pontes de Madison County (1995): BAY, Michael - A ilha (2005):

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domingo, 8 de março de 2009

Literatura portuguesa III


Nesta terceira parte focamos os prosadores da Casa de Avis, o papel fundamental de D. Duarte e D. Pedro.

Texto Dina Cristo

A criação literária (produção de livro e leitura) desenvolveu-se na Corte portuguesa do séc.XV. Os príncipes organizam livrarias, redigem grandes compilações históricas, fazem traduções e são, por vezes, autores de obras originais. O advento da Dinastia de Avis intensificou na Corte o interesse por vários problemas. Os dominantes nas obras que restam dos príncipes de Avis encontram na prosa a sua expressão mais apropriada. Entre essas obras incluem-se “O livro da montaria”, “A ensinança de bem cavalgar”, “O Leal conselheiro” e “A virtuosa benfeitoria”.
“O livro da montaria”, de D. João, foi escrito entre 1415 e 1433. Liga-se a uma série de trabalhos como “O livro da Falcoaria”, “Livro de Alveitaria”, “Livro de Cetraria”. O livro de D. João contém muito mais matéria literária que estes. Principia por uma classificação escolástica dos encantos da caça montês e faz algumas apreciações sobre o prazer saboreado da caça.

A linguagem é rica de vocábulos e metáforas provenientes da gíria dos caçadores. A construção da frase é enredada e com anacolutos
[1], o que sugere um público e um autor pouco afeitos à disciplina literária. Algumas páginas revelam o encanto do ar livre.

“A ensinança de bem cavalgar” tem mais do que um propósito pedagógico e social amplo. D. Duarte parece querer restaurar o culto da equitação. O saber andar a cavalo exigia a prática de uma disciplina sobre os instintos e o medo.

D. Duarte e D. Pedro

“O Leal conselheiro” de D. Duarte é mais declaradamente moralista. Pretende oferecer à nobreza e príncipes normas e modelos de conduta. Por isso expõe uma teoria segundo a qual a vontade inteligente predomina sobre as outras faculdades da alma. Expõe também um tratado sobre as virtudes e sobre os pecados e entra por toda a espécie de digressões e apartes. D. Duarte, ao lado de conceitos e divisões escolásticas, dá considerações e exemplos da sua experiência pessoal, faz análises introspectivas, por vezes com grande subtileza, nomeadamente entre as diversas formas de tristeza. É a primeira vez que, na língua portuguesa, um autor procura analisar subjectivamente uma vivência pessoal e interessar os outros com problemas do seu existir e se tenta definir “saudade” como expressão de um sentimento ambivalente.
A originalidade de “O leal conselheiro” está no caminho que o autor percorre e não no fim a que se dirige. D. Duarte conta a sua experiência para ensinar aos leitores como hão-de resistir às tentações do pecado. Foi compilado em 1437 ou 1438.
"A virtuosa benfeitoria" de D. Pedro (regente de Portugal) tem também um propósito moralizante e normativo mas uma estrutura e matéria muito diferente de “O leal conselheiro”. O autor pretende expor a teoria do feudalismo.
O livro apresenta o mundo como uma pirâmide em degraus em que Deus é o vértice e os irracionais a base. O que liga os diversos graus da hierarquia é o prémio que o superior dá ao inferior pelos serviços - o benefício, a Benfeitoria.
O infante D. Pedro e, até certo ponto, o Rei D. Duarte colocam-se exclusivamente no ponto de vista do príncipe ou Senhor; consideram a autoridade destes como uma ordenação divina, ignorando a ideia da soberania popular (já aflorada por S. Tomás e implícita na elevação da Casa de Avis ao trono).
Ambas as obras testemunham o predomínio da ideologia da nobreza (que procura fortalecer a sua autoridade numa sociedade em que a direcção política era disputada por diversos grupos sociais). D. Pedro compara a sociedade ao corpo humano onde à cabeça aristocrática cumpre dirigir e aos membros vilãos trabalhar. Mas as pretensões de melhor acesso ao governo pelos vilãos e a recente Dinastia de Avis, que devia o trono a uma eleição das Cortes, levam os dois príncipes a problematizar o poder que exerciam. D. Duarte medita sobre a sua própria função de príncipe e idealiza o seu exercício sob uma norma racional e “virtuosa”.
Grandes diferenças separam as duas obras. D. Pedro (“A virtuosa benfeitoria”) coloca-se num ponto de vista objectivo – é em função da sociedade que procura determinar as normas de conduta individual. D. Duarte (“O leal conselheiro”) situa-se num ponto de vista moral subjectivo. Quem julga as acções dos homens é a consciência e em última análise os mandamentos da Igreja.
“A virtuosa benfeitoria” (acabada por um clérigo) tem uma estrutura escolástica: citações, subdivisões a partir de definições de conceitos, argumentação de prós e contras. O tratado é uma tentativa para transpor em língua portuguesa as formas típicas da literatura escolástica.
“O leal conselheiro” apresenta uma disposição mais irregular e o pensamento do autor (registado inicialmente em apontamentos dispersos) segue uma linha sinuosa e trata vários temas que vêm a talho de foice. O livro é o primeiro esboço de uma literatura de tipo novo. Por isso, pela concreta experiência pessoal que reflecte (nomeadamente a reacção do autor contra o humor merencório) pelo quadro de convivência do lar paterno, “o leal conselheiro” tem maior interesse literário.

Inovação

A redacção em língua portuguesa destas obras oferecia grandes dificuldades. A língua estava pouco ajustada à expressão das ideias (discussões abstractas) que normalmente eram em latim. O português exercitara-se quase exclusivamente na narrativa; o escrito não se afastava muito da língua falada (nomeadamente no romance de cavalaria e crónicas de Fernão Lopes) pelo menos quanto ao ritmo e à estrutura periodal. O escritor destinava o seu livro à leitura em público. O ritmo da frase, as pausas e suspensões eram confiadas à competência do leitor assistente.
O que acontece com “O leal conselheiro” e “A virtuosa benfeitoria” destinavam-se não já tanto à leitura em voz alta para ouvintes como individual de gabinete. D. Duarte refere-se não só aos ouvintes como também aos leitores do seu livro e dá-lhes conselhos: que leiam devagar, com atenção e determinando as pausas adequadas ao texto. D. Pedro tem consciência da dificuldade de criar uma língua literária distinta da fala coloquial (as pausas da língua escrita, sinais de pontuação que são mais frequentes do que na fala).
O latim foi a língua sobre a qual a prosa doutrinal portuguesa apoiou os primeiros passos, quer na forma quer em vocábulos. D. Duarte socorre-se frequentemente de latinismos embora condene o seu uso imoderado (como abstinência, infinito, fugitivo, evidente, sensível, intelectual, circunspecção). As melhores páginas de “O leal conselheiro” são aquelas em que medita sobre a língua.

No seu esforço para criar uma expressão rigorosa, os novos prosadores são levados a adoptar também latinismos sintáticos, como a transposição do verbo para o fim da frase, abuso da oração infinitiva como acontece com D. Duarte. Ainda conjunções subordinativas. A dificuldade destes novos domínios faz com que se encontre frases enoveladas em que se perde a construção que liga o começo ao fim. “A virtuosa benfeitoria” é de exposição muito mais fácil, com períodos de estrutura mais sólida. A obra situa-se no terreno da discussão escolástica e parafraseia “De beneficiis”de Séneca.

[1] Figura de sintaxe em que um termo se acha como que solto na frase, sem se ligar sintaticamente a outro.

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quarta-feira, 4 de março de 2009

Sete divas

Próximo do Dia Internacional da Mulher, identificamos os seus sete modos de ser (deusa). Seguimos a mesma autora de "Os deuses em cada homem".

Texto Dina Cristo


Há sete qualidades humanas que podem ser activadas e invocadas; correspondem a padrões universais de consciência, necessidades, modos de ser e de se comportar, forças internas, expressões da Grande Deusa, Ísis. Dividem-se em deusas virgens – independentes, activas, de consciência focada, yang, de que são exemplos Ártemis, Atena, Héstia -, deusas vulneráveis – dependentes, passivas, de consciência difusa, yin, é o caso de Hera, Deméter e Perséfone - e Afrodite, a deusa alquímica – simultaneamente autónoma e receptiva, yang-yin. Vamos espreitá-las.
Ártemis é a deusa da caça (persegue um alvo, é competidora) e da lua (identifica-se com a natureza). É irmã, mas impiedosa; deve ser mais clemente. A Diana romana.
Atena é a deusa da sabedoria e dos ofícios (deve fazer artes manuais); estratega (valoriza o intelecto, tem uma mente analítica e impessoal, pensa bem e de forma calculista, tem um olhar crítico e um coração de pedra, é filha do pai. Deve descobrir a criança que nunca foi e aprender a não rotular. A Minerva Romana.
Héstia é a deusa do lar, do templo; é sensata, honrada, desapegada, contemplativa, solteira, introvertida e socialmente isolada (tem dificuldade em enfrentar o mundo exterior e sente prazer nas tarefas domésticas). Mulher sábia mas apagada e sem ambição. Deve aprender a exprimir os seus sentimentos, a guardar a sua privacidade e a adaptar-se ao mundo. A Vesta Romana.
Hera é a deusa do casamento, criadora de compromisso, esposa, ciumenta, insegura, fiel, leal e ligada ao marido – o núcleo da sua vida e em quem delega as suas escolhas. Foi seduzida. Deve canalizar a sua raiva para o trabalho. A Juno dos Romanos.
Deméter é a deusa dos cereais, mulher nutridora e mãe (perseverante), com grande instinto maternal e impulso para a gravidez e pouco sensual. É generosa, altruísta, sólida, sustentadora, voluntária, mas também controladora, supervisora, sufocante e muito defensiva; tem um comportamento passivo-agressivo, grande dificuldade em dizer “não” e tende à depressão. Foi violada. Deve aprender a recusar, a exprimir a cólera e a desenvolver outros interesses. A Ceres Romana.
Perséfone é a donzela e rainha dos infernos, mulher receptiva e filha da mãe (menina da mamã). Jovem, sem consciência sexual, pudica, descuidada; influenciada, muito maleável, submissa, obediente, aceitadora, cede às exigências, passiva; indecisa, sem direcção, dinamismo ou responsabilidade, pouco empenhada, dependente, insegura, sem auto-confiança; cautelosa, introvertida, introspectiva, triste; esteve demasiado tempo refugiada, sente-se culpada e sonha acordada. Foi raptada. Pode regressar à realidade e ser mediadora (entre o consciente e inconsciente).
Afrodite é a deusa do amor, da beleza e da fecundidade. A amante, com vida subjectiva e impulso para a união; extrovertida, tem consciência sexual, prazer e empenha-se no momento, aprecia a intensidade, vive o presente imediato, menosprezando os planos e os compromissos. Deve zelar pelos seus interesses e prioridades. A Vénus dos Romanos.
A heroína, diz a autora, é a mulher que ama em plenitude e equilíbrio, aquela que depois de contabilizar as diferentes forças (motivações) e de fazer uma escolha amorosa e racional, aceita o resultado e a dor da perda das restantes, aprendendo, crescendo e continuando.
Tudo começou quando Geia (a Terra) deu à luz Urano (o Céu), com quem acasalou e gerou os 12 titãs, entre os quais Cronos – que matou o pai e casou com a irmã Reia, tendo como filhos Posídon, Hades, Héstia, Deméter, Hera e Zeus. Este último foi o único que escapou ao pai (Cronos, que os comia a todos) e teve vários filhos.

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