quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Os dias da rádio



No dia do III Congresso da Rádio evocamo-la através do filme que Woody Allen realizou há 25 anos, num momento em que se exibe nas salas de cinema a última película do cineasta.

Texto Tiago Mota fotografia Dina Cristo


Se, hoje, ao entrarmos no nosso veículo, automaticamente ligamos a rádio e sintonizamos numa estação que habitualmente transmite música agradável ao nosso refinado ouvido, apenas como forma de falsa companhia e distracção, outrora a coisa foi diferente, note-se, bastante diferente.


Imaginemo-nos nascidos há mais de meio século atrás, numa era em que possuir algo que hoje nos é tão banal como um rádio – aqueles aparelhozinhos que, por vezes, acompanham os produtos alimentares em forma de brinde – era, então, um luxo. As donas de casa, essas, tinham o privilégio de poder ouvir, durante todo o dia, as galanteadoras vozes que apresentavam as canções românticas e que as deixavam suspirantes e apaixonadas, seguidas das dramáticas novelas, que julgavam prováveis de elas próprias vivenciar. Os homens, pilares da família que diziam trabalhar que nem cães, ansiavam por chegar a casa e sentar-se no seu viril cadeirão, pegar no tardio jornal do dia e escutar a telefonia. Já os catraios, depois de um contrariado dia de aulas, não podiam ver a hora de largar a mochila no tapete da sala de jantar e ajoelhar-se frente ao grande e requintado aparelho, ouvindo serem relatadas as mais recentes aventuras dos bravos super-heróis e dos cowboys do oeste, nas suas épicas cavalgadas recreadas com cocos num estúdio de rádio.


A música sempre foi uma das componentes mais poderosas da rádio, se não a mais. Tudo nos conquistava, fossem as agradáveis baladas de fácil audição, fossem os orelhudos jingles. E a fórmula era tão eficaz que ainda hoje se repete e repete e repete. Mas tínhamos de ser selectivos, não nos chegasse aos ouvidos aquela música do demónio, recheada de mensagens subliminares, que os estrangeiros para cá trouxeram em jeito de rebelião.

Éramos gente ingénua e facilmente impressionável. Não sentíamos a necessidade de confirmar a veracidade do que se dizia e era dito, do que se escondia por detrás de tais amigáveis vozes. Conhecer uma destas grandes estrelas da rádio era quase como conhecer uma alma pura e divina, por mais ridícula que fosse, por menos cintilante que uma estrela devesse, de facto, ser. E o mais estranho é que, apesar de tudo, ainda hoje assim somos, por muito que o tentemos negar. Mas sabíamos também que ouvir a telefonia era quase como ouvir o que o demónio tinha para falar, e esse sentimento de culpa tornava o desafio ainda mais aliciante. Ouvir a rádio nessa época era um pouco como fumar e beber nos nossos dias, sabemos que nos faz mal, por isso consumimo-lo só de vez em quando.


É fácil apelidar a rádio como a banda sonora das nossas vidas, mas o certo é que outrora assim foi. E porque o Homem de extremos se faz, houve um tempo em que nos reuníamos em família para o ritual de ouvir a telefonia, enquanto que, hoje, apenas recorremos à rádio quando a solidão nos assombra, lembrando-nos que há quem esteja lá por nós, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, à distância de uma simples vontade.

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domingo, 23 de setembro de 2012

Rádio Clube de Moçambique IV


Revista "Rádio Moçambique", nº 332, Março de 1964, pág.10


Nesta quarta parte falamos da rádio como instrumento de propaganda.


Texto Dina Cristo


A rádio é considerada um meio ubíquo, indiscriminado, capaz de ultrapassar as fronteiras, barreiras ou distâncias e nem mesmo o muro de Berlim é capaz de a deter: «Ligeira como o vento, ágil como o pensamento, vence as distâncias, abre os ferrolhos mais possantes, transpõe os muros mais impenetráveis, instala-se nos lares e nos corações como uma presença benigna, fiel e amiga. (….) A Rádio vai a toda a parte; visita todos os lares e tanto se faz ouvir na humilde palhota escondida na selva, como no luxuoso palacete dos bairros elegantes».



Sobretudo em África, é sentido a sua função afectiva, como um meio que proporciona companhia e amizade: «Aqueles que vivem nas lonjuras da terra africana são os que melhor compreendem e estimam o receptor radiofónico, fabulosa criação do espírito humano que se transporta de um lado para outro, na camioneta, na mão, a tiracolo. À noite, quando o silêncio torna as trevas ainda mais densas e aviva a saudade, é ao aparelho de rádio que se recorre, na certeza de que nele encontramos um amigo sempre pronto a consolar-nos. É então ao Rádio Clube de Moçambique que, normalmente se recorre para preencher essas horas nostálgicas. A um simples toque dos nossos dedos, que actuam como varinhas de condão, a caixa electrónica anima-se, vibra, ganha alma e comunica connosco para vencer a desoladora solidão e dominar a melancolia».



A sua capacidade de estreitamento de laços, de aproximação e de interligação entre pessoas, faz-se sentir em Ultramar, fortalecendo a unidade nacional para além da dispersão territorial, sobretudo num momento de guerra fria através das ondas sonoras: «(…) É sempre consolador ouvir a voz de Portugal aos portugueses espalhados pelo mundo, mas agora, é necessário também que essa voz seja eco que nunca se apague nos corações das gentes e ao mesmo tempo tenha neles ressonâncias que não diminuam em comparação com outros ecos que também lhe chegam».



A rádio desenvolve-se enquanto meio de formar a vontade, de orientar o espírito, de conduzir e controlar a opinião pública, de convencer alguém a acreditar em algo ou a agir de determinado modo a que se chamará educação, nos casos positivos, ou propaganda, nos casos negativos, segundo Eduardo Rebelo, autor da crítica radiofónica na revista “Rádio Moçambique”. A força da rádio, o seu poder é reconhecido: «A Rádio (…) influencia, sugestiona e, desta forma, conduz (…)».



Enquanto meio acessível, imediato, úbíquo e intencional, é explorada em prol da colonização portuguesa e o RCM ao serviço do interesse nacional, moral e material: «(…) colocando-se num dos postos da vanguarda da radiodifusão em África, o Rádio Clube teve mais o mérito de servir triunfantemente a propaganda portuguesa moçambicana nos territórios do continente ao sul da linha equatorial. E como já uma vez aqui dissemos, desta obra que parece entrar por um ouvido e sair pelo outro, alguma coisa ficou: “Um eco dos apelos nos corações, um conhecimento que se aprendeu, um gosto que se ilustrou, um prazer de espírito que se firmou, um reavivar da consciência de português”. Uma contribuição positiva para a grande obra de portuguesismo e de universalidade que nesta Província nos compete realizar: a da civilização de Moçambique».



A rádio assume-se como um dos meios mais eficazes de divulgação rápida, de propagação directa das mensagens governativas. Os discursos oficiais, nomeadamente aquando de visitas ou eleições, são oportunamente difundidos através da informação que se incrementa.



Se em 1958 já há consciência da especificidade da natureza do meio com a sua linguagem peculiar - simples, natural e compreensível – nos inícios dos anos 60, a rádio inova em termos informativos, aproximando-se da vida de todos os dias: ela deixa de «(…) se confinar aos estúdios para ir às casas em que se vive e aos lugares em que se trabalha – residências, escritórios, fábricas, oficinas, etc. – e descer à rua e em todos os lugares, estuante de energia vital, acompanhar a vida, transmitindo as suas manifestações».



Sobretudo no período marcelista, a função informativa e a palavra adquirem proeminência em detrimento da função recreativa e da música (apesar desta agradar mais aos adolescentes, em Lisboa). A primazia da voz dá lugar ao que é dito e ao modo como é feito: os ouvintes «(…) preferem que lhes digam coisas que tenham interesse mesmo numa voz descolorida, a banalidades numa voz maravilhosa».



A rádio ganha vitalidade, apura o seu valor social, desempenha o seu papel no campo cívico, concentra-se no interesse colectivo e torna-se uma “porta-voz” da sociedade, assumindo a responsabilidade moral e o primado da consciência, dos valores, da opinião e da cultura: «A rádio é um instrumento poderoso na educação e formação da vontade».



Assim, ela vai para a rua, testemunha e documenta as manifestações de vida, fora dos estúdios, seja nos confins da terra, no mar ou no ar, como a transmissão da “Hora das Vedetas” feita a bordo dum Boeing 737 . «Ao longo do ano, funcionários dos Serviços Redactoriais e do quadro de locutores efectuaram mais de 3500 apontamentos de reportagem, entrevistas, etc., em serviço fora da sede».



No início dos anos 70, entre os vários factores que concorrem para que a informação radiofónica se expanda está a colaboração dos Emissores Regionais, com o envio de notícias, crónicas e reportagens. Em 1971, quando existem nove noticiários diários, a pedido da EN, é criado um serviço noticioso diário para a Metrópole. Em 1972 realizam-se três grandes reportagens fora de Moçambique: a visita do Presidente do Conselho e do Presidente da República de Portugal ao Brasil e os Jogos Olímpicos de Munique; em Moçambique, predomina a cobertura das várias visitas oficiais, como as do Governador-Geral, Pimentel dos Santos, aos distritos.



A “Voz de Moçambique” também transmite informação oficial, nomeadamente das visitas, como a do Presidente da República em Julho de 1964, objecto de 31 reportagens (19 directas – as relativas às sessões solenes - e 12 gravadas) , e «(..) está em todas as casas. Ensina e orienta em massa, todos os dias, em toda a parte, saltando fronteiras, fazendo progredir, interessando, ensinando, fazendo-se amar, conquistando corações, como é próprio deste povo amorável e compreensivo que é o povo Português. E, enquanto os ouvintes da V.M. tiverem oportunidade de escutar esta Voz, não escutarão outras… E isto porque é o Amor e não o ódio que permanece e aquece imperecivelmente o coração dos homens».



Em relação à política do espírito, que ao longo dos anos estudados se vai intensificando, alia a informação à educação. A difusão das ideias, cuja necessidade vai crescendo à medida que os ataques e contestações à política portuguesa vão aumentando, era levada a cabo por programas como a rádio-escolar, inaugurada na Metrópole a 25 de Novembro de 1960 e em Moçambique em Fevereiro de 1972, um programa para professores e para alunos, produzido pela Secretaria Provincial de Educação, mais concretamente pelo Centro de Produção Radiofónica.



A cultura e a instrução, mas também a recreação, a diversão e a distração são estratégicos na política propagandística de que o programa dirigido às Forças Armadas é exemplar. No final de 1968, mais de 60 elementos do RCM partem em direcção à Beira e a Nampula, para realizar sete espectáculos para os soldados, militares doentes e a população. A caravana conta com a Orquestra Típica de Música Portuguesa, o coro feminino e os cantores Natércia Barreto e Carlos Guilherme, entre outros - uma embaixada chefiada por Eduardo Parreira, que levou confiança e conforto moral «(…) junto daqueles homens sobre quem pesa a responsabilidade de defender a terra portuguesa ameaçada pelo bandoleirismo partido do exterior e que, heroicamente, asseguram a continuidade de Portugal na rota de Nação livre e independente».



Num contexto internacional de luta através das ondas radiofónicas entre o Ocidente e o Oriente, com uma rede radiofónica de centenas de emissores , depois da vaga de independências, designadamente a do Congo, em 1960, e da guerra nos territórios ultramarinos, desde o estalar do conflito, em Angola, em 1961, a rádio é, cada vez mais, usada como um verdadeiro soldado, em que a arma é o microfone e as balas as palavras.



A rádio transforma-se num elemento bélico, de defesa contra os ataques da propaganda comunista, como uma arma poderosa, sobretudo de propaganda, mais efectiva, por um lado, e menos perigosa, por outro. A radiodifusão torna-se, assim, um verdadeiro instrumento de contra-ataque , daí, também, o surgimento das emissões nocturnas e ininterruptas como medida de proteção contra investidas exteriores.



A necessidade de reforçar a disseminação da causa nacional cresce, ao mesmo tempo que a ideia de missão e de serviço do RCM, enquanto voz de Portugal em África, se enfatiza. Em 1970, quando o «programa de mentalização» “Hora da Verdade” é distribuído por todos os dialectos, cobrindo toda a província e se recebem lições de português em língua nativa, «(…) zonas imensas do Norte moçambicano estão inteiramente abrangidas nas áreas de influência de emissoras estrangeiras – nomeadamente as de Dar-es-Salam, Pequim, Moscovo e Cairo. Lourenço Marques não se consegue fazer ouvir (…)» , daí a urgência de se criarem postos regionais, estando nesta altura a ser montados mais sete, além dos quatro existentes.



A irradiação da mensagem nacionalista tem a atenção, ajuda e intercâmbio da EN. A Emissora oficial em Lisboa é a fonte de programas que são retransmitidos - nomeadamente os relatos de futebol -, propositados - como o “Jornal da Metrópole”, produzido pelos Serviços Ultramarinos - e para a qual são enviados programas como o “Minuto da Amizade” ou “Presença de Moçambique”, “um documentário radiofónico”, transmitido desde Maio de 1963.



Já em 1958, aquando da comemoração das bodas de prata, o delegado do RCM em Lisboa, agradece as relações amistosas e a solidariedade entre a Emissora Nacional e o Rádio Clube de Moçambique, que vêm, pelo menos, desde 1942: «Nunca será demais lembrar a obsequiosa, correcta e eficiente colaboração dos Serviços Técnicos desta emissora à sua congénere de Moçambique; nunca serão esquecidos, de igual modo, o empenho, o sentido da oportunidade e a diligência indesmentida com que os Serviços de Intercâmbio permitem manter o elevado nível artístico e cultural da programação do Rádio Clube de Moçambique; nunca nós teremos a expressão exacta para exaltar e agradecer a compreensão e o carinho com que todos os departamentos da Emissora Nacional acolhem e satisfazem os desejos da estação moçambicana para bem desempenhar a missão que lhe compete do vasto plano dos interesses do País».



Entre os principais argumentos usados durante a propagação dos valores nacionais enquanto nação multirracial, pluricultural e transcontinental, estão a harmonização, a amizade, o entendimento, a compreensão, o progresso e a pacificação: «A paz reina entre as populações autóctones e a civilização progride, onde não há muito lutas entre as tribos causavam o desassossego, mortes, violências e latrocínios».



Portugal presta não só protecção, entendimento, liberdade e humanidade, como refere Adriano Vidal, numa das suas “Notas do dia” do “Jornal da Noite”, como também o bem-estar às populações, a fraternidade racial, a sociedade multirracial (contra o terrorismo alimentado pelo comunismo) ou a transcontinentalidade: «Portugal é sempre Portugal. Não importa que o banhe o Atlântico, o Índico ou o Pacífico. Não importa que esteja situado nos Trópicos ou no Equador» . Neste contexto, a deserção é apontada como uma monstruosa traição, uma «(…) podridão moral e cívica».

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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Vida comum


No dia em que Dieter Duhm, fundador de Tamera, completa 70 anos de idade, analisamos duas necessidades humanas essenciais: a liberdade individual e a protecção social.

Texto e fotografia Dina Cristo


Uns procuram a expressão, o desenvolvimento, o aperfeiçoamento individual, outros a aceitação, a integração, o apoio e a ordem social. Será esta uma escolha inevitável ou duas forças possíveis de conciliar? Segundo José Flórido a individuação como a colectivização são duas leis possíveis de se compatibilizar e equilibrar. Tal é possível na última etapa de desenvolvimento humano. Até lá existem três fases prévias: a primeira é a de egoísmo e separatividade, correspondente à individuação em sentido negativo, quando o indivíduo quer conquistar sem esforço e sem aceitação das imposições sociais.

A segunda etapa, a da colectivização em sentido negativo, é quando a sociedade tenta absorver o indivíduo não deixando expressar livremente a sua criatividade, pelo que ele adopta os códigos, hábitos, usos e costumes sociais da maioria. Só depois, na terceira fase é possível a individuação positiva, quando o indivíduo, respeitando os outros, pretende expressar a sua individualidade e ser ele próprio. É na quarta fase, da colectivização positiva, que se atinge o altruísmo e a relação de amor com todos os seres, quando, ao desenvolver ao máximo as suas faculdades criadoras, o Ser Humano as utiliza em benefício da colectividade.

Evolução

Nas sociedades tradicionais e tribais as pessoas estavam unidas pela semelhança e conformavam-se devido à lei repressiva – a obrigação normativa e moral era sentido como natural tal como a solidariedade mecânica, com fortes laços sociais. Nas sociedades modernas os seus membros passaram a estar unidos pela diferença, regidos por uma lei restitutiva, que garante o direito à equidade, e pela solidariedade orgânica, assegurada ora pelo trabalho especializado ora pela cidadania democrática.

Com a industrialização, a massificação, o êxodo rural e os nacionalismos, as pessoas, em novo ambiente social, cultural e laboral, além de deslocalizadas, “exiladas”, atomizadas, no anonimato e desprezo das grande cidades, tornaram-se mais vulneráveis à cultura, dominação e manipulação mediática, controlo e vigilância social bem como a alienação pessoal.

Baseada na homogeneidade, no isolamento involuntário, as sociedades de massa transformaram-se em campos geradores de dependência (manifestados, por exemplo, em excessiva extroversão, para chamar a atenção, ou introversão, por receio de desaprovação) e propícios à exploração, à necessidade de cobiçar e extorquir no colectivo bens e pessoas, no máximo de quantidade e superficialidade, em benefício próprio, para satisfação dos seus interesses pessoais. Neste nível de desenvolvimento material, ainda infantil, faz-se sentir o narcisismo, a sociopatologia e a domesticação social - que condiciona, limita e aprisiona o indivíduo - a obediência, por um lado, por medo, e a necessidade de “protecção” e apoio, por outro. 
Não é, contudo, através do condicionamento, opressão, obstrução e castração do desenvolvimento individual, da exploração da vida social em prol dos interesses particulares e da satisfação instrumental que se pode fundamentar o desenvolvimento social saudável. Este implica o desabrochar mais livre das potencialidades e peculiaridades de cada ser humano, das diferentes formas de expressão (cultural) das necessidades e sonhos, esses sim, idênticos. O (re)conhecimento (e preservação) das particularidades de cada ser humano, da diversidade humana, é essencial pois são recursos que, mais tarde, serão postos em prática a favor da própria vida colectiva.

A fase de individualização, que pode implicar um afastamento da vida social intensa e fútil, é quantas vezes negativamente conotado como anti-social. Confunde-se a integração no sistema social (mediático, político, económico, etc.) com a integração social propriamente dita, na vida de todos os dias, do qual praticamente ninguém, na verdade, está excluído. Rubem Alves mostra, na crónica “solidão amiga”, os aspectos positivos do isolamento voluntário: tempo-espaço para a criação de obras de arte e a comunhão - consigo, com os outros, com a natureza – em que o “estar junto” é bem diferente do “estar próximo”.

Quando o individuo se afasta para ver melhor, para se conhecer e poder expressar e realizar a partir da sua identidade central, integral e profunda desencadeia o processo de individuação, um campo íntimo, de liberdade, autonomia e segurança. O séc. XIX e o romantismo foi fértil precisamente em dar espaço à Subjectividade, ao sentimento, ao Eu interior, pessoal e privado, que se auto-regula em detrimento do ser mais exterior, público, impessoal e objectivo, dos lugares e da hétero-regulação. Em vez da super-estrutura social, causal, teórica, ideal, colectiva e determinística, a infra-estrutura prática, material, individual, âmbito de acção de livre arbítrio, hoje exercido sobretudo ao nível do discurso.

Aceite a riqueza da diferença (posturas, valores, motivações e finalidades, por exemplo), inscrita num âmbito de (auto)conhecimento mais profundo, embora ainda separatista e discriminatório, eis um estado mais adulto de independência, liberdade, responsabilidade e realização. Um estágio cantado, como em “My way”, identificado, como nas deusas virgens – Artémis, Atena e Héstia – correspondentes a padrões de independência – e pensado, por exemplo, por Carlos Cardoso Aveline, que afirma: «Uma certa dose de condicionamento social é inevitável e positiva. Porém é indispensável respeitar, ao mesmo tempo, a necessidade de todo ser humano de estar consigo mesmo, ouvir a voz da sua própria consciência e ter vontade própria».

Comunidade

Só após a experiência da ordem social e da liberdade individual é possível atingir a sua conjugação e conciliação, equilibrando, nas unidades colectivas, as leis da colectivização, mais opressivas e de apego, focadas no todo e no intercâmbio, e da individuação, mais liberais e de desapego, focadas na parte e nas fronteiras. Tal é possível quando se prescinde da dependência social e da independência individual em prol da interdependência, numa visão mais moderada. Numa fase de maior maturidade é, assim, possível, após a falta de personalidade e o seu excesso, encetar uma etapa de despersonalização. É o que se denomina vulgarmente por cidadania, que tem em vista o Bem Comum, o Bem Geral.

Esta maior impessoalidade não significa a eliminação da individualidade mas pelo contrário o colocar as suas competências e talentos em prol da vida comunitária, reunindo a realização individual com a coesão social. Desta forma, quanto mais individual, profundo e original um ser for maior poderá ser a sua contribuição para o todo. Não se trata, pois, de submissão, uniformização ou de separatividade mas de unificação, harmonização e comunhão que hoje começa a ser expressa em comunidades em formação, num nível já não tribal antigo, sub-racional, mas em grupos supra-racionais.

Se na verdade há comunidades que vêm de séculos anteriores, como as religiosas, com as suas Ordens, Mosteiros e Conventos (sendo os Franciscanos um exemplo: os Menores restaurados em 1891, os Conventuais regressados em 1978 e os Capuchinhos entrados em 1939), no séc. XXI nascem e espalham-se pelo mundo cada vez mais comunidades, como os kibutz, ligadas à ecologia profunda, cultivando um estilo de vida simples, sagrado, vinculado, sustentável e com sentido. Já Thomas More, no final do séc.XIX havia imaginado uma sociedade onde o dinheiro era prescindível e ninguém possuía mais do que o necessário.

Em Portugal, Tamera, no Alentejo, é um dos exemplos. Formado como Centro de Pesquisa para a Paz e biótipo de cura, numa perspectiva de acupunctura planetária, ali se desenvolve uma comunidade de seres vivos, além dos humanos, com base na confiança e na cooperação mútua, fundamentada na satisfação das necessidades básicas, como água, alimentação e energia, e valores como a paz e o amor. Apoiada numa tecnologia descentralizada, assente na água (com paisagens de retenção) e no sol, a comunidade, constituída desde 1995, perto de Relíquias, tem por finalidade a (re)formação de uma nova cultura da Era da Deusa, humana, graciosa e harmoniosa.

Neste processo evolutivo da tribo à era grupal há que cuidar de evitar o pseudo-individualismo (diferenciação falsa, separatividade forçada e vi(vi)da em circuito fechado), o excesso de individualismo, motivo de mal-estar que Gilles Lipovetsky explicou, mais presente nos EUA, a sua indistinção da vida comunitária facilitada pela Web 2.0, bem como as tentativas para normalizar e aquietar os indivíduos em questionamento e crescimento, nomeadamente através de medicação.

Hoje, a ideia de que pela união se pode formar uma “constelação” avança e além das redes de Eco-aldeias, existem actualmente Comunidades de Comunidades. Na Europa, onde a ideia da vida colectiva é ainda mais forte, são recordadas quer os bens de uso comunitário, como o boi, o forno, o moinho, numa atitude de abertura, troca e solidariedade, quer os próprios animais com um forte espírito comunitário, como as abelhas, as formigas ou os gansos, que ao voarem em conjunto, em forma de V, reduzindo a resistência do ar, atingem um voo 70% mais longe do que o fariam sozinhos. O lado corporativo, pode representar igualmente um novo espírito grupal construtivo e mediador, entre o indivíduo particular e a sociedade no seu conjunto, nomeadamente as empresas sem fins lucrativos e/ou que actuam na área da responsabilidade social.

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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Vida inteligente



Na semana em que recomeçam as aulas, reflectimos sobre a natureza, tipologia, poder e efeitos do pensamento.

Texto e fotografia Dina Cristo


Há duas formas de pensar. Uma é com lógica. É própria do intelecto, é estratégica, astuta, interessada, pessoal e apaixonada; é confusa, `animalesca`, intoxicante, venenosa ou, como diria Kant, impura. É a razão calculista, egoísta, agressiva, separatista e analítica, dos impulsos e inclinações. Está ligada às sensações e corresponde à esperteza. A outra é com amor. É própria da inteligência, é natural, desinteressada, impessoal, desapegada - pura; é clara e esclarecida, verdadeira e curativa. É natural, “nutritiva”, amorosa, humana, comunicativa e sintética.



É a razão distorcida, do pensamento concreto, que, tendo em conta o desenvolvimento humano, deve ser controlada, dominada, domesticada, orientada e direccionda. Pelo contrário, a razão pura, do pensamento abstracto, deve ser libertada. Óscar Quiroga escreveu «Você deve perguntar-se constantemente a respeito do pensador interno para que a mente seja instrumento útil em vez de chicote que invade seu tempo com idéias para lá de absurdas e inconsistentes. Dominar a mente é a próxima etapa evolutiva de nossa humanidade» .

O Ser Humano, que possui consciência individual e vontade própria, tem capacidade para melhorar e aperfeiçoar o seu modo de pensar. Este pode tornar-se melhor, mais qualitativo, subtil, “afiado”, despoluído, belo, universal e tranquilo - como acontece na passagem para a lentidão, da consciência alfa, em que um neurónio se descarrega entre sete a 14 ciclos por segundo de informação e o pensamento predomina sobre a acção – e mais elevado, através do foco em ideias nobres – como a solidariedade - e ideais, como a sonhada fraternidade universal.

Também é possível substituir os pensamentos negativos, analíticos, repetitivos, críticos, problemáticos, obscuros, pesados, de carência (como o pressuposto da economia capitalista), inúteis e destrutivos, que provocam enfraquecimento, aprisionamento, fatiga e doença por outros mais positivos, criativos, de síntese, aceitação, leveza e abundância (como a economia da dádiva), orientados para as soluções - úteis e construtivos, que promovem o fortalecimento, a libertação e a saúde.

Contudo, transitar de pensamentos viciosos, como o medo, a inquietação, a preocupação ou o desânimo, para pensamentos virtuosos, de confiança, tranquilidade e ânimo implica um esforço, dada a frequência habitual dos primeiros e o grau de dificuldade da mudança. Evitar a dispersão, treinando a concentração é essencial. Como uma espécie de combustão, ao inflamar, o pensamento focado – no Bem - além de proteger, potencia a purificação dos detritos ou resíduos tóxicos, provocados pelos pensamentos negativos, demasiada informação e não processada.



Há cerca de um século, Erich Scheurmann, o chefe da tribo dos tiavéa, retratava o pensamento dos europeus, os Papalagui, como vão, contínuo, rápido, excessivo, ruidoso como «a grave doença de estar sempre a pensar», provocando velhice, feiura, divisão, paixão, conflito, tormento, orgulho, embriaguez, sobrecarga, cansaço e tristeza. Quanto aos livros, as «esteiras com pensamentos», afirmava: “quem absorver esses pensamentos ficará imediatamente contaminado, e eles ingerem essas esteiras como se fossem bananas doces. Em cada cabana há baús cheios delas a transbordar. Velhos e jovens Papalaguis roem naquilo como ratos em cana de açucar» .



Entre o excesso de pensamentos e a falta de consciência há que procurar o equilíbrio. Mais difícil ainda talvez seja a gestão da sua ligação aos sentimentos, que influencia. A razão pura inclui e não exclui o amor, ela corresponde ao nível ético em que se cumpre a lei desinteressadamente, por amor a ela, sendo a lei máxima, amar o próximo como a si próprio, como se conclui do livro "Crítica da razão prática", de Immanuel Kant. Daí o provérbio chinês: «Recorda-te sempre da boa acção e nunca da injúria».



Falando metaforicamente para discípulos, Omraam Aivanhov aconselha a dar prioridade ao pensamento. Se os sentimentos são importantes porque constituem uma espécie de “maquinaria” que faz mover e avançar o “navio”, deve ser a cabeça, que está no topo do corpo humano, a funcionar como um capitão que decide a direcção, observa, orienta e dá ordens, fazendo-o chegar a bom porto. Como Carlos Cardoso Aveline referiu «A habilidade de pensar é muito nova, e ainda perturba a coordenação das sensações e dos gestos concretos» .



Os pensamentos filtram e influenciam o que se sente, por sua vez os sentimentos influenciam o olhar e filtram as acções. Pensar é criar: «Tudo é criação da mente», como escreveu Fernando Nené. Tal potência está expressa ao nível religioso (com o poder criador do Verbo) como ao nível científico, com o construtivismo - sendo dada cada vez mais importância à imagem porque não apenas representa o mundo mas também o recria e forma. Assim se constroem realidades mais ou menos vastas ou limitadas consoante o pensamento original. Para Omraam Aivanhov, o pensamento é uma entidade viva, que deixa marcas visíveis ao ponto de esculpir o próprio corpo. «(…) conhecer a natureza da mente é saber a origem de todas as coisas» lê-se no Livro Tibetano da Vida e da Morte.

Como publicou a revista Rosacruz , os pensamentos são uma espécie de gema que influencia a clara, o ambiente. Flávia de Monsaraz afirmou que “a energia segue o pensamento”. Dieter Duhm declara a propósito do seu poder: «Através de pensamentos e visões são construídos campos de energia e de informação invisíveis que não possuem nenhumas fronteiras espaciais (…) a partir dos quais o mundo visível surge». Cada pensamento é uma semente da qual depende o futuro. É preciso, pois, peneirar o trigo do joio, queimar a má colheita como se faz às ervas daninhas, e guardar a boa no celeiro para mais tarde a semear.



O documentário “Que raio sabemos nós?” trata esse bit de informação concentrada, que é o pensamento, do ponto de vista de onda, quando ao olhar se “vê” infinitas possibilidades de escolha, e de partícula, em que apenas se observa de forma objectiva. O mesmo vídeo considera o impacto dos pensamentos para além água, conforme estudado por Massaru Emoto. A pergunta é: se os pensamentos provocam a (de)formação de cristais de água, com as mais diferentes cores e formas conforme a natureza dos que são expressos - quanto mais elevada for a ideia mais harmoniosa e bela a forma geométrica - que farão às pessoas, que são constituídas essencialmente por água?



Os pensamentos emitem frequências (incluindo sobre objectos) que, segundo a lei do feed-back, realimentarão a sua própria fonte; depois de formados lançam-se em todas as direcções à volta de quem os emitiu. Daqui, como também do seu poder de realização, decorre a responsabilidade por cada pensamento emitido e transmitido, o cuidado a ter com a focagem no mal, na crítica investindo, em vez disso, no agradecimento e reconhecimento – caso em que, para Omraam Aivanhov, permite renovar a matéria, tornando-a ao mesmo tempo mais resistente e sensível. Enquanto mente dual, como uma escada rolante, ela tanto pode projectar a Humanidade para andares superiores, o “paraíso”, ou inferiores, o “inferno”,”lugar” subterrâneo sem luz, calor, ar ou espaço, como lembra o autor búlgaro.



A substância mental corresponde à intenção e permite a comunicação, a ligação do Ser Humano com a sua essência mais profunda, com as outras pessoas (a ligação mental, pelo amor ou pelo ódio, é habitualmente mais forte do que a física), com a Natureza (e a sua linguagem universal e silenciosa) e com o mundo divino. Contudo, este capital mental sofre várias vezes de apego - provocando uma obstipação “cerebral”, resistindo a prescindir das ideias ultrapassadas, ou diarreia mental, quando não é aceite a chegada de novas ideias – ou ainda de orgulho, falta de integridade mental, preguiça ou indolência, quantas delas provocadas pela indústria cultural, como explicou Theodor Adorno, que as adormece, infantiliza, reprime, domestica e “hipnotiza”.



O facto dos dois hemisférios do cérebro estarem frequentemente desequilibrados e por vezes fortemente desligados dificulta o processo de desenvolvimento mental. Enquanto o lado direito, da mente mais abstracta, concentra-se no todo, é mais subjectiva, imaginativa, compreensiva, não sequencial e produz pensamentos mais complexos e também mais flexíveis e divergentes, o lado esquerdo, da mente concreta, critica, analisa, pormenoriza, calcula, classifica, compara, separa e dispersa, actuando de forma estratégica, linear, objectiva, parcial e produzindo pensamentos directos e dominantes. É esta racionalização fria, intelectual mas não inteligente, que se manifesta em diversos sistemas, nomeadamente o administrativo, através da burocracia.

Foi a mente que permitiu ao Ser Humano criar cultura, fazer ciência e, ao ter valores, a ética, discernir o bem do mal, ser lúcido e esclarecido. Contudo, os Humanos têm-se pensado a si próprios como pecadores (pela religião) ou manipuláveis (pela ciência). Hoje, porém, têm condições para assumir o poder de se governar, de se tornar criadores benéficos, ao conduzir os seus próprios pensamentos para a verdade, para o bem comum, procurando abrir espaço para o silêncio e, ao ultrapassar as nuvens mentais no céu da intuição, o sexto sentido, provocar a cura. «Porque o pensamento que nos permite compreender também nos permite agir: ele é algo mais do que uma simples faculdade que tem por objectivo o conhecimento; ele é a chave de tudo, é a varinha mágica, o instrumento da omnipotência» .



Através do pensamento, é possível purificar a matéria, dar sentido aos gestos, fazer acupunctura mental ou proporcionar a mudança social. Para Dieter Duhm, «A humanidade tornar-se-á também capaz de mudar rapidamente e facilmente as estruturas materiais através do poder do pensamento». Os pensamentos circulam e, positiva ou negativamente, irão influenciar algures uma acção; como diapasões despertam ecos noutras mentes receptivas e sintonizadas. Daí a importância de o melhorar, focá-lo na pureza da impessoalidade, recuperar a naturalidade e aprender a despreocupar - sobretudo em lua vazia, como defende Óscar Quiroga, uma forma mais eficaz de descansar do que nada fazer.

Roberto Carlos recomenda, em “Não quero ver você triste assim”, «Esqueça o mal, pense só no bem que, assim, a felicidade um dia vem». Pensar no bem ou no mal constitui um poder pessoal e, embora seja uma decisão difícil, como uma pedra que se deixa cair o movimento vai acelerando, com as suas benfeitorias ou malfeitorias. Costa Alves e Joaquim Soares já relacionaram os padrões de pensamento com as anomalias climáticas, por exemplo. A própria ideia de mente, de um sujeito, está a ser reintroduzida na própria ciência, quer ao nível do observador quer do observado.



O desafio é, assim, transmutar os pensamentos com lógica, frios, interessados e separatistas, em pensamentos com amor, calorosos, desapegados e comunicativos. Tal processo implica uma aprendizagem e mais facilmente pode ocorrer depois dos 21 anos, altura em que finaliza a consciência ainda animalizada. Depois disso, há que ultrapassar os obstáculos internos - a que Carlos Cardoso Aveline chama a luta sem tréguas, no campo de batalha mental, entre a verdade e a ilusão – e os externos, que, como a indústria mediática ao serviço do ruído, reprimem o florescimento da inteligência espiritual.

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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Conselhos



Preparamos a recepção ao Outono, nesta sexta vez, com ensinamentos de Omraam Mikhael Aivanhov, editados pelas Editions Prosveta e Publicações Maitreya na colecção “Pensamentos quotidianos”.

Selecção e fotografia Dina Cristo

23 de Agosto de 2012 – Riqueza:
O céu e a terra pertencem-nos. Sim, eles pertencem-nos, nós possuímo-los, mas interiormente. Por que é que eles haveriam de pertencer-nos exteriormente, materialmente? Que faríamos nós com todos esses mares, todas essas florestas, todas essas montanhas, todas essas estrelas?
Imaginai um homem muito rico que possui um parque cheio de tudo o que existe de mais belo: flores, árvores, aves, fontes, jatos de água… Mas os seus afazeres obrigam-no a correr mundo e ele passa o tempo nos aviões ou em reuniões nos escritórios. Nunca tem tempo para passear no seu parque e, se porventura o atravessa, está tão absorvido com os seus negócios que nem vê nada. Mas eis que há um poeta que vem todos os dias àquele parque: ele é muito pobre, mas sente-se imensamente feliz com o canto das aves e das fontes, a cor e o perfume das flores, e escreve poemas maravilhosos. Então, a quem pertence o parque? Ao poeta. E o outro, o proprietário? Esse paga os impostos!
2 de Julho de 2012 - Amor:
Como conservar o vosso amor? Como fazer para que ele dure o máximo de tempo possível? Evitando precipitar-vos sobre o ser que começais a amar, para o devorar. Porque, após essas grandes ebulições, depressa virá a lassidão e vós perdereis a inspiração e a alegria. Como alguém que comeu demasiado e a quem a comida já não diz nada. Mas os humanos parecem ter sempre pressa de destruir tudo o que pode trazer beleza à sua vida e dar-lhe um sentido. Eles sacrificam, por alguns minutos de prazer, o amor que lhes traz todas as bênçãos, que lhes traz o Céu. Por que é que eles não retardam as manifestações físicas do seu amor para prolongarem durante o máximo de tempo possível a sensação de deslumbramento que estão a viver? Não, eles sentem uma atração e têm de dar-lhe sequência imediatamente.
E então o que é que se passa? Mesmo quando eles se casam e têm filhos, continuam a viver juntos por hábito, para respeitar as convenções, para fazer boa figura perante os amigos e os familiares; mas, interiormente, já se deixaram há muito tempo. São as sensações subtis que mantêm o amor, que prolongam e embelezam a vida. É isso o verdadeiro elixir da vida imortal.

 24 de Maio de 2013Revolução:
«Aqueles que se deixam ir atrás da violência, seja pelas suas palavras, seja pelos seus atos, introduzem essa violência primeiro neles próprios: abrem a porta aos germes do desmembramento e, pouco a pouco, tornam-se presas de forças caóticas que começam a devastar todo o seu ser, tanto no plano psíquico como no plano físico, pois até a saúde assenta na obediência à ordem universal, que é a medida certa, o equilíbrio.
Alguns dirão: “Mas como é possível não se ser violento? Como se pode não fazer a revolução quando se vê até que ponto a sociedade é injusta?” É verdade, a sociedade é injusta, mas não são as revoluções mais espetaculares que trazem as melhores mudanças. Algum tempo depois, percebe-se que tudo está mais ou menos como antes; a diferença está apenas em que são outros que agora estão à cabeça e se impõem. Algumas palavras também mudaram um pouco, alguns “slogans”, alguns cânticos, mas continuam a existir os mesmos vícios, a mesma corrupção, as mesmas injustiças. Não é proibido querer fazer a revolução. Por que haveria de ser? Mas só na condição de quem a faz se mostrar superior pela inteligência e pela bondade, não pela violência.»
20 de Janeiro de 2012 - Crianças:
Os pais devem criar uma atmosfera de paz, de harmonia, ao redor dos seus filhos, mesmo enquanto eles dormem, pois as crianças são recetivas a todas as correntes que circulam à sua volta. Deste modo, mais tarde eles estarão bem equipados e serão capazes de enfrentar os choques e as durezas da vida.
Quando uma criança vem ao mundo, os pais devem começar por tomar consciência de que ela não lhes pertence, é um filho ou uma filha de Deus a quem eles somente deram um corpo, ou seja, uma casa. E todos os que se aproximam dela devem igualmente agir com atenção e respeito, a fim de a proteger. É necessário, sobretudo, que eles evitem abusar da sua confiança, dar-lhes maus exemplos e conselhos perniciosos. O que uma criança vê, ouve e vive imprime-se nela para sempre. Por isso, nunca será demais eu repetir que a responsabilidade dos pais e dos adultos em relação às crianças é imensa. Eles devem tremer ao pensar que podem ser culpados por palavras ou atos maus que as marcarão para sempre. Os adultos que não respeitam as crianças serão punidos pelo Céu mais cedo ou mais tarde, e essas punições serão terríveis.»

24 de Julho de 2012 - Saúde:
Graças à química e a diferentes técnicas, a medicina fez grandes progressos, não se pode negar isso. Mas a melhor medicina consiste em pôr os seres em condições que reforçam os sistemas de defesa do seu organismo, ou seja, muito simplesmente, que reforçam a vida neles. Sim, só a vida é realmente poderosa. Vede como ela faz para cicatrizar as feridas, rebentar um abcesso, fazer crescer uma nova pele…

Contudo, esta vida tão preciosa é o que há de mais negligenciado. Os humanos envolvem-se em toda a espécie de atividades desordenadas nas quais desperdiçam a sua vida: empobrecem-na e esgotam-na ao ponto de ela já não ser capaz de remediar a menor indisposição. Então, eles recorrem a pastilhas, a pílulas… Mas trata-se de substâncias mortas! E se os prevenirem: «Atenção, você está a perder todas as suas energias!», eles ficam admirados. «Como? As energias existem para serem gastas!» De acordo, mas gastas com sensatez e não delapidadas.

20 de Junho de 2012 - Política:
«Quando se trata de proporcionar felicidade ao povo, a responsabilidade dos dirigentes é grande, evidentemente. Mas o povo também tem alguma coisa a fazer para atrair dirigentes que farão reinar a justiça, a prosperidade, a paz. É essa a lição contida no conto seguinte.
Era uma vez um reino onde só aconteciam desgraças: fomes, epidemias, motins… O rei, inquieto, sem saber o que fazer para evitar aquelas calamidades que também ameaçavam o seu poder, mandou vir um sábio. E o sábio disse-lhe: “Majestade, a causa desta situação és tu: vives na indolência e na devassidão, és muitas vezes duro, injusto, cruel, e é por isso que as catástrofes estão sempre a afectar o teu povo.” Em seguida, o sábio apresentou-se perante o povo e disse-lhe: “Se vós sofreis, é porque o merecestes. Viveis com sensatez? Sois honestos, pacientes e justos uns para com os outros? Não. Por isso, é que atraístes um monarca que é semelhante a vós.” É assim que os sábios explicam as coisas. Quando um povo inteiro decide viver na luz, o Céu envia-lhe dirigentes nobres e honestos que só lhe trazem bênçãos. Mas, se um povo é governado por pessoas incapazes de tomar decisões acertadas, deve saber que é ele o principal responsável por isso».

12 de Março de 2012 - Economia:
«Um bom economista não deve preocupar-se só com a produção e a distribuição das riquezas; ele também deve ser capaz de prever. Sim, a economia é a ciência da previsão. E prever não é contentar-se com soluções
que talvez sejam boas no momento, pois o que se passará mais tarde? No dia em que um país se apercebe de que enveredou por uma via que se torna perigosa, é-lhe muito difícil voltar atrás. Veem-se tantos exemplos disso!
Vós questionareis: «Então, como fazer? A maior parte de nós não tem meios para intervir nos assuntos do país.» Eu não digo que nós devemos intervir directamente, mas devemos compreender que a economia não é um assunto só para os economistas, diz respeito a todos nós. Enquanto seres humanos, enquanto células de um organismo vivo, nós podemos agir, mas para isso devemos desenvolver a nossa consciência e o nosso sentido das responsabilidades. Se esta tomada de consciência não acontecer, a economia, em vez de trazer prosperidade, como é seu propósito, trará ruína a numerosos países.»


27 de Junho de 2012 - Emocional e racional:
«Um ser humano é, fisicamente, um homem ou uma mulher, mas em todas as criaturas existe um lado feminino, passivo, simbolizado pela escuridão, e um lado masculino, ativo, simbolizado pela luz. E a luz deve penetrar na escuridão para a iluminar e extrair todas as riquezas que nela existem.
Em nós, por exemplo, é o intelecto que representa a luz, e o coração representa a escuridão. O intelecto penetra no coração (no nosso e no dos outros) para o iluminar e fazer um trabalho com ele. Para usar uma imagem, podemos dizer que, como um pistão, o intelecto deve, alternadamente entrar no coração e sair dele. Aquele que não utiliza deste modo o seu intelecto é incapaz de compreender o que quer que seja e é, sobretudo, incapaz de se conhecer. É penetrando com a luz o fosso profundo do coração que a sabedoria descobre os tesouros que lá existem, os filões ocultos de pedras, metais e líquidos preciosos. Nesse poço obscuro que é o coração, o intelecto desce e sobe para nele captar a água preciosa».

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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Vida mutante



Para além de ir ou vir de férias, como a época que atravessamos, das mudanças profundas, ao nível climático, e superficiais, ao nível do penteado - expressão dessa força de vontade – há várias outras que abordamos a seguir.

Texto e fotografia Dina Cristo

Uns temem-na, outros desejam-na. Os pessimistas porque se fixam nos perigos, os optimistas porque acreditam nos benefícios. Como contou Spencer Johnson, no seu livro, os “pigarras” agarram-se ao medo, os “gaguinhos” à esperança.

Na vida, há os que tentam resistir à mudança e os que a tentam provocar, quer do ponto de vista individual quer colectivo. Os conservadores bloqueiam-na, os activistas incitam-na. Uns a favor da estabilidade, outros do dinamismo.

A mudança faz parte da vida. Tudo o que é vivo se movimenta, balança entre um pólo e o seu contrário. Uma acção que ou se faz em equilíbrio, moderadamente, quando se aceita a alternância, tão naturalmente como o dia e a noite, ou, sendo evitada, ocorrerá de forma abrupta, dada a necessidade de compensação. Sempre que se pende para um lado, mais cedo ou mais tarde, irá tender-se para outro; e não é pouco comum transformar-se mesmo no seu oposto, afinal duas faces da mesma moeda.
Tudo muda continuamente. A única constante na vida (relativa) é precisamente a mudança e a melhor forma de a enfrentar é preparar-se para ela, como se conclui do conto de “Quem mudou o meu queijo?”, e aceitá-la, sem a evitar ou antecipar. Os próprios padrões humanos (masculinos e femininos) também se vão alterando ao longo da vida, como explicou Jean Shinoda Bolen.
Sem obstrução, esta força limpará tudo o que já não serve e é, portanto, inútil à evolução pessoal e colectiva, abrindo espaço para o novo, a inovação e a criatividade. Do ponto de vista positivo pode ser experienciada, assim, com(o) entusiasmo, liberdade e alegria. Pelo contrário, se a ênfase é colocada no que se perde, na inércia, na resistência, no apego ao velho traz consigo sofrimento e, depois, doença.

Em termos verbais implica uma doação (mudar) e enquanto processo uma oscilação (mudança). Em ambos os casos, do ponto de vista numerológicos, representa o 21: o saber viver, o melhor possível, com o que se tem disponível, conforme a atitude de fluidez ou não o fazê-lo numa postura de resistência(1).

As diferentes perspectivas podem constatar-se desde quem prefere (in)conscientemente morrer a mudar às que mantêm, dentro do possível, um estilo de vida nómada, como os ciganos. Também ao nível sanguíneo, grupos como o tipo O têm maior facilidade de adaptação. Em termos numerológicos, o mesmo se pode dizer dos "nove", por conterem características de todos os outros números, e os que se encontram num ciclo "cinco", um dos mais propícios a mudanças relevantes.

A vida é dinamismo constante entre forças que se atraem e se repelam, entre fluxos e refluxos, inspirações e expirações. Desse balancear, o velho é “convidado” a sair para que o novo possa entrar. Em cada segundo. A toda a hora. É esta mudança contínua que permite a preservação do sistema, mais tarde visível em destruição (fim de ciclo), que dará lugar à (re)novação e à (re)recriação (em nova etapa).

Apesar de omnipresente, e fundamental nas passagens das diferentes fases da vida, do nascimento à morte, hoje quase sem rituais, este processo, que também é de desapego em relação ao passado, por vezes é difícil, ou porque foi bom – e se deseja reter – ou porque foi mau – e se culpa ou se sente culpado. Será mais fácil se houver não só preparação mas também precaução, para que não se elimine ou prescinda de tudo só porque é passado, como acontece nas revoluções, e se for enfrentado conscientemente e por vontade da própria pessoa, sem imposição, pressão ou manipulação exterior.

A mudança foi cantada por José Mário Branco e, mais recentemente, pelos “Humanos”. É hoje foco e nome de “medium”. Foi reflectida por autores como Gandhi – sê a mudança que queres ver no mundo -, Heráclito - ninguém se banha duas vezes na água do mesmo rio – ou, por exemplo, Lavoisier, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Em Portugal, ficou célebre o manifesto anti-Dantas de Almada Negreiros.

O processo de mudança pode ser despoletado não só pela perda, ao nível da saúde, do trabalho, da família, por exemplo (caso em que a terapia floral aconselha o remédio Walnut), mas também pela insatisfação ou pelo erro. Nesta ocasião, é preciso tempo para reflectir e corrigir, alterar a direcção e, como nas curvas da vida, mesmo as físicas (umas mais apertadas, outras mais inclinadas), a visibilidade diminui. Aumenta o desconhecido e, por consequência, o medo e a angústia.

É preciso, pois, uma certa dose de coragem e confiança para o desafio que constitui enfrentar o incógnito, o diferente. Contudo, o risco está em não mudar, pois tal implica estagnar e, na prática, andar para trás. Como disse Omraam Aivanhov, “aqueles que se deixam ir atrás da facilidade, da preguiça, da estagnação, aproximam-se da vida instintiva, vegetativa, mineral, e petrificam-se”(2).

Como diz o provérbio português, “parar é morrer”, mas também “quem está mal, muda-se”. Se por um lado há tendência, pela lei da inércia, a prosseguir (n)o estado em que se está, para a contração, por outro também há um impulso evolutivo, para a expansão, e sem se descartar da pele velha, como acontece com os animais na muda, não haveria lugar à regeneração, ao renascimento.

Tolstoi chamava a atenção para a importância da mudança interior: “Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si próprio”, afirmou. Ora esta transformação pessoal é condição para que a mudança no mundo exterior aconteça. Foi a conclusão no movimento hippie, nos anos 60, e é hoje explicada pelas novas teorias. Trata-se de uma decisão individual, confirmada a cada instante, que começa, antes de mais no pensamento.

Para que o comportamento se altere, de forma que não seja meramente superficial, artificial, momentânea e inconsciente, mas antes constituia uma atitude sustentável, mais profunda e construtiva é necessário começar pela transmutação mental própria, em detrimento da expectativa em relação às modificações físicas e exteriores. Como escreveu Johannes F. Hasenack, “a soma de muitas iniciativas, a partir de baixo, e de novas atitudes a partir de dentro, bem pode desencadear um processo de mudança no todo ao qual pertencemos”.

Novo paradigma

Tendo em conta o papel vital da informação no sentido de dar forma, estrutura, como explicou Lucienne Cornu, e a existência de novos dados processados e acessíveis através da internet é, hoje, mais facilmente possível e provável, como defende Dieter Duhm, a alteração da organização nos organismos individuais e colectivos. Uma transformação global, impulsionada também ao nível cósmico, com a entrada na Nova Era de Aquário, com o trânsito de Plutão até 2023 e a própria alteração do campo magnético da Terra e da actividade solar com consequências ao nível do campo cerebral, genético e de frequência humano.

Esta elevação de consciência, do ponto de vista mitológico traduz-se na passagem dos deuses-céu para os deuses-terra, como explicou Jean Shinoda Bolen: de um contexto sócio-cultural patriarcal padronizado pelo medo, poder, opressão, domínio, objectividade e competitividade, modelo representado no Velho Testamento pelo Deus ciumento e vingativo, para outro matriarcal, baseado no amor, liberdade, subjectividade e solidariedade, representado no Novo Testamento pelo Deus afectuoso e clemente.

Para a autora americana, é o ressurgimento de Métis - a deusa da sabedoria, Sofia, a Mãe Natureza, que havia sido engolida por Zeus e esquecida - e com ela a emergência da ecologia, a vinculação entre e a todos os seres, desde o próprio à Terra. Sabina Lichtenfelds chama, e põe em prática em Portugal, esta Era da Deusa, da Graça, onde o poder-saber feminino é expresso, fortalecido e correspondido. Um retorno que Maria Flávia já o havia antecipado também.

Entretanto, pelo mundo prepara-se, cada vez mais ampla e intensamente, a transição para o novo modelo de tendência mais local, descentralizada, comunitária, simples e humana. Carlos Cardoso Avelino já o escreveu há mais de um quarto de século, mas, desde os últimos anos, com o problema do petróleo, as iniciativas, a nível internacional e mesmo nacional, têm sido mais determinadas, como as experiências de formação de comunidades, ou até hortas comunitárias.

O novo modelo dirige-se, entre outros, para a alegria, o amor, a coragem, a confiança, a comunhão, a compaixão, a cooperação, a cura, e também a ética, a lentidão, a memória, a paz, a protecção, a sensibilidade, a união. Tudo parte de um novo pensamento criativo de abundância, com repercussões nas mais diversas áreas, desde as ciências socias à economia. Neste campo desenvolvem-se conceitos como a Economia baseada em Recursos, Economia da Dádiva, Economia Sagrada ou Economia Social e Solidária.

Qualquer crise é uma oportunidade de mudança, de limpeza, de arrumação, de actualização, processando, compreendendo e perdoando o passado – um momento para expressar e ultrapassar tensões, libertando espaço e tempo disponível para viver o presente, aceitando os factos e reconhecendo a realidade do aqui e agora. A actual crise, potenciada pelas condições comunicacionais e sociais presentes, a nível mundial, é uma ocasião favorável a descartar de velhos pensamentos e hábitos, repetitivos e reproduzidos, como o pressuposto da escassez de recursos, em função de uma nova criatividade digna da Humanidade.

Novos começos são propícios em ciclos “um” (e nós estamos precisamente na primeira década do século XXI) mas para tal é preciso, antes, que exista um ciclo destruidor, renovador, alimentado, segundo a tradição religiosa, pelo Espírito Santo, o transformador, capaz de dinamizar mesmo o ponto máximo de estabilidade, a Terra e o corpo físico, correspondente, do ponto de vista cabalístico, à sephiroth Malkuth.

Segundo Stuart Hall, as séries da indústria cultural veiculam a ideia de que a mudança é impossível, de que é inútil desafiar o sistema e o melhor é rir. Mas, hoje, um pouco por todos os cantos do mundo há apelos à mudança. Dentro e fora do sistema, que se distanciou cada vez mais da vida (social), há pessoas e grupos envolvidos na mudança, para além dos que têm estado nas ruas, em diversos movimentos pacíficos. Como referiu Spencer Johnson “(…) quando se muda aquilo em que se acredita, muda-se igualmente a forma de actuar”.

Já a Teoria Social clássica havia notado que se o sistema é a estrutura condicionante, restritiva, ao nível individual, a agency, constitui um espaço de acção de maior liberdade. No caso do autor jamaicano este atenta que as práticas sociais são hoje constantemente reflectidas, examinadas e reformuladas à luz das informações recebidas, com inúmeras possibilidades de mudança de identidades, reforçadas pelo aumento das migrações, da globalização e das indústrias culturais.

Mudar é não só dar, “dançar”, balancear, variar, mas também alquimizar, transmutar – fazer, como diz a sabedoria popular, das tripas coração. É um processo de alternar que inclui a alteração, a transformação, mas compreende, além dela, a renovação, a recriação – uma espécie de reciclagem, numa oitava acima. Mudar implica, pois, não só ser capaz de se adaptar e flexibilizar mas igualmente de evoluir, melhorar, avançar e elevar. Envolve movimento capaz de reequilibrar, reorganizar e reformar qualquer sistema, organismo ou estrutura.

(1) RESINA, Luís – Tarot e numerologia. Pergaminho, 1998, pág.136. (2) AIVANHOV, Omraam – Pensamentos quotidianos, Publicações Maitreya, 2010 (14/2/2010).

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