quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Weblog ganha prémio IS


Texto Dina Cristo fotografia Joaquim Soares

Os editores do “Vislumbres da Outra Margem” receberam este fim-de-semana, em Aveiro, a pintura da artista Cristina Lourenço, símbolo do II Prémio de Informação Solidária (IS). O weblogue obteve, no final do concurso, em 29 de Dezembro, 57% dos votos do público, destacado da segunda escolha, o programa de televisão “Sociedade civil”, com 19%.


A “Biosofia”, I Prémio IS, que o “Aqui & Agora” criou em 2009, obteve o terceiro lugar, com 10% das votações. Em quarto lugar ficaram, com 5%, a revista “Cais” e o jornal “Quercus ambiente” e, na quinta posição, com 2%, os programas de rádio “Mais cedo ou mais tarde”, da TSF, e “Viva a música”, da Antena 1.

O prémio pretende ser um incentivo à prática da Informação Solidária realizada em Portugal. O blogue premiado em 2010 iniciou-se em Maio de 2007 e tem como objectivos o questionamento cultural e a apresentação de novas propostas, da filosofia às alterações climáticas, que contribuam para um mundo mais construtivo e solidário.

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A Ciência da Polis VIII


Nesta oitava parte desenvolvemos a importância da verdadeira educação, em detrimento do mero adestramento.

Texto José Luís Maio fotografia Dina Cristo


“…A educação não pode continuar a ser entendida em termos de uma correria desenfreada para alcançar um emprego, como se (usando propositadamente uma rudeza de expressão) os seres humanos fossem animais de carga que se devam atrelar a uma carroça, ainda que dourada, tão logo seja possível. Deve, sim, começar a ser encarada como um processo de emersão de valores sólidos e de capacidades intelectuais e afectivas que permitam a cada indivíduo tornar-se mestre (ou seja, conquistar a capacidade de lidar correctamente) face às diferentes circunstâncias que a vida lhe irá apresentando… A máxima pluralidade de informação possível – sobre os mais diversos âmbitos da actividade e do conhecimento humanos e não, apenas, sobre o âmbito restrito de uma profissão, quase sempre aleatória ou superficialmente escolhida – deve ser propiciada a todos; pelo contrário, o mínimo de imposição deve ser praticado. Não tendes o direito de impor uma educação de escravos. Tendes, sim, o dever de assegurar uma educação de liberdade – de liberdade interior, de liberdade de autoconstrução, de liberdade de autodescoberta… A Nova Educação constituirá, em grande medida, o processo pelo qual se concede a cada indivíduo a oportunidade de descobrir por si mesmo – e, assim, enraizar profundamente – os princípios éticos que haverão de nortear a sua conduta social. Agindo de acordo com a sua própria convicção, com o seu livre auto-condicionamento, todo o indivíduo tenderá a encontrar a alegria ao contribuir para o bem comum…”(1).
Já foi dito algo acerca das naturezas essenciais dos animais e dos homens. O que é partilhado pelos elementos de ambos os reinos da natureza é “a mesma natureza física fundamental, bem como muitos instintos (que formam o seu subconsciente)”. Porém, o ser humano é “auto-consciente, o que decorre de ter o Princípio Mental activado (embora muito pouco, nas primeiras etapas) e, assim, um corpo mental definidamente constituído e formalmente organizado, o que lhe permite ter uma ligação individualizada entre o Espírito (que é pura unidade) e as formas materiais (diferenciadas e separadas) e, assim ter uma Alma individual, enquanto que a evolução animal se processa através das chamadas Almas-Grupo (ou melhor, das Almas colectivas, visto que se trata de uma consciência colectiva e não de uma consciência grupal, no seu sentido superior, própria da evolução super-humana”(2).
Para um melhor esclarecimento acerca do conceito “Alma-Grupo”, acrescenta-se, da mesma obra: “A Alma-Grupo de cada espécie animal preside aos seus mecanismos e determina a actuação do instinto. Como que pairando sobre cada unidade de vida, a Alma Grupal (ou Alma Colectiva) providencia os impulsos migratórios, os mecanismos de defesa, a aprendizagem da adaptação ao meio natural, a colaboração organicista (por exemplo, nas colmeias das abelhas), etc… Imagine-se os dedos de uma mão que, em simultâneo, estivessem enfiados numa placa de cartão perfurado (que impede de ver a mão como um todo). Aparentemente, no lado mais externo, eles não teriam nenhuma especial relação entre si; apesar de pertencentes a uma mesma espécie, aparentariam diferenças e seriam absolutamente independentes. Na realidade, porém, a sua verdadeira raiz e impulsos para a manifestação subjazeriam, ocultamente, do outro lado do cartão. De qualquer modo, nesse mundo aparente e dissociado da raiz que os une, cada informação é processada e transmitida para o outro lado – uma picada, por exemplo, ou qualquer outra sensação táctil. E a todo o momento o conjunto beneficia-se das informações colectadas e reencaminhadas para cada unidade. Assim acontece com a Alma Colectiva animal. A Alma Grupal pode ser comparada a uma enorme tina de água incolor (no Mundo Anímico), de que se retiram pequenas porções individuais que vêm procurar experiência no mundo externo (os animais englobados na Alma-Grupo); quando cada porção regressa ao manancial colectivo, vai-lhe introduzindo cor e substância, para ele contribuindo com a sua própria tonalidade e com os seus próprios ingredientes, conseguidos através da experiência particularizada. Da progressão dessas simbioses e combinações vão sempre surgindo (vindo à encarnação) seres detentores do produto das novas ou últimas experiências adquiridas”.
A entidade humana – por possuir “auto-consciência” e “individualidade” (única e intransmissível em relação aos demais seres humanos), isto é, por pertencer de facto ao primeiro reino da natureza em que a “unidade mental” que o completa adquire foros de “cidadania” real e plena (e só assim é que pode ser responsabilizado pelos seus próprios actos, sentimentos e pensamentos, o que não sucede nos animais) – distingue-se do ente animal e não pode ser sujeita ao adestramento que os humanos realizam neste. No animal, através da domesticação, são fortemente estimulados o veículo “kámico” (ou emocional) – por natureza inconsciente das consequências da sua acção no mundo que o envolve – e a rudimentar inteligência, subjacente a todas as manifestações de vida sub-humanas.
O total condicionamento [externo (e não auto-condicionamento, que é interno e uma expressão da vontade superior, espiritual, do ser humano – atman)] a que submetemos os animais só é “bem sucedido” porque, nestes, a inteligência (capacidade de resposta) é exclusivamente passiva e reactiva, e não activa e criadora, atributos da alma espiritual existente no indivíduo. Este, ao despertar (na personalidade) a sua consciência para patamares mais elevados – os níveis espirituais (“buddhi-manásicos”, próprios do eu superior, ou da mente superior e intuição) –, por meio da educação, da instrução e por um esforço de aprimoramento ético/moral, ficará capacitado a levar a cabo um conjunto de actividades e realizações geradoras não só de bem-estar e saúde pessoais, mas principalmente nos mundos físico, psíquico, mental e espiritual dos seres que delas beneficiem. As actividades e realizações de especial e elevada qualidade, inquestionável nobreza e vastíssimo alcance serão “imortalizadas”, ou seja, apesar de serem geradas na (e pela) personalidade (condicionalmente mortal) dos indivíduos, cobrirão o abismo que separa os níveis mentais inferiores (inerentes ao quaternário inferior) dos superiores e passarão a integrar a sua tríade espiritual (imortal), constituindo aquilo que na terminologia religiosa é conhecido por “tesouros que acumulamos no céu” (3).
Mais uma vez verificamos aqui como uma teoria científica (neste caso psicológica) é transformada em norma religiosa. De facto, “Não dissocieis a Sabedoria do Amor nem a Religião da Filosofia. A Religião deverá ser a Filosofia do Amor; a Filosofia deverá ser a Religião da Sabedoria. Unicamente assim podereis aceder à Sabedoria Divina. Se não amardes o Universo, jamais o havereis de compreender, jamais vos havereis de tornar sábios de verdade – da mesma forma como, se não amardes o vosso semelhante, nunca o podereis entender e ajudar, por mais teorias psicológicas que conheçais. Só pelo Amor a Razão de Ser que está dentro de vós pode compreender a Razão de Ser de todas as coisas… No entanto, se não dirigirdes sabiamente o amor, ele acabará por degenerar num sentimento caótico, inútil e cego, nada mais gerando senão ansiedade e bloqueios. Por isso, não estagneis num amor fraco e superficial que, tantas vezes, serve de desculpa e de pretexto para quem se recusa a fazer o esforço de aprender mais…” (4).
Para a egrégia e profunda sabedoria hindu, “velha” de muitas centenas de milhar de anos e berço de posteriores civilizações ocidentais, desde a persa à grega, uma das cinco causas da miséria humana é a ignorância – avidya em sânscrito [a (não, ausência de) + vidya (sabedoria)] –, não uma ignorância qualquer, mas a ignorância fundamental, isto é, a ignorância acerca da verdadeira natureza de todos os seres humanos.
A resposta da esmagadora maioria das nossas crianças e jovens às imposições brutais do caos social e da ignorância fundamental e congénita desta civilização – seja o desrespeito e desprezo aos pais nos lares, seja a rejeição e insurreição contra o sistema escolar – demonstra inquestionavelmente que a política de educação vigente é obsoleta e incapaz de motivar e entusiasmar, quer educadores, quer educandos, o que acaba por os tornar rebeldes, agressivos, anti-sociáveis, marginais e dependentes de todo o género de vícios.
Enquanto, por um lado, os pais não têm outra solução que não a de abandonar os seus filhos prematuramente – antes dos três anos – em instituições/depósitos apenas excepcionalmente competentes, para poder “ganhar a vida” – ou antes, na maioria dos casos, para “sobreviver” fisicamente e sem acesso aos bens realmente espirituais, os “bens divinos” de Platão –, por outro, o “habitat” escolar conserva os mesmos equipamentos cinzentos, desinteressantes e medievais, comparativamente à inebriante e tentadora tecnologia lúdica exterior das grandes catedrais de consumo, mantém os estudantes simbólica e literalmente imobilizados nos coletes de força que são os programas curriculares impostos de “cima”. É caso para perguntarmos: onde, quando e como é que as crianças podem aprender a utilizar sua própria criatividade, a desenvolver a sua individualidade, única no universo, em vez de jazer um autómato programado pela tirania alheia (por muita simpatia, revestida de “caridade esmoler”, que aparente)?
Como dizia o eminente investigador João dos Santos, a criança, no seu sentido etimológico, é alguém que não só é criado (bem-criado ou malcriado, bem-educado ou mal-educado), mas principalmente alguém “capaz de criar”.

A ciência da educação
A suprema importância da educação na vida de qualquer país tem de estar na proporcionalidade directa da envergadura ética e profissional daqueles que devem levá-la a cabo, sejam os ideólogos (legisladores e governantes), sejam os executores (pais e professores).
Contrariamente à usualmente conhecida por Sabedoria das Idades, Eterna Sabedoria, ou Ciência Espiritual, que aguarda paciente e misericordiosamente o momento em que, assim o queiramos, galvanizará todo o formidável potencial que caracteriza o Ser Humano no seu mais excelso esplendor e na sua mais magnífica estatura, no seio sabiamente hierarquizado do Todo Universal – precisamente no centro da Cruz Cósmica da plenitude da Vida, entre os reinos sub-humanos (adormecidos para a Unidade Divina) e supra-humanos (despertos e activos nessa Unidade) –, impera ainda no mundo e nas nossas vidas o pretenso, vulgar, limitado e constrangedor saber humano (a “sabença” no dizer de António Sérgio), cujos frágeis e cada vez mais obsoletos pilares teimam em perpetuar a fraqueza (física), o medo (emocional) e a inépcia (mental) na comunidade das crianças, adolescentes, jovens, pais, educadores, professores e cidadãos em geral.
É óbvio que a repressão da energia de todo o potencial que caracteriza os seres humanos – desde o nível físico até ao nível espiritual – só poderá dar maus resultados, pois é impossível reprimir seja quem for indefinida e impunemente, até ao momento da sua morte, como nos demonstra uma vulgar panela cheia de água hermeticamente fechada, ao lume.
Aprendamos novamente com Platão: “…São leis justas porquanto produzem o bem-estar daqueles que as utilizam proporcionando todas as coisas que são boas. Ora, os bens são de duas espécies, a saber, humanos e divinos; os bens humanos dependem dos divinos e aquele que recebe o maior bem adquire igualmente o menor, caso contrário é privado de ambos”.
“Entre os bens menores a saúde vem em primeiro lugar, a beleza em segundo, o vigor em terceiro, necessário à corrida e todos os demais exercícios corporais; segue-se o quarto bem, a riqueza, não a riqueza cega, mas a de visão aguda, que tem a sabedoria por companheira”.
“A sabedoria, a propósito, ocupa o primeiro lugar entre os bens que são divinos, vindo a racional moderação da alma [disposição moderadora da alma associada à inteligência; numa palavra, a temperança” (sobriedade)] “em segundo lugar; da união destas duas com a coragem nasce a justiça, ou seja, o terceiro bem divino, seguido pelo quarto, que é a coragem”.
De posse do conhecimento do que é nefasto e benéfico para as crianças, importa agora atentar para o facto de que se, conforme nos ensina Platão, “devido à força do hábito é na infância que todo o carácter é mais efectivamente determinado”, é mister estabelecer-se uma sinopse de prioridades a instituir, de modo a que os “bens” gerais – “humanos e divinos” – floresçam naturalmente em todas as crianças, passando de “potenciais” (possíveis e invisíveis) a “actuais” (efectivos e visíveis).
Também na ciência da educação é a lei hermética e universal da analogia ou da correspondência tão bem aplicada, como, aliás, não podia deixar de ser, pois, a não ser assim, isto é, se não incluísse toda a realidade, tal lei jamais poderia ser tida por “universal”.
Basta um pouco de atenção (ou, mais exactamente, de interiorização ou aprofundamento do pensamento – coisa a que, infelizmente, não estamos muito habituados, dado o ritmo frenético de vida quotidiana que decidimos adoptar, e não só…) e, de acordo com essa lei, transpormos os fenómenos básicos e elementares de manifestações da vida – neste caso, o da gravidez da futura mãe, quando o nascituro carregado de vitalidade se agita e movimenta no ventre, e o início da existência fisicamente autónoma dos recém-nascidos, quando chora poderosamente – para a instituição generalizada de um conjunto de normas educativas correctas, neste caso referentes à ginástica e dança para o corpo e à música (que inclui o canto) para a alma.
Para tal, recorramos novamente a Platão e às suas Leis: “ –…A nutrição correcta tem de ser decididamente capaz de tornar tanto corpos quanto almas em todos os aspectos os mais belos e melhores possíveis… E suponho que, tomando o mais elementar dos aspectos, os corpos mais belos devem, já da mais tenra infância, desenvolver-se com a maior normalidade possível… Acontece observarmos que, no que diz respeito a qualquer ser vivo, o primeiro impulso representa de muito o crescimento mais intenso e mais longo, a ponto de muitas pessoas afirmarem convictamente que, quanto à altura, os indivíduos crescem mais nos primeiros cinco anos de vida do que nos vinte seguintes. Mas nós sabemos que, quando o crescimento ocorre rapidamente desacompanhado de muito exercício adequado, produz no corpo males incontáveis. E que corpos que recebem o máximo de alimento requerem o máximo de exercício…
– O que queres dizer? Será que pretendemos prescrever o máximo de exercício para os recém-nascidos e as criancinhas?
– Não. Na verdade, bem antes disso. Nós prescrevê-lo-emos para aqueles que são nutridos nos corpos das suas mães… Uma tal prática é mais fácil de ser compreendida no meu Estado, porque lá há pessoas que praticam os jogos até ao excesso. Ali encontramos não apenas meninos mas por vezes mesmo homens velhos criando pequenas aves… Mas essas pessoas estão longe de crer que o adestramento que lhes proporcionam excitando a sua pugnacidade produz exercício suficiente; além disso, cada uma delas apanha a sua ave e com ela no punho, se for menor, ou no braço, se for maior, caminha muitos estádios a fim de melhorar a condição não dos seus próprios corpos, mas sim a desses animais. Assim se mostra claramente a qualquer observador que todos os corpos são beneficiados, como se por um tónico, quando são deslocados mediante qualquer tipo de movimento, seja quando são movidos por acção própria – como num balanço ou num barco a remo –, seja quando são transportados no dorso de um cavalo ou por quaisquer outros corpos de movimento célere; e também mostra que é esta a razão por que os corpos podem assimilar eficientemente os seus suprimentos alimentares e bebida e proporcionar-nos saúde, beleza e vigor… Tanto para o corpo quanto para as almas dos bebés um processo de nutrição infantil e movimentação, que seja o mais ininterrupto possível…, é sempre salutar e especialmente no caso dos bebés mais novos, que deveriam, se possível, ser balançados como se estivessem num navio; com os recém-nascidos dever-se-ia reproduzir esta condição com a máxima proximidade da condição original. Uma evidência suplementar a favor disto pode ser constatada no facto desse procedimento ser adoptado e a sua utilidade ser reconhecida tanto por quem alimenta os bebés, quanto por quem administra medicamentos. Assim, quando as mães têm filhos que padecem de insónia e desejam acalmá-los para que adormeçam, o tratamento que lhes dão não é imobilizá-los mas sim movê-los, pois embalam-nos nos seus braços constantemente; e em lugar de silêncio fazem uso de uma espécie de cantarolar e assim literalmente fascinam os seus bebés…, por meio do emprego do movimento combinado da dança e da canção como medicamento…”. Tal doença é uma forma de “medo e os medos devem-se a uma condição precária da alma. Assim, sempre que se aplica um sacudir externo a males desse tipo, este movimento externo aplicado domina o movimento (a perturbação) interno de medo e, ao dominá-lo produz uma visível tranquilidade na alma…”.

(1) In As Novas Escrituras, Vol. IV, A Educação, do Centro Lusitano de Unificação Cultural (CLUC), 1996. (2) In Luzes do Oculto, do CLUC, 1998. (3) Evangelho de Mateus, XIII. (4) In As Novas Escrituras, Vol. IV, A Filosofia do Amor, do CLUC, 1996.

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Em quem votar?


Em final de campanha para a eleição do Presidente da República, este Domingo, publicamos um artigo de opinião do autor de um ensaio que editamos regularmente, no âmbito do qual foi proposto um Código Deontológico do Político.

Texto José Luís Maio fotografia Dina Cristo


Arredado que tem sido o povo do exercício – inequivocamente não pleno, mas um pouco mais real, ou antes, um pouco menos ilusório – da soberania, universal e constitucionalmente consagrada, nestes últimos 25/30 anos, isto é, desde que ao primeiro Presidente da República democraticamente eleito do pós-25 de Abril foi concedido um (infelizmente fugacíssimo) lampejo de lucidez e coragem ao ousar dar posse a governos da sua iniciativa, parece adequado o momento para uma breve reflexão acerca da importância e pertinência da eleição presidencial, com uma particular incidência sobre duas perspectivas, mas tendo como pano de fundo o aspecto crucial desse mesmo acto – o Bem dos cidadãos.

A questão constitucional


Mas, antes disso, e para uma melhor compreensão do objectivo aqui proposto, merece questionamento a nossa própria lei constitucional, tanto na sua literalidade, como na interpretação psicológica, axiológica e/ou teleológica, dada a sua falta de clareza, ou mesmo – e seja-me perdoada a impertinência – puerilidade (pelo menos no aspecto meramente gramatical), no que toca a princípios fundamentais relativos ao único legítimo detentor do poder, o Povo Português, e não a uma sua e ínfima componente, nem muito menos a uma sua “não expressão” imposta por uma tendência pseudo-globalizante – e não se veja nisto uma posição xenófoba, esta sim, anti-portuguesa.
A soberania popular parece estar, inquestionável e indelevelmente, consagrada logo nos seus três primeiros artigos: “Art.º 1.º – Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa… e na vontade popular… Art.º 2.º – A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular… Art.º 3.º – A soberania, una e indivisível, reside no povo…”
Não julgo exagerada a menção ao sofisma im/explícito na letra destes artigos. De facto, a soberania popular vê-se, em primeiro lugar, afunilada, depois, coarctada e, finalmente, eliminada com a imposição (ilegítima, pois ninguém decide contra os seus próprios Bem, expectativas, direitos e deveres) nuclear, com emanações exponenciais deletérias, de ser exercida “…segundo as formas previstas na Constituição”, isto é, através dos partidos políticos, obviamente!
Ou seja, a ninguém envolvido na preparação e elaboração da Carta Magna portuguesa, como constitucionalistas ilustres e quejandos, dirigentes partidários e demais representantes da (agora conhecida por) “sociedade civil” – outra extensão burocrática do poder instituído que só serve para alargar o fosso que separa o Povo do efectivo exercício da sua cada vez mais inalcançável soberania –, ocorreu outra “forma” de poder que não esta, a sectária, cega, informe, sombria e que nos meteu “…no gosto da cobiça e na rudeza/Duma austera, apagada e vil tristeza.”(1)
Isto será caso, por um lado, para fundadamente se concluir que nada se aprendeu com os erros do passado, tenha este sido usurpado tanto por via eleitoral, seja unipessoal, seja partidária, como pela força bruta da tirania, e, por outro, para a oportunidade da emergência do que há tantos séculos tem faltado, qual seja um modelo de revigoramento ético que erradique as iniquidades das principais instituições contra os Portugueses, mas anunciadas como se fossem em seu nome – na esteira, aliás, da prática teológica (contra os seus cânones) em relação a Deus –, se necessário substituindo-as ou eliminando-as pelos crimes de lesa-pátria e, concomitantemente, responsabilizando, no mínimo com a sanção de total impedimento futuro, os autores desses atentados à soberania nacional, que é como quem diz, utilizando uma terminologia político-constitucional, soberania popular.

A adiada e dupla legitimidade do Presidente da República

Não fora a origem partidária de todos os Presidentes pós-Ramalho Eanes, ligações e cumplicidades essas perfeita e indelevelmente sanáveis por demonstrações e atitudes inequívocas de distanciamento e independência, tais como a rejeição nas suas campanhas eleitorais não só de militantes de segunda e terceira linha, como o apoio declarado e oficial dos próprios partidos anunciado pelos seus dirigentes máximos aos candidatos, e bem assim a sua exclusão das respectivas comissões de honra – como se os reais dignitários nacionais fora das lides partidárias inexistissem em número suficiente que justificasse o recurso a essas forças –, como dizia, não fora tudo isso e teríamos certamente Presidentes muito mais activos, exigentes, entusiasmantes e realmente representativos da natureza universalista dos Portugueses “d’Aquém e d’Além-mar”.
Se da escolha de um cidadão que nos represente e seja o porta-voz e símbolo do que de essencial ou profundo somos enquanto povo e enquanto República [no sentido de que o prefixo “res” que forma o nome “república” significa “realidade”] não resultar um efectivo desenvolvimento e aperfeiçoamento de toda a comunidade nacional e de cada um dos seus elementos constituintes – mais, muito mais, do que uma figura apoucada e meramente legitimadora de decisões governamentais e de deliberações dos deputados (banais correias de transmissão dos chefes partidários), mesmo que ocasionalmente delas discordante –, parece evidente que essa eleição será (mais) um acto popular inócuo e pueril. Um Presidente da República realmente (e não apenas auto-proclamado) “de todos os Portugueses”, legitimado pelos cidadãos em pé de igualdade, e não por uma particular prerrogativa ou uma pretensa representatividade, estaria numa situação ímpar para exigir dos titulares dos órgãos do poder político a aceitação de um Código Deontológico, em cuja redacção participariam todos os cidadãos com propostas válidas e pertinentes, exigente o bastante para afastar dos elevados cargos públicos os indignos, inescrupulosos e ignorantes no fundamental acerca da imensa e formidável aventura humana.

A urgência da educação

A outra área decisiva na acção presidencial, o primeiro (tenhamo-lo bem presente) representante da vontade do Povo, é a educação. O passado tem sido pródigo em ensinar às civilizações que lhe sucederam que a principal causa da decadência dos povos foi o desprezo a que ela foi votada, tendo a sua última vítima – a vetusta e paradigmática cultura e civilização grega – enfatizado, através de Platão, o papel essencial da Paideia (conceito que significa formação integral) no desenvolvimento e aperfeiçoamento da verdadeira Democracia e dos seus efeitos benéficos nos cidadãos.
Somos mesmo levados a crer que o principal factor de incompreensão e até rejeição do pensamento platónico por parte da actual pseudo-elite reside na sua incapacidade de interiorizar o simples facto de que os melhores governantes são aqueles que melhor se auto-governam, ou foram capazes de conquistar o domínio sobre si mesmos, isto é, o domínio do Eu inferior pelo Eu Superior constituintes da nossa natureza. Sem essa consciencialização, fruto de toda uma prática difícil, continuada e persistente em torno de um novo relacionamento humano, todos continuaremos a jazer inanes e embrutecidos física, mental e espiritualmente, pesem embora o avanço e a proliferação dos formidáveis recursos científicos e tecnológicos que possam rodear-nos e ocupar-nos.
Uma geração inteira foi enformada pelo sistema educativo saído da Revolução dos Cravos. Concedendo aos responsáveis políticos o benefício da dúvida pelo atraso de todas as reformas necessárias à extinção da educação repressiva do Estado Novo e de outras tentativas totalitárias de tomada do poder, o certo é que a essa geração ninguém retira o ónus da indefinição – para não dizer incompetência – dos governos “democráticos” deste último quarto de século nesta área vital e decisiva para todos nós e para o futuro de Portugal.
E quem, senão alguém com a legitimidade advinda do sufrágio popular directo, estaria na melhor posição para – também aqui – exigir aos (outros) responsáveis o desencadeamento de uma verdadeira regeneração da nossa natureza autêntica e imorredoura só possível através da educação correcta e libertadora?
A continuar nesta esteira, jamais será dada aos portugueses a oportunidade de crescer e desenvolver-se em inteligência, sensatez, bom senso, integridade, real competência técnica e científica, maturidade e cultura, a exemplo da Grande Civilização Helénica, e assim permanecerão, eternamente infantis, idiotas, egoístas e escravizados por tiranos disfarçados de democratas – pois as máscaras caem a cada dia que passa para cada vez mais cidadãos oferecidos no holocausto das “escolhas democráticas” por demais evidentes na divisão para reinar.
Eis expostas – esperamos que com não muita opacidade e o mínimo de clareza – as razões que considero fundamentais para legitimar a candidatura de um Presidente da República verdadeiramente digno de um “nobre Povo e de uma Nação valente”, ansiando pelo surgimento de alguém com provas inequívocas de serviço aos demais.

(1) CAMÕES, Luís - Os Lusíadas, X, 145

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Zeitgeist III


Texto Dina Cristo

Há pelo menos 12 projecções programadas para o território nacional: cinco no Porto, entre 1,5 e 3,5 euros, e outras sete, gratuitas, espalhadas por várias cidades. A partir deste Sábado e ao longo de Janeiro, antes do Dia Z, previsto para Março, cidadãos em Portugal reúnem-se, entre clubes e auditórios, fora dos circuitos comerciais, para assistirem ao “Moving Forward”.

Produzido, realizado e narrado por Peter Joseph, no âmbito do Festival de Filmes Activistas, onde será apresentado este dia 15, o terceiro filme de uma trilogia, que se iniciou em 2007, com “Zeitgeist: the movie”, seguida em 2008 pelo “Zeitgeist: Addendum”, é dinamizado pelo Movimento Zeitgeist, então criado.
O documentário, em contra-cultura, propõe a transição para um novo paradigma sócio-económico de sustentabilidade e solidariedade, baseado na economia de (abundância de) recursos (naturais). «É preciso corrigir o sistema, e não imprimir mais dinheiro e dar aos bancos”, declara na película John Fresco, fundador do Projecto Vénus, defensor da existência de tecnologia suficiente e eficiente para solucionar as necessidades humanas.

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Natividade

Na véspera do dia dos Reis Magos, publicamos algumas das dezenas de presépios elaboradas, todos os anos, pelos alunos de Religião e Moral da Escola Secundária de Peniche.

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