sábado, 26 de fevereiro de 2011

Transição mundial


Num momento de agitação social internacional, reproduzimos, na íntegra e autorizados, uma reportagem publicada há mais de 25 anos. Faz parte do livro “Aqui e Agora” de Carlos Cardoso Aveline, autor de, entre outras, a obra “A informação solidária”. No website que coordena, Filosofia Esotérica, o autor tem disponível um acervo actualizado sobre as transformações mundiais na secção Crise Ambiental e Civilização do Futuro.

Texto Carlos Cardoso Aveline fotografia Dina Cristo


«Toda a estratégia das políticas económicas das nações do Ocidente tem girado em torno do chamado crescimento económico. Mas os economistas e o povo da Europa já aceitam o fato de que a era do “pleno emprego” passou e não voltará. Com o capitalismo estancado e sem perspectivas de crescimento, o que se observa é a expansão da economia não monetária.
James Robertson, estudioso das alternativas para a economia mundial, pergunta se não devemos criar condições de trabalhar por nós próprios, em vez de procurar empregos. A era industrial intensiva que está terminando destruiu a indústria caseira e fez com que trabalho fosse inteiramente subordinado a emprego.
A alternativa que surge para os dilemas da sociedade industrial decadente está na volta às actividades simples do tipo “faça você mesmo” – com destaque para a auto-produção de alimentos e outros bens essenciais. Entre as vantagens da volta atual ao trabalho caseiro figura a revalorização do trabalho livre dos velhos, das mulheres e das crianças, totalmente ignorado no esquema massificante da economia monetária.(1)
Para Robertson, no livro “The Sane Alternative”, o conceito de riqueza pessoal mudou radicalmente. Já não é uma questão de conta bancária, estoque de mercadorias ou mansões e limusines. Rica, hoje, é a pessoa que depende menos do atual sistema económico-social, frágil e inseguro. “Trabalho” já não pode ser definido em termos de passar muitas horas longe de casa para receber um salário no final do mês. Trabalho está voltando a combinar-se com lazer, recreação e prazer, do mesmo modo como se combina auto-suficiência económica com realização pessoal. O principal é a busca de uma vida integral e a rejeição das existências fragmentadas que o capitalismo industrial cencentrador pode (podia) oferecer ao cidadão.
As pessoas desempregadas da Europa e dos Estados Unidos – afirma Robert Jungk em entrevista à revista Peace News, da Inglaterra(2) - estão de certo modo numa posição privilegiada, por não se acharem mais acorrentados à engrenagem mecânica da produção capitalista. Elas têm mais tempo, podem pensar e atuar de modo benéfico para a sociedade se tiverem suficiente motivação. Podem estabelecer e estão estabelecendo estilos de vida e de produção alternativos. Na entrevista de 1982, Jungk afirmava que esta movimentação estava acontecendo na Dinamarca. Hoje ocorre em toda a Europa.
As vantagens da produção caseira são expostas de modo claro por Erhard Eppler, um dos líderes do Partido Social Democrático (SPD) da Alemanha:
“A parte da Alemanha em que me criei, Wurttemberg, tem superado bem as crises dos últimos setenta anos, porque uma grande proporção dos trabalhadores sempre reteve um pequeno pedaço de terra para plantar. Desemprego para eles significava uma oportunidade para reparar o estábulo, semear a terra, engraxar e reparar o trator, pintar a cerca, etc. Isto durou muito tempo e suavizou o efeito do desemprego na Alemanha. Quando se promove o trabalho autónomo, grande parte do medo ao desemprego é afastado”.(3)
A economia feita em casa. O crescimento da economia invisível é um fenómeno mundial. Ocorre nos Estados Unidos, na Itália, na Hungria. A jornalista gaúcha Tânia Krutscka esteve em Budapeste em 1984 para cobrir um encontro da Federação Luterana Mundial. Na volta, contou-me que a estratégia económica húngara passa hoje pelo cooperativismo – onde tem destaque o cultivo de ervas medicinais – e a combinação do setor formal com o setor informal. A economia húngara é a de maior desempenho em todo o bloco socialista graças à ênfase que dá à empresa familiar. O cidadão médio trabalha meio turno para uma grande empresa ou o Estado e meio turno em casa, produzindo alimentos ou roupas que venderá sem pagar imposto algum. Um reflexo desta estratégia foi o grande superávit na produção húngara de alimentos em 1984: nada menos que 14 milhões de toneladas.
Mesmo crescendo com alguma lentidão, a consciência das alternativas para o estancamento capitalista adquiriu solidez por toda parte. Um sociólogo e um sindicalista alemães analisaram este fato de passagem pelo Brasil em 1984.(4) O desemprego atingia naquele ano 8,6% da força de trabalho alemã, cerca de 2,2 milhões de trabalhadores. No futuro, esperava-se quatro milhões de desempregados. O sociólogo Claus Offe acha que o jeito é reduzir o tempo necessário à aposentadoria e “organizar um novo tipo de economia” através do mercado informal de trabalho.
A descentralização é a marca registrada da economia da Iugoslávia e o que a distingue desde o pós-guerra do resto do bloco socialista. A ênfase central é dada à autogestão dos trabalhadores e ao cooperativismo. É certo que há um centralismo excessivo na política e na economia, mas a experiência, mesmo limitada, é fundamental para a discussão do socialismo no mundo de hoje. E aponta claramente para a necessidade do autogoverno da população nos diversos agrupamentos concretos em que ela se estrutura. Ora, este autogoverno não é possível senão parcialmente numa estrutura industrializada centralizada, e este foi precisamente o limite da experiência iugoslava, desenvolvida num mundo industrial que busca a padronização não só da produção, mas do consumo, das vontades, dos comportamentos, e das opiniões políticas.(5)
Optar entre a uniformização e padronização imitadora das pautas de desenvolvimento que já não servem aos países desenvolvidos, e a riqueza variada da criatividade local, é a tarefa dos países do Terceiro Mundo e da América Latina. O economista da CEPAL, Edgar Knebel, falando num simpósio sobre as metrópoles latino-americanas em crise, previu que até ao ano 2000 o desemprego na nossa região chegará a algum lugar entre 20% e 50%. E não falta quase nada para chegarmos a esta percentagem. Em 1984, depois de assumir o governo da Argentina, a equipe de Raul Alfonsin descobriu que só metade da população economicamente ativa está empregada formalmente. A outra metade vive de biscates e pequenos empreendimentos organizados à margem de toda legislação.
A parcela marginalizada da população não pode organizar-se em sindicatos nem em partidos políticos, que atuam em torno de questões nacionais. A alternativa para eles é a organização comunitária nos locais em que moram, através da economia não-formal. A solução está na estruturação de pequenas cooperativas onde estas pessoas moram. Assim se elimina, entre outros, os problemas de transporte, cada dia mais caro, poluente e demorado.(6)
Só recentemente estas soluções recebem uma relativa prioridade por parte dos governos. Isso é resultado do fato de que os setores dominantes da opinião pública e os meios de comunicação de massa acreditavam, até há bem pouco, que as políticas sociais devem ser feitas de cima para baixo e que o dinheiro é a única mola mestra.
No entanto, muito ao contrário das aparências, o dinheiro não é capaz de dar sentido à atividade económica ou social. Todo indivíduo humano precisa ver sua vida e o que ele faz ou produz como algo significativo, dentro de um todo maior. Quando uma pessoa não vê sentido na vida, é comum, por exemplo, surgirem fantasias de suicídio. Alguns efectivamente se matam – por falta de significado em suas vidas.

A civilização do absurdo.

De modo similar, a maior parte dos processos que ocorrem na vida diária da nossa sociedade perderam, absolutamente, o seu significado original de afirmação da vida.
Não há sentido algum em produzir milhares de bombas mortais quando pessoas passam fome. Não há sentido em trabalhar dentro das máquinas burocráticas que dificultam, com regulamentações e controles inúteis, a vida do cidadão comum de carne e osso. Não tem sentido manter uma civilização que engendra doenças degenerativas pela má alimentação sistemática da população e produz remédios químicos que tendem, a longo prazo, a piorar ainda mais a saúde do povo.
Não faz sentido produzir tantos automóveis particulares que, primeiro, desperdiçam o petróleo cada dia mais caro; segundo, poluem o ar lançando CO2 que nos ameaça; terceiro, criam crises de engarrafamento no trânsito; e quarto, matam milhares de pessoas em acidentes de tráfego. Uma média de 300 mil acidentes mata 21 mil brasileiros por ano em ruas e estradas. Poucas guerras civis são tão sangrentas como a nossa tentativa de reproduzir no Brasil o padrão de consumo dos países ricos.
Cansados de tudo isso, estamos optando pela simplicidade e pela relação imediata entre produtor e meios de produção. Sempre que o trabalhador controla o processo produtivo ele trabalha pela afirmação da vida. Então produzimos coisas realmente úteis e sentimos que o nosso trabalho faz sentido dentro de um todo maior. Um aspecto central de todas as manifestações do surgimento do homem novo neste final de século é a identificação cada vez maior entre o produtor e o que ele faz. Através da generalização do cooperativismo, da produção doméstica, da cogestão e o socialismo autogestionário, a loucura vai sendo deixada de lado gradual mas definitivamente. Perdem sua razão de ser o egocentrismo e a agressividade exagerada do homem das nossas cidades.
O contraste entre a democracia política formal e o autoritarismo concreto que se vive na maior parte dos locais de trabalho é uma das questões que se debatem amplamente nesta fase da transição. A Harvard Business Review publicou um artigo do editor David Ewing a respeito: “Cruzando a porta da fábrica ou do escritório, às nove da manhã, o norte-americano médio fica quase sem direitos até às cinco da tarde, de segunda a sexta. Os empregados cedem frequentemente direitos como a liberdade de pensamento e de expressão”.
Isto se percebe muito claro no Brasil. O empregado deve pensar aquilo que acha que será agradável ao patrão saber que ele pensa. O fenómeno tupi-guarani do puxa-saquismo não é outra coisa. O pensar dos puxa-sacos é também o “duplipensar” (doublethink) que George Orwell denunciou no famoso livro “1984”. Ali, o personagem Winston pagou caro por não pensar aquilo que o estado gostaria que ele pensasse.
Estes mecanismos psicológicos sutilmente opressivos é que estão sendo deixados de lado pela democratização dos locais de trabalho da sociedade industrial.
O caso de Lucas. A luta por controlar o resultado do trabalho tem importância, pela necessidade do indivíduo perceber um significado naquilo que faz. A experiência dos operários da Corporação Lucas Aeroespacial ilustra esta afirmativa. A Corporação emprega 75 mil pessoas no Reino Unido e 35 mil no exterior. Foi na Inglaterra que surgiu um movimento operárioinicialmente de resistência contra planos da direção de racionalizar a produção mandando embora milhares de empregados. Na primeira etapa os operários foram derrotados. Mas depois detonaram um movimento cultural com debates para definir o que poderiam produzir de útil à sociedade na Corporação Lucas. Por que motivo estavam produzindo armamentos, e não bens necessários à vida?
Um dos líderes do movimento, Mike Cooley, recebeu o prêmio internacional conhecido como “Nobel Alternativo” em 1981. Para Mike, o grau de depravação a que chegou a sociedade atual é indicado pelo fato de que cinquenta por cento dos cientistas e tecnólogos de países como a Inglaterra passam todo o tempo da sua vida trabalhando na pesquisa e produção de armamentos que eles sabem, no fundo dos seus corações, que se fossem usados um dia provocariam o fim da humanidade.(7)
“Fizemos o que deveríamos ter feito desde o começo”, escreve Mike Cooley. “Perguntamos à nossa força de trabalho o que ela pensava que poderia produzir, e que deveria estar produzindo. Organizamos reuniões em todas as fábricas, e depois fizemos um questionário para cada trabalhador”.
No questionário, era pedido aos empregados que pensassem no seu papel duplo de produtores e consumidores. O que fizessem durante o dia, nas empresas, deveria ser útil para que pudessem viver da melhor maneira possível o resto das suas vidas.
Centenas de propostas apareceram e foram seleccionadas. Entre as 150 idéias aprovadas no final, figuravam marca-passos para cardíacos e máquinas de hemodiálise para doentes dos rins. Na preparação de todos os projectos foi utilizada, ao máximo, a criatividade dos homens das linhas de produção, cujo conhecimento prático foi reconhecido como valioso.
Mike Cooley foi demitido do grupo Lucas “por estar trabalhando em problemas cuja solução cabe mais à população em seu conjunto”, segundo seus patrões. Quando isto ocorreu, a mobilização participativa já havia atingido os trabalhadores de todos os níveis e todos os setores da corporação.

A co-gestão na Europa.

A participação operária na administração da empresa está institucionalizada em grande número de países europeus. Na Alemanha há co-gestão paritária em todas as empresas de mineração e metalurgia com mais de 1000 empregados. Aqui o conselho de direção da empresa é formado por 50% de representantes do capital e 50% de representantes dos trabalhadores. Já nas empresas industriais e comerciais com mais de 500 funcionários, a co-gestão alemã estabelece uma participação operária inferior a 50%.
De acordo com um documento da Confederação Sindical, há duas condições para o êxito da co-gestão na empresa alemã: o treinamento contínuo dos representantes dos trabalhadores em questões económicas e industriais, e o perfeito entrosamento entre eles e os seus sindicatos. A extensão real da presença do trabalhador na direção da empresa depende da energia, e das aptidões, dos seus representantes.
Os trabalhadores da Noruega preenchem um terço das vagas dos conselhos de administração das empresas com mais de 200 funcionários. Na Suécia, estabelecimentos com mais de 50 pessoas têm conselhos administrativos aproximadamente paritários. Isto não ocorre por força de alguma lei formal, mas por convenção direta entre empregados e empregadores.
Na França, toda empresa com mais de 50 empregados é obrigada a ter um comitê de empresa que consulta os operários – na maior parte das vezes sobre questões de recursos humanos. Na Dinamarca, os conselhos de trabalho – Samarbejdsuvalg – discutem a organização do trabalho, sua segurança e bem-estar, acompanham a situação financeira da empresa e discutem os planos para o futuro. Na Holanda, há uma co-gestão inspirada na experiência alemã (a mais intensa da Europa) nas empresas com mais de 100 pessoas. O Conselho Paritário é que elege os diretores.(8)
Experiências brasileiras. Estão surgindo as primeiras comissões de fábricas brasileiras. O Ministério de Trabalho já as estimulava durante o governo Figueiredo. Mas muitos empresários resistem ao que sentem como “uma interferência indesejável na gestão dos seus negócios”. Também alguns sindicalistas apresentam resistências à ideia. Têm medo de uma manobra maquiavélica para marginalizar os sindicatos.
A comissão de fábrica da indústria metalúrgica Vogg S.A. de Canoas, com 270 empregados, era uma das pioneiras no rio Grande em 1984. Mas, mais antigas que ela, são as comissões da fábrica Taurus, que funciona desde 1967, e do Estaleiro Só, desde 1979. As duas últimas funcionam estreitamente vinculadas ao Sindicato dos Metalúrgicos.
Há experiências mais avançadas no Rio Grande. Depois das falências do grupo Wallig, os antigos empregados receberam o apoio do governo do estado para reerguê-las em 1984 na forma de cooperativas. Com os prédios e máquinas arrendados, 340 trabalhadores e os antigos diretores se reuniram para tocar a produção para diante, e em pouco tempo estavam produzindo 500 fogões por mês, organizados em duas cooperativas: uma de fundição, outra de mecânica.
A experiência da Wallig foi baseada, em parte, na história de outra falência com final feliz, ocorrida em 1983, em Teutônia. Quando faliu a fábrica de calçados Schaeffer, os operários conseguiram do juiz e do prefeito local o arrendamento das máquinas e do local, constituíram com êxito a Cooperativa dos Calçadistas Autônomos de Teutônia, Cocate.(9)
Rápido ou gradualmente, desta ou daquela forma, a democracia vai chagando aos locais de trabalho. Está mudando a maneira das pessoas se relacionarem. A democracia brota de dentro para fora das pessoas, de baixo para cima da sociedade. “O que é democracia industrial?” pergunta, num ensaio, o economista norte-americano Herbert Simon.(10) “Os empregados são apenas um dos grupos cujos interesses são afectados pelas decisões. Há também os executivos e os proprietários do capital, que frequentemente têm interesses bastante diferentes. E há o público consumidor dos produtos da organização, assim como os seus supridores. Devemos levantar a questão da democracia industrial para todos estes grupos”, escreve Simon, antes de admitir que os empregados têm um papel central neste processo, porque estão vinculados por uma relação imediata com o processo produtivo.
O cidadão deseja participar das decisões económicas da sociedade, e isso se reflecte no crescimento das organizações de consumidores. Hoje cerca de 120 organizações de consumidores de 50 países estão associadas numa Organização Internacional de Consumidores, com sede na Malásia.
O avanço da democracia participativa acelera-se sob as mais diferentes formas. “As companhias norte-americanas estão revendo o valor da participação do trabalhador – isso fica evidenciado no crescimento recente dos Círculos de Controle de qualidade (CCQ) ao estilo japonês”, escreve John Naisbitt.
Grupos de até 15 pessoas ganham horas-extras para reunir-se depois do expediente, discutindo e resolvendo questões como condições de trabalho, produtividade, relações entre setores e racionalização do trabalho. A ideia surgiu nos Estados Unidos várias décadas atrás, mas inicialmente não mereceu atenção. Foi no Japão que a proposta de CCQs causou rebuliço e alastrou-se. Trinta anos mais tarde, anota Naisbitt, o movimento chega de volta aos Estados Unidos como uma moda japonesa, um instrumento capaz de reerguer a decadente produtividade da economia norte-americana.
Foi através da Volkswagen (1971) e da Johnson & Johnson (1972) que os primeiros Círculos de Controle de Qualidade chegaram ao Brasil. Mais tarde foram adotados n Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), General Electric, Cia. Hering, Fundição Tupy, Geladeiras Cônsul e General Motors. Hoje há 500 empresas brasileiras lançando mão da criatividade e da participação dos trabalhadores. Foram criadas oito associações de CCQ, e para o primeiro semestre de 1985, na Colômbia, estava previsto o primeiro congresso latino-americano de CCQs.
Na indústria de calçados Ohlweiler (Taquara, RS), cerca de 30% dos empregados eram membros de CCQs nos primeiros meses de 1985. A opção é bastante clara, no entender do engenheiro João Diniz, que coordenou o começo da experiência: “Uma empresa pode contratar firmas de consultoria, que vão cobrar Cr$20 milhões por mês, e que fazem um trabalho de cima para baixo, ou a empresa pode implantar CCQs, que custam no máximo Cr$ 500 mil mensais e têm ótimos resultados a médio e longo prazo”. A segunda hipótese significa uma mudança de mentalidade para democratizar o local de trabalho, enquanto se racionaliza a produção e melhora o relacionamento humano.
Na fábrica de geladeiras Cônsul, a experiência começou há três anos e envolve 26% da mão-de-obra. Foram recolhidas 2.850 sugestões, 43% das quais em melhoria ambiental, 39% sobre mudanças de métodos de trabalho, e o resto sobre relacionamento no trabalho ou segurança. Já a fábrica Volkswagen tinha, em 1984, 137 grupos de CCQ funcionando em todos os seus setores. Mas apesar do seu progresso rápido, os CCQs brasileiros estão longe do nível de aproveitamento dos CCQs no Japão. Lá, a Toyota recolheu 1,7 milhões de sugestões de 59 mil empregados, com um índice de aproveitamento de 97%.(11)».

(1)IFDA dossier 35, May/June 1983, p.65. Ver também “Revival of Nonmonetary economy makes economic growth unnecessary in the small industrialized countires”, idem, p.68. E ainda IFDA dossier 34, March/April 1983, p.45; (2)“Peace news for non-violent revolution”, Nott hingham, England, September 1982, nº 21 77, reproduzido em IFDA dossier 34, March/April 1983, p.75; (3)Ensaio Erthard Eppler sobre políticas alternativas, em IFDA dossier 33, Jan./Feb 1983, p.56; (4)Zero Hora, 18/9/1983; (5)Palmyos Paixão Carneiro, “Iugoslávia, cooperativismo e autogestão”, Veja Novom Espaço, Belo Horizonte, MG, 1983. Bertino Nóbrega de Queiroz, “A Autogestão Iugoslava”, Brasiliense, 1982. Edward Kardelj y otros, “Nuevas Respuestas para un Mundo en Crisis, la verdad sobre Iugoslavia”, Ed. Sophos, Buenos Aires, 1960; (6)Sobre as metrópoles: Zero Hora, 13/9/1984. Sobre a argentina: “Veja”, 18/7/1984; (7)Sobre a Harvard Business Review : “Megatrends/Megatendências”, de John Naisbitt, Livros Abril/Círculo do Livro, SP, 1983, p.179-180. Sobre a Corporação Lucas: IFDA dossier, nº 35, May/June 1983, p.53; (8)Fernando Prestes Motta, “Participação e Co-Gestão”, Brasiliense, 1982; (9)Sobre as comissões de fábrica: Zero Hora 31/7/84. Sobre a Wallig, Zero Hora, dias 19/9/84, 18/9/84 e 23/10/84. Sobre Teutônia: Carlos aveline “De Baixo para Cima”, Vozes, 1984, p.27-29; (10)Revista “Economic Impact, a quarterly review of world economics”, 1983, p.76; (11)Jornal “Panorama”, Taquara, RS, 21/12/84, e contatos com a Ohlweiller. “Gazeta Mercantil”, 30/10/84.

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Ciência da Polis IX


Nesta nona parte, reflectimos sobre a força determinante da educação, no sentido da elevação, consciência e responsabilidade.


Texto José Luís Maio fotografia Dina Cristo

Para o desenvolvimento harmonioso da criança, já foi dito e repetido, é necessária a presença da mãe até, pelo menos, aos três anos. Para justificar esta asserção, fazemos a seguinte transcrição, limitada à nossa natureza fisiológica, mais precisamente à bioquímica, para não nos alongarmos demasiado:
“Lembremos que na mulher, curiosamente, alguns dos éteres (designadamente os denominados «de vida») são positivos, «fecundantes» e construtores; são, verdadeiramente, os elementos de liação e coesão dos tijolos celulares químicos. A progesterona, hormona feminina responsável na reprodução, é, em consequência, riquíssima em fósforo – o elemento intrinsecamente representativo do éter. O corpo feminino tem, pois, naturalmente, na sua constituição, maior percentagem de fósforo – sendo esta, aliás, uma das razões por que a mulher apresenta maior índice de longevidade do que o homem. É também um dos factores que está na base da menor incidência de alopecia (vulgo calvície) na mulher; a resistência à desagregação ou desligação dos corpos (quando em momentos de risco) faz-se, pois, mais notória. Os conceitos hodiernos em puericultura e em pediatria não contemplam algumas vitais situações de facto. De harmonia com o anteriormente exposto, não se deveria nunca apartar um nascituro da radiação ou proximidade da sua mãe até à idade de, pelo menos, três anos. A aura feminina é vitalizante e nutriente, por si só. Na natureza, veja-se o exemplo da acção da polaridade feminino-negativa nas galinhas: o facto de estas serem fêmeas provê a «potencialidade» de chocar os ovos. Chocar quer dizer, então, nutrir por via etérica – exogenamente (a osmose subtil, pela «atmosfera áurica» comum). Os ovos chocados naturalmente pelas galinhas são por isso pródigos em fósforo”.(1)
O acima exposto, baseado em provas científicas irrefutáveis, cala em definitivo as vozes da arbitrariedade contra os direitos das crianças e das mães e do despotismo esclavagista empregador de mão-de-obra a qualquer preço, nomeadamente à custa do futuro de qualquer povo que se pretenda saudável e culto.
A esse respeito, continuamos com Platão: “… Eu ainda sustentaria, sob o risco de parecer que gracejo, que as mulheres gestantes, mais do que qualquer outra pessoa, deveriam ser objecto de cuidado durante os seus anos de gravidez no sentido de não se entregarem a prazeres reiterados e intensos em lugar de cultivar durante a totalidade desse período um humor jovial, leve e sereno… Todos devem esquivar-se a uma vida de prazer ou dor sem mescla e trilhar sempre o caminho do meio”.(2)
Quanto às crianças mais velhas, diz-nos ele: “… A formação do carácter da criança de mais de três anos e até aos seis exigirá a prática de jogos…; neste período far-se-á uso do castigo a fim de impedi-la de ser indolente…, dever-se-ia evitar enraivecer as pessoas punidas por meio de castigos degradantes, ou amolecê-las deixando-as impunes; …há jogos que nascem do próprio instinto natural e elas mesmas inventam-nos sempre que estão juntas… Após os seis anos… tanto meninos quanto meninas passarão a receber instrução; os meninos aprenderão equitação, o manejo do arco, o arremesso do dardo e da funda; as meninas, por pouco que se prestem a isso, também deverão participar das lições, especialmente daquelas que se referem ao manejo de armas… Todas essas matérias terão que contar com o zelo dos magistrados masculinos e femininos…, visando que todos os meninos e todas as meninas possam ser sãos de mãos e de pés e possam não ter, de modo algum, as suas naturezas distorcidas pelos seus hábitos. As lições podem, por uma questão de pragmatismo, ser divididas em duas categorias: as da ginástica que educam o corpo e as da música que educam a alma. Há dois tipos de ginástica: a dança e a luta. No que tange à dança há um ramo no qual o estilo da Musa” [que inspira à música, no seu sentido mais vasto] “é imitado, preservando ao mesmo tempo liberdade e nobreza, e outro que visa a saúde do corpo, a sua agilidade e beleza, assegurando para as várias partes e membros do corpo o grau adequado de flexibilidade e extensão e conferindo-lhe, ainda, o movimento rítmico que é pertinente a cada uma das partes e membros e que tanto acompanha quanto é distribuído completamente durante a dança. Entretanto, os exercícios de luta íntegra, tudo o que destaca a maneira pela qual se desimpede o pescoço, as mãos, os flancos quando nos aplicamos a isso, somando ardor e elegância ao objectivo de obter vigor e saúde, tudo isso não deve ser omitido; mas temos que impor a discípulos e mestres… que estes últimos transmitam essas lições gentilmente e que os primeiros as recebam com gratidão. Tampouco se deverá descurar aquelas danças por imitação que se ajustam ao uso dos nossos corais…”.
Pertencendo a obra supra a uma época bastante anterior à nossa, poder-se-á pensar que tais instruções estão ultrapassadas. Porém, e por outro lado, é igualmente verdadeiro que a natureza humana permanece sempre a mesma, independentemente do momento histórico e do local geográfico a que nos reportemos. Podemos sintetizar isto definindo o Ser Humano como “um Eu Divino, uma Centelha da (na) Divindade Universal, um Ser Espiritual que, para realizar certas experiências e desdobrar os modos de expressão da Consciência Divina que tem latente, está envolto em formas materiais”. Complementando: “À medida que o trabalho evolutivo do Ser Humano vai sendo completado, as formas são reabsorvidas no Homem Espiritual que as emanou e ele, por sua vez – tendo manifestado, através de si, a Glória da Luz Divina –, retorna ao Centro Divino do Universo, o Grande Espírito em que todos os Espíritos se contêm e comungam” (3).
Resumindo: visto que, no Ser Humano, o Espírito (que se expressa por meio da Mente Superior auto-consciente, ou Alma Espiritual – Nous em grego) necessita do Corpo (da Matéria, Quaternário Inferior, ou Alma Animal – Psiche em grego) para aprender, por meio das experiências e vivências, a expressar (um ínfimo fragmento de) a Consciência Divina, pois o objectivo da “encarnação”, ou “corporificação”, é atingir a perfeição [“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai…” (que é o Atman em sânscrito, ou Vontade Espiritual em nós)”, segundo o Evangelho de Mateus, 5, 48], é imperioso que cultivemos a saúde e vigor físicos ou corporais, para que a mente, ou Alma Humana, seja igualmente um veículo sabiamente construído e conservado, ou seja, dotado de uma inteligência criadora ao serviço do Bem Geral e agente consciente dos valores eternos e universais da sabedoria, paz e reunificação planetárias.
Recorrendo à profunda linguagem presente na Odisseia de Homero, podemos comprovar, de outra fonte, a origem e natureza divina do ser humano. Senão, vejamos: “Telémaco, a tua própria inteligência em parte te instruirá. E o resto, um daimon te suprirá; pois penso que é à vontade dos deuses que deves o teu nascimento e crescimento”. Ora, para os antigos gregos “daimon” tinha, entre outros, o significado de “deus inspirador de obras grandiosas e intuições” e era acessível a uma consciência pura, sábia e altruísta por meio de um profundo estado de meditação ou interiorização, como lhe chamava o velho Sócrates, mestre de Platão. Este “deus” era, de facto, o sexto princípio humano, “buddhi”, “intuição”, ou “amor/sabedoria”, e não alguém fora de nós, o Deus Ex Machina inacessível por toda a eternidade ao ser humano, como a teologia cristã impôs aos seus seguidores e tentou impor ao resto da humanidade, eliminando assim toda a esperança de seguirmos os ditames da nossa própria consciência mais interna – e “próxima do Divino em nós”. Quanto ao “daimon”, o cristianismo degradou-o o bastante para acabar triste e vergonhosamente como o malvado e tentador “demónio ou diabo”.
Ora, se a inteligência humana – que pode ser traduzida por adaptabilidade às situações com que nos deparamos – tiver sido de facto estimulada desde a infância a exercer as suas funções, seremos perfeitamente capazes de adaptar a sabedoria antiga às práticas actuais no domínio da saúde física, através da ginástica, e da saúde da alma, através da música – vocal e instrumental; a dança inclui ambos, o corpo e a alma.
As políticas educativas não sofreram ao longo dos últimos vinte e cinco séculos grandes alterações no que respeita ao essencial, isto é, raras foram as instituições competentes para fazer despertar nos educandos/alunos/discípulos a espontaneidade, o entusiasmo e a motivação em adquirir os conhecimentos existentes em todas as áreas da actividade humana. Pelo contrário, tudo lhes foi imposto, desde as piores técnicas de adestramento e embrutecimento humanos, até à mais sublime sabedoria desvelada pelos maiores portentos de todos os tempos – esta última evidentemente deturpada, interpolada e falsificada.
A seguirem-se as sábias orientações dadas pelos Antigos, reiniciaríamos da melhor maneira o processo de regeneração da educação, pois a evolução e o desenvolvimento de crianças e jovens efectivar-se-iam de modo gradual e harmonioso, sem hiatos, desvios, rupturas e distorções irreparáveis, como sucede actualmente, pelo que iremos terminar a abordagem deste tema com uma simples sugestão, apoiada, primeiro, no ensinamento infra, transposto do trabalho anterior, e, depois, numa comunicação mais dirigida a professores e educadores:
“A máxima pluralidade de informação possível – sobre os mais diversos âmbitos da actividade e do conhecimento humanos e não, apenas, sobre o âmbito restrito de uma profissão, quase sempre aleatória ou superficialmente escolhida – deve ser propiciada a todos; pelo contrário, o mínimo de imposição deve ser praticado. Não tendes o direito de impor uma educação de escravos. Tendes, sim, o dever de assegurar uma educação de liberdade – de liberdade interior, de liberdade de autoconstrução, de liberdade de autodescoberta”(4).

«São quatro as condições essenciais para um ensino adequado:
A busca da Sabedoria
Não se pode ensinar sem primeiro se saber. Na verdade um cego pouca vantagem retirará em ser guiado por outro cego… A busca da Sabedoria processa-se em quatro etapas que se repetem ciclicamente. A última dessas etapas sintetiza as três precedentes antes de um novo ciclo começar. Primeiramente surge o anseio de saber; depois a aquisição de conhecimentos; então a compreensão essencializa e (re)ordena tais conhecimentos; finalmente a síntese, que é Sabedoria, estabiliza-se…
A vontade de ensinar (Amor)
Nenhum verdadeiro sábio é egoísta. Um verdadeiro candidato a sábio também o não deve pois, caso contrário, estará a recusar-se a compreender uma das primeiras leis a reconhecer no seu aprendizado: a lei do Amor. Dar e receber devem, portanto, complementar-se incessantemente. O Amor une as duas metades e um dia elas serão indistinguíveis. A vontade de ensinar pode, por vezes, ter de lutar arduamente. A necessidade (ou o desejo) de descansar, as solicitações da existência quotidiana, a própria vontade de aprender mais poderão disputar prioridades com ela. Realmente impõe-se que haja um justo equilíbrio, que só a intuição pode ditar em cada caso. Contudo a vontade de ensinar, sob o impulso do Amor, tem de estar sempre presente.
Identificação
O ensino deve ser adequado ao aluno. O facto de, frequentemente, este recusar assumir-se como tal evidencia a verdade do que dizemos. A adequação faz-se necessária em várias perspectivas. Há, evidentemente, que ter em conta o grau evolutivo do aprendiz e o seu grau de (re)aquisição de conhecimento e Sabedoria… Com efeito, um ensinamento premente para o grau evolutivo daquele que ensina pode ser completamente inútil e incompreensível para aquele que aprende. Ao invés, um ensinamento muito mais simples (e quase “esquecido” pelo “professor”) pode ser bem mais frutuoso. Devem igualmente ser consideradas as circunstâncias pessoais do aprendiz. Ainda mais importante, porém, é compreenderem-se as características e linhas qualitativas de desenvolvimento e resposta do aluno. Assim a apresentação da Sabedoria pode preferencialmente exibir a força do seu Poder, o Amor que integralmente a percorre, a multiplicidade de dons inerentes, a Beleza que irradia, o rigor da Ciência que é, a possibilidade do Idealismo que desperta ou a Ordem mágica a que convida. Para que o ensino seja adequado é, pois, necessária a identificação essencial de quem ensina com quem aprende. Na luz que então se faz, o perfil do aprendiz surge revelado.
Abstracção activa
Quando tudo foi feito o melhor que pôde ser feito, pouco importam os resultados. Não quer dizer que fujamos ao seu conhecimento: eles são dados com que, talvez, poderemos melhorar a nossa capacidade e eficiência ao ensinar. No entanto – e é isso que pretendíamos significar – devemos abstrair-nos de reacções personalísticas (por exemplo, de euforia, desânimo ou irritação) ao conhecer esses resultados. Para um discípulo sábio, toda a energia disponível é posta na eficiência das acções úteis; não sobra, portanto, para reacções personalísticas. Esta abstracção é, contudo, activa. Não significa falta de diligência mas império da alma. Na verdade, a vontade de êxito a pôr no ensino deve ser ainda maior do que se os resultados interessassem desesperadamente à personalidade: “em Nome de Deus” é o lema de todos os que ensinam…» (5)
Do mesmo modo que os pais conscientes vão com os filhos assistir a jogos, exposições e actividades artísticas, gímnicas, musicais ou outras, dando-lhes assim a oportunidade de optar pelas que sintam uma especial afinidade – e todas as crianças, salvo raríssimas excepções, manifestarão um particular interesse por elas –, urge fundar campus pedagógicos (de carácter global, desde o 1.º ano de escolaridade, e não apenas universitário), dirigidos por pedagogos competentes – e aqui é vital que os professores sejam comprovadamente os mais sábios e experientes, dada a particular dificuldade inerente ao primeiro contacto de uma criança com os mundos extra-familiar e da criatividade comunitária, da ciência e da tecnologia, etc. –, integrados na Natureza (com fauna e flora adequadas) e na comunidade, que ofereçam às crianças, o mais cedo possível, as actividades mais diversificadas, de modo a poderem identificar-se com elas:
“(...) Todo o homem que se pretenda que seja bom em qualquer actividade precisa de dedicar-se à prática dessa actividade em especial desde a infância, utilizando todos os recursos relacionados com a sua actividade, seja no seu entretenimento, seja no trabalho. Por exemplo, o homem que pretende ser bom construtor precisa (quando menino) de se entreter a brincar na construção de casas, bem como aquele que deseje ser agricultor deverá (enquanto menino) brincar a lavrar a terra. Caberá aos educadores dessas crianças supri-las com ferramentas de brinquedo moldadas segundo as reais. Além disso, dever-se-á ministrar a essas crianças instrução básica em todas as matérias necessárias; sendo, por exemplo, ensinado ao aprendiz de carpinteiro sob a forma de brinquedo o manejo da régua e da fita métrica, àquele que será um soldado como montar e demais coisas pertinentes. E assim, por meio dos seus brinquedos e jogos, esforçar-nos-íamos por dirigir os gostos e desejos das crianças no sentido do objecto que constitui o seu objectivo principal relativamente à idade adulta…”.(6) E assim se cumpririam as recomendações “A máxima pluralidade de informação possível deve ser propiciada a todos” e “o mínimo de imposição deve ser praticado”.
Hoje, as escolas são autênticos presídios sem grades, isolados do mundo quotidiano fervilhante de vida e alegria e castradores da poderosa, infinita e amorosa criatividade inteligente inerente a cada ser humano. Com o novo paradigma de escola aqui proposto – e tantas e tantas vezes assinalado pelos eminentes pedagogos-filósofos de todos os tempos –, será uma inevitabilidade a libertação humana em direcção à reunificação e ao altruísmo conscientes e livres. O ser humano só pode ser livre quanto mais cedo aprender a sê-lo e quantas mais vezes passar pela experiência “erro, dor e correcção” [erro – ao desviar-se da direcção para a sua própria unidade ou divindade; dor – na alma ou consciência, como efeito desse erro; e correcção – através do redireccionamento rumo à unidade].

(1) No Templo do Espírito Santo, do Centro Lusitano de Unificação Cultural (CLUC), 1992, pág. 47. (2) O Buda Siddhartha Gautama fazia constantes alusões e exortava os seus discípulos a seguir o caminho do meio. (3) Luzes do Oculto, do CLUC, 1998, pergunta 12. (4) As Novas Escrituras, Vol. IV, A Educação, do CLUC, 1996. (5) "Como devemos ensinar" in Sementes do Jardim de Morya e Pérolas de Luz, do CLUC, pág. 97. (6) Leis, de Platão.

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pensador


Neste ano em que se comemorou 95 anos do nascimento e a dias de se assinalar 15 da morte de Vergílio Ferreira, recuperamos alguns excertos de uma das suas obras.

Selecção Dina Cristo

«O impensável é o que mais importa pensar»
«Não te julgues superior ou inferior, julga-te só quem és se souberes»
«Sê calmo, se o podes ser. Na desgraça e na felicidade»
«Sê pessimista e age como optimista»
«Crer para ver»
«Todo o homem tem uma missão a cumprir»
«Em cada circunstância da vida é normalmente possível decidirmo-nos por uma entre milhentas opções».

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Co-dependência


Depois do dia de S. Valentim e antes do Dia Europeu da Vítima, eis uma proposta para transitar do ciclo vicioso da dependência e submissão amorosa para o virtuoso, da auto-estima.

Texto Dina Cristo

Para Robin Norwood, as mulheres que amam demais estão doentes. Trata-se de um desequilíbrio caracterizado por um ciclo vicioso, de dependência obsessiva em relação a um homem, progressivo e contínuo, que é uma compensação à dor emocional, que se pretende evitar. Em vez de enfrentá-la, a mulher projecta para cima do homem a realização emocional que não teve e, portanto, a sua carência, insatisfação emocional e um enorme anseio de amor, atenção e segurança amorosa.
Uma das principais causas apontadas é a vivência passada num lar disfuncional onde era negada a liberdade de expressão e a própria realidade. A constante tensão, a extrema rigidez, a ênfase no cumprimento de regras e a falta de contacto e intimidade tornaram-na incapaz de ver e estabelecer relacionamentos. Em adulta, a criança torna-se numa mulher carente e com tendência para a depressão, presa ao sonho, como compensação para a sua insatisfação íntima.
Curiosamente será atraída por homens emocionalmente indisponíveis, aos quais se esforçará por agradar ao máximo, num espírito serviçal. Ela ajudará na esperança de que ele goste dela e mude, acreditando que aí será feliz. Investe todas as suas forças nesta ilusão que só lhe trará, mais tarde, desilusão. Quanto mais lhe parece escapar esse objectivo, maior a dedicação, o investimento, a ajuda e a culpa e desculpa. Mas em vez da aprovação, chegará a indiferença e a distância, que fará crescer o desejo e a dor, numa espiral que levará à auto-destruição, o desespero de não (se) conseguir controlar, seguido de raiva e ressentimento.
Estas mulheres chamam amor ao medo (da perda), à dependência, à paixão, à obcecação. E tudo isso só levará à infelicidade e agravará a dor inicial e a depressão latente, mascarada com este vício. Desaguará num sofrimento dilacerante ainda maior do que o inicial. Mas então porquê esta opção, esta negação da dor emocional inicial?, pergunta a autora. Para não a sentir, para se defender e proteger dela, responde.

A cura

No instante inicial em que decide enfrentar o seu próprio sofrimento, cuja época propícia é o período menstrual, inicia-se o processo de recuperação. No restabelecimento, a mulher passa a responsabilizar-se e a controlar a sua vida, a investir em si mesma e na resolução dos seus próprios problemas; aceita-se, tolera(se) e respeita-se a si e aos outros; valoriza-se, recupera a auto-estima, tem interesses e amigos próprios, pensa primeiro no seu bem-estar e passa a confiar em pessoas adequadas – ela sabe que merece o melhor, e toma conta… de si, ajuda-se.
A mulher em regeneração deixa de fugir dos sentimentos, pois adquie consciência de que estes servem para (a) orientar e que a aceitação cura, traz paz e dá felicidade. Ela resgata as suas emoções e desapega-se. Liberta-se da responsabilidade por ele (e dos seus problemas) e do sentimento de defeito, de que não merece ser amada. Aceita mudar, enfrenta os seus medos, enceta novas experiências e arrisca novas actividades; descontrai, despe-se, encontra-se e exprime-se, torna-se genuína e autêntica.
A mulher tratada troca a ilusão sobre o outro pelo amor a si própria. Está pronta para uma relação compatível. Deixa de querer, de precisar, de mudar e controlar (ajudando) os outros. Entende que concretizou o modelo social veiculado – o que identifica o amor com a paixão, excitação, dramatização ou manipulação. Deixa de ser (a)traída por homens que amam de menos – distantes, magoados, dependentes, defensivos e frios – de desculpar toda a sua irresponsabilidade. Deixa de se culpar (pela discussões, irritações e infelicidade), de (se) julgar e de temer; ao invés abre o seu coração... à vida.

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Imprensa romântica?



Amanhã é publicada a edição comemorativa dos 80 anos do "Avante!". Oportunidade para (re)conhecermos um pouco da sua história, através das memórias de Carlos Pires, antigo tipógrafo do jornal, numa entrevista realizada em 2003.

Texto Catarina Teles

Com que idade começou a trabalhar no “Avante!”?
Tinha 17 anos. A partir de 1957, mais ou menos, comecei a fazer o “Avante!” clandestino. Vivi durante 20 anos na clandestinidade com o “Avante!”.


O “Avante!” é o órgão central do Partido Comunista Português e como tal é um jornal comunista, o que o obrigou a viver na clandestinidade durante 43 anos. Em termos de tiragens e publicações, como foi a história deste jornal?
As tiragens tiveram várias fases e agora não me recordo de todas, mas próximo do 25 de Abril houve uma tiragem de três mil exemplares. Já era muita coisa, uma tiragem bastante elevada para um jornal clandestino.
Hoje, um dos objectivos do "Avante!" é que ele chegue mais longe e seja lido por um número crescente de pessoas militantes e não militantes do PCP. Isso dantes era possível?
Sim, até era… Nas fábricas, os militantes comunistas que existiam, deixavam o “avante!” no local de trabalho daquelas pessoas que eles achavam que estavam mais ou menos contra o regime das altura. Havia várias formas de deixar o “Avante!” clandestino, inclusivamente na caixa do correio. Havia várias formas de pôr o “Avante!” a circular.
Quais eram os objectivos clandestinos do “Avante!”?
Sobretudo dar informação mais correcta do que aquela que era publicada na imprensa diária, que era sempre camuflada. As lutas eram sempre anunciadas no jornal. Claro que com um certo atraso, porque as lutas desenvolviam-se hoje e só passados 15 dias é que eram anunciadas no “Avante!”. Mas o objectivo primeiro era dar informação correcta sobre aquilo que se passava, inclusivamente sobre as guerras coloniais.
E na altura em que o jornal era clandestino, noticiavam acontecimentos apenas nacionais ou também internacionais? E quais os temas que abordavam?
Noticiávamos acontecimentos nacionais e também internacionais. Em relação aos temas, abordávamos de tudo um pouco. Sobre a Europa e o mundo, sobre literatura, sobre a vida interna do PCP… Claro que na altura não estávamos directamente virados para a cultura, mas sim para as lutas operárias da época e tudo o que se passava no mundo em relação a esses problemas. Hoje é diferente. Podemos noticiar de tudo um pouco, já que não há necessidade de nos mostrarmos apenas contra o fascismo, porque graças à coragem de muitos homens e mulheres, esse já vai longe.
A clandestinidade impunha condições desfavoráveis à elaboração e difusão da imprensa. Como era feito o “Avante!” clandestino?
Tínhamos que ter o tipo, o papel, a tinta… E tínhamos que ter pelo menos duas pessoas: uma colocava o papel e puxava o rolo, a outra tirava o papel e prensava. Isso era feito nos extremos cuidados, como é óbvio, numa casa normal como a de toda a gente. Tínhamos um rolo que passava por cima do tipo e esse rolo pesava no mínimo 30 a 40 quilos e eu via-me aflito para tirar aquilo, por que se caía no chão fazia um estrondo imenso para o vizinho de baixo e isso não convinha nada. Na altura também era jovem, por isso não me custava muito! (risos) Mas tínhamos que pôr tudo em casa. Havia um ponto de apoio, uma casa onde tínhamos o papel guardado que se ia buscar aos poucos. Enquanto um saía, havia que preparar logo o outro para ir buscar mais papel para a casa, com calma, fazendo de conta que aquilo não era nada connosco, como qualquer pessoa que vai às compras e traz embrulhos. E era assim que nós fazíamos.
E onde era feito?
Em casas clandestinas para os outros não saberem. Foi sempre feito dentro de Portugal.
Como era distribuído?
Depois de feito o jornal, havia um camarada responsável que o ia lá buscar. Nós entregávamo-lo, mas tínhamos que fazer aquilo muito disfarçadamente. Por vezes, quando se levavam para distribuir, tínhamos de pôr uns nabos e umas couves por cima para disfarçar… Depois havia vários camaradas a quem distribuir para este os fazer chegar aos diversos sectores do país, principalmente às fábricas. Em termos de transporte, íamos de bicicleta e mais tarde de carro. Os “Avante!” eram distribuídos na rua, escondidos. Eram distribuídos mil para aqui, mil para ali… Eram embrulhos relativamente pequenos, porque o “Avante!” era publicado em papel bíblia, um papel fino. Era fácil de transportar de mão em mão.
Mas se distribuíam em mãos tinham de saber a quem o faziam, senão corriam o risco de entregá-lo a um elemento da PIDE, ou a alguém ligado ao regime.
Obviamente tinham de ser camaradas conhecidos de determinados sectores. Por exemplo, aqui em Lisboa um camarada responsável recebia-os e depois entregava aos camaradas das empresas que conheciam, não podia ser a qualquer um.
E isso não limitava a distribuição?
Mais ou menos… Depois as pessoas que recebiam o “Avante!” faziam-no chegar a outras pessoas, davam conhecimento, deixavam-no na caixa do correio, debaixo das árvores, junto às portas, era lido em locais discretos… era sempre um risco para quem fazia, para quem distribuía e para quem recebia.
O “Avante!” foi o jornal que resistiu durante mais tempo à clandestinidade. O que motivou tantos colaboradores a levarem esta nobre causa até às últimas consequências?
Houve um camarada que estava ligado ao “Avante!” que foi assassinado. Nós tratávamo-lo por Alex… Houve também outros que foram perseguidos, mas conseguiram fugir. O motivo era tentar acabar com o regime da altura, a todo o custo.
As pessoas que faziam o “Avante!” clandestino tanto escreviam como trabalhavam na tipografia?
Não. Os originais, digamos, vinham através do secretariado, onde estavam as pessoas ligadas às causas clandestinas. Portanto, era escrito pelos camaradas que recebiam as informações, que depois passavam para o papel. Depois, o original era-nos entregue, para o imprimirmos. Portanto, havia aqueles que produziam o “Avante!”; nós depois recebíamos os originais e fazíamos aquilo que se fazia nas tipografias: colocávamos os caracteres todos, que são nove milhões!! Tínhamos de fazer as palavrinhas todas e isso era muito complicado. Mas valeu a pena!.

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vida sábia


Quando se inaugura, amanhã, o novo ano chinês, olhamos para as páginas de um dos maiores clássicos daquela civilização: um Caminho Perfeito, remédio para todo o mal e fonte de todo o bem, proposto antes da era cristã.

Texto Dina Cristo


Um ser sábio fala pouco, não discute, não se lamenta ou injuria. Não age, fá-lo em pensamento. Desapegado, não deseja e não luta. Ele sabe que a vida sensorial o impede de sentir o gosto do que lhe parece insonso, que o egoísmo é a origem de todas as calamidades, terrível, a par da ambição e da ilusão. Ele (re)conhece que quer os sentidos quer a mente deformam a realidade; tem consciência de que a forma (externa) e a essência (interna) são inseparáveis e mantém-nas unidas – sintoniza o céu, ocupa-se do interior e auxilia os seres humanos a serem autênticos.
Não é necessariamente instruído, ele ensina sem usar palavras; não se evidencia, mas brilha, não se vangloria, mas tem mérito. Humilde, veste-se pobremente; sabe que a par da economia (de recursos) e da compaixão, é uma das coisas boas, que permite a adaptação à vida, que é dinâmica. Moderado, evita todo o excesso, extravagância ou arrogância. Bom e sincero, vive sereno, indiferente quer aos elogios quer às reprovações, plenamente atento ao aqui e agora.

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