quarta-feira, 29 de junho de 2011

Santa Rainha


Segunda-Feira assinalam-se 675 anos da morte de Isabel de Aragão. Oportunidade para relembrarmos a Rainha Santa, através de palavras proferidas, em 1992, no seu Mosteiro, em Coimbra.

Texto José Coelho fotografia Dina Cristo

Quando no Congresso Europeu de Medicina Natural, em Abril [de 1992], propusemos a Rainha Santa Isabel para Patrona da classe médica naturista, cumpríamos uma tradição bem portuguesa dos mesteres, ao tutelar a classe com um Patrono.
Hoje, perante o Plenário Académico, encerramos o ciclo da nossa proposta, procurando a justificação e consagração em Sede adequada: no Convento da Rainha e à luz do seu Santo Túmulo.
“Gemma Pellucida”, como foi designada pelo Cardeal Del Monte, no processo de beatificação. “Gemma Diafana” – pela pureza e pelo exemplo de vida que foi: de Cristã nas suas obras de caridade, de Cultura pela protecção aos intelectuais, pela Música, pelas Línguas que conhecia, de Arquitecta e Engenheira, por ter saído do seu traço e orientação construções tão diferentes como Hospitais, Conventos, Capelas, Residências, etc. De Rainha que, nas calamidades, esteve sempre ao lado do seu povo, adquirindo, com o seu próprio dinheiro, víveres indispensáveis. De Mãe sempre que teve de conciliar os próprios familiares desavindos, fossem filhos naturais ou enteados, e também de Médica.
Longa, se quiséssemos abordar cada título, seria a enumeração dos seus feitos.
Importa-nos, porém, transcrever a Conferência do Padre Sebastião Antunes Rodrigues, autor de vários estudos sobre a Rainha Santa, anterior Capelão da Confraria da Rainha Santa Isabel, com quem tivemos a honra de privar, neste templo, durante os anos da adolescência, para bem ilustrar quanto na área Médica, passados [seiscentos e setenta e cinco] anos, os conhecimentos e a prática Médica de Santa Isabel são actuais.
“Muitas vezes fazia apalpação e depois de diagnosticar indicava o remédio e quando os doentes se sentiam curados, logo a Rainha passava por ter feito um Milagre. Conhecendo o valor de águas termais, assim pôde curar sua mãe.
No Hospício de Santarém, onde recolhia idosos, chegava ao pormenor de escrever as dietas para cada dia da semana, as mudanças de vestuário, etc.
O apoio espiritual que dali fortemente prestava aos que careciam de regeneração." Citei.
É nesta vertente tão especificada, da cultura da Rainha Santa Isabel, incomum na Idade Média, que utilizava, como sabeis, a clara do ovo como hemostático, por esta ser rica em proteínas, logo uma acção acelerada da coagulação sanguínea, e, pelo fibrogénio que esta possui, isolar a ferida. Era o remédio certo, no momento certo, atitude em que nos revemos.
O aprofundar da sua obra é agora uma necessidade e também um dever. Afinal as terapias antigas para além de inócuas eram e são as mais adequadas à natureza do homem.
É na sua vida que procuramos o exemplo, salvaguardando assim do esquecimento ou aviltamento, a herança cultural de tão Nobre Senhora para que hoje, fixando o horizonte do terceiro milénio, se invoque a Rainha Santa Isabel “Pacis et Patrie Mater”, Mãe da Paz e da Pátria, como Patrona do nosso Mester, do trabalho sublime da cura, no seu exemplo de Médica, no equilíbrio da vida e do humanismo, a quem humildemente nos dedicamos, por graça de Deus: O Homem.

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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Despoluição tabágica




Antes do Dia internacional de luta contra o abuso e tráfico de droga editamos um texto, originalmente publicado no jornal "A Voz do Mar", em 1984. Escrito por duas adolescentes, o artigo antecipa(va) um ambiente livre do tabaco com uma vida mais saudável para todos.

Texto Dina Cristo*


O tabaco é uma planta solanácea (Nicotina Tabacum) que pode atingir dois metros de altura e cujas folhas maiores medem entre 60 a 70 cm. É originária da “Ilha do Tabago” e foi trazida para a Europa como um remédio, sob os nomes de erva santa, erva de todas as doenças, erva do embaixador, entre outros.
A forma como se processa a transformação do tabaco é a seguinte: colhem-se as folhas e secam-se em telheiros; seguidamente são submetidas a uma fermentação em massa e são transformadas em diferentes produtos consoante a sua utilização: cheirando-se, mastigando-se ou ainda fumando-se.
Algumas espécies são plantadas com carácter ornamental mas, na sua maioria, com interesses comerciais. No início o tabaco era de fabrico artesanal, pois eram os próprios consumidores que o fabricavam. Hoje em dia é de fabrico industrial…


Malefícios


As experiências indicam, segundo organismos médicos a nível mundial, que o fumo do cigarro é uma causa de morte, tão importante como as graves doenças do passado. O cancro do pulmão, por exemplo, era desconhecido no início do séc.XX, antes da divulgação do cigarro, porém, hoje em dia, é uma doença habitual.
O tabaco, entre muitas doenças, pode provocar o cancro nos pulmões, faringite, dispepsia, afecções da vista, perda de memória, mau hálito, enfisema, bronquite, arteriosclerose e doenças cardíacas. Mas talvez a principal seja a que põe em risco a vida dos recém-nascidos, quando a mãe fuma durante a gravidez. Já foi testado que estes seres nascem menos desenvolvidos e têm mais possibilidades de morrer à nascença ou durante a primeira semana de vida.
O tabaco torna-se mais prejudicial quando o seu uso é excessivo.
Para melhor conhecer a opinião de algumas pessoas sobre o tabaco fomos ouvi-las. Em média, os indivíduos interrogados que utilizam o tabaco sentem-se normais e os que não o utilizam sentem-se bem. As que o usam fazem-no como uma forma de distracção e para se abstraírem dos próprios problemas.
Os jovens questionados sentem-se mal ao saberem que há colegas seus que fumam pois poluem o ambiente e ao mesmo tempo provocam doenças. Confessaram que já tiveram vontade de fumar mas se lhes oferecessem recusavam, o que demonstra uma grande força de vontade.
Os jovens ouvidos pensam que o tabagismo é bastante grave pois contribui para a degradação do meio ambiente, sugerindo que, para os libertar desse hábito, se finde com a plantação do tabaco, se dialogue com eles a fim de os mentalizar a deixarem de fumar, expondo-lhes todos os problemas que o fumo acarreta, se aumente o preço do produto e diminua o excesso da sua comercialização.
A causa que leva os jovens a fumar é o sentido de inferioridade numa sociedade que não os compreende e também como abstracção dos problemas a nível social, como o desemprego. Atribuem também o hábito à influência, sendo os responsáveis, em seu entender, os pais e os amigos. Quanto aos jovens reabilitados supomos que devem ser poucos uma vez que não encontrámos nenhum.
Para diminuir o consumo do tabaco poder-se-ia fazer campanhas, com o objectivo de alertar a população acerca dos perigos que daí advêm. Além disso a poluição acarreta consigo inúmeras doenças, que atingem grande número de fumadores mas também de não fumadores. Poderia partir da iniciativa das pessoas não utilizadoras do tabaco ter uma conversa com os fumadores a fim de os libertar do uso do tabaco.


Direitos dos não fumadores


Os não fumadores, como constituindo uma parte da sociedade, deveriam unir-se e lutar pelo seu grande objectivo: viver num meio saudável. Até agora praticamente nada tem sido feito a fim de defender e apoiar os direitos dos não utilizadores do tabaco, estando estes, portanto, desfavorecidos em relação aos fumadores.
Os seus direitos são: serem respeitados pelos fumadores, ter liberdade de optar por uma vida saudável, proibir de fumar em recintos fechados quer sejam edifícios (restaurantes, supermercados, salas de espera, etc.) quer sejam em meios de transporte.
Torna-se, assim, necessária uma união entre a juventude não fumadora com o fim de reabilitar os jovens fumadores, sem deixar que o hábito do tabaco se lhes torne em vício. Aumentar-se-ia, assim, a população não fumadora. Mas para que esta geração seja fomentada é necessário um apoio moral dos pais.
Fazemos aqui um apelo para que os jovens de amanhã sejam mais prudentes que os de hoje e consigam com a força da sua amizade e esperança construir um mundo de não fumadores: A juventude unida/Como alvo o coração/Venham na nossa corrida/E teremos a chave na mão.



* Com Teresa Amador. Fotografia: Liga Portuguesa Contra o Cancro.

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terça-feira, 21 de junho de 2011

Rádiotelefonia de sessenta II


Nesta segunda parte, abordamos a rádio nacional e os grandes acontecimentos da década.

Texto e fotografia Dina Cristo

Em 1958, ano de eleições presidenciais, o regime estremeceu pela primeira vez aos olhos da comunidade internacional. Em Portugal, a população mostrou a sua adesão ao candidato da oposição.
Na tarde em que Humberto Delgado regressou do Porto, em campanha, a EN emitiu o aviso de que seriam reprimidas quaisquer manifestações na chegada de Delgado a Lisboa, acabando por gerar uma demonstração de apoio ao candidato que ousara afirmar que demitiria Salazar, caso fosse eleito.
No discurso sobre o acto eleitoral, Salazar não ocultava a ‘traição’ do seu antigo coadjutor: «Não fazemos apelo à violência, não diminuímos ninguém e a todos queremos prestar justiça, pois agora teremos de pacientemente varrer a sementeira de ódios com que por acto de outrem a atmosfera do país se envenenou»(1).
Já exilado, no Brasil – onde se refugiou após o ‘acto eleitoral’, perante uma prisão iminente – Humberto Delgado emitiu um apelo clandestino à resistência contra o regime opressor: «(…) Quem vós considerais o vosso presidente eleito? Eis-me a tantos milhares de quilómetros, a dirigir-vos a minha oração de fé, do futuro próximo, a exortar-vos a que vos unais e saibais resistir ao despotismo pelos meios adequados»(2).
Em 1959, no âmbito de uma nova campanha eleitoral, desta vez para a Assembleia Nacional, o Rádio Clube Português emitiu uma sessão de propaganda da União Nacional no Porto, durante mais de uma hora. Os três intervenientes, Irene Leite Costa, Jorge Botelho Moniz e Marcello Caetano, defenderam com vibração os argumentos em prol de uma tese governamental.
A primeira candidata expôs as vantagens do interesse da Nação e independência dos deputados, elogiando o Presidente do Conselho: «(…) Salazar esse estadista de génio que criou novos rumos aos destinos da pátria e nos dá a todos o exemplo de como devemos servi-la»(3). O segundo, falando de improviso, ironizou sobre a oposição, exaltando a juventude portuguesa, exortando à continuação da luta: «Lutemos, lutemos sem descanso, lutemos unidos, porque só unidos podemos vencer. Lutemos por Portugal, lutemos por Salazar»(4).
Por último, na intervenção de encerramento, Marcello, Ministro do Interior, sublinhou que o seu voto exprimia gratidão, confiança e admiração por Salazar, a quem se deve a prosperidade de Portugal, afirmando que «(…) o país necessita para a conservação da sua integridade territorial, para a conservação da sua unidade moral, para a resolução dos seus problemas vitais, de que continue banido da nossa vida pública o espírito de partido (…)»(5).
No primeiro ano da década, Madagáscar, República do Congo, Catanga, Federação do Níger, Costa do Marfim, Chade, África Central, Chipre e Mauritânia tornaram-se independentes, mas a rádio calou-se. Contudo, a Rádio Conakry abria os olhos dos guineenses: «(…) Eu vos digo estes dois homens de valor Presidente Seco Turé e Dr. Krumah estão lutando pela independência da África, a África tem de ser livre, e ela terá de ser livre de qualquer maneira. (…) mas julgo [que] hoje em dia chegou a emancipação da África, toda a África está no seu apogeu, devemos todos lutar pela libertação da África, para todos nós ficarmos livres (…)»(6).
Em relação aos acontecimentos explosivos de 1961, que agitaram a política nacional, a rádio, apesar de em muitos casos não ocultar os acontecimentos, serviu aos ouvintes uma informação com apenas um ponto de vista: o do Governo. A EN, em especial, assumiu o seu papel propagandístico, para o qual havia já sido preparada legalmente, na década anterior, fazendo amortecer o embate da oposição interna e externa.

Santa Maria

Em 1961, Henrique Galvão concretizou o assalto e desvio do Santa Maria, navio que levava a bordo 600 turistas e 370 tripulantes, conseguindo chamar a atenção da opinião pública internacional para o regime português. Em Portugal, o paquete-pérola português era objecto de cuidado dos homens da informação. De uma programação prevista emitir entre as 7h e as 24h, com dez blocos informativos diários, a emissão da EN tornou-se ininterrupta logo no segundo dia do assalto ao paquete, prolongando-se por vários dias, num total de 140 horas suplementares(7). Entre as alterações da estrutura informativa destacaram-se a cobertura de Artur Agostinho, no Recife, como enviado especial, as crónicas de Ferreira da Costa e os comentários de jornalistas e pessoas da vida pública nacional, bem como um programa especial, “Verdades e mentiras sobre o caso de Santa Maria”.
No dia 29 de Janeiro, chegaram ao aeroporto de Lisboa, seis tripulantes feridos: «Senhores ouvintes, se posso transmitir-vos uma primeira impressão deste feliz regresso destes portugueses, que viveram a perigosíssima aventura, será a sensação de tranquilidade, paz, de conforto, que se espelha nas suas fisionomias. Graças a Deus, eles estão sãos e salvos em terra portuguesa, onde acabam de regressar. Nós estamos solidários com a sua felicidade, assim como estamos solidários com os riscos e com os perigos que ainda correm os outros tripulantes, assim como os passageiros que ainda estão a bordo do Santa Maria»(8).
Logo após, foram abordados alguns tripulantes de forma a esclarecer os ouvintes acerca da aventura que haviam acabado de viver. Carlos Alberto Carvalho afirmou a inevitabilidade da rendição, quer por parte dos passageiros, cheios de terror, quer do comandante, coagido por armas. Uma intimidação negada por Henrique Galvão, no seu diário de bordo, em que anuncia a excessiva condescendência, que o havia até perturbado(9).
Artur Agostinho transmitiu a chegada do navio, no dia 16 de Fevereiro desde a expectativa inicial e emoção do momento até ao êxtase final: «Os portugueses unem-se em torno de Portugal, é Portugal que aqui está, senhores ouvintes, gritando ‘sim’ a Salazar, são na verdade, senhores ouvintes, dois espectáculos diferentes. De um lado, o Santa Maria na sua silhueta inconfundível acostado ao cais de Alcântara, os seus tripulantes, a sua gente, depois de uma odisseia vivida tragicamente, mas agora encerrada com alegria pelo regresso feliz ao seu lar. Do outro lado, em terra, toda a gente para aclamar Salazar. Abrem-se muito a custo pequenas alas e adivinha-se que o presidente do Conselho irá aparecer do outro lado da gare de Alcântara, na entrada principal, onde o público não desiste de o aclamar, de o saudar, de lhe manifestar a sua unidade indestrutível, a sua confiança, a sua fé inexcedível nos destinos de Portugal (…)»(10).
Apesar da brevidade da alocução de Salazar – “Temos o Santa Maria connosco. Obrigado, portugueses” – a manifestação terminou com os vivas ensaiados pelos animadores, que incitavam a multidão a repeti-los, ao que esta respondeu gritando, numa vibração apoteótica: “Salazar”, “Viva Salazar”, “Nós queremos Salazar”, “Nós queremos a paz”.
O Rádio Clube Português emitiu a primeira notícia, no dia 24 de Janeiro, às 2h12m, desenvolvendo, a partir daí, um trabalho consecutivo de 270 horas, distribuídas por turnos de redacção, locução e reportagem, envolvendo mais sete funcionários e outros três em contacto com entidades de informação, no exterior. Além dos serviços normais de noticiários, o RCP transmitiu mais de vinte outros extraordinários, por dia, chegando a interromper programas e a enquadrar as suas reportagens com entrevistas a membros do Governo.
O programa “Meia-Noite” iria relembrar o acontecimento no final do ano, em revista: «Dia 23. Anuncia-se que no mar das Caraíbas, um grupo chefiado por Henrique Galvão apoderou-se do paquete Santa Maria. Foi morto a tiro o terceiro piloto, João Nascimento Costa, e ferido gravemente o praticante oficial, José António Lopes de Sousa. Este caso provocou em todo o país a maior excitação. Entretanto, em São Paulo, Humberto Delgado dizia que foram ordens suas que levaram à apreensão do paquete português»(11).
Na Rádio Renascença, o Santa Maria foi especialmente tratado no “Diário do Ar”, magazine dedicado à reportagem e à informação, desde 1959.


(1) Arquivo Histórico RDP. EN 1958. AHD 10584. Faixa1. Extracto 8. (2) Idem. Faixa 3. Extracto 1. (3) Idem. RCP 1959. AHD 13543. Faixa 1. Extracto 1. (4) Idem. Ibidem. Faixa2. (5)Idem. Ibidem. Faixa 3. (6) AOS/CO/UL – 35, pasta1, pág.24/25. (7) R&T. 11/02/1961, pág.10. (8) AH RDP. 29/01/1961. (9) História Completa de Portugal, pág.130. (10) Idem. AHD 1922. Faixa 3. (11) AH RDP. RCP. 31/12/1961. AHD 13538.

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Tributo



Quando José Saramago foi homenageado, aos 80 anos, em Santa Maria da Feira, estava na sala um dos seus leitores. Fernando Pinto Basto relata o evento, num texto editado, em 2005, no livro “Por ti e para ti”. Publicamo-lo, autorizados, a um ano do escritor nos ter deixado e a quase sete do desaparecimento do jovem cinéfilo.


Texto Fernando J. Pinto Basto fotografia Dina Cristo


O tempo estava impiedoso de chuva e vento, convidativo ao aconchego do lar e ainda três dias antes a cidade tinha sido assolada por um temporal que causou os inevitáveis prejuízos próprios dos temporais. Mesmo assim, apesar das condicionantes climatéricas, e desafiando a intempérie, o velhinho cine-teatro estava quase cheio e era mesmo aí que iria ter lugar o recital de homenagem ao agora octagenário Autor, homem de parágrafo longo, pontuação escassa e palavra justa. No palco estariam três mulheres de nacionalidades diferentes mas unidas pelo mesmo sentimento: o tributo aos livros escritos pelo Autor das inesquecíveis personagens Blimunda, Maria Magdala e A Mulher do Médico. Os inevitáveis contratempos que estes acontecimentos têm como propriedade, fizeram com que só uma hora depois do previsto se desse início ao referido tributo, mas como era noite de aniversário ninguém quis abandonar a cerimónia mais cedo; a juntar a este facto acresce ainda o outro de chover como no dilúvio e o recinto estar assim provisoriamente transformado em arca de Noé, embora o Autor já com idade bíblica não estivesse certamente à espera de encontrar um casal de cada espécie lá dentro. O que ele esperava nunca o saberemos, mas o que ele poderá ter visto não deve ter sido muito diferente do que aqui e agora se dá conta.
Entraram primeiro em palco os dois músicos que iriam fazer os breves interlúdios às leituras dos textos escolhidos. Após uns acordes singelos, surgem Laura Morante, Maria de Medeiros e Marisa Paredes, as tributárias. A primeira a usar a voz é a espanhola e, apesar de um providencial ecrã onde surgem traduzidas as palavras do Ensaio prefiro ver as expressões e auditivamente absorver o texto em castelhano, não assim tão longe de nós como confirmaria Blimunda mais tarde, através de emocionada voz, quando o Memorial se fez ouvir num português irrepreensível. Faltava ainda ouvir a musa italiana, naquela que seria a interpretação mais teatral da noite e voltar-se-ia aos cegos e ao convento por diversas vezes, mas a declamação final pertenceria a uma mulher proscrita no seu amor pelo filho de um homem, e cujo pecado foi amar tão terrenamente o que estava destinado aos céus.
Com o Evangelho segundo o Autor se finalizou a sessão, onde torrentes de emoções andaram à solta numa demonstração de que a palavra é o elemento primordial da humanidade e afinal não estamos assim tão longe daqueles tempos onde nos reuníamos ao redor de uma fogueira a ouvir as estórias que alguém mais imaginativo inventava para nos aconchegar num mundo de sombras. Agora a caverna é um pouco maior mas o ritual repetiu-se nessa noite celebratória à qual não faltaram os desejos de parabéns e muitos anos de vida a quem a leva tão cheia de tudo. Conta-nos mais coisas, José.

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sábado, 11 de junho de 2011

Omraam


Neste quarto Verão, que se aproxima, recordamos alguns ensinamentos de Omraam Mikhael Aivanhov, desaparecido há 25 anos.

Selecção e fotografia Dina Cristo

 

«O Universo inteiro está presente nas nossas mãos»

«Tentar seduzir alguém é querer impor-se a ele»

«O essencial é viver»

«Sem sacrifício não existe luz»

«Nada pode evoluir sem antes ter involuído»

«A Natureza é o corpo de Deus e esse corpo é vivo e inteligente»

«O amor é uma moeda que ultrapassa todas as outras»

«O Céu fala suavemente e sem insistência»

«O intelecto nunca deve estar húmido e o coração nunca deve estar seco»

«É na árvore que se deve estudar o fruto»

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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Destinados


À beira do Dia de Portugal, desbravamos o seu destino, para além do seu declínio - crise financeira, corrupção, desbragamento, desmoralização, esbanjamento e desordem – que, segundo Victor Mendanha, o autor, começou no séc. XIX.


Texto Dina Cristo

Portugal é o rosto da Europa. A sua função será integrar o culto do Espírito Santo na vida diárias das pessoas, guiá-las para este reino, galgar agora os mares psíquicos e ascender à comunhão com os Mestres e A(rca)njos. O seu primeiro dia de manifestação, na adolescência, foi constituído pelos Descobrimentos, a aventura material. O segundo dia de manifestação será a aventura supra-religiosa. Para tal, é preciso que haja um grupo significativo de portugueses expurgado. Já há indícios do apodrecimento necessário: corrupção, dinheiro, agressividade, mentira.
A alma portuguesa, que descende da helénica e tem uma profunda ligação à hindu, divide-se em três tipologias. À primeira correspondem os portugueses nascidos com o país, com o início da nacionalidade. Está no fundo de cada português típico e verdadeiro, que trabalha obscura e modestamente em Portugal. Corresponde a uma economia de fraternidade, com pendor comunitário, cooperativo e fraternal. À segunda, a II Dinastia, com D. João II (desde o séc.XIV), quando a Nação se começou a tornar Império, com D. Dinis até 1578, à Batalha de Alcácer-Quibir. Corresponde a uma economia capitalista, de concorrência, com juros. À terceira a superfície dos portugueses visíveis, de espírito moderno, em hipnose, e com aparência de contacto com o mundo. Portugueses que não o são. Começou com a invasão mental estrangeira, a partir do Marquês de Pombal (o séc.XVIII e a invasão dos estrangeirados), agravada pelo Constitucionalismo e completada com a República – é a que governa o país estando completamente divorciada dele.
Também os paises são regidos por ciclos, ligados aos quatro elementos. Portugal não é excepção. A Terra corresponde à construção da Nação, com base etnicamente nos povos arianos, vindos do Norte da Índia, em vagas sucessivas: Oriente-Norte-Ocidente. A Água - desde o reinado de D. Dinis e os Descobrimentos, que nos levaram de regresso à Índia: Ocidente-Sul-Oriente. O Ar com o enriquecimento mental, pela troca de conhecimentos, corresponde à descolonização, com o regresso dos portugueses: Oriente-Sul-Ocidente. Actual caldeamento de culturas, do qual sairá uma nova cultura e um português novo. O Fogo, a partir dos Açores, será Ocidente-Norte-Oriente.

Ordens santas

Para além da Ordem de Avis, com o seu Grão-Mestre D. João I e o seu símbolo flor-de-lis, a Ordem de Cristo, com sede em Tomar, a Ordem de Cister, com o seu milagreiro S. Bernardo e que aumentou o seu prestígio com Bernard de Fontaine, destaca-se, entre 1118 e o séc.XIV, a Ordem dos Templários. Trata-se da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão. É um ramo administrativo e militar de uma outra Ordem Secreta (a actuar por trás deles): a Ordem do Monastério do Sinai (que funciona ainda) e pretende restaurar a linhagem sagrada merovíngia (dinastia Carolíngia), crística – entroncada em figuras do cristianismo primitivo e no cristianismo nestoriano, de S. Tomé; o seu principal objectivo é patrulhar as estradas da palestina e reconstruir o Templo de Salomão.

Os Templários estabelecem uma ligação profunda aos sacerdotes coptas de Jerusalém. Depois, os seus cavaleiros voltam à Europa e muitos dos conhecimentos do cristianismo copta (ligado à gnose e metafísica egípcia) foram transportados para a Ordem de Cristo, no reinado de D. Dinis. O projecto universal dos templários de construção de uma Teocracia Mundial, União do Oriente e Ocidente, foi incrementado em Portugal por D. Dinis e a Rainha Santa Isabel, através da instituição do culto do Espírito Santo. Em Portugal, tornam-se banqueiros e com grandes privilégios. É dissolvida no início do séc.XIV, e a sua missão entregue, com o encargo de a prosseguir, à Ordem de Cristo, patrocinadora dos Descobrimentos.
Na Idade do Espírito Santo o lema será a Sabedoria da Beleza na Arte. O seu fogo, energia primordial, é Kundalini. Haverá a supremacia do Ser, do interesse colectivo, do desapego, partilha, pureza, fraternidade, amor ao planeta - a Terceira Idade, a Era de Aquário, de solidariedade, o V Império, o Império do Espírito, com o regresso de D. Sebastião, da Ilha Branca, em 2.118.
Esta ilha Encoberta corresponde à ilha de Avalon, Atlântidas, Afortunadas. Situada no meio do mar de Gobi, onde os Senhores da Chama (vindos de Vénus – Estrela Vespertina), nos avivaram o germe da mente. Também chamadas Hespérides, ninfas filhas de Hespero. Corresponderá à Atlântida, continente que existia há 11 mil anos, no Estreito de Gibraltar e que se afundou e cujo primeiro cataclismo se deu há 800 mil anos. Os seus habitantes praticavam o culto solar: tinham torres para adorar o Sol. A edificação da sua última cidade deu-se quando o continente já era uma ilha, Poseidonis (Deus grego do Mar). Tinha uma montanha, Templo de Neptuno. Outra, submarina, “Ampere”, uma ilha que também se afundou, foi descoberta a 500 Km a Oeste de Lisboa.

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

O poder do Um

Antes das eleições legislativas viajamos pelo poder político e, com a ajuda dos números, pelos seus líderes. Apertem o cinto.

Texto e fotografia Dina Cristo

Alguns têm talento para o pioneirismo, a independência, a criatividade, tornam-se líderes, arras(t)am pelas suas palavras ou acções; outros têm vocação para a colaboração e cooperação, são jogadores de equipa - apesar do seu valor, raramente são (re)conhecidos; outros seres humanos são seguidores, sentem-se bem a reproduzir ou obedecer. Quem deve governar a cidade?, perguntava Platão. O melhor de entre os mais velhos, dignificando a sua natureza.
Apesar da insistência na estabilidade, sobretudo pelos partidos com mais acesso à governação, do outro lado, reclama-se mudança. Na verdade, só ambas, inércia (tamas) e movimento (rajas), permitem o equilíbrio, a harmonia (satwa). Omraam Aivanhov disse-nos ainda que a criatura que seguir o Criador, aumenta o seu poder e transforma-se em 10, pelo contrário, ao seguir os seus instintos converte-se em 0,1.
Além do aparecimento nos últimos tempos de novos partidos políticos, como o PAN, estão nas comunidades digitais e nas ruas cada vez mais, maiores e diferentes movimentos. Uns a favor da demissão da classe política, outros da militância política, uns contra a existência de partidos políticos, outros na defesa do aprofundamento democrático, da democracia directa, participativa, mais representativa ou deliberativa. Uns a favor do voto em branco, outros da laicização ou da lusofonia, propondo um outro Portugal.
Os jovens, no mundo, na Europa e em Portugal encetam a revolução. Da cultura dos direitos para os deveres cívicos. Uma consciência mais refinada faz exigir de todos, líderes, colaboradores e seguidores, elites e massa, mais qualidade ao nível da verdade e da responsabilidade, num ressurgimento ético.
No “Aqui & Agora”, publicámos já a proposta de um código deontológico político, integrado no ensaio “A Ciência da Pólis” de José Luís Maio, que encorajava o surgimento de pessoas dotadas de consciência, sábia, lúcida e compassiva. Oscar Quiroga, por exemplo, escreveu sobre a importância da república de leis (interesse público) em detrimento de pessoas (interesses particular).
Perguntamo-nos até que ponto a unidade, no essencial, não pode e deve ser manifestada através da diversidade, no acessório. Tal pode(ria) ser representado pelos 12 mais pequenos partidos portugueses concorrentes, se reunidos, como numa espécie de roda zodiacal, pudessem assim formar uma unidade integral, convergente no centro e divergente na periferia.
Lembremos, nesse sentido, a importância de se harmonizar com a força complementar, contrária, que, em última instância, se contém. Em comum e na íntegra, dando espaço de manifestação a todas as partes, diferentes, num enriquecimento e espírito verdadeiramente comunicativo. Afinal, o verdadeiro poder está na união da diversidade, na vivência da unidade. Mas enquanto não experienciamos o poder do Um, a unidade, vejamos o poder dos 1, os líderes, sendo que um verdadeiro líder será não apenas pioneiro como trará igualmente um impulso unificador.
O carisma
Iniciamos agora uma curta leitura do mapa numerológico dos actuais líderes partidários portugueses concorrentes às eleições legislativas antecipadas. Trata-se de um breve perfil com base na numerologia intuitiva, tal como proposta por António Santos.
Ficamos a saber que muitos têm uma “estrelinha”, uma protecção divina, o chamado carisma. Em destaque a liderança, como destino (José Manuel Coelho), motivação (Passos Coelho), talento (Rui Marques) ou desejo (Francisco Louçã) e a comunicação (sobretudo Paulo Portas). São frequentes os “créditos”, nomeadamente ao nível da liberdade, limitada pela exposição pública, o desejo de dar de si próprio uma boa impressão bem como o espírito cooperativo, entusiasmado e de boa vontade por trás das imagens cerradas.
São seres humanos com determinados factores de destino e motivações profundas, personalidade e desejos a projectar publicamente e capacidades a desenvolver, consoante o período do ciclo pessoal em que se encontram. Enquanto alguns estão a iniciar (Garcia Pereira), outros estão a terminar (José Sócrates), muitos estão em ano de realização, quer dentro dos "cinco" quer dos "doze".
Francisco Louçã e Paulo Borges são os mais organizados. Paulo Portas, o mais comunicativo, José Sócrates, o mais solitário. José Manuel Coelho o maior espírito de liderança, Passos Coelho o mais harmonioso. Jerónimo de Sousa o mais idealista, Rui Marques o mais optimista. Carmelinda Pereira e Maria Vítor Mota são as únicas mulheres.
Mapa numerológico
António Pestana Garcia Pereira (14/11/1952) – Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP: manifesto). Está em início de ciclo. Personalidade optimista e capacidade de adaptação. Destinado à harmonia e compreensão, tem no espírito familiar a sua motivação. Gosta de ser visto como empreendedor.
Carmelinda Maria dos Santos PereiraPartido Operário de Unidade Socialista (POUS: manifesto) . O espírito familiar é a sua motivação interior. Capacidade de adaptação. Gosta de ser vista como empreendedora.
Francisco Anacleto Louçã (12/11/1956) – Bloco de Esquerda (B.E.: programa). O mais organizado de todos, grande talento para vir a estabelecer algo de concreto na sociedade. Está destinado à realização material. Personalidade e motivação viradas para a comunicação. Pretende ser visto como líder. Vive o seu ano de colheita dos frutos.
Jerónimo Carvalho de Sousa (13/4/1947) – Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV - CDU: programa). Uma vibração de mestre. Grande faculdade de inspiração e destinado a viver as suas visões e a concretizar os seus sonhos. Marcadamente a contas com o trabalho. Personalidade orientada para a estrutura, gosta de ser visto como filósofo.
José de Almeida e Vasconcelos Pinto Coelho (27/9/1960) – Partido Nacional Renovador (PNR: programa). Destinado à intelectualidade, tem personalidade filantrópica e uma motivação de espírito familiar. Possui faculdade de administração e deseja ser visto como alguém iluminado.
José Manuel da Mata Vieira Coelho (22/7/1952) – Partido Trabalhista Português (PTP: manifesto). Destinado à liderança para a qual está totalmente motivado. Senhor de uma personalidade poderosa, de vibração rara. Dotado de faculdade de análise, gosta de ser visto como devotado. Está a terminar um ano de mudanças.
José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa (6/9/1957) – Partido Socialista (PS: programa). Destinado à liderança, mas actualmente em fim de ciclo. Espírito solitário que gosta de ser visto como altruísta, protector dos mais fracos e alguém que quer mudar o mundo. Uma personalidade indulgente com faculdade de análise.
Luís Filipe Botelho Ribeiro (17/11/1967) - Portugal pro Vida (PPV: wiki). Capacidade de liderança e gosto em ser visto como tal. Em menor porporção, mas igualmente presente no seu destino, personalidade e motivação, que é ligada à filantropia.
Maria Vítor Neves Ferreira Mota (21/12/1978) - Partido Humanista (P.H.: programa). Destinada à comunicação e totalmente orientada para a cooperação. Com uma motivação filantrópica e à vontade na faculdade de adaptação, deseja ser vista como alguém livre. Está no seu ano de realização.
Paulo Alexandre Esteves Borges (5/10/1959) - Partido Pelos Animais e Pela Natureza (PAN: programa). Com uma motivação e destino marcado pela comunicação, com um "q" de tendência à liderança, tem uma personalidade optimista e um desejo de dirigir. Grande faculdade de organização.
Paulo de Sacadura Cabral Portas (12/9/1962) – Partido Popular (CDS PP: manifesto). Destinado à comunicação, a sua motivação e personalidade. Faculdade de análise. O que mais se destaca no desejo de transmitir uma boa impressão. A contas com o trabalho, num ano em que vê os frutos crescerem.
Paulo Jorge Abraços Estêvão (27/7/1968) - Partido Popular Monárquico (PPM: programa). Destinado a grande poder de realização, coadjuvado por uma motivação totalmente orientada para o pioneirismo, destacada capacidade de aventura e personalidade fortemente filantrópica. A contas com o trabalho, deseja dar uma boa impressão, salpicada com uma imagem de dirigente e comunicador. Está em novo ciclo.
Pedro Manuel Mamede Passos Coelho (24/7/1964) – Partido Social Democrata (PPD/PSD: programa). Totalmente motivado para a liderança. Destino e talentos na área da harmonia e com personalidade indulgente. Gosta de ser visto como alguém livre, a contas com limites à liberdade. Atravessa o seu ano de colheita.
Pedro Quartin Graça Simões José (18/5/1962) – Partido da Terra (MPT: programa). Tem personalidade filantrópica e capacidade de inspiração. Motivado pela comunicação, deseja ser visto como empreendedor. Destinado à liberdade, com a qual vem a contas. Está em ano de colheita.
Rui Manuel Pereira Marques (25/6/1963) – Movimento Esperança Portugal (MEP: programa). Motivado e destinado ao optimismo. De personalidade intelectual, gosta de ser visto como alguém livre. Tem talento para liderar e está no seu ano de colheita.
Por falta de dados não conseguimos, até ao momento, disponibilizar informação relativa a dois líderes partidários. Em compensação, deixamos uma referência às entrevistas efectuadas por Maria Flor Pedroso, da Antena 1, aos candidatos:
Nova Democracia (PND: programa). João Carvalho Fernandes em entrevista.

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