quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mythos



Nesta quadra natalícia publicamos um (en)cont(r)o com Jesus.

Texto Zita Leonardo

Cideo passeava pelo jardim enquanto tomava conta de um pequeno grupo de crianças que a seguiam alegremente. Por vezes escondiam-se dela atrás dos tufos de margaridas brancas que enfeitavam toda a alameda ladeada de colunas de mármore branco que terminava num edifício sumptuoso para onde se dirigiam. As crianças riam com o seu embaraço, quando as via desaparecer da sua vista. Não queriam aborrecê-la, elas amavam a bela Cideo que lhes dedicava igualmente um amor sem limites que só uma mãe consegue sentir. Não interessa se a maternidade não era biológica, o que é certo é que ninguém as amava mais do que ela, ninguém poderia sentir um grau de responsabilidade maior que o desta mulher pelas crianças que tinha à sua guarda. De resto, aquele era o seu trabalho e ela adorava fazê-lo, não quereria ter outro.

Era ainda jovem e muito bela também, literalmente iluminada visto que a sua imagem irradiava, sobretudo quando sorria, como se o sol resplandecesse no seu rosto. Cobria todo o corpo com uma veste de um branco puríssimo que acabava numa espécie de manto a cair sobre o ombro direito; os cabelos castanhos com reflexos doirados estavam presos em trança que descia ao longo das costas e que num gesto feminino enfeitara com três margaridas que tinha colhido no jardim. Caminhava direita, suavemente, em direcção ao templo, agora num passo mais apressado mas sem perder a elegância e a firmeza das suas formas. Segurou no colo o menino mais pequenino, um lindo bebé de caracóis louros, ao mesmo tempo que, na outra mão, rebocava duas meninas também pequenas que, de outra forma, não conseguiriam acompanhar o seu passo. Seguiam-na as três crianças mais velhas do grupo, dois meninos e uma menina, com idades aproximadas e que não pareciam ter mais que seis a sete anos.

Tinha pedido uma audiência a Jesus que já devia estar à sua espera. Não gostava nada de se atrasar, mas tinha a certeza que seria perdoada logo que Jesus conhecesse os seus motivos: os meninos mais crescidos gostavam de lhe pregar partidas e escondiam-se dela. Perdia tempo a procurá-los e, quando os descobria, fingia estar zangada para que lhe pedissem desculpa. Logo que tal sucedia acabavam em abraços e gargalhadas de imensa alegria. Era assim todos os dias. Hoje, porém, tinha um compromisso com Jesus e estava um pouquinho ansiosa.

À chegada à porta que se mantinha aberta parou e, como de costume, curvou-se um pouco a pedir permissão para entrar; a seguir inspirou e expirou profundamente, repetindo o gesto mais duas vezes. As crianças observavam-na com carinho e admiração seguindo-lhe todos os gestos, como já era hábito. Afinal tratava-se de um espaço sagrado e como educadora tinha que iniciá-las desde logo no respeito ao divino. E de facto era assim, tudo era sagrado naquele lugar maravilhoso e hoje especialmente, porque albergava o grande e doce Irmão Jesus, havia mais luz e mais paz ainda.

Despediu-se das crianças com um longo abraço a cada e entregou-as à guarda da jovem Lylia que veio ao seu encontro. A pouco e pouco foram deixando de se ouvir as alegres vozes dos miúdos que contavam à mulher, por entre gargalhadas, as partidas desse dia.

Após ter andado mais uns metros ao longo do largo corredor iluminado, entrou numa porta entreaberta que dava acesso a uma sala de leitura e lazer, ligada por sua vez por outra porta, esta de correr, à biblioteca do Templo. Entrou de mansinho e logo viu Jesus que descansava em frente à grande janela por onde podia ver-se a parte sul do jardim coberta de relva muito verde e onde algumas árvores de sombra se elevavam para o céu. Também ela gostava de repousar a vista e a mente a meio do estudo de um livro mais técnico ou de mais difícil compreensão, olhando aquela abençoada paisagem e observando os irmãos pássaros a tomarem banho no riacho ali próximo. O rosto de Jesus, contemplativo e sério mas ao mesmo tempo de uma beleza tão suave, denotava alguma preocupação. A sua aura era tão pura e de luz tão branca que quase tornava transparente o seu belíssimo corpo. E que aroma inebriante o do perfume de lírios emanado daquele Ser! Todo o ambiente estava impregnado e quase sentiu vertigens, mas já Jesus a recebia nos braços, com o mais belo sorriso, forçando-a a sentar-se a seu lado. Era uma honra demasiado grande, não sabia se devia, mas, na verdade, não estava em condições de reagir. Obedeceu simplesmente, sentindo-se maravilhosamente bem envolta naquela doce vibração.

Querido Mestre, será que hoje podíamos voltar a falar do irmão Fausto? Pediu com alguma timidez, já não era a primeira vez que insistia no mesmo tema.

Filha, dum dogmático demónio foi dito, mas Fausto é Irmão poderoso totalmente necessitado de iluminação.
Fausto é um criador, seu karma está ligado à dimensão genética divina; ditou a mudança da forma. Fausto fez o GNA da nossa bendita mente: Biologia divina, fogo/água, fusão da física personalidade com a fonte espiritual, é Quinto sintetizado. Abaixo finalidade genética, acima jogo biológico divino.

Eram palavras misteriosas para a inocente Cideo, não que não fosse inteligente, porém a sua aprendizagem, tanto quanto se lembrava, tinha sido dedicada ao estudo dos Astros como oráculo e à prática dos rituais do templo, com especial ênfase nos Equinócios e nos Solstícios. Sem mesmo saber a que impulso obedecia, ela falou:

Amado Jesus, permite-me que vá novamente ao encontro de Fausto. Já combinei com a irmã Lylia para ficar com a guarda das crianças, está mais que preparada e os meninos adoram-na; e Myriam irá substituir-me no serviço religioso, há muito que espera por isso e fá-lo melhor que ninguém. Só tenho um receio e é por isso que peço a Tua ajuda: Como sabes eu dependo directamente de Júpiter e, sem a bênção de meu Pai, não poderei tomar nenhuma decisão. Por favor meu querido Mestre, intercede por mim.

Já imaginava que ias pedir me para defender a tua causa junto do poderoso Júpiter e, por isso, antecipei-me e falei-Lhe da tua missão. Não só acedeu ao nosso pedido como te desejou boa sorte e, para que não tenhas dúvidas da Sua protecção, mandou que te entregasse um presente que vai acompanhar-te na Demanda: um unicórnio branco chamado Quiron, um ser iluminado que nunca te abandonará desde que as tuas motivações sejam sempre puras.

A jovem levantou-se e, sem que Jesus a pudesse impedir, prostrou-se a seus pés, segurou na mão esquerda do Mestre e beijou-a entre lágrimas de agradecimento. Jesus comoveu-se e com a outra mão acariciou-lhe a cabeça comentando: Pensa bem filha, não tens que fazer isto, não quero que te sacrifiques novamente. Sabes tão bem como eu que ainda existe o risco da queda. Mas confio na tua força e dedicação ao irmão Fausto. Sê feliz jóia, é vosso futuro Luz e eu vou estar sempre convosco.

Jesus levantou-se e ajudou Cideo a erguer-se também. Ela secou rapidamente o rosto com a ponta do véu e saíram de mão dada para o jardim onde Quiron a esperava pacientemente. Como era belo e forte o seu novo amigo! Agarrou-se ao pescoço do cavalo e beijou-o repetidas vezes. Jesus ajudou-a a subir no dorso do animal e pensou como eram puros e ainda mais belos assim juntos num uno centauro. Num gesto de despedida apertaram as mãos e olharam-se com um amor infinito. A seguir ela partiu e o Mestre ficou ali, pensativo, até que a imagem de Cideo e a de Quiron se desvaneceram no horizonte.

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Rádiotelefonia de sessenta VII



Revista "Rádio Moçambique" Dezembro 1963

Nesta sétima parte, recordamos as estruturas da Rádio colonial, a (escassa) cobertura da guerra e os números; os kw, receptores e emissões de informação e propaganda.


 

Texto Dina Cristo

O Governo, experiente na multiplicação da mensagem radiofónica em Portugal, maioritariamente sua aliada, decide, aquando das hostilidades em África, explorar e expandir o meio radiofónico existente, partindo das infra-estruturas locais, os Rádios Clubes, estações particulares de carácter associativo-recreativo.

Necessitando de um meio de comunicação social, especialmente rápido na transmissão de informações, passou desde então a utilizar a radiodifusão como arma de (contra)propaganda na luta armada, dando um novo impulso ao sistema radiofónico colonial, em especial em Angola e Moçambique. Se antes dos anos 60 a cobertura radiofónica colonial era limitada, não existindo nenhuma estação de rádio que fosse ouvida, regularmente, em todo o território, depois, com o investimento na radiodifusão colonial, a rede ampliou-se.

Angola, que tinha, em 1958, 24 emissores, passou a deter 48 postos, dez anos mais tarde, em 1968, atingindo, em 1969, os 59 emissores, com uma potência total de 88 kw, alterada em apenas um ano, em 1970, para 480 kw. De 1960 a 1970 o número de estações subiu de 18 para 19 e a duração da emissão semanal passou de 688 horas, em 1960, para 2439 horas, em 1970, 191 das quais eram da responsabilidade do Estado. Em 1960 foram registadas 53 mil licenças e 84,5 mil em 1970, o equivalente a 15 aparelhos de rádio por mil habitantes(1). Em Angola, no entanto, a expansão da cobertura radiofónica só se realizou após 1963, não existindo, até 1964, nenhuma estação que pudesse ser escutada regularmente pelo país.

Moçambique, de um total de quatro emissores, em 1958, chegou a 1969, com 43, possuindo 22 deles cinco ou mais kw. Ao longo da década, entre 1960 e 1970, o país manteve-se com sete estações particulares. As suas emissões aumentaram as 800 horas por semana, em 1960, para 917 horas semanais, em 1970. No mesmo período, o número de receptores alterou-se de 37 mil para 125,7 mil, valores estimados em 15 aparelhos por mil habitantes.

A Guiné permaneceu, contudo, até aos fins dos anos 60, com uma cobertura radiofónica pouco significativa, com apenas uma estação, do Estado, e dois emissores. No entanto, no final dos anos 60, as suas emissões semanais registaram um aumento, entre 1968 e 1970, de 13 para 126 horas, públicas. O número de aparelhos por mil habitante não foi além dos oito, em 1970, correspondendo a quatro mil receptores, mais 2,2 que em 1960 (2).

Para além do número de receptores situar-se muito abaixo da média africana, avaliada em 45 por mil habitantes, em 1969, os aparelhos concentravam-se essencialmente em Lourenço Marques e em Luanda, locais onde se encontrava grande parte da população europeia: “Segundo um estudo feito em Angola por meados da década de sessenta, a maior parte dos aparelhos em Angola eram possuídos por europeus”(3).

Doses de propaganda

A cruzada de convencimento das massas na retaguarda da guerra foi realizada em várias frentes. A sala de Ultramar, estrutura paralela à EN, produzia informação com destino às províncias: «Ao arrepio de tudo que já se estudara e experimentara quanto à forma de comunicar, os redactores da sala de Ultramar “fabricavam” horas seguidas de informação, as mais das vezes obsoleta, sem o mínimo de condições de redacção áudio, na sua maioria alienantes e com uma componente futebolística máxima no pressuposto de que toneladas deste tipo de matéria iriam massificar as Massas, satisfazê-las e mantê-las calmas e aderentes»(4).

Enquanto de África chegavam, até Portugal, as crónicas de Ferreira da Costa, os estrangeiros ouviam a “Voz do Ocidente”. As emissões de Onda Curta propagavam ainda, em língua espanhola, francesa, inglesa, alemã e italiana, e num breve resumo de informações e comentários a ideologia do regime, defendendo a legitimidade das ofensivas militares.

Apesar da introdução das línguas nativas, para tornar a mensagem propagandística mais compreensível pelos africanos, a utilização da língua portuguesa em Moçambique subiu de 67,9%, em 1966-1967, para 79,9%, em 1972, ao passo que as nativas desceram, no mesmo período, de 11,8% para 7%, uma percentagem que, de acordo com Eduardo de Sousa Ferreira, não deverá ser muito diferente das outras colónias(5).

Em Malange, Angola, as crónicas de guerra sublinhavam os preconceitos do regime: “Por informações recebidas de indígenas fiéis à pátria portuguesa”, relatava Pitta Groz Dias, “sabia-se que alguns milhares de bandoleiros, aliciados pelo comunismo à prática dos mais aviltantes actos de banditismo, haviam abandonado as suas sanzalas (…) Seguindo os seus métodos usuais de traição e cobardia, os bandidos praticavam nas referidas zonas, as maiores crueldades e as mais revoltantes atrocidades, sobre os pacíficos nativos, que, fiéis à soberania portuguesa, e orgulhosamente leais à pátria, os não quiseram seguir na senda do crime e da vida fácil da pilhagem”(6).

Cinzentismo

António Jorge Branco afirma que “no 4 de Fevereiro de 61, a Emissora Oficial de Angola (EOA) ficou, em silêncio, à espera de ordens do Governo. Não havia notícias e muito menos reportagem. A reportagem quando havia era oficial – o suposto repórter com a tropa, por exemplo… As coisas não tinham o mínimo tratamento em Angola”(7).

O tom ao microfone era cinzento, reforçado pela rigidez do alinhamento “país-estrangeiro-desporto”. Na EOA, as ordens eram para escrever rigorosamente o que se ouvia da EN, pelo que as notícias começavam com as novidades da metrópole, e só depois se seguiam as de Angola. O noticiário angolano limitava-se (quase) a fontes oficiais, como comunicados do Governo, das Secretarias Providenciais ou dos Serviços Públicos. “A rádio feita em Angola, naquela altura, não sabe nada do que se passa em Angola. Das questões de fundo, não sabe. Mas não vai a uma aldeia de negros saber como é a vida deles. Não tenta saber o que está a acontecer na guerra. Não pode. Não a deixam. Não a deixariam”(8).

A emissão, através da Onda Curta, ao longo de 16 horas diárias, era constituída pelo envio de diversos programas para as 29 estações de rádio das colónias, através dos Serviços de Intercâmbio. Além destas, as emissões directas, como a “Hora da Saudade”, destinadas às famílias dos militares e tripulações das frotas bacalhoeiras, completavam a estratégia propagandística do regime.

Pelo Natal, os militares enviavam mensagens de boas festas, obedecendo ao mesmo modelo: “Para Manuel Alves em Coruche vai falar seu filho Alves. Para meus pais, esposa, mano e restante família e amigos com votos de feliz Natal e bom ano novo com muitas felicidades (…). Para António Vieira Lopes vai falar seu filho Augusto. Para meus pais e restante família, amigos, madrinha de guerra com votos de feliz Natal, ano novo com muitas felicidades (…) Para Vila Nova de Ourém vai falar o seu filho Mário. Para meus pais, irmãos, restante família, amigos, com votos de feliz Natal, bom ano novo com muitas felicidades".

Arejamento

A consciência político-social dos que vinham de Portugal permitia, excepcionalmente, dentro do sistema, desagravar a carga propagandística. “De vez em quando”, conta António Jorge Branco, “havia certas notícias, que vinham de noticiários da EN, que eram tão propaganda, tão propaganda que eu esquecia-me de as escrever. Ao menos não eram lidas em Luanda”(9). Outras vezes, omitiam-se algumas notícias.

No final dos anos 60, houve algumas tentativas no sentido de refrescar a rádio, com uma postura mais descontraída e menos formal, na locução. Por seu lado, o ténue arejamento, ao nível de conteúdo, começou com a chegada de alguns jovens, como António Macedo, Artur Queiroz, Emídio Rangel, Jorge Perestrello ou Manuel Fonseca.

Os censores, tal como os profissionais brancos que ali tinham crescido e vivido, nem sempre compreendiam as mensagens subliminares das canções de intervenção. “Ao fim de cinco meses de se passar “Venham mais cinco”, aparecia um papel a dizer que era proibido passar aquele disco. Então começava a passar-se Sérgio Godinho e acontecia o mesmo, pelo que a censura não tinha efeito. Eles eram incapazes de perceber”(10). Como resultado, alguns dos músicos proibidos – José Afonso, José Mário branco, Adriano Correia de Oliveira – eram ouvidos em Angola.

(1) Quantidade que deverá estar subavaliada, devido às fugas ao imposto e ao pagamento da taxa. “O fim de uma era: o colonialismo português em África”, pág.191. (2) Idem, ibidem. (3) Idem, pág. 194. (4) Op. Cit., pág. 12. (5) Idem, pág.198. (6) A.H. RDP. R.C.de Malange. 1961. (7) Entrevista a António Jorge Branco, Lisboa, 14/07/1997. (8) Idem. (9) Idem. (10) Entrevista a Carlos Brandão Lucas, Lisboa, 15/08/1997.

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Comunicação empática



Numa altura propícia ao contacto mais genuíno, abordamos a comunicação compassiva - baseada na expressão e reconhecimento das necessidades dos interlocutores - desenvolvida e ensinada por Marshall Rosenberg há décadas. 

Texto Rogério Marques desenho Dina Cristo*

Porque há tanta desarmonia e conflito no mundo quando tantos parecem estar dispostos a contribuir para o bem-estar de outros? A verdade é que cedo na vida aprendemos a falar e a pensar de uma forma não-natural, mas que se torna habitual. Chamemos-lhe a linguagem de chacal ou chacalês.

O chacal

O chacal é um animal que se move próximo do solo, que não vê nem antecipa o futuro e que está apenas preocupado em satisfazer as suas necessidades imediatas.

A linguagem que o chacal usa é uma linguagem que vem da cabeça, classifica mentalmente tudo, incluindo pessoas, em graus de bem e mal, certo e errado, melhores e piores.

Esta linguagem provoca reacções de defesa, resistência, e contra ataque. É uma linguagem que não só faz os seus utilizadores acreditarem que podem rapidamente analisar, compreender e classificar as pessoas, como também de que podem mudar as outras pessoas. Ainda por cima, mudar as pessoas por via das exigências!

Resumidamente, o Chacal é: o uso de juízos morais, a comparação de pessoas, a negação de responsabilidades, o uso de exigências, o uso de recompensa e castigo, e a responsabilização de outrem pelos nossos sentimentos.

O Chacal surgiu há muitos milhares de anos e tem-se espalhado desde então, tendo profundas raízes políticas e filosóficas. Emergiu a partir de e suporta sociedades hierárquicas ou de dominação, sendo verdadeiramente uma mentalidade de escravo, portanto seria do interesse de reis, czares, nobres, etc que as massas fossem falantes de chacal.

Citando o criador da Comunicação Não Violenta, Marshall Rosenberg: “Quanto mais as pessoas são condicionadas a pensar em termos de juízos morais que implicam o "estar mal" ou "estar errado", mais propensas elas ficam a procurar externamente -
nomeadamente em autoridades - pela definição do que constitui certo e errado, bem e mal.”

Por tudo isto, a linguagem de Chacal pode ser considerada uma Comunicação Alienante da Vida.

Mas há uma outra possibilidade, que parece ter grande potencial para através dela fazermos com que a vida de todos seja mais maravilhosa. Vamos chamar a esta forma de comunicação de linguagem de girafa ou girafês.

A girafa

A girafa é um animal bastante diferente do chacal. Este é o animal terrestre com maior coração, vive a vida com gentilidade e força e tem a cabeça alta o suficiente para ver bem longe e tem consciência de como as suas acções no presente se repercutem no futuro.

Desde cedo nas nossas vidas somos integrados na sociedade e aprendemos a esquecer como falar à maneira da girafa, portanto gostaria de vos relembrar...

A linguagem de girafa é uma linguagem que vem do coração e serve para falarmos sobre o que se passa connosco, o que está, no momento, vivo em nós. Por outras palavras, é uma linguagem com um vocabulário rico em palavras que expressam sentimentos e necessidades, bem como uma atenção especial por falar da forma mais concreta que for possível quando estamos a criticar alguém ou até a fazer auto-críticas.

A girafa nunca julga os outros, procura dar oportunidade às pessoas de dizerem sim, e o “não” é respeitado como resposta. As girafas estão também conscientes de que não conseguem mudar os outros. O que as girafas fazem é dar-lhes oportunidades para estarem dispostos a mudar. É uma Linguagem de pedidos, sem exigências. Esses pedidos são focados no que queremos que as pessoas façam, não no que queremos que as pessoas sintam.

Enfim, a linguagem de girafa promove o nosso bem-estar e o dos outros, sem coerção ou manipulações.

É por isso que lhe chamamos Comunicação Não Violenta ou Comunicação Compaixonada.


Esta forma de comunicar pode ter fortes repercussões na nossa vida pessoal, íntima, social e profissional. Não é nenhuma panaceia, mas tem grande potencial para ajudar a melhorar a nossa vida em sociedade.

* Anos 70

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domingo, 11 de dezembro de 2011

Contribuições


Neste nosso quinto Inverno, apresentamos os Números de Identificação Fiscal de algumas instituições - Religiosas, Particulares de Solidariedade Social ou de Utilidade Pública - para as quais pode reverter, sem custos, 0,5% do seu próximo IRS.

Recolha e fotografia Dina Cristo



500 846 812 - Aldeias de Crianças SOS
509 314 555 - Arca de Lis
504 348 914 - Associação de Defesa e Apoio da Vida
501 223 738 – AI (Amnistia Internacional)
502 744 910 - AMI
502 547 952 – APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima)
503 793 248 - Associação Novo Futuro
505 772 302 – APPDA (Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo)
503 663 174 - Banco do Bebé
502 041 226 – Biosofia
500 29 17 56 - Cáritas
500 788 898 - Casa do Gaiato
500 734 623 - CERCIP
501 808 876 - Comunidade Juvenil de s. Francisco de Assis
501 562 966 - FENACERCI
509 528 694 - GRACE - Grupo para a Reconciliação em Áreas de Crise e Educação
504 627 678 – Lar de Stª Maria
501 736 492 - Quercus
503 873 276 - Renascer
500 883 823 - UNICEF

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Vida fabulosa


Neste ano em que se assinala 390 sobre o seu nascimento, relemos alguns excertos das fábulas de Jean de La Fontaine*.


Selecção e fotografia Dina Cristo

«Uma doçura afectada


É fruto da hipocrisia,

Sirva ao mundo esta lição.

Quem de aparências se fia,

Gosta da sua ilusão»



«Muitas vezes maldizemos

O que é útil

E o vistoso engrandecemos,

Bem que fútil»



«De emprestar a casa, foge:

Todos vêm com pés de lã;

Porém do hóspede de hoje

Sai-te o patrão de amanhã!»



«Aquele que previne

Que o mal se reproduza,

Prudente evita e escusa

De horrores profusão»



«É nosso instinto invejarmos

Sempre o que os outros possuem

Sem o que é nosso largarmos»



«Que é loucura desmedida

Entrarmos em qualquer coisa

Sem ver se temos saída»



«É a propensão do vivente

Lamentar-se do presente

E chorar pelo passado»



«De mudança o mundo está tão cheio,

Que hoje rio, amanhã estou sentindo

Uma grande desgraça que me veio»



«Nunca ninguém faça aos outros

O que não quer que lhe façam»



«É mais que tolo quem dá

Ao mundo satisfações»



«Por mais que a gente se mate

Nunca tapa a boca do mundo»



«Reflecte se mais te agrada

Viver magra, ou morrer gorda!»



«Nada prestará; sem o gozarmos»

»Para sócio não busques o mais forte»



«Uma toma vale mais

Que dois eu te darei!»



«Perversas dão em muitos precipícios

Pela sua vontade depravada»



«Um anão acordado

Mata um gigante a dormir»



«Justo castigo

Que ofendi quem serviu de meu abrigo!»



«Que o luxo concorreu com o pouco siso

A engrossar-lhe o tesouro»



«Ninguém deve fazer castelos no ar!»



«Na produção se reconhece o artífice»



«O trabalho com paciência faz mais que a força (…)»



«No abusar é que se encontra o pior»



«O povo é respeitável juiz»



«É geral o poderio do doméstico».


 
FONTAINE, Jean de la – Fábulas de La Fontaine. Texto Editora. 2001.

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