quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(Des) graça


Quando passam, amanhã, cem anos sobre a morte de Saint-Yves d`Alveydre, mentor da sinarquia, reflectimos sobre os actuais desafios da crise mundial.

Texto e fotografia Dina Cristo

Vivemos hoje um momento histórico: o derrube do sistema capitalista. Depois da queda do comunismo, assistimos actualmente à falência súbita de grandes instituições internacionais, arrastando consigo, o colapso financeiro, económico e social.
As velhas estruturas, monstruosas e insustentáveis, implodem, arrasando famílias, empresas e mesmo Estados. É preciso pensar numa alternativa à ordem e à liberdade, que concilie e transcenda a comunidade e individualidade.
As ilusões em que nos movemos abatem-se impiedosamente. Mostram-nos os seus pés de barro. Julgámos que o suposto sucesso material, o crescimento económico e o acúmulo de bens nos preencheriam. Contudo, sentíamos cada vez mais insegurança e insuficiência.
Sendo materialmente ricos, convivíamos com a sensação de pobreza. Para compensar, lutávamos ainda mais pela luxúria e ostentação. Apostámos no jogo triplo da boa vida: “prazer-dinheiro-poder”. Quanto mais tínhamos mais vazio experienciávamos, num ciclo incendiado pelo crédito.
Hoje, forçados ao desapego das ilusões, confrontados com a dura realidade haveremos de ter nova atitude. Do que resta, de realmente autêntico e seguro, iniciaremos a reconstrução.
Da boa vida à vida boa
Mais conscientes de que o pouco que temos nos é mais do que suficiente para satisfazermos as necessidades básicas e de que ainda nos sobrará algo para repartir. Descobriremos, no meio da pobreza material, que, afinal, somos mais ricos, ao ponto de querer partilhar aquilo que gerimos.
Chegados à situação em que, como disse Abílio Costa ao “Expresso” «os objectos são tratados como pessoas e as pessoas são tratadas como objectos», tudo se poderá renovar.
As possibilidades abertas pela entrada de Plutão em Capricórnio são imensas. Cabe a cada um de nós, como referiu Obama no seu discurso de tomada de posse, cumprir o seu dever, assumir, à sua escala, as responsabilidades e colaborar.
Juntos, trabalhando para o bem comum, como referiu, podemos, com esperança, esforço, humildade e coragem, honrar os que antes de nós lutaram por um mundo melhor.
Resgatando valores antigos e sólidos - como o respeito, o espírito de serviço, a lealdade - seremos capazes de devolver às gerações futuras uma sociedade digna, tolerante e humana.
Do cidadão ao estadista é possível, “arregaçando e dando as mãos” que a corrupção, o medo ou a indiferença dê lugar à transparência, à liberdade e boa vontade. Com trabalho, sacrifico e contenção é possível.
Unidos, é fácil, diminuirmos o ritmo, vivermos despojados, mas com memória e respeito pelos idosos e agricultores, economizando, cooperando e colocar no poder homens e mulheres competentes e solidários. Nada menos de que uma nova civilização baseada na vida boa, consciência, ética e responsabilidade.
É urgente que a carência resultante do egoísmo dê lugar à abundância de um coração aberto, capaz de amar e, assim, sentir-se rico, honrando a Mãe-Terra e o Pai-Céu.

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