Vida com Graça
Arranca amanhã a segunda peregrinação, em Portugal, em nome de Graça. Vamos saber porquê neste Dia Mundial da Poupança.
Texto e fotografia Dina Cristo
Começa amanhã uma peregrinação denominada “Terra Nova a Despertar” promovida pelo Movimento “Por uma Terra Livre”. De diversos locais de Portugal, os vários grupos juntam-se Terça-Feira, dia 6, em Sintra, de onde partirão, em conjunto, até Lisboa, onde se irá comemorar, dia 9, desta Sexta-Feira a oito dias, o Dia Global da Graça.
Este Dia foi promovido em 2005 por Sabine Lichtenfelds, desde a sua primeira peregrinação internacional a Israel, à qual se seguiram a Jerusalém, em 2007, à Colômbia, em 2008 e 2010, e em Portugal, em 2009. Este ano, a caminhada a pé decorrerá ao longo do mês de Novembro, entre oito a 29, desde o Mar da Galileia até ao Mar Morto, em nome da paz.
Embora o nove de Novembro seja o dia em que se iniciou a perseguição pública aos judeus, cerca de meio século depois também caiu o muro de Berlim. Apesar do profundo sofrimento humano inerente, na base da proposta do Dia Global da Graça está a queda de todos os muros, incluindo os internos, que separam os seres humanos.
Em vez de manifestações contra a vingança, o Movimento propõe uma caminhada a favor da reconciliação entre todos os seres - uma revolução suave, gentil e pela positiva, no âmbito «(…) da construção de uma sociedade pós-capitalista e de um futuro sem guerra», lembra o grupo português em Tamera, uma comunidade guiada pelos princípios do amor, do apoio mútuo, da verdade e da vida, entre outros
Para Dieter Duhm, trata-se de comemorar a ascensão de uma nova humanidade e forma de habitar o planeta, sem ódio e sem violência. «A energia, a água, e os alimentos estão gratuitamente disponíveis para todos os seres humanos se seguirmos a lógica da natureza e não a lei do capital»*, afirma o co-fundador de Tamera, natural de Berlim, no seu apelo deste ano.
Em vez do pressuposto da economia capitalista de que os recursos são escassos, a nova economia (como a dos recursos, espiritual, social e solidária) parte do princípio que os meios são suficientes e até abundantes, pelo que, em vez de competir, vale a pena cooperar, com benefício para todos. É um dos aspectos da Graça divina, a disponibilidade e a gratuitidade – ser grátis, de graça.
Conceito
Graça é também a protecção divina, o carisma e a caridade, a compaixão, a misericórdia, o amor. Ela é a providência divina que disponibiliza à humanidade todos os bens necessários à sua existência material e espiritual. Graça é um dom ao qual o Ser Humano deve estar grato, gratificado, agradecido, em especial no (Equinócio de) Outono, época de recolha das sementeiras, representada na cornucópia, símbolo da abundância, fertilidade e riqueza.
Em Portugal ela é aludida em nomes, ruas, igrejas, freguesias, provérbios, cultos, orações e expressões como “ser um desgraçado”, “ter graça”, “engraçar”, “estado de graça”, “Qual é a sua graça?” ou “por obra e graça do Espírito Santo”. Neste caso é uma referência à Lei da Graça ou lei das analogias, correspondente ao excerto do “Pai Nosso”, “Assim na terra como no céu”, e que, segundo H. Álvares da Costa(1), permite acesso ao Eu Superior.
Qual espelho, o inferior reflecte o superior, como na alegoria da caverna de Platão ou inscrito na lei hermética “Assim como é em baixo é em cima”. É a Graça que torna visível a luz, a vontade divina, o cosmos, o universo, espelho do Logos, o Verbo Criador, por sua vez reflexo da mente divina. É a segunda lei, a do Filho do Homem, Jesus Cristo, ou o Cristo no Ser Humano, o que lhe permite trazer o céu à terra.
A lei da Graça, base da Alquimia, permite, assim, abrir um canal e transferir a energia do superior para o inferior e revelar o Dharma, o dever de cada um, bem como transfigurar o karma, a lei do Filho da Mulher, que não conhece o pai, um nível determinístico, ao contrário da Graça, nível de livre arbítrio e potencia, em que se conhece o Pai do céu, Zeus ou Júpiter.
A premissa de que o que acontecer no âmbito do Macrocosmos se reflecte no microcosmos é precisamente a base da astrologia, para a qual Júpiter representa o entusiasmo, a fé, a esperança, o optimismo, as longas viagens, a participação e envolvimento da alma na vida social, de forma espontânea, alegre e altruísta e, sobretudo, a expansão, a abundância, a bem-aventurança, a protecção espiritual que, numerologicamente, está no zero.
Júpiter corresponde, em termos cabalísticos, à sephiroth Héssed, regida por Tsadkiel, locus das Dominações e plano da misericórdia ou compaixão, o reconhecimento de que todos são parte do corpo de Cristo, numa espécie de lei da gravidade espiritual. É a lei do Cristo-Rei, que protege os desfavorecidos e se comemora no próximo dia 25.
O amor, a misericórdia e a esperança estão também presentes no cântigo "Amazing Grace", escrito no séc.XVIII e com inúmeras versões, entre as quais as dos “Moonriders”, grupo formado em Tamera, no CD “Level Eden”, lançado em 2011. Graça é também o tema principal dos programas de rádio de Join John, “The power of Grace in your life”, com a convidada Cheryl Richardson, autora do livro “The unmistakable touch of Grace”, e de Sonia Choquette, "Grace, guidance and gifts", ambos na Hay House Radio.
«Se viverem a Graça de Cristo talvez possam ser os portadores da Graça Divina, para um mundo sedento de paz, fraternidade e ciência e uma nova sociedade nasça dos escombros das ruínas morais», afirmava há vários anos H. Álvares da Costa(2). Hoje, «As forças de transformação são mais fortes do que toda a violência. Abalam-se os montes, os mares, e os corações dos seres humanos. Das ruínas dos antigos sistemas cresce o espírito de uma nova comunidade planetária», afirma Dieter Duhm, no seu manifesto.
A Graça abre as portas da confiança cósmica, de acordo com Sabine Lichtenfelds, autora, entre outros, do livro "Grace - Pilgrimage for a Future without war". Por isso, os promotores irão fomentar a segurança para além do dinheiro, encorajando o espírito aventureiro, o contacto, o intercâmbio, a troca, a empatia e a compaixão entre as pessoas durante a peregrinação até à celebração do Dia Global da Graça, a protecção da vida e um futuro mais humano ou, como apela a co-fundadora da comunidade no Alentejo em manifesto, redescobrir e tornar realidade a imagem original e intacta de uma Vida Sagrada para um mundo melhor.
(1) COSTA, H. Álvares – Lei da Graça – Lei das Analogias – assim na terra como no céu. Colecção Teosofia básica para um novo homem. Ed. Sociedade Teosófica de Portugal. s/d. (2) Idem, contracapa. * Sublinhado da redacção.
(1) COSTA, H. Álvares – Lei da Graça – Lei das Analogias – assim na terra como no céu. Colecção Teosofia básica para um novo homem. Ed. Sociedade Teosófica de Portugal. s/d. (2) Idem, contracapa. * Sublinhado da redacção.
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