quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Telefonia de sessenta II


Nesta segunda parte evocamos os conflitos despoletados em território angolano.

Texto Dina Cristo
Com o assalto ao Santa Maria, Luanda fica repleta de jornalistas estrangeiros, que tencionam cobrir a chegada de Henrique Galvão
à capital angolana. Luanda torna-se pois o palco ideal para a revolta negra, farta de miséria económica, social[1] e de um contexto repressivo[2].
No dia 4 de Fevereiro de 1961, centenas de negros tentam libertar presos políticos. Atacam a Casa de Reclusão Militar e as cadeias civis de Luanda. A repressão faz-se sentir e o resultado é 40 assaltantes e sete polícias europeus mortos. Os relatos estrangeiros alertam a opinião pública internacional para a dominação portuguesa em Angola, contra a tendência internacional generalizada para as independências.
Após o funeral dos polícias, a cinco de Fevereiro, provocações fazem explodir as tensões raciais. Começa a violência e o pânico, transformados, poucos dias depois, em reivindicações e medo.
No dia 10 de Fevereiro há novos tumultos, na cadeia de São Paulo, represálias, e mais sete mortos e 17 feridos, como consequência. A PIDE começa a prender em massa. Doravante, cada negro representa um potencial inimigo.
A revolta negra intensifica-se em Março. A partir do dia 10, Manuel Bernardo Pedro, da União das Populações de Angola (UPA), incita 3000 negros a quebrar o principal sistema dos brancos. Casas, plantações, pontes são atacadas com armas nativas. Cinco dias mais tarde, a brutalidade torna-se irreversível. A 15 de Março, grupos de negros fazem um ataque generalizado a povoações e fazendas na Baixa do Cassange. Desta ofensiva terão morrido 1200 brancos e 6000 negros. E mais uma vez as represálias fazem-se sentir, num ciclo infernal. É a generalização do horror e da crueldade.
Contudo, no dia do embarque das tropas para Angola, é vincadamente referido o facto de, entre os graduados, se encontrar um negro - dado que o relator utiliza para justificar a teoria da multirracionalidade de Portugal: “Se há alguém que ainda tenha dúvidas que Portugal é um país multirracial, venha agora aqui ao cais e veja passar, como nós vemos, um pelotão no qual um dos graduados, um furriel à frente da sua secção, é um negro. Um negro de Angola ou de Moçambique, que aqui está no meio dos soldados brancos, respeitado como se respeita qualquer furriel, qualquer graduado do nosso exército”[3].

Reacções (inter)nacionais

Nos Estados Unidos, cresce o clima anti-português. Os americanos desejam a auto-determinação de Angola e dos outros territórios sob dominação portuguesa. Apesar de aliados, votam contra Portugal na Organização das Nações Unidas.
Em Portugal aumenta igualmente o sentimento anti-americano. Assim, no dia 27 de Março, cerca de 20 mil pessoas sobem juntas até à embaixada norte-americana, na Avenida Duque de Loulé. Entre gritos de “Abaixo os Estados Unidos!” e “Angola é portuguesa”, ouve-se e exige-se a retirada americana da base das Lajes. À protecção solicitada pela embaixada, responde o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmando que não via como impedir os cidadãos de se manifestarem. No dia seguinte, a imprensa dá à manifestação um significado nacionalista.
Na transmissão efectuada pela rádio do acontecimento é acentuada a existência de alguns homens de cor de forma a sublinhar que a razão está com os portugueses. A ideia subjacente é a de que Angola é território português e os revoltosos não passam de bandidos, que agridem e ferem a nação portuguesa e se os Estados Unidos estão a favor deles são contra Portugal e o povo português; a manifestação na embaixada é, pois, legítima e natural. Até os polícias não reagem porque estão imbuídos do mesmo sentimento. É assumida a promoção da manifestação pelo governo, embora discretamente. “Alguns dos homens que se desprenderam da multidão, ao encontro das varandas e janelas deste prédio dos Estados Unidos, são homens de cor e isso também é altamente significativo neste momento. Eles estão aqui, afinal, na firme determinação de defenderem Portugal, assim, sem armas, de peito feito, de peito descoberto, ou com armas na mão se for preciso (…). A polícia, aliás, devo dizer-vos, não mostra vontade decidida em dispersar a multidão; a polícia também é portuguesa e isto é uma reacção portuguesa (…)”[4].
Na estrutura do relato, os manifestantes não são ouvidos. O repórter ultrapassa a descrição das acções, embebendo os ouvintes em sentimentos patrióticos, sem ouvir as testemunhas.
No dia 4 de Abril, o 12º aniversário da NATO é aproveitado para nova exibição contra os EUA: “O anti-americanismo tornara-se uma psicose política para o bloco salazarista. Não atacar os Estados Unidos era ser antiportuguês”[5]. As cerimónias, que decorrem na Universidade de Lisboa, têm uma cobertura intensiva da Emissora Nacional.
Crónicas radiofónicas
O Rádio Clube Português transmite, no dia 5 de Abril, uma crónica de José Drumond, enviado especial a Angola. Não existe som algum, para além das palavras do cronista. A história é sobre um português que consegue “salvar-se da fúria selvática dos assaltantes, dos grupos fanáticos”. Um tom novamente patriótico, subjacente à ideia de que apesar das atitudes criminosas dos negros, há portugueses em Angola que honram a sua pátria, lutando e resistindo às agressões, mesmo se em teoria “as probabilidades de ter resistido a um ataque era uma em mil”[6].
A ideia defendida pelo governo de que a revolta havia sido provocada por forças externas é a parte fulcral de uma outra crónica, também de José Drummond, transmitida no dia 2 de Maio, no RCP. Nela, compara-se o confronto angolano a uma tragicomédia, com enredo em três actos: “Primeiro, semear o terrorismo, matando a esmo mulheres e crianças, para, assim, e mais facilmente, dar início ao segundo acto. Neste o objectivo seria acender o ódio racial (…). Enredo do terceiro acto: a intervenção de forças internacionais para restabelecer a ordem, tal como se está a verificar no Congo (…). E pode até admitir-se que pretendem incluir Angola nesse espectáculo de conjunto. Mas os organizadores, os empresários desta hecatombe vão ter dificuldades na sua empresa odiosa, vão fracassar”[7].
O cronista referia-se à vila do Negage, que considera um oásis no Congo português. “O Negage é um exemplo admirável neste mundo caótico, afirmação de fé, de vontade indómita, de um escasso número de portugueses que, graças a Deus, está a dar ao mundo as luzes da lusitanidade, que jamais foi desmentida”.
A crónica termina sublinhando a perspectiva de que os territórios, sob dominação portuguesa, são eminentemente portugueses: “Esteve a falar-vos José Drummond, de Angola, província portuguesa de África”. Uma forma semelhante à de Pitta Groz Dias, quando inicia a reportagem para o Rádio Clube de Malange afirmando que este “fala de Portugal para Portugal”. Esta peça (transmitida também para o Rádio Clube de Angola, Rádio Clube Português e publicada na “Província de Angola”) baseia-se no ponto de vista de que os revoltosos negros são terroristas, bandoleiros e/ou bandidos.
O grosso informativo do trabalho passa pela notícia de que uma patrulha que destruiu, no extremo noroeste do distrito de Malange, “uma das mais importantes concentrações de terroristas”: “Por informações recebidas de indígenas fiéis à pátria portuguesa, sabia-se que alguns milhares de bandoleiros, aliciados pelo comunismo, à prática dos mais aviltantes actos de banditismo, haviam abandonado as suas sanzalas (…). Seguindo os seus métodos usuais de traição e cobardia, os bandidos praticavam nas referidas zonas, as maiores crueldades e as mais revoltantes atrocidades, sobre os pacíficos nativos, que, fiéis à soberania portuguesa, e orgulhosamente leais à pátria, os não quiseram seguir, na senda do crime e da vida fácil da pilhagem”[8].



[1] «99,7% da população africana de Angola, Guiné e Moçambique é considerada “não civilizada” pelas leis coloniais portuguesas e 0,3% é considerada “assimilada”. Para que uma pessoa “não civilizada” obtenha o estatuto de “assimilada” tem de fazer prova de estabilidade económica e gozar de um nível de vida mais elevado do que a maior parte da população de Portugal. Tem de viver à “europeia”, pagar impostos, cumprir o serviço militar e saber ler e escrever correctamente o português. Se os portugueses tivessem de preencher estas condições, mais de 50% da população não teria direito ao estatuto de “civilizado” ou de “assimilado”». Extracto de “The facts about Portugal`s african colonies”, editado em Londres, em 1960 e citado em “História contemporânea de Portugal” – A dominação colonial portuguesa – Amílcar Cabral, direcção de João Medina, Ed. Multilar, pág. 224. [2] “Nestas colónias os africanos não têm nenhum direito político e não podem fundar organizações sindicais. Nem sequer gozam dos mais elementares direitos humanos. Apesar de uma cruel polícia secreta, de uma administração colonial desumana, da brutalidade dos soldados e das milícias dos colonos, as organizações nacionalistas africanas desenvolvem uma resistência activa face ao colonialismo português”, Idem, pág. 223. [3] Arquivo histórico da RDP. [4] Idem. [5] ANTUNES, José Freire - Kennedy e Salazar – o leão e a raposa, Difusão Cultural, Lisboa, 1991, pág.212. [6] Idem. [7] Arquivo histórico da RDP, Rádio Clube Português, 2 de Maio de 1961, José Drummond. [8] Arquivo histórico da RDP, Rádio Clube de Malange, Pitta Groz Dias.

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Vida moçambicana

Há quarenta e cinco anos a companhia 367 embarca de Mueda, onde esteve mais de dois anos, com destino a Lisboa. Eis alguns momentos da sua memória.

Fotografias Victor Hugo Cristo



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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Antropogénese

Nesta segunda parte apresentamos a evolução humana numa perspectiva teosófica. Começamos pelos primeiros contestatários à teoria proposta em "A origem das espécies", faz Terça-Feira 150 anos.

Texto Joaquim Soares desenho Cristina Lourenço

Darwin fez, sem dúvida, um conjunto notável de descobertas que explicam muitos aspectos do processo evolutivo (no plano físico). Isso é indesmentível. E se atentarmos para o facto de que essas mesmas descobertas acabaram por abalar os dogmas da religião oficial do Vaticano, então o nosso reconhecimento é ainda maior. A questão, no entanto, é que, baseado nessa visão parcial dos processos da natureza, Charles Darwin especulou que a vida era conduzida por um acaso cego, caindo no dogma materialista, o que, mais tarde, acabou por ser usado para legitimar ideologias que reforçaram a exploração humana. Estava assim criado o cenário para a negação absoluta da natureza espiritual do homem.
Reconhecemos alguma razão a Fred Hoyle quando disse que era “perseguido pela convicção de que a filosofia niilista que a chamada opinião educada decidiu adoptar depois da publicação de ´A Origem das Espécies` conduziu a Humanidade no rumo de uma auto-destruição automática”[1].
Ao contrário do que muitas vezes se quer fazer crer, a doutrina darwinista encontrou oposição logo nos primeiros anos em que foi tornada pública. Vários foram os autores e cientistas contemporâneos de Darwin que repudiaram muitas das especulações darwinistas, entre os quais vale a pena destacar Alfred Wallace (co-autor da Teoria da Evolução das Espécies) e J. Louis de Quatrefages (renomado naturalista francês). Em algumas das suas obras, Wallace e Quatrefages apresentaram dados que deveriam ter inspirado os seguidores de Darwin a serem bem mais prudentes e humildes.
Foi exactamente a humildade de quem está comprometido, acima de tudo, com a Verdade, que levou Quatrefages, a escrever, por exemplo: “para aqueles que me questionam sobre o problema da nossa origem, eu não hesito em responder em nome da ciência – EU NÃO SEI.” Referindo-se também à falta de prudência e bom-senso, afirmou peremptoriamente: “Infelizmente, por ter esquecido os trabalhos dos seus predecessores, Darwin e os seus seguidores conceberam conclusões erróneas a partir de suas premissas. Eles imaginam que deram explicações quando afinal não deram nenhumas”
[2] Tanto Quatrefages como Wallace apresentaram dados que provavam ser a humanidade muito mais antiga do que pressupunha a teoria darwinista. O próprio Wallace, um espiritualista convicto, acreditava que a chamada “Selecção Natural” era insuficiente para justificar o aparecimento e o desenvolvimento das espécies e do Homem. Ele acreditava que Inteligências superiores guiavam os processos evolutivos, que ele via como necessárias para responder às inúmeras questões para as quais a teoria darwinista não tinha resposta.
Uma corajosa senhora

No entanto, a pessoa que se opôs mais vigorosa, destemida e eloquentemente à teoria darwinista da evolução foi Helena Blavatsky, fundadora do
Movimento Teosófico Moderno[3]. Escreveu ela em 1888: “A Ciência hoje tem uma inegável predilecção por apresentar ao público, como fatos comprovados, hipóteses baseadas em ideais pessoais; por oferecer, em lugar de conhecimentos, meras suposições com o rótulo de ´conclusões científicas`. Os especialistas preferem inventar mil e uma especulações contraditórias a confessar um facto embaraçoso mas evidente por si mesmo (…)”[4]
Sobre a “Selecção Natural”, afirma Blavatsky, sem rodeios, em “
A Doutrina Secreta”: "No que tange à Selecção Natural em si, noções as mais erróneas têm curso entre os pensadores actuais, que aceitam tacitamente as conclusões do darwinismo. Por exemplo, é um mero artifício de retórica atribuir à Selecção Natural o poder de originar espécies. A Selecção Natural não é uma entidade; é só uma expressão cómoda para indicar como se dá a sobrevivência do mais apto e a eliminação dos inaptos na luta pela existência. Todo o grupo de organismos tende a multiplicar-se além dos meios de subsistência; a luta constante pela vida – a ´luta pata obter o bastante que comer, e para escapar de ser comido`, adicionada às condições ambientes – necessita de uma perpétua eliminação dos inaptos. Os seleccionados de cada grupo, que assim permanecem, propagam a espécie e transmitem suas características orgânicas aos descendentes. Todas as variações úteis se perpetuam desse modo, e uma progressiva melhora se realiza. Mas a Selecção natural – a ´Selecção como poder`, na humilde opinião da autora – realmente não passa de um mito; especialmente quando a ela se recorre para explicar a Origem das Espécies. É tão-somente um termo representativo, que exprime a maneira pela qual as ´variações úteis` se esteriotipam quando produzidas. (…) O Darwinismo só descobre a evolução no seu ponto médio, isto é, quando a evolução astral cede o campo ao funcionamento das forças conhecidas pelos nossos sentidos actuais."[5]
Uma terceira hipótese

Existe uma profunda divergência entre a teoria darwinista e o ensino da
Teosofia ou Sabedoria Esotérica (que nada está relacionada com crenças infundadas e esoterismos a vulso, tão infelizmente na moda). A Antropogénese Ocultista está em consonância com as tradições religiosas universais dos povos (porque, em verdade, está na sua base) mas em flagrante oposição ao ensino religioso literalista e sectário, e vai muito mais além do paradigma darwinista da Evolução.
Na sua monumental obra “A Doutrina Secreta”, Blavatsky apresenta a Antropogénese dos Ensinamentos Secretos do Oriente. Para além disso, num trabalho notável de investigação e de fundamentação rigorosa dos princípios enunciados, oferece-nos um enorme volume de provas de todo o tipo, entre elas várias evidências geológicas que estão de acordo com os ensinamentos ocultos sobre a origem do Homem.
Por isso, permanecem mais do que actuais estas suas palavras: “A antropologia de Darwin é o incubo do étnologo, filha robusta do materialismo moderno, que se desenvolveu e adquiriu cada vez mais vigor à medida que a inépcia da lenda teológica da "criação" se fazia mais e mais aparente. E medrou graças à estranha ilusão de que, como diz um reputado homem da ciência, ´Todas as hipóteses e teorias acerca da origem do homem podem reduzir-se a duas (a explicação evolucionista e a versão exotérica da Bíblia) … Nenhuma outra hipótese é admissível…! `"
[6] Contrariando essa ideia, Blavatsky afirma peremptoriamente: a “antropologia dos Livros Ocultos é, no entanto, a melhor resposta que se pode dar a afirmativa tão pouco razoável."[7]
O Conhecimento Sagrado

O conhecimento presente nos referidos livros ocultos do Oriente, contêm uma exposição dos princípios da Eterna Sabedoria, ou Teosofia, que "foi a religião universalmente difundida no mundo antigo e pré-histórico"
[8] e que, “refulgindo em fragmentos dispersos em todas as religiões e filosofias”[9], se encontra(va) velada em linguagem simbólica em milhares de escritos. Parte desses ensinamentos eram outrora comunicados na instituição dos Mistérios, sob forma alegórica. Conforme nos informa Blavatsky, a “fase que se inicia com Buddha e Pitágoras, e finda com os Neoplatónicos e os Gnósticos, é o único foco, que a história nos depara, aonde pela última vez convergem os cintilantes raios de luz emanados de idades remotíssimas e não obscurecidas pelo fanatismo."[10] Podemos perguntar, entretanto, porque foi feito agora um esforço por tornar público uma parte desse Conhecimento Sagrado? Várias são as razões. Uma delas prende-se, directamente, com as especificidades do actual momento civilizacional. O diagnóstico foi feito por Helena Blavatsky com grande clareza: "O mundo converteu-se hoje em uma vasta arena, em um verdadeiro vale de discórdia e de luta sem fim, em uma necrópole onde são sepultadas as mais elevadas e santas aspirações de nossa alma espiritual."[11]
A evolução humana atingiu o ponto médio do percurso evolutivo, o ponto de maior afastamento da origem (do pólo espiritual), a altura em que o movimento evolutivo deve necessariamente inflectir a trajectória de descida em direcção aos níveis mais densos de matéria/consciência e começar a percorrer o arco ascendente. E esta é exactamente a altura mais crítica.
O crescente fanatismo e o surgimento do materialismo fizeram mergulhar a humanidade num período em que o eco da Alma já quase não se faz ouvir, correndo o risco de "romper" a ligação com a nossa natureza interior e real. Tudo isto se reflectiu numa selvática "luta pela sobrevivência", num esquecimento do sofrimento do nosso semelhante, numa competição desenfreada por bens materiais, poder e posição social, à custa da miséria de milhões e milhões de seres humanos e da destruição da natureza.

O labor científico de gerações de Sábios

Nunca como hoje foi tão importante o resgate da Sabedoria Antiga. Deve-se contudo frisar que o conhecimento sagrado não é uma invenção, é sim, fruto do labor científico dos grandes sábios da humanidade. Esta Ciência Espiritual está subjacente nas formulações e nas doutrinas genuínas originais de todos os grandes Instrutores da Humanidade e fundadores das religiões (Krishna, Orfeu, Buda, Hermes, Cristo, Platão, Pitágoras, etc.). Por detrás dos mitos e símbolos apresentados nas diversas Antropogéneses religiosas, está presente um conhecimento mais rigoroso do que aquele que nos é apresentado pela doutrina darwinista.
Esclarece-nos Helena Blavatsky: “A Doutrina Secreta é a Sabedoria acumulada dos séculos, e a sua cosmogonia, por si só, é o mais prodigioso e acabado dos sistemas (…) Mas tal é o poder misterioso do simbolismo oculto que os factos, que ocuparam a atenção de gerações inumeráveis de videntes e profetas iniciados, para os coordenar, classificar e explicar, durante as assombrosas séries de progresso evolutivo (…) A visão cintilante daqueles Iniciados foi até ao próprio âmago da matéria, descobriu e perscrutou a alma das coisas, ali onde um observador comum e profano, por mais arguto que fosse, não teria percebido senão a tessitura externa da forma. (…) tal sistema não é fruto da imaginação ou da fantasia de um ou mais indivíduos isolados; constitui-se dos anais ininterruptos de milhares de gerações de videntes
[12], cujas experiências cuidadosas têm ocorrido para verificar e comprovar as tradições, transmitidas oralmente de uma a outra raça primitiva, acerca dos ensinamentos de Seres superiores e excelsos que velaram sobre a infância da Humanidade.
Durante muitos séculos, os ´Homens Sábios` da Quinta-Raça
[13], pertencentes ao grupo de sobreviventes que escapou ao último cataclismo e das convulsões dos continentes, passaram a vida aprendendo, e não ensinando. Como o faziam? Examinando, submetendo a provas e verificando, em cada um dos departamentos da Natureza, as tradições antigas, por meio das visões independentes dos grandes Adeptos, isto é, dos homens que desenvolveram e aperfeiçoaram, no mais alto grau possível, seus veículos físico, mental, psíquico e espiritual. O que um Adepto via só era aceito depois de confrontado e comprovado com as visões de outros Adeptos, obtidas em condições tais que lhes conferissem uma evidência independente – e por séculos de experiências.”[14]
A este propósito, vale a pena trazer aqui também algumas palavras escritas por um dos estudantes mais próximos de Blavatsky,
William Judge: [A Teosofia] não é uma crença, ou um dogma formulado ou inventado pelo homem, mas é o conhecimento das leis que governam a evolução dos factores físicos, astrais, psíquicos e intelectuais na natureza e no ser humano. A religião de hoje é apenas uma série de dogmas fabricados pelo homem, sem nenhuma fundamentação científica para a ética que divulga; enquanto nossa ciência ainda ignora o invisível e não admite a existência de um conjunto completo de faculdades perceptivas internas no homem, ficando apartada do campo de experiência imenso e real que existe dentro do mundo visível e tangível. Mas a Teosofia sabe que o todo é constituído do visível e do invisível, e ao perceber que as coisas e objectos externos são transitórios, compreende os fatos da natureza, tanto interna quanto externa. Ela é, portanto, completa em si mesma e não vê mistério insolúvel em lugar algum; ela risca a palavra ´coincidência` de seu vocabulário e saúda o reinado da lei em tudo e em todas as circunstâncias”.[15]
A ciência materialista, ao desconsiderar outros planos de Ser, de Substância e de Vida, limita-se a investigar o pequeno campo externo de actividade das Forças e
Inteligências internas e espirituais. A Teosofia ou Sabedoria Esotérica abrange todos os níveis, visíveis e invisíveis da realidade, e demostra que a matéria física é apenas o nível mais denso, a “casca externa”, de outros níveis mais internos da substância universal homogénea, progressivamente mais subtis – astral, mental e espiritual.
A Sabedoria Esotérica,
partindo da Causa Incausada, ensina que tudo tem a sua origem no espírito e que a evolução se processa do interior para o exterior, do subtil para o denso, e não ao contrário conforme afirma o darwinismo.
É preciso esclarecer que não se trata aqui de invocar a figura de um Deus Antropomórfico das religiões exotéricas, que nada mais é do que uma criação da mente humana. A
Filosofia Esotérica fundamenta-se na LEI UNIVERSAL , e não em nenhum deus.
Alguns princípios da Ciência Esotérica

Deixamos, em seguida, um breve apanhado de alguns ensinamentos essenciais da Ciência Esotérica.
Antes de tudo, a Doutrina Secreta estabelece
três proposições fundamentais: (a) “Um PRINCÍPIO Onipresente, Eterno, Ilimitado e Imutável, sobre o qual toda especulação é impossível, porque ele transcende o poder da concepção humana e só poderia ser distorcido por qualquer expressão ou comparação humanas. Está além dos limites e do alcance do pensamento – nas palavras do Mandukya, é “impensável e indescritível”; (…) (b) A Eternidade do Universo in toto [na sua totalidade] como um plano ilimitado; sendo periodicamente “cenário de inúmeros Universos que se manifestam e desaparecem incessantemente`”; (…) (c) A identidade fundamental de todas as Almas com a Alma-Superior Universal, sendo esta última, em si mesma, um aspecto da Raiz Desconhecida ; e a peregrinação obrigatória de cada Alma — uma centelha da Alma-Superior Universal — através do Ciclo da Encarnação (ou “da Necessidade”), de acordo com a lei Cíclica e Cármica, durante todo o período.”[16]
É também importante perceber que: "A primeira lição ensinada na Filosofia Esotérica é que a Causa incognoscível não leva adiante a evolução, nem consciente nem inconscientemente, limitando-se a exibir periodicamente diferentes aspectos de Si mesma para a percepção das mentes finitas. Ora, a Mente colectiva – a Mente Universal – composta de inumeráveis e variadas Legiões de Poderes Criadores, por mais infinita que seja no Tempo manifestado, é, ainda assim, finita quando em contraste com o Espaço não-nascido e inalterável no seu aspecto essencial supremo. Aquilo que é finito não pode ser perfeito."
[17]
O
Universo emanou a partir do seu arquétipo, ou plano ideal, mantido através da Eterna Duração em Parabrahman.
Nada existe de não-vivo no Universo
[18]. Toda a matéria é viva e consciente, variando apenas o grau dessa mesma consciência.
O Universo é constituído por Sete Planos de Manifestação, sete níveis da Substância Universal primordial, do mais subtil ou espiritual, ao mais denso ou material.
Da mesma forma, o
Homem reproduz em si o Cosmos e tem, por isso, também uma constituição septenária, ou Sete Princípios de Consciência, que em linguagem teosófica têm a seguinte designação: Sthûla Sharîra (Corpo Físico), Prâna (Princípio Vital), Linga-Sharîra (modelo ou corpo padrão), Kâma (sede das emoções, desejos e paixões), Manas (mente, inteligência), Buddhi (Inteligência Espiritual, Intuição), Atman (Espírito, o verdadeiro Eu).
No que se refere à evolução da humanidade, ensina também a Sabedoria Esotérica: “(a) a evolução simultânea de sete grupos humanos em sete diferentes partes do nosso globo; (b) o nascimento do astral, antes do corpo físico: sendo o primeiro um modelo para o último; e (c) que o homem, nesta Ronda, procedeu a todos os mamíferos – incluindo os antropóides – do reino animal.”
[19]
Decorre daqui que a Doutrina Secreta ensina a origem poligenética da humanidade, contrariando a teoria monogenética da Ciência, bem como, a ideia de que a humanidade descende de um par humano (Adão e Eva) conforme pretende o Cristianismo exotérico. Convém, no entanto, ter em consideração que uma interpretação esotérica do simbolismo presente no livro do Génesis permite perceber que o Adão ai mencionado não se refere a um homem mas a uma raça.
A
Humanidade vai progredindo através sete patamares evolutivos, chamados de Raças-Raízes. Assim como cada indivíduo passa necessariamente por diferentes fases de crescimento e desenvolvimento (infância, pré-adolescência, adolescência, fase adulta, velhice), assim as mónadas humanas vão percorrendo cada um dos diferentes conjuntos de características que se designam por Raça-Raíz (com a suas sete sub-raças). Um imenso número de personalidades, manifestações externas da mesma mónada, vai desfilando sucessivamente ao longo de idades incontáveis percorrendo as sucessivas Raças-Raízes e suas respectivas sub-raças. As diferenças externas nada mais significam do que “roupagens” diferentes que permitem aprendizagens distintas. Todas são necessárias de forma a proporcionarem a maior amplitude e adequação ao tipo de experiências necessárias ao desenvolvimento e exteriorização das potencialidades internas. Como alguém escreveu: “A onda de vida que habita o reino humano deve evoluir através de sete raças-raízes no ciclo actual. Cada raça-raiz inclui povos de características físicas bastante diferentes e nenhum é melhor do que outro. Igualmente, nenhuma raça-raiz é melhor ou pior que outra. Todas compartilham a mesma essência universal. As mónadas ou almas imortais são todas de um carácter sagrado do ponto de vista esotérico, independentemente do seu grau de evolução ser maior ou menor.
O Homem é o paradigma de todos os outros Reinos que o precedem (Animal, Vegetal, Mineral e Elemental). Isto tem como consequência que a cada Raça-Raiz implica não apenas um novo tipo humano mas também novas formas animais, vegetais, novas Eras Geológicas e novas massas terrestres.
Como já aqui foi referido, a evolução processa-se do interior para o exterior, de dentro para fora. Cada Reino começa nos Planos superiores até que, depois de um longo período evolutivo, acaba por atingir o Plano físico denso. Daí se compreende, tal como ensina a Doutrina Secreta, as duas primeiras Raças foram Raças Astrais (não tendo portanto manifestação no Plano Físico). Por isso também não haver nessa altura reencarnação, pois não existia qualquer corpo físico denso. Essas raças tinham como veículo mais inferior de manifestação o Corpo Astral. A isso se refere o simbolismo de “Adão e Eva” no paraíso, onde não “não conheciam a morte”. Tudo isto aconteceu ao longo de uma evolução de muitos milhões de anos.
Isto significa que a Humanidade está na Terra em corpos não-densos desde a “Era Primária”, isto é, antes das quatro Eras Geológicas enumeradas pela Ciência e com corpo físico-denso desde o Período Cretáceo da Era Secundária,
há cerca de 18 milhões de anos.
Faz parte da Tradição Universal dos Povos o conhecimento de que o Homem viveu entre os grandes monstros (dinossauros e outros seres tidos como fantasia), há milhões de anos atrás – durante o Cretácico e o Jurássico. Aliás, as próprias mitologias dos diferentes povos falam também de homens gigantes, capazes de lutar e viver entre esses seres já extintos.
A Ciência Espiritual permanece oculta sobre camadas de símbolos e adulterações efectuadas por mãos comprometidas. Um exemplo disso é a frase inicial do Génesis. Em vez de “No princípio Deus criou os céus e a terra”, o que estava escrito na língua original, o Hebraico, era “Os Elohins deram forma aos céus e ao mundo”, isto é os deuses deram forma, a partir da substância pré-existente, aos diversos globos da cadeia planetária e ao mundo físico.
Está assim no original do Génesis, ao contrário da ideia de um Deus criador, o profundo ensinamento de que os deuses, ou Legiões de Seres, a Colectividade de Inteligências, sob a acção da Lei Universal, despertam do Pralaya e passam a ser as Forças que constroem o(s) Universo(s) e coordenam, impulsionam e dirigem a evolução universal.
Voltando agora mais directamente a algumas das pretensões do darwinismo, a Doutrina Secreta afirma que a “causa que determina as variações fisiológicas das espécies – causa a que estão subordinados todas as outras leis, que são de carácter secundário – é uma inteligência subconsciente que penetra a matéria e que, em último termo, é um
REFLEXO da Sabedoria Divina e Dhyân-Chohânica."[20] Isto quer dizer que a evolução não é fruto de um acaso, mas é coordenada e dirigida por um agregado de Inteligências que, no seu conjunto, constituem a Inteligência da Natureza, a Mente Universal.
Um ramo bastardo da Linhagem Humana

O homem não descende do macaco ou de um qualquer antepassado comum. O antepassado comum do homem e do macaco é o próprio homem.
Ao contrário da teoria darwinista, a Ciência Esotérica afirma que é o macaco que descende do homem, sendo um ramo bastardo da linhagem humana, resultante do cruzamento entre os humanos sem auto-consciência da
3.ª Raça-Raiz (Lemúriana) e certos animais (na Doutrina Secreta este episódio é referido como “o pecado dos sem-mente”). Por outro lado, os grandes antropóides, gorilas, orangotangos, chimpanzés, etc., resultaram do cruzamento de seres humanos de sub-raças da 4.ª Raça-Raiz (Atlante) e os animais descendentes dos cruzamentos referidos anteriormente. É por isso que a ciência encontra uma grande similaridade genética entre o homem e grandes antropóides, o que não acontece com os outros símios.
Uma hipótese para explicar uma descoberta recente

É aqui, por hipótese, que poderemos enquadrar a
descoberta recentemente anunciada de um “hominídeo” que viveu há cerca de 4,5 milhões de anos.
A forma como esta informação é transmitida para o público deve ser olhada com bastante cautela. Apesar de se reconhecer agora uma maior antiguidade da linhagem dos hominídeos, não deixa de ser verdade que os cientistas continuam a insistir que descobriram mais um elo do antepassado do homem, isto é, persistem apegados à interpretação darwinista. Por isso, um dos investigadores faz notar: “Dois séculos depois do nascimento de Charles Darwin, podemos verificar que ele estava certo. Em ciência é preciso termos evidências e não especular.”
[21] Perguntamos: em que medida esta descoberta demonstra que Darwin estava certo? De facto, só se quisermos negar as evidências e, parafraseando Blavatsky, preferirmos “inventar mil e uma especulações contraditórias a confessar um facto embaraçoso mas evidente por si mesmo”.
A verdade é que não se descobriu um registo fóssil de um humano com 4,5 milhões de anos, mas antes de um “hominídeos” com 4,5 milhões de anos, o que é diferente.
O facto de os investigadores referirem que os restos fósseis parecem indicar que este hominídeo tem “características mais parecidas com os humanos do que com os chimpanzés”, podem levar-nos a considerar, como hipótese, que estejamos perante um exemplar mais antigo de um descendente dos cruzamentos entre humanos e símios referidos há pouco no texto.
Isto porquê? Porque, há medida que recuamos no tempo, mais esses antropóides guardam uma maior semelhança hereditária e fisionómica (esqueleto, dentição, etc.) com os seus (meios) progenitores humanos do que os seus descendentes actuais (os macacos e chimpanzés, que mostram a influência de longo de milhões de anos de afastamento dos seus ancestrais). Desta forma, não temos porque não concordar com o investigador citado há pouco, quando termina dizendo: “Valeu a pena esperar para sabermos mais sobre o hominídeo mais próximo do nosso ancestral comum com o chimpanzé até hoje.”
Nós também achamos que valeu a pena, fazendo notar que esse ancestral comum é o próprio homem!

Conciliando Religião e Ciência

Serão a religião, filosofia e ciência conciliáveis? Como afirmou um bom amigo nosso: “Já o foram no passado. Grandes pensadores da Grécia antiga, como Pitágoras e Platão, eram simultaneamente filósofos, cientistas e eminentes estudiosos do sagrado. Na altura não havia qualquer dicotomia, a busca de sophia - do conhecimento integral - estava sempre presente. O drama é que se perderam as chaves e os códigos interpretativos que estão na base da ciência e das formulações teogónicas e mitológicas do mundo antigo. E perderam-se devido ao fanatismo religioso, que no século IV e seguintes, desencadeou a mais terrível perseguição e destruição contra todo o património da sabedoria, da ciência e até da arte da antiguidade, consideradas demoníacas. Foram perseguidos e aniquilados pensadores genuínos, pilhados e queimados centenas de milhares de livros que reuniam o esforço de gerações sucessivas de investigadores... Em que patamar poderia estar hoje a humanidade se ao longo dos tempos não tivesse havido tanta intolerância e fanatismo? Certamente, estaríamos bem melhor."[22]
Só através da Sabedoria Esotérica será possível conciliar a Religião e a Ciência – tornando a Ciência Religiosa e a Religião Científica – libertando assim da Humanidade de um Deus antropomórfico, do Acaso e da luta desumana pela sobrevivência.

[1] “O Universo Inteligente” (3.ª Ed.), Fred Hoyle, Editorial Presença, Lisboa, 1993, p.8 [2] “The Human Species”, A. De Quatrefages, Kessinger Publishing (fac-simile da edição de 1893), p.128. A edição original em francês desta obra é amplamente citada por HPB em “A Doutrina Secreta”. [3] Cfr. “Helena Blavatsky – A Vida e a Influência Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno”, Sylvia Craston, Editora Teosófica, Brasília, 1997. [4] “A Doutrina Secreta”, H.P.Blavatsky, Pensamento, São Paulo, Vol.III, p.335. [5] Na obra citada anteriormente, Vol. IV, p.218-219 [6] Na obra citada anteriormente. [7] Na obra citada anteriormente. [8] Na obra citada anteriormente, Vol.I, p.57. [9] Cfr. “Alexandria e o Conhecimento Sagrado”, José Manuel Anacleto, CLUC, Lisboa, 2008. [10] “A Doutrina Secreta”, H.P.Blavatsky, Pensamento, São Paulo, Vol.I, p. 67 [11] Na obra citada anteriormente. [12] Para não haver confusão relativamente ao que hoje se entende por vidente, esta palavra deve ser aqui entendida aqui como aquele que pelo intenso esforço, renúncia, disciplina, treinamento oculto, sujeição ao Eu Superior e serviço à grande Causa, desenvolveu os seus poderes internos latentes no mais elevado grau. [13] Em Teosofia o termo raça nada tem haver com o geralmente adoptado. Resumidamente, significa uma fase no processo evolutivo da Humanidade, de um conjunto específico de características ou qualidades espirituais, mentais e físicas. [14] “A Doutrina Secreta”, H.P.Blavatsky, Pensamento, São Paulo, Vol.I, p.304. [15] Retirado de http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=256 [16] Cfr “As Três Proposições Fundamentais”. [17] A Doutrina Secreta, H.P.Blavatsky, Pensamento, São Paulo, Vol.IV, p.54. [18] Cabe aqui citar uma ideia bastante acertada de uma das mais reconhecidas biólogas, Elisabet Sahtouris "... A crença fundamental da ciência ocidental é que este é um universo não-vivo. Ninguém nunca provou isso. Eu não acho que alguém poderia prová-lo. É uma suposição. Se eu disser que quero construir uma ciência baseada na hipótese de este é um universo vivo, os cientistas vão dizer – prove-o. Acontece que eles não têm que provar o seu pressuposto fundamental que este é universo não-vivo. A ciência ocidental desenvolveu a única cultura na história, eu acho, que desenvolveu o conceito de não-vida". [19] Obra citada anteriormente, Vol.III, p.15. [20] Obra citada anteriormente, Vol. IV, p.218-219 [21] Ver www.noticias.terra.com/ciencias/noticias [22] Trecho de entrevista a José Manuel Anacleto "Notícias Magazine", nº683 (suplemento do Diário de Notícias/Jornal de Notícias), 26-06-2005, págs.26-32.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Darwinismo?



Próximo do dia em que se comemoram os 150 anos da publicação de "A origem das espécies", e no ano em que se celebram os 200 anos do nascimento de Charles Darwin, questionamos a teoria da evolução através da selecção natural[1].

Texto Joaquim Soares desenho Cristina Lourenço


O darwinismo defende que os seres humanos descendem de macacos, fruto de pressões exercidas pelo ambiente externo e de mutações genéticas aleatórias. Convém, no entanto, precisar que a teoria darwinista não refere que o homem tenha descendido directamente dos macacos que conhecemos actualmente, mas antes que, tanto os macacos modernos como o homem, descendem de um antepassado comum.

Escreve Rosine Chandebolis que, “actualmente, para ser considerado darwinista, basta acreditar que cada espécie foi criada por um fantástico golpe do acaso e que a selecção exercida pelas forças cegas do meio ambiente criou a ilusão de um projecto fixado antecipadamente.”[2]

No entanto, um número crescente de investigadores, de várias áreas da ciência, têm vindo a demonstrar as limitações do darwinismo na explicação de inúmeros processos da evolução, denunciando as falácias e as muitas extrapolações abusivas[3].

Citando uma vez mais Chandebolis, “o darwnismo é, sobretudo, um género literário. Nasceu na Inglaterra, como o romance policial, e a sua arte consiste em dissimular as inverosimilhanças que o encadeamento dos episódios requer”[4].

Falsas expectativas

A origem simiesca do homem, proposta pelo darwinismo, tem como suporte uns poucos fragmentos de mandíbulas e pedaços de crânios. O antropologista Richard Leakey afirmou que “se alguém se der ao trabalho de juntar em uma sala todos os restos fósseis dos nossos antepassados descobertos até agora, não precisará mais do que um par de mesas para que os possa espalhar.”[5]

É claro que esta situação é campo fértil para as mais mirabolantes especulações, em que a crença, o dogmatismo, as expectativas pessoais e os preconceitos acabam por interferir na interpretação dos dados recolhidos.

Não será a primeira vez que o desejo de fama faz com que se precipitem anúncios sensacionalistas e se acabe por criar falsas expectativas, que são mais tarde desmentidas e rectificadas por posteriores investigações.

Vejamos um exemplo bem recente. Em Fevereiro deste ano, cientistas anunciam a descoberta no Quénia de uma pegada com 1,5 milhões de anos. “Esses mesmos investigadores acabaram por confirmar que a pegada é anatomicamente idêntica à de um humano moderno. Isto significa que a estrutura anatómica do pé que deixou aquela pegada era semelhante à de qualquer um de nós actualmente. No entanto, a teoria da ciência oficial é a de que os primeiros seres humanos semelhantes a nós tenham surgido há cerca de 150.000 anos, o que deixou os investigadores muito embaraçados pois aquela pegada é dez vezes mais antiga do que aquilo que aponta a teoria. Para resolver o tremendo embaraço, os cientistas apressaram-se a concluir que a pegada pertenceria a um tipo de hominídeo da família do Homo Erectus. Estranhamente ninguém se lembrou de referir que nunca ninguém encontrou quaisquer ossos do pé do tal Homo erectus. Resumindo: a única criatura que a ciência conhece, de facto, com um pé de semelhante estrutura anatómica é o ser humano actual.”[6]

Tudo serve para tornar uma simples especulação em uma verdade inquestionável, como fica demonstrado no seguinte exemplo dado por Sir Fred Hoyle: “Há cerca de uma geração, ou pouco mais, foi prestado um péssimo serviço ao pensamento popular ao divulgar a noção de que uma horda de macacos batendo em máquinas de escrever acabaria por escrever as peças de Shakespeare. Esta ideia é falsa, de tal forma falsa que nos perguntamos como foi possível ser tão difundida. Penso que os cientistas desejavam acreditar que absolutamente tudo, mesmo a origem da vida, poderia ocorrer por acaso, desde que o acaso operasse a uma escala suficientemente grande. É este erro óbvio, pois todo o Universo observado pelos astrónomos não seria suficientemente grande para conter a horda de macacos necessária para escrever sequer uma cena de uma peça de Shakespeare, ou para conter as suas máquinas de escrever, e muito menos para guardar todo o papel contendo a enorme quantidade de disparates que os macacos escreveriam até ´acertarem`. O aspecto fundamental é que o único modo viável para o Universo produzir as peças de Shakespeare, foi através da existência da vida, produzindo o próprio Shakespeare. (…) Apesar disto, toda a estrutura da biologia ortodoxa defende ainda que a vida se desenvolveu casualmente à medida, porém, que os bioquímicos descobrem cada vez mais sobre a extraordinária complexidade da vida, torna-se evidente que as probabilidades de esta ser provocada por acidente são tão reduzidas que podem ser completamente postas de parte. A vida não pode ter surgido por acaso.”[7]

O facto é que, exceptuando os crentes darwinistas, muitos são os investigadores que revelam prudência quanto à suposta teoria da descendência humana a partir do macaco. Não deve ser esquecido que, ao longo dos anos, já foram cometidos inúmeros erros de interpretação dos fósseis.


Terreno movediço


A simplicidade das formas de divulgação e dos slogans adoptados pelos partidários darwinistas faz com que a sua mensagem penetre facilmente na mente do público. Ao contrário do que dão a entender as belas ilustrações que aparecem em muitas publicações científicas, em que vemos retratadas as transformações graduais ocorridas entre o ancestral simiesco até ao homem moderno, a verdade é que a maior parte desses fósseis intermédios nunca foram descobertos.

A suposta árvore genealógica da raça humana, apresentada pelo darwinismo, é tão fragmentária, tão cheia de hiatos, que é difícil perceber como há quem defenda esta teoria com tanta segurança[8].

É afirmado que a nossa espécie, o Homo sapiens (Homem sábio), surgiu em África há cerca de 250.000 anos atrás, e o fóssil geralmente aceite como o mais antigo, encontrado na Etiópia, tem cerca de 160.000 anos. Existem muitas disputas quanto à correcta catalogação de outras espécies, nomeadamente o Homem de Neandertal, que é considerado uma espécie separada. No entanto, vários investigadores consideram que, no fundo, todas essas espécies não passam de variações do Homo sapiens.

Supõe-se que o Homem de Neandertal tenha vivido entre 230.000 a 30.000 anos atrás. Um dos mistérios que continua a atormentar os paleontólogos é origem do homem de Cro-Magnon, que se julga ter começado a chegar à Europa há aproximadamente 40.000 anos, coincidindo com o desaparecimento do homem de Neandertal.

Segundo certos investigadores é muito provável que eles tenham vindo para a Europa, em sucessivas vagas migratórias, aquando da submersão das últimas porções de terra que pertenciam ao antigo continente Atlante há aproximadamente 12.000 anos[9].

Além disso, os registos fósseis contradizem a teoria de que as espécies evoluem gradualmente para outras, pela lenta acumulação de variações aleatórias ao longo de extensos períodos de tempo. O que os registos geológicos demonstram é que estas permanecem quase constantes ao longo de milhões de anos[10]. Na verdade, o que pudemos ver é que há um momento, ocorrido durante o período Cambriano (há cerca de 500 milhões de anos, segundo a ciência oficial), em que acontece uma explosão de biodiversidade, com o surgimento abrupto dos principais grupos, plantas e animais. Este momento é conhecido como a Explosão Cambriana[11], e é um dos vários calcanhares de Aquiles da teoria darwinista da evolução.

Rosine Chandebolis descreve magistralmente o enredo feito pelas incongruências darwinistas: “Os apóstolos do darwinismo pertencem a duas escolas. Uma, a mais clássica, é gradualista. Ela defende a imensidade das populações e a escala dos tempos geológicos para afirmar que, no fim de contas, tudo acaba por acontecer por meio de uma sequência de modificações imperceptíveis, desde que se espere bastante tempo. (...) A outra escola, a dos saltacionistas, é a mais jovem e mais revolucionária. (...) Teremos, pois, a encenação de um grande espectáculo, com dilúvios, cometas, cadeias de vulcões em actividade, quedas de meteoros e outros cataclismos, a fim de impor um ambiente de furor cego e de caos. Na verdade a moda pós-moderna quer que a história apareça como uma desordem absurda, destituída de todo o sentido e significado. Esta visão é contrariada pelas grandes tendências que os naturalistas puseram em evidência.”[12]

O deus Acaso

Os darwinistas também têm o seu próprio deus: o Acaso. Este entra em acção durante variações genéticas aleatórias no processo evolutivo (!). Acontece que, normalmente, as ditas variações aleatórias tendem a deteriorar os resultados. Estudos feitos apontam para que as probabilidades de que aconteçam variações aleatórias favoráveis, que levem ao aparecimento de novas espécies são ridiculamente ínfimas, mesmo ao longo de muitos milhões de anos[13]. E ainda mais remotas são as probabilidades de tal acontecer em períodos de tempo mais curtos.

Perante isto, os neo-darwinistas tratam de dar as mais bizarras respostas e formular hipóteses (algumas vezes) mirabolantes. A verdade é que é evidente que existem factores desconhecidos que devem, necessariamente, guiar as alterações evolutivas observadas.
Alfred Wallace, co-autor com Charles Darwin da teoria da evolução das espécies, afirmava que estas não surgiam e evoluíam apenas através da selecção natural, mas que a evolução era dirigida por inteligências superiores[14]. Hoje em dia, poucos são aqueles que ousam enfrentar o dogma instalado com receio de mancharem a sua reputação.

Questionado sobre quais os aspectos da ciência alteraria se pudesse, Rupert Sheldrake, autor da teoria dos Campos Morfogenéticos, respondeu: “O que mais me incomoda na ciência é a mentalidade fechada dogmática que é demasiado comum, o que torna muitos cientistas tímidos e receosos de irem além das convenções. Isto afecta muito menos os cosmólogos e os físicos do que os biólogos. Apesar de tudo, você pode ainda ser um cosmólogo e especular que o universo é um de um número infinito, ou postular sobre outras dimensões de espaço e tempo. Ao mesmo tempo, isto era considerado o reino dos líricos, mas agora você pode segurar uma cadeira no departamento de física. Em biologia, o ambiente tornou-se mais estreito e intolerante depois da biologia molecular e o neo-Darwinismo terem comprimido a abordagem tradicional e holística. A Biologia tornou-se bastante restrita e empobrecida.”[15]

A grande questão não é tanto como as espécies vão evoluindo mas, sim, como surgem novas espécies. A selecção natural é suficiente para provar a micro-evolução, ou como as espécies se modificam com o tempo, mas insuficiente para provar a macro-evolução, ou como se originam novas espécies.

É caso para dizer como o renomado físico Freeman Dyson: “Olhando para todas as ´coincidências`, que têm ocorrido na evolução do cosmos, não podemos deixar de concluir que o cosmos se comporta como se tivesse sabido que nós viríamos.”

Competição, genes e a visão materialista da realidade

Os neo-darwinistas hiper-valorizam a competição e a luta pela sobrevivência. Investigações recentes demonstram, no entanto, que a cooperação tem um importante papel no grande esquema da evolução.

Para além disso, os partidários de Darwin absolutizam o papel desempenhado pelos genes. A fé e a crença é tanta que chegam ao ponto de dizer que determinados genes sofrem uma mutação aleatória precisamente na direcção necessária e depois ainda, no momento certo, são aleatoriamente activados ou desactivados para produzir um novo passo evolutivo. Estranho acaso este, o dos darwinistas, que age com uma premeditação impressionante!

Ao contrário do que os darwinistas acreditam, os genes não trazem em si nenhum projecto para a construção de um organismo, mas apenas um código que específica quais os aminoácidos que se devem juntar para formar moléculas proteicas. Nem são os genes sequer os portadores da informação que fará com que as proteínas se transformem em tecidos, órgãos e organismos complexos. Só se conhece uma explicação plausível para que mutações genéticas aleatórias acabem por produzir novas espécies: esse processo tem de ser dirigido por algo inteligente.

É realmente extraordinário pensar que, se todas as espécies foram evoluindo ao longo de milhões de anos, como é que um símio, através de mutações genéticas aleatórias e da selecção natural, demorou tão pouco tempo para chegar a ser um homem, dotado de auto-consciência e uma mente capaz de produzir obras de arte, filosofias, ciência, e toda uma série de realizações incomparáveis?

O Darwinismo parte de uma visão materialista e reducionista da realidade, a qual considera que o universo é composto essencialmente por matéria e energia, apenas nos estados que hoje conhecemos – isto é o mesmo que dizer que o darwinismo tem por base a crença de que a matéria física é a única realidade. Para além disso, outra das suas crenças é que a mente e a consciência é apenas um produto da actividade do cérebro. Acontece que tal nunca foi provado, e as investigações mais recentes apontam para que a mente seja algo independente do órgão biológico. Aliás, mesmo na ciência já há quem considere o Universo fundamentalmente Mental (resgatando um dos postulados da Sabedoria Antiga).

Neste momento, e usando as palavras de Rupert Sheldrake num artigo intitulado “O Colapso do Crédito para o Materialismo”, o “Materialismo é mantido pela fé de que a ciência vai resgatar as suas promessas, tornando as suas crenças em factos. Entretanto, eles vivem a crédito. O filósofo da Ciência Sir Karl Popper descrevia esta fé como ´materialismo promissório` porque está dependente de notas promissórias por descobertas ainda não realizadas. Para lá de todas as conquistas da ciência e tecnologia, ele está a enfrentar um colapso do crédito sem precedentes.” A ideologia materialista continua a prevalecer, em particular na Biologia. No entanto, encontra-se já ferida de morte, desde logo pelo avanço de outras áreas da própria ciência, nomeadamente na área da Física. As primeiras brechas no edifício surgiram já há muito. Não se sabe é quando tudo irá ruir, ainda que muitos continuem confiantes em um milagre. Mas como os milagres não existem…!

Evidências da antiguidade do homem

Talvez a maior prova da fragilidade da teoria darwinista da origem do homem sejam as abundantes evidências encontradas (instrumentos de pedra, ossadas, etc.) que demonstram a grande antiguidade do homem moderno sobre a terra. Estas provas apontam para registos humanos durante o Mioceno, há aproximadamente 20 milhões de anos atrás. As maiorias dessas evidências encontram-se compiladas no livro “Forbidden Archeology[16]” (Arqueologia Proibida), de Michael Cremo e Richard Thompson.

Escrevem os autores: “Estas descobertas não são bem conhecidas, tendo sido esquecidas pela ciência ao longo de muitas décadas, ou em muitos casos, eliminadas por um processo tendencioso de filtração do conhecimento. O resultado é que os estudantes modernos da paleo-antropologia não estão na posse de toda a gama de provas científicas sobre as origens e antiguidade humanas. Ao contrário, a maioria das pessoas, incluindo cientistas profissionais, estão expostas a apenas uma selecção cuidadosamente editada das provas que sustentam a teoria actualmente aceite que proto-hominídeos evoluíram a partir de antecessores símios em África durante o final do Plioceno, e que os humanos modernos, posteriormente evoluíram a partir do proto-hominídeos no final do Pleistoceno, em África ou em outro lugar qualquer”[17]. Ao tomarmos conhecimento do extenso volume de provas da imensa antiguidade do homem, não podemos de deixar notar o quanto o preconceito e o dogma influenciam a interpretação dos factos. Muitos foram os membros da comunidade científica que se levantaram ferozmente contra os autores desta obra. No entanto, outros elogiaram a qualidade da investigação e reconheceram, abertamente, o quanto ela abala o dogma darwinista e a ideia que actualmente temos da origem do homem[18].

A maioria dos achados apresentados em “Forbidden Archeology” foram efectuados pouco tempo depois de Darwin publicar a sua obra, em 1859. Até então, poucos tinham sido os fósseis encontrados e o dogma darwinista ainda não tinha adquirido a sua força, por isso os investigadores não tinham grandes constrangimentos em anunciar a descoberta de fósseis e artefactos anómalos e de grande antiguidade.

Um outro ponto que vale a pena referir é a descoberta de vários esqueletos humanos gigantes, algo que a ciência oficial rejeita, mas que confirma a tradição universal dos povos que nos fala de raças de gigantes vivendo em tempos remotos.

Tácticas e jogos de palavras

Actualmente, o darwinismo assume, para os seus mais acérrimos defensores, contornos de verdade absoluta. Um dos seus mais fervorosos apologistas, Richard Dawkins, apelida a teoria de Darwin “a maior ideia de todos os tempos (…) Grande o suficiente para minar a ideia de criação, mas simples o suficiente para ser indicado numa frase, a teoria da selecção natural é uma obra-prima”.

O que é, de facto, uma obra-prima é a crença cega em uma hipótese que apresenta tantas limitações. Como reconhece Rosine Chandebolis, “o que mais surpreende nesta teoria da evolução não é o estado de crise aguda em que ela se encontra, mas a excepcional longevidade das ideias de base que ela veicula, quando as principais objecções já há muito foram formuladas. A explicação é simples, pois ela deve-se essencialmente à ausência de uma teoria de substituição que pudesse ter feito com que os darwinistas abandonassem a sua. A oposição, com efeito, limitou-se essencialmente a um recenseamento de factos contraditórios.”[19]

Uma das razões de tão tímida contestação ao darwinismo é o facto de que “os cientistas ortodoxos estão mais preocupados em evitar um retorno aos excessos religiosos do passado do que em procurar a verdade”.[20]

Damos, uma vez mais, a palavra a Rosine Chandebolis: “Quando já não se tem argumentos de peso para convencer, resta impor o seu ponto de vista de forma a provocar a intimidação dos cépticos. A precaução elementar, e até instintiva, é não dar a impressão de duvidar de si mesmo. “A probabilidade do neodarwinismo no seu conjunto ser um dia refutado está agora próxima do zero.” Uma afirmação gratuita quanto imprudente, pela mão de Jacob, não é de surpreender. Mais subtis são os processos que permitem convencer uns e levar os outros, que não se deixam enganar, a condenar-se a si próprios aos olhos da opinião. Os neodarwinistas encontraram um que funcionou admiravelmente. Eles chamam à sua doutrina “a teoria da evolução”, em vez de “a teoria sintética da evolução”. Graças a esta simplificação, aparentemente anódica, faz-se penetrar no espírito das pessoas a ideia de que o darwinismo é a única explicação aceitável, como testemunha a amálgama frequente, particularmente nos geólogos, entre esta teoria explicativa da evolução, por um lado, e, por outro, o evolucionismo que, face ao criacionismo e ao fixismo, defendeu a realidade de um fenómeno evolutivo. Consequentemente, aquele que relata factos em contradição com o dogma darwiniano, quanto ao acaso, à selecção, ao gradualismo ou à idade da vida, é acusado de negar a realidade da evolução, que já não pode ser posta em dúvida (a saber, a transformação das formas vivas por meio da sua reprodução, para a qual poderiam ser imaginadas muitas outras teorias explicativas). Aproveitando-se desta embrulhada, os criacionistas entraram no jogo e reconquistaram, assim, a actividade e a audiência, em particular entre os geólogos, que não estão familiarizados com as provas biológicas da evolução. Isto permite ao darwinistas disparar o alarme, quando um evolucionista ataca a teoria da evolução”.[21]

A estratégia usada é: todo aquele que contesta o darwinismo é anti-evolucionismo. Ora, isto é completamente falso. É possível ser evolucionista e não apoiar as teses darwinistas. Esteve sempre presente em toda a antiguidade a ideia de evolução, e não é porque a ciência moderna também a defende que se pode arvorar em guardiã da verdade ou proprietária da sua patente. Não deve ser esquecido que a ciência moderna é, como já alguém disse, “uma aventura demasiado recente na história da humanidade”; por outro lado, convém não esquecer que a tradição científica, tal como a conhecemos hoje, tem a sua origem na grande Filosofia Hermética.

Consequências do genocídio cultural

O triunfo do darwinismo, com a sua perspectiva materialista e reducionista da evolução, deve ser entendido também como uma das consequências do genocídio cultural perpetrado, ao longo dos últimos séculos, pelos seguidores do Cristianismo literalista. Através do esforço, verdadeiramente diabólico, de eliminar quaisquer vestígios das culturas pagãs antigas, “obras e documentos de valor inestimável, que consubstanciavam a investigação e o labor de gerações e gerações de sábios pesquisadores – e que constituíam património sagrado da Humanidade –, foram destruídos, pilhados, queimados, como no caso paradigmático da Biblioteca de Alexandria[22]”.[23] Em vez de um conhecimento correcto da origem e do lugar do Homem no grande esquema da Evolução, que era pertença das culturas antigas, o Cristianismo literalista legou ao Ocidente um conjunto de postulados teológicos absurdos e ilógicos.

O Cristianismo navega agora num mar de equívocos, balançando entre a crença absurda da origem do Homem há 6.000 anos atrás, e uma posição ambígua que procura, em vão, conciliar a leitura literal do Génesis Bíblico e as teorias especulativas da ciência moderna, em particular o darwinismo.
O Génesis sem as chaves dadas pela Filosofia Esotérica é um verdadeiro quebra-cabeças e um amontoado de incongruências. No entanto, oculto na sua linguagem simbólica está um conhecimento rigoroso da Antropogénese Esotérica.

A grande Sabedoria Antiga

E é aqui que temos de invocar Helena Petrovna Blavatsky. Fazemos nossas as palavras de José Manuel Anacleto, da revista BIOSOFIA, a propósito desta sábia e corajosa mulher: “Temos para nós que é impossível que alguém, dotado de conhecimento, de memória e de respeito, pretenda trabalhar no campo do Esoterismo (do Esoterismo como Ciência e Filosofia universal e, não, como vergonhoso lodaçal de tontas e disparatadas superstições) sem prestar o seu tributo de gratidão e de homenagem à primeira de todos nós - pelo seu pioneirismo, pela sua indómita coragem, pelo seu sacrifício titânico, pela sua sabedoria quase sobre-humana -, quando menos no que diz respeito aos últimos séculos.”

Como já alguém disse: “Foi com o monumental trabalho de HPB, ao trazer até nós algum do Conhecimento Secreto do Oriente – nomeadamente, através da tradução e comentário das famosas Estâncias de Dzyan que constituem a base de A Doutrina Secreta – que aprendemos a significação oculta reproduzida no Génesis”.

A cultura oficial assenta em paradigmas que se opõem – o religioso ou criacionista e o científico ou darwinista; de um lado a crença em um deus pessoal, do outro a crença no acaso.

Escreveu Helena Blavatsky: "O pêndulo do pensamento oscila entre dois extremos. Tendo-se finalmente emancipado dos grilhões da Teologia, a Ciência enveredou pelo erro oposto; e, em seu afã de interpretar a Natureza em um sentido puramente materialista, elaborou a mais extravagante de todas as teorias: a que faz o homem descender de um símio feroz e brutal. Essa doutrina encontra-se hoje tão arraigada, sob uma ou outra forma, que serão necessários esforços verdadeiramente hercúleos para a sua completa e definitiva extirpação.”[24].

[1] A teoria da selecção natural foi formulada por Darwin em co-autoria com Alfred Wallace. [2] “Para Acabar com o Darwinismo”, Rosine Chandebolis, Instituto Piaget, Lisboa, 1996, p.21. [3] Cfr. “Human Species”, de Quatrefages; “Para Acabar com o Darwinismo”, de Rosine Chandebolis; “O Universo Inteligente”, de Fred Hoyle; “O Darwinismo ou o Fim de um Mito”, de Rémy Chauvin; “Darwin on Trial”, de Phillip E. Johnson; “Darwin´s Black Box”, de Michael J. Behe; “A Evolução Terá Sentido”, de Michael Denton. [4]Para Acabar com o Darwinismo”, Rosine Chandebois, Instituto Piaget, 1993, p.9 [5] Citado em “Forbidden Archeology”, Michael Cremo e Richard Thompson, Bhaktivedanta Book Publishing, 1993, p.690. [6] Adaptado de “1.5 Million-year-old Footprints Discovered in Kenya”, de Michael Cremo. [7] “O Universo Inteligente” (3.ª Ed.), Fred Hoyle, Editorial Presença, Lisboa, 1993. [8] Cfr. “Darwin on Trial”, Phillip Johnson, InterVarsity Press, 1993. [9] Cfr. “A Atlântida e a Verdade (Re)velada”, José Manuel Freire, Zéfiro, 2007. [10] Cfr. “Darwin on Trial”, Phillip Johnson, InterVarsity Press, 1993. [11] Cfr. “Wonderful Life”, Stephen Jay Gould, W.W.Norton & Co, 1990. [12] “Para Acabar com o Darwinismo”, Rosine Chandebolis, Instituto Piaget, 1993, p. 23 [13] Cfr. “Darwin on Trial”, Phillip Johnson, InterVarsity Press, 1993. [14] Cfr “Natural Selection and Beyond: The Intellectual Legacy of Alfred Russel Wallace”, Charles Smith e George Becalloni, Oxford University Press, 2009. [15] Em http://www.sciencebase.com/science-blog/interview-with-rupert-sheldrake.html (visitado em 15-02-09). [16] “Forbidden Archeology”, Michael Cremo e Richard Thompson, Bhaktivedanta Book Publishing, 1993; “Human Devolution”, Michael Cremo, Torchlight Publishing, 2003. [17] “Forbidden Archeology”, Michael Cremo e Richard Thompson, Bhaktivedanta Book Publishing, 1993, p.150 [18] “Forbidden Archeology´s Impact”, Michael Cremo, Bhaktivedanta Book Publishing, 1998 [19] “Para Acabar com o Darwinismo”, Rosine Chandebolis, Instituto Piaget, Lisboa, 1996, p.24. [20] “O Universo Inteligente” (3.ª Ed.), Fred Hoyle, Editorial Presença, Lisboa, 1993, p.8 [21] Para Acabar com o Darwinismo”, Rosine Chandebolis, Instituto Piaget, 1993, p. 23 [22] Cfr. “Alexandria e o Conhecimento Sagrado”, José Manuel Anacleto, CLUC, Lisboa, 2008. [23] “Cristo”, José Manuel Anacleto, CLUC, Lisboa, 2005, p.12. [24] “The Secret Doctrine”, H.P.B., Theosophy Co., Los Angeles, Vol.II, p.689

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