quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Oitava humana

Segunda-Feira é Dia Mundial do Homem. Altura para ler um livro[1], que nos devolve a identidade masculina: predisposições internas, padrões inatos, revelados na mitologia. Confira as diferenças arquetípicas[2] e descubra quem é.

Texto Dina Cristo

Zeus é o deus do céu, da vontade, autoridade, poder (considera que este lhe dá o direito a mal tratar), aparência (a imagem) e conveniência (por exemplo, ao nível de bens). Corresponde a Júpiter. Ele constrói o reino, seja a casa, família ou empresa, a que preside, e procria. Actua rapidamente e à distância, com capacidade de decisão; controla e impõe a sua vontade; é um líder natural, ordena com frieza. Forte, impiedoso, arrogante, extrovertido, confiante, ambicioso, vaidoso, positivo, realista e prático, persegue tenazmente o que quer, incluindo as mulheres, com quem é um estratego – não aguarda que ela o ame pelo que é, só quer que a mulher faça o que ele espera e não o incomode; não lhe interessa uma relação igualitária nem discutir sentimentos; para ele, a sexualidade é uma expressão de poder, ele é sexualmente agressivo e emocionalmente distante. Teme ser derrubado. Deve descer da montanha e apaixonar-se, aproximar-se.
Posídon é o deus do mar, da emoção e do instinto. É o mais primitivo de todos. Corresponde a Neptuno. Deseja ser alguém e respeitado. Tem emoções profundas e intensas, expressas imediata, directa e espontaneamente – impõe o seu desejo. Quando o ressentimento, o rancor, a amargura, a frustração, a cólera reprimidas, no fundo do “mar”, vêm ao de cima pode tornar-se violento, reagir desproporcionalmente e ser vingativo. É ávido, imaturo, desordenado, conquistador. É um garanhão que não se relaciona psicologicamente, ele domina as mulheres, viola-as, força-as a ter relações sexuais e considera que o sexo no casamento é um direito. Deve desenvolver a sua capacidade mental e objectiva e aprender a canalizar o seu potencial inato de expressão emocional.
Hades é o deus dos infernos, o reino das almas e do inconsciente. Corresponde a Plutão. É sério, reservado, isolado, introvertido, invisível, calado, sem confiança ou aptidão social e não tem filhos. Refugia-se na sua vida íntima, nas suas percepções subjectivas e vive só no mundo da sombra, subterrâneo, inconsciente, da depressão, morte (perda), fechando-se sobre si mesmo e afastando-se dos outros. Tem falta de experiência e viola porque pensa que a mulher se quer relacionar sexualmente com ele. Quer uma família, ordem e estabilidade, mas é celibatário. Deve desenvolver uma personalidade (uma forma de se apresentar) e sair para o mundo, tornar-se visível e acessível.
Apolo é o deus do sol, arqueiro, legislador (é o pai que estabelece normas) e o filho preferido também. Quer o domínio das técnicas e o reconhecimento, o destaque. Está bem no mundo, é visível, objectivo, moderado, legal, cauteloso, extrovertido, cooperante, intelectual, esforçado, íntegro, lúcido, observador e responsável. Gosta de ordem e de beleza. É emocionalmente distante, exprime os seus sentimentos de forma indirecta. Pode ter falta de paixão; é atraído por uma mulher emotiva, sem espírito prático, que seja independente e competente, e tenta-a controlar; conquista e depois vai-se embora; não se apaixona. Deve aprender a ser humilde, pois tende ao narcisismo, e a viver os sentimentos e as sensações corporais.
Hermes é o deus mensageiro e guia das almas, o comunicador, o malandro e o viajante. Corresponde a Mercúrio. É o mais amigo dos homens. Quer a liberdade de ir e vir, aventuras e variedade. É eloquente, sabe falar e escrever, improvisa. É o “entre”, a ponte, o espaço de transição; assinala fronteiras e atravessa-as facilmente; viaja muito e move-se rapidamente, explora e descobre novos territórios, pessoas, ideias e lugares, está sempre em movimento, pensa e actua rapidamente. É apressado, impulsivo, inconsequente, oportunista, fugidio, inconstante, superficial, camaleão, enganador, imprevisível; rouba, mente, é astuto, burlão, um sociopata encantador, ambicioso, confiante, inovador, à vontade, amistoso, com grande círculo de amigos, vagabundo, vive em ziguezague, testa os limites e começa facilmente. É solteiro, com muitos filhos; salva a criança no adulto também, podendo revelar aos outros o caminho. É infiel, quer sempre novas aventuras; pode seduzir, manipular, mentir para conquistar durante a perseguição; se se sente preso vai-se embora. Precisa de controlar-se, respeitar as pessoas, a autoridade, e esforçar-se por acabar.
Ares é o deus da guerra, o guerreiro, quer conflitos, combates, batalhas, lutas, discórdias, destruição, acção, matança – é o típico agressor familiar. Corresponde a Marte. É violento, irracional, instintivo, impulsivo, sensual, reage espontânea e fisicamente, com o corpo, o qual habita, descontrolando-se; é dançarino, amante, ávido, rude, individuado, temido, vive no presente, sem estratégia, tem muitos filhos ilegítimos e amantes; é empenhado, gosta de camaradagem e procura a ascensão social. É apanhado em adultério, faz amor pelo prazer físico de forma exuberante; pode ser pai sem querer. Deve desenterrar as mágoas e dominar-se.
Hefesto é o deus da forja, artesão, inventor, solitário. Corresponde a Vulcano. É artista, deformado, aleijado, física e psiquicamente, rejeitado e deseja aceitação e beleza. É trabalhador, produtivo, criativo – produz objectos perfeitos, belos e funcionais – concentra-se e dedica-se ao trabalho manual, seja na oficina, no estúdio ou no laboratório. É vulnerável, sente muito profundamente, calado, reservado – não fala sobre os seus sentimentos, evita o diálogo, o namoro, é introvertido e cisma; é teimoso e não se associa. É o bobo, dissonante, o palhaço que faz rir, ansioso, sem confiança. É também o guardião da paz, conciliador, apaziguador. É fiel, monógamo e enganado, tem poucas relações significativas e espaçadas; precisa de uma mulher que o inspire criativamente; apesar dela ser um tesouro pode negligenciá-la e dispensar as relações sexuais; não tem filhos. Deve fazer uma catarse emocional e encontrar pais adoptivos que o valorizem.
Dionís(i)o é o deus do vinho e do êxtase, desejando-o; místico, amante, vagabundo. É desmembrado, dualista, em conflito íntimo (da sensualidade ao misticismo), tem humor variável. Fervoroso, exuberante, com instinto muito intenso, consciência corporal, sensual, inconformista, feminino, tem uma contracultura, sonhador, apaixonado. Identifica-se com Hades. Gosta da beleza e das mulheres. Está cercado delas e procura o êxtase sexual – a sexualidade é uma preocupação fundamental; é o playboy sensual e não assume as responsabilidades tradicionais. Deve aceitar-se.
Aterragem divina

Segundo Jean Shinoda Bolen
, a memória genética do nosso património psicológico está a mudar: dos deuses-Céu - poder-medo-coação-competição - para os deuses-Terra - amor-coragem-liberdade-solidariedade.
A sociedade e cultura patriarcal (deuses-Céu) – extrovertida (orientada para o mundo exterior, para a objectividade e informação) e competitiva - estão baseadas no poder, no medo; valorizam o controlo, o pensamento racional, a distância e frieza emocional; oprimem o corpo, o instinto e desvalorizam o manual. Os pais reinam de cima e à distância, consomem a autonomia e o crescimento dos filhos (temem que os possam derrubar), tratam-nos mal e dominam as mulheres; têm poucas oportunidades para criarem vínculos afectivos – são emocionalmente ausentes e fisicamente pouco presentes.
Pelo contrário, a sociedade e cultura matriarcal (deuses-Terra) – introvertidas (concentram-se nas reacções internas, na subjectividade e nos sentimentos) e solidárias - baseiam-se no amor, na liberdade. Os pais amam profundamente os descendentes, interagem diariamente com a família, que é o seu principal foco, são a segurança e permitem o crescimento e independência dos filhos. A mulher, fortalecida, verbaliza os seus valores e percepções, é uma mãe sábia e forte, capaz de intervir para proteger os filhos. Este modelo civilizacional privilegia as pessoas e as relações.
Métis, a deusa da sabedoria, Sofia, a Mãe Natureza, é recuperada e com ela emerge a ecologia, a consciência global, a vinculação aos outros, à terra, à vida, à celebração dos ciclos e estações. É o ressurgimento de um progenitor, a mãe, a deusa, que havia sido engolida por Zeus e esquecida, e que permitirá que o filho de ambos nasça e suplante o pai. Esta mudança de modelo civilizacional pode ser representada no Deus ciumento e vingativo do Velho Testamento para o Deus afectuoso e clemente do Novo.

[1] BOLEN, Jean Shinoda - Os deuses em cada homem, Planeta Editora, 2000.[2] Quando os arquétipos se tornam carregados de emoção são chamados de “complexos”.

Etiquetas: , ,

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Vi(d)a rápida?

Perto do atraso de uma hora, na madrugada de Domingo, reflectimos sobre o “vírus” da pressa, que nos põe à mercê dos ponteiros do relógio, cinco anos depois do primeiro dia nacional nos EUA pela diminuição das horas de trabalho e a defesa de mais tempo livre para o lazer.

Texto e fotografia Dina Cristo

Quem, hoje, não está ocupado? Poucos. E quem não está por vezes parece estar. Estar ocupado tornou-se uma espécie de estatuto social elevado: quanto mais atarefado mais importante se parece ser. Parar, fazer uma pausa, estar disponível parece ter sido relegado para o mundo dos fracos e indigentes. Mais do que isso, os humanos são de tal forma “elevados” que correm e vivem continuamente apressados, para aqui e para ali, fazendo isto e aquilo, atarefados entre um compromisso e outro, entre uma e outra chamada telefónica, @mail, e os mais afazeres que a tecnologia nos possibilitou.

«Na maioria da humanidade», escreveu Max Heindel, «existe tal preponderância de egoísmo e um desejo tão veemente de tirar o maior partido possível da vida física, que os seres humanos se encontram sempre ocupados, seja em manter o “lobo fora da porta”, seja acumulando posses e cuidando delas. Daí que tenham pouco tempo ou inclinação para se ocuparem com a cultura da alma, tão necessária para o verdadeiro êxito da vida»[1].
Para além das nossas actividades, sempre “importantes” e quase sempre urgentes, homens e mulheres esforçam-se por ser os primeiros: na escola, no trabalho, na estrada. Chegar primeiro é ser “mais” do que os outros e acrescenta ainda uma sensação de mais “poder”. É, assim, que muitas vezes já não corremos mas “voamos”, e algumas vezes nos estatelamos. Nesta correria, esquecemo-nos de que estar ocupado é estar preso, como explica Luís Martins Simões, é não deixar vago o lugar para tudo o que o agora nos pode presentear, e de que os últimos são os primeiros.
Embora os lamentos acerca da falta de tempo sejam habituais, o horror à pausa (como ao silêncio ou ao espaço vazio) parece ser ainda maior. E assim ocupamos excessivamente os tempos livres (talvez a mesma disfunção que leva a condicionar o ar) tentando encaixar numa vida, numa década ou, de preferência, num ano, quem sabe numas férias, todas as experiências possíveis. Para poder viver e fazer tudo só aumentando o ritmo. E foi o que fizémos: tudo, cada vez mais rápido. Fotografias num minuto, consertos rápidos, “conversas” de 30 segundos, crescimento intensificado (mesmo de crianças), canções concentradas num refrão.
Infectados pelo vírus da pressa, contagiamo-nos e de aguda tornou-se em doença crónica. A preocupação em gerir o tempo de forma eficaz gerou o aparecimento de gurus que nos aconselham a poupar tempo ao segundo. Só que a contabilização cada vez mais precisa do tempo torna-nos autênticos neuróticos, numa relação com o tempo patológica, perigosa e disfuncional.
Há mesmo quem sonhe em travar o tempo e o “anuncie” como marca do seu serviço e até bancos do tempo, onde as actividades são gratificadas consoante as horas dispendidas e não segundo o valor de mercado de cada serviço. Em Portugal existem agências desde 2002. Pagamos o trabalho com aquilo que, em cada época tem, para nós, mais valor. Se outrora fora o sal (daí o salário) e hoje é o dinheiro, quem sabe se no futuro vai ser o tempo a retribuição do exercício profissional.
Mas o tempo não tem todo o mesmo valor. O mundo, que se tornou num gigantesco centro mundial sempre acessível, potenciado com a internet, dá-nos essa ilusão. Quase tudo está a qualquer hora ao nosso alcance. Em Portugal a “revolução” começou com a abertura dos hipermercados ao Domingo e não mais parou. Fazem-se compras indiscriminadamente, de dia e de noite, à semana e ao fim-de-semana, durante a hora do almoço ou do jantar, nos dias profanos ou sagrados. Sempre as festas (diárias) das novas aquisições.
Desrespeitámos as tradições, os ritmos naturais e passámos a ter tudo sempre. É o caso da fruta que, congelada e vinda de vários países, temos durante todo o ano, a luz artificial que nos permite fazer da noite dia e trabalhar como se houvesse luz do sol. Mas, recorda Carl Honoré[1], a natureza tem os seus próprios horários e há uma altura certa para tudo. O Sábado, por exemplo, é um dia consagrado ao descanso (de onde vem a dispensa sabática) e não ao trabalho, muitas vezes duro, como se vê por quase todo o lado.
Desafiámos também os nossos próprios limites, até a (e à) morte. Quando aceleramos em excesso colocamos a vida em perigo, corremos o risco, na estrada, no trabalho (onde se verificam vários óbitos devido ao excesso de actividade) e na vida, com todo o desgaste orgânico gerado pelo stress continuado e de cuja tensão resultam inúmeras doenças. Radicalizamos, mesmo no desporto.

Devagar que tenho pressa

Queremos ser tão despachados por fora, que acabamos empachosos por dentro. Como, entre tanta pressa, sem tempo para “intervalo” – quantas vezes mesmo o natural e vital sono – havemos de assimilar e digerir tanta “comunicação”, experiências e “novidades”? Como, sem reflexão, atingiremos a consciência? Como, à força de assumirmos ritmos e horários apostados no trabalho sem tempo para a vida – incluindo o tão sonhado tempo para nós próprios e as coisas (às vezes mais simples) que nos alimentam a alma e nos devolvem a felicidade e alegria – não nos desumanizamos?
Haverá forma de nos protegermos desta doença do tempo, a necessidade gerada pela tecnologia de termos e fazermos sempre mais – mesmo à custa de sermos cada vez menos – com uma sensação crescente de falta de tempo e a mania de poupá-lo?
Desacelerar, como explica Carl Hororé no seu livroO movimento slow[2], é um risco numa sociedade apressada, competitiva e materialista. Abrandar tem um preço e os Lentos sabem-no bem. Mas deixar voluntariamente uma carreira de alta tensão, estatuto e lucros para adoptar uma vida mais simples, criativa, e descontraída tem inúmeras vantagens e uma delas é a de ser mais feliz.
Podemos começar por recuperar quer a sensação de ter tempo suficiente quer o auto-controlo. O primeiro passo - após a tomada de consciência de que o poder de escolha é nosso - é “dizer não” e optar: libertar a agenda e deixar espaço de tempo livre para passatempos que nos agradem, enriqueçam e alegrem ou, quem sabe, aproveitar para visitar o Museu do Relógio António Tavares D`Almeida, em Serpa.
Em relação às outras tarefas, seremos mais eficazes se tivermos em conta dois factores: primeiro, começar pelo essencial, depois o importante e no final o acessório; segundo, aproveitar os 20% de tempo em que atingimos os 80% de produtividade – período variável consoante os casos. Seja como for é importante manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida ou, como sugere Louise Hay, dedicar oito horas por dia ao trabalho, ao lazer e ao descanso, bem como saber aplicar diferentes velocidades consoante as circunstâncias internas e externas, como indica Carl Honoré.
Não se trata de deixar de “correr” com fundamento, mas reconciliar-se com arte do fabrico manual, atentar ao aqui e agora, sem dele tentar escapar, saber dar tempo ao tempo, porque “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, ser capaz de relaxar, parar ou, simplesmente, contemplar. “Não fazer nada, ser Lento, é essencial para se pensar bem” lembra Carl Honoré.
Por outro lado, “Ler implica tempo para reflectir (…)”[3], como lembra Paul Virilio, e “Tudo o que seja digno se ser lido é digno de ser lido lentamente”, reforça Cecília Howard. Para Uwe Kliemt “É estúpido beber um copo de vinho rapidamente. E é estúpido tocar Mozart muito depressa”[4]. É hora, pois, de reconhecer as virtudes da tartaruga.


[1] HEINDEl, Max - Princípios Ocultos de Saúde e Cura, Cap.V, pág.5. [2] HONORÉ, Carl - O movimento slow, Ed. Estrela Polar, 2006. [3] Citado por Carl Honoré [4] Citado por Carl Honoré

Etiquetas: , ,

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Jornalismo (e) audiovisual VIII

Nesta última parte abordamos as práticas profissionais: o agendamento, a distorção e a construção da realidade.


Texto Dina Cristo

Como vimos no artigo anterior, os órgãos de informação não reproduzem apenas os acontecimentos, criam-nos. Não se trata, contudo, de uma manipulação explícita, reflectida e ponderada, mas antes de uma distorção inconsciente, motivada mais pelo modo como funcionam as redacções do que pela vontade do jornalista.
Segundo o “agenda-setting
”, há uma relação directa entre a representação da realidade feita pelos pelos meios de comunicação social e os conhecimentos adquiridos pelos destinatários. “As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os "mass media" incluem ou excluem do seu próprio conteúdo”[1].
O pressuposto desta hipótese é que os "mass media" constroem a imagem da realidade social. “All the king`s men”, por exemplo, dá a ver exactamente o papel da imprensa na construção da imagem de um político; “The fountainhead” é uma reflexão sobre o poder (e também os limites) da imprensa na (de)formação da opinião pública (aqui, a imprensa, com falta de conteúdo, lança uma campanha difamadora contra um jovem arquitecto individualista). “Call northside 777”, por outro lado, mostra a forma como a imprensa pode também, se bem utilizada, contribuir para o esclarecimento público.
Condições como a acumulação, a consonância e a omnipresença são consideradas favoráveis à formação de uma opinião pública que, por sua vez, contribui de forma decisiva para a construção da imagem que os consumidores de informação fazem do mundo.
Um dos filmes onde está bem presente o poder que a informação detém na formação da opinião pública é “The citizen Kane”. “As pessoas pensam o que lhes disser para pensar” – uma frase arrebatadora do magnata da comunicação social cuja quantidade de jornais e rádios consegue transformar a opinião geral do público a favor das suas convicções (ou caprichos).
As pesquisas realizadas no âmbito desta teoria salientam que aquilo que é valorizado pelos "mass media" adquire, numa relação proporcional (quer nos temas escolhidos quer na sua hierarquização), maior importância nas agendas individuais, ou seja, nas preocupações de cada indivíduo. Este facto mostra a influência que os meios de comunicação de massa adquirem na mundividência humana.
Hero”, ao catapultar um sem abrigo para o ecrã, transforma-o em figura pública e praticamente o eleva à categoria de herói nacional. Alguém que lidava quotidianamente com a indiferença vê-se, de repente, alvo de todas as atenções, em toda a parte, por toda a gente. Tudo isto quando a personagem em questão não correspondia ao “anjo do voo”; o verdadeiro, o que salvou os sobreviventes de um desastre de avião, continuava a ser ignorado.
Trata-se de um exemplo de como as distorções ocorridas na produção de mensagens se reflectem sobre o património cognitivo dos destinatários. Os indivíduos que apenas conhecem determinado facto através da mediação dos meios de comunicação social tomam as distorções por realidades efectivas e modelos pelos quais os conhecimentos futuros serão avaliados.
Por outro lado, os destinatários passam a experienciar realidades não vividas efectivamente, mas mediatizadas e que alguns telespectadores acreditam ser mais reais do que a própria vida. Elementos tipicamente televisivos como as controvérsias, os empolamentos, os aspectos insólitos são tidos como reais. “Assim, a alienada ilusão que a televisão favorece promove a indistinção entre a realidade e a fantasmagoria dessa mesma realidade”[2].
Newsmaking
Os estudos sobre a produção de notícias relacionam a imagem social fornecida pelos "mass media" não apenas com a selecção de notícias realizada por um “guarda de cancela”, como afirmavam os estudos sobre os “gatekeepers”, mas sobretudo com a produção rotineira dos aparelhos jornalísticos e a organização das estruturas informativas, por um lado, e com o trabalho redactorial, valores e cultura profissional do jornalista, por outro.
Broadcast News” demonstra-o de forma muito clara. Em que contexto se situará uma estrutura que se desmorona pelo facto de não ter planeado as noites de Quarta-feira e que na mesma reunião em que decide fazer um corte de 24 milhões de dólares (com o consequente despedimento em massa) opta por cobrir o julgamento do assassínio do Alasca; uma redacção onde as respostas a uma pergunta “eticamente difícil” (se gravariam uma descarga eléctrica) são claramente afirmativas e onde, principalmente, se lança Tom, sem qualquer experiência ou provas devidamente prestadas, na apresentação do ataque do avião líbio à base americana na Sicília quando Aaron já estivera em Tripoli, entrevistara Kadhafy e fizera uma reportagem em 1981.
Que valores estarão a ser considerados quando se marginaliza o trabalho de Aaron e se aprecia a total futilidade de Tom que não sabe escrever e não passa nos mais elementares testes de cultura geral? Afinal, sempre se consegue sobreviver à custa, em grande parte, da boa aparência; o domínio das técnicas televisivas, a sua aptidão para vendedor, o sentido de sedução e a atitude assumida perante a comunicação (mais de excitação do que de nervosismo) fazem o resto. Independentemente se estão correctos ou não, são estes os valores que fazem o sucesso televisivo, e não apenas em “Broadcast News”.
Assim, são as práticas profissionais ligadas às “routines” produtivas bem como os valores partilhados e interiorizados quanto ao modo de desempenhar a função de informar que provocam uma distorção inconsciente e independente da vontade do jornalista.
Trata-se de uma distorção involuntária por parte do jornalista mas, muitas vezes, como já vimos, da responsabilidade dos directores dos meios de comunicação social. “Each dawn I die” é um caso típico. Neste filme é o próprio director a cortar o trabalho de denúncia de um repórter sendo este falsamente acusado de crime e encerrado numa penitenciária. Em “Defense of the realm”, a investigação de um jornalista sobre a iminência de um acidente nuclear sofre pressões de todos os lados a começar pelo director do jornal que não publica a peça. Tratava-se de segredos oficiais – disse – e há coisas em que não se pode tocar.
Mas não haverá filme tão elucidativo sobre a influência (negativa) dos directores relativamente aos jornalistas e a ilusão destes em considerar que o seu olhar corresponde à verdade como em “Absense of malice”. Aqui, Megan, a jornalista, é persuadida pelo seu director e conselheiro legal do jornal de que pode levar a história (o desaparecimento do líder da união de estivadores cujas culpas foram propositadamente insinuadas erradamente sobre um pacato vendedor) tão longe até eles poderem provar a sua ausência de malícia (a legalidade, tal como em “The mean season”, é colocada antes da ética).
Na prática, o que se verifica é que os ideais profissionais se submetem ao grupo redactorial e o jornalista vê-se limitado quanto à recolha de notícias e determinado a apresentá-las sob critérios que incrementam a mediocridade e não a qualidade. É o que sucede a Jane e Aaron. Este, atento ao assunto, afirma: “Pouco a pouco, (Tom) baixará os nossos padrões onde eles são importantes”.
Broadcast News” sugere também a situação televisiva mais geral, um meio que transmite a entrevista de Arnold Schwarzenegger, em que o apresentador mais eficaz não é o melhor profissional, um "medium" onde se passa na mesma noite, em todos os canais, um apontamento com animais em detrimento de uma mudança política sobre o nuclear. Um contexto que Jane não deixa de alertar no congresso de jornalistas.
Para que um determinado acontecimento se transforme em notícia é necessário preencher os requisitos de noticiabilidade. A aptidão para se tornar notícia é avaliada em primeiro lugar pela sua importância e interesse. Mas os valores são múltiplos; relacionam-se quer com o produto em si – necessidade de ser breve, inédito, insólito, anormal, actual e que tenha ritmo, acção - com a especificidade do meio de comunicação, com a precisão de manter a atenção e o interesse do público (segundo este critério, quanto mais sangrento é o espectáculo maior é o valor da notícia) e até a própria concorrência. Neste último factor verifica-se que origina a “caça” aos exclusivos, mas leva a uma uniformidade de coberturas (todos mostram o mesmo) – normalmente de personalidades de elite – sem permitir uma inovação de assuntos.
Para este facto contribui igualmente a própria máquina produtiva que, perante a necessidade de manter uma certa funcionalidade ante a dinâmica informativa, adapta os acontecimentos a uma estrutura pré-existente. É nesse contexto que fontes de informação oficiais ou grupos de pressão, dada a sua credibilidade, por um lado, e o fornecimento dos elementos que correspondem às necessidades dos "mass media", por outro, predominam como informadores; são normalmente estas organizações que possuem porta-vozes cujas declarações são noticiáveis.
As agências noticiosas permitem a cobertura informativa internacional mas contribuem para a homogeneidade da informação e da mundovisão dos telespectadores. O sistema de permuta através da Eurovisão (baseado em acontecimentos previstos e oficiais) é outro exemplo que contribui para a uniformidade, também com ênfase em factos político-institucionais.
As agendas de serviço, que permitem a planificação, são no entanto uma “encenação implícita das notícias”[3], na medida em que correspondem a uma produção antecipada, além de impedirem, muitas vezes, o jornalismo de pesquisa ou de investigação, como admite Schlesinger.
Os valores mantêm-se durante a apresentação, quando a atenção é focalizada nos aspectos mais importantes e chamativos dos factos mais extraordinários. O que daqui resulta é a “enfatização das enfatizações”, como refere Gans[4].
A fragmentação da imagem da sociedade, dada de forma superficial e desconexada, resulta da justaposição das notícias que são apresentadas como auto-suficientes. Desta forma, podemos concluir que os factores de noticiabilidade permitem a cobertura informativa quotidiana mas descuram o aprofundamento e a compreensão.
Como me disse Marc Piault, antropólogo visual, “Não é suficiente captar as imagens, é preciso entendê-las, caso contrário, arriscamo-nos a assistir, como acontece, a uma desinformação sistemática”[5]. Para este cientista social, o essencial não deverá ser expor as imagens mas sim explicá-las, torná-las compreensíveis e dar-lhes um contexto, pois só dessa forma terão uma utilização prática.
Acabámos de ver como muitas das situações reais, desde a espectacularidade e encenação dos factos até à construção da realidade no jornalismo televisivo, foram focados no cinema de jornalistas. Sob a capa de puro entretenimento, o cinema transmite muita informação correcta.



[1] SHAW, E. – “Agenda-setting and mass communication theory”, Gazette (International Journal for Mass Communication Studies), vol.XXV, nº2, p.96-105 apud Mauro Wolf – Teorias da Comunicação, p.128. [2] SOUSA, Jorge Pedro – Incógnitas da incerteza – reflexões sobre jornalismo e comunicação humana a propósito da guerra do golfo, p.71. [3] ELLIOT, Golding – Making the news, Longman, 1979, p.93 apud Mauro Wolf, op. cit., p.211. [4] GANS, H. – Deciding whta`s news. A study of CBS evening news, NBC nightly news, news, Newsweek and Time, Pantheon Books, 1979, p.92 apud Mauro Wolf, op. cit., p.218. [5] Entrevista pessoal no âmbito de um seminário sobre antropologia visual, realizado na universidade Aberta, no Porto, em Setembro de 1993.

Etiquetas: , ,

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Saúde à mesa

Na véspera do Dia Mundial da Alimentação (DMA) recorrermos a uma autoridade para saber como retirar dos alimentos uma óptima nutrição.

Texto Dina Cristo

Entre o grupo dos nutrientes estão os macro - essenciais (e) em grandes quantidades diárias, como as proteínas, os hidratos de carbono e as gorduras - e os micro-nutrientes - necessários em menores quantidades, como as vitaminas e os sais minerais.
Entre os macro-nutrientes, as proteínas constituem o material básico de todas as células, são como blocos de construção do corpo - conjunto de núcelos altamente organizado, composto por 66% de água, 96% de carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto e 4% de minerais – que se renova a cada sete anos e tem uma enorme capacidade de resistência. Há 25 aminoácidos: oito são básicos, aqueles a partir dos quais se formam os restantes 17.
Os hidratos de carbono são o principal combustível do corpo humano. Existem os de libertação rápida – que elevam depressa os níveis de açúcar no sangue e alimentam micro-organismos indesejáveis - e os de libertação lenta – uma "gasolina" menos poluente.
Quanto às gorduras, há as saturadas (mais negativas), as mono-instauradas (neutras) e as polinsaturadas (mais positivas). As essenciais, como a Ómega três permite o fabrico do ácido alfa-linolénico e Ómega seis o ácido linoleico, que por sua vez produz o ácido gama linolénico, dando origem ao ácido di-homogama-linolénico que cria, então, as prostaglandinas.
Entre os micro-nutrientes, as vitaminas auxiliam a transformação dos alimentos em energia. Outras são antioxidantes (semi) essenciais. A vitamina C, por exemplo, além de evitar a oxidação, é antiviral, antibacteriana e anticancerígena.
Os sais minerais ajudam a adormecer. Há macro-minerais – necessários em grandes quantidades, como o cálcio (que mantém o equilíbrio entre o ácido e o alcalino), o magnésio, o sódio, o fósforo, o potássio - e os micro-minerais – como o ferro, manganésio, cobre, crómio ou selénio.
Anti-nutrientes


As toxinas são oxidantes, radicais livres que ao acumularem-se provocam uma lesão e dores. Quando o oxigénio, que liberta a energia dos alimentos, oxida as moléculas vizinhas, torna-se num equivalente orgânico aos resíduos nucleares. São produzidos durante uma infecção (quer pelos parasitas, bactérias, fungos, vírus quer pelo sistema imunitário) causando danos ao ADN das células. Pode ajudar-se a eliminá-los através da massagem linfática. São exemplos de toxinas o chumbo na gasolina, os aditivos alimentares, os poluentes na água ou os fritos.
Os antibióticos eliminam todas as bactérias do corpo, as más e as boas, como é o caso das intestinais saudáveis, abrindo caminho à multiplicação das prejudiciais. Além disso, há os supermicróbios – os agentes infecciosos que lhes são resistentes.
O stress pode ser físico, emocional (raiva, preocupações, medos ocultos), que causa artrite, ou mental: começa na mente – eleva o nível de açúcar no sangue, o que leva o organismo a libertar maior quantidade de hormonas (como a insulina – que ajuda a transportar a glucose do sangue para as células) para o controlar, quando não é necessário; trata-se de substâncias bioquímicas que estão no sangue, produzidas por determinadas glândulas, que dão instruções às células.
O stress é um estimulante que coloca as células em estado de tensão, consumindo os nutrientes (como o magnésio, o zinco) e a energia. Tornamo-nos como um automóvel em velocidade excessiva gastando os seus componentes. Isso leva à infertilidade, à depressão, ao isolamento social, à indigestão – processamento inadequado da matéria orgânica, devido à falta ou excesso de ácido no estômago, o que provoca gases; acontece no Síndroma Geral de Adaptação. A prazo, conduz ao esgotamento da glândula supra-renal DHEA.
O açúcar leva à perda de energia e ao stress. É importante ter níveis de glucose em circulação no sangue equilibrados; a sua diminuição causa fadiga mental, irritação, agressividade, depressão e dores de cabeça.
Conselhos
Tendo em conta que, no conceito de Patrick Holford, a saúde corresponde a um rendimento físico, um equilíbrio emocional e uma vivacidade intelectual (e a duração da vida depende da herança genética e das circunstâncias, tais como a exposição a vírus) os conselhos (alimentares) são os seguintes: preferir alimentos biológicos, locais, da estação, frescos, crus ou pouco cozinhado, variados, protegidos da luz e do ar; só comer quando se tiver fome e o que necessitamos; beber dois litros de água por dia; tomar o pequeno-almoço cerca de uma hora depois de acordar e duas horas, pelo menos, antes do deitar; diluir água nos sumos; adoçar os cereais com fruta e usar neles sementes moídas; manter-se activo, fazer ginástica aeróbica e relaxar os músculos, evitar o tráfego, a luz solar forte e preferir salteados a fritos, embalagens de vidro a plástico.
Ficam ainda outros conselhos como a necessidade de ter as hormonas de estrogénio (estimula a libertação do osso velho e diminui na menopausa) e progesterona (estimula as células que constroem os ossos novos; é fabricada no saco que contém o óvulo e desaparece na menopausa) em equilíbrio. O predomínio de estrogénio bem como a substituição hormonal aumentam o risco de cancro da mama.
Entre as muitas informações de que o livro está repleto, encontra-se a imunidade. Esta é dada por células no sangue, as B, T e os macrófagos, que impedem os vírus de entrar nas células. É estimulada pelo exercício físico calmante, meditação, alimentação e danificado pelo stress, depressão/luto e excesso de proteínas (que causa acidez). É apropriado para o seu fortalecimento sumo de melancia, sopa de cenoura, grande salada, chá de unha de gato, o zinco, a vitamina C e E.
O autor aconselha a comer fruta fresca: maçã, pêra, limão, melancia, melão, cereja, papaia, ameixa, ananás, morangos, amoras, uvas, manga, toranja, kiwi, laranja, alperce. Legumes, hortaliças e tubérculos: ervilhas, espinafres, feijão verde, pimentos, agrião, cenoura, batata-doce, brócolos, couve-de-bruxelas, aipo, couve-galega, repolhos, couve-flor, espinafre, pepino, cebola, alho, rábano, couve rábano, rabanetes, nabos, cebolinho, alho francês. Óleos: de sésamo, girassol, abóbora, linhaça, amêndoas, nozes, milho, onagra, avelã, caju, margosa, cártamo, gérmen de trigo, borragem, cânhamo e soja. Peixes: cavala, arenque, salmão e atum. Soja, tofu, ovos, algas, quinoa, iogurte, miso, rebentos, bagas de roseira brava, extracto de caroço de toranja e a especiaria açafrão da Índia.

[1] Ed. Presença. 2004.

Etiquetas: , ,

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Arruinamo-la?


Depois do Dia Nacional dos Castelos, ontem, divulgamos o caso de uma torre de defesa, a oito quilómetros de Coimbra. Tem quase um milénio e, dividida entre a responsabilidade de diversas autoridades, ameaça ruir. Uma reportagem realizada há quatro anos pelo autor no nosso logotipo. Descubra as diferenças.

Texto e fotografia Bruno Ferreira

«Quatro ruazinhas floridas e uma torre. À volta desdobram-se as colinas e os montes». É à simplicidade destas palavras que Margarida Ribeiro, autora do livro Torre de Bera, reduz esta pequena aldeia da freguesia de Almalaguês. Situada a oito quilómetros de Coimbra, Torre de Bera mantém há quase um milénio o ex-libris que lhe deu o nome: uma torre de defesa.
A aldeia é pacata e tipicamente coimbrã. O seu tipicismo valeu-lhe a representação da Beira Litoral no famigerado concurso de 1938, Aldeia mais portuguesa de Portugal. Disputou arduamente o primeiro lugar com a de Monsanto, conseguindo a menção honrosa de segunda aldeia mais portuguesa de Portugal.
O desenvolvimento desfigurou a terra que hoje se esforça para reaver o tipicismo do passado.
Torre de defesa
Embora não haja concordância relativamente ao século exacto da sua edificação, autores como António Nogueira Gonçalves (criador do Inventário Artístico de Portugal: distrito de Coimbra, 1952) pensam que a torre «deve pertencer historicamente à época dos condes e aos princípios do século XII». Por sua vez, o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), após ter encontrado algum material romano no local, reconhece que a construção da atalaia «parece apontar para uma cronologia ligeiramente recuada, muito provavelmente em pleno século X», há 1000 anos.
Acredita-se ter sido construída por populares para o refúgio dos senhores e que faria parte da linha de defesa do sul de Coimbra, ao longo do Rio Dueça, que compreende a edificação de torres semelhantes em Castelo Viegas, Monforte, Sr.ª da Alegria (na freguesia de Alamalguês) e a comunicação com as grandes construções de Coimbra, Miranda do Corvo e Penela.
Da grandiosidade de outrora restam apenas duas paredes, a de sul e poente, e não há escritos anteriores à queda do ângulo noroeste.
Se há bem poucos anos os populares se juntavam para limpar os acessos à torre, as imposições dos novos tempos retiraram a possibilidade de realizar essa tarefa.
Em 1995, a vigia foi entregue ao IPPAR que hoje tem a sua tutela, tendo em 2003 proposto à Câmara Municipal de Coimbra a sua classificação como «imóvel de interesse municipal» de acordo com um despacho assinado pelo Engenheiro Carlos dos Santos Rodrigues (director da Direcção Regional de Coimbra do IPPAR).
Mudanças
Alterações visíveis de 1995 até hoje, só para pior e operadas pelo tempo. Mesmo os responsáveis pela Casa Municipal da Cultura de Coimbra não são capazes de responder se a torre é ou não um edifício de interesse municipal, embora a Presidente da Junta de Freguesia de Almalaguês, Ângela Fonseca, em entrevista, tenha garantido que sim.
Embora a responsável tenha revelado ao Jornal de Notícias a «vontade grande, de muita gente com responsabilidade, para avançar com a reabilitação da aldeia, que é um caso ímpar de beleza, na região e no país», a verdade é que os populares, como Luzia dos Santos, em entrevista, consideram que «a torre de defesa foi abandonada por quem de direito».
Em 1996, a Junta de Freguesia de Almalaguês pediu ao IPPAR uma vistoria à atalaia no sentido de serem tomadas «as previdências necessárias à sua preservação», segundo o despacho do IPPAR para a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN). As conclusões da vistoria foram as mesmas que António Nogueira Gonçalves havia chegado 50 anos antes quando, em 1949, escreveu o artigo «A torre de Bera” para o Diário de Coimbra: «verificou-se que o imóvel se encontra em ruínas, restando de pé praticamente só dois paramentos de paredes, e mesmo esses em muito mau estado de conservação». Mais à frente, o mesmo despacho mostra que as «paredes apresentam várias patologias como sejam fissuração, fenduração e destacamento de conjuntos de blocos nos paramentos». Este despacho indica também um plano de acção a seguir para a conservação do que resta do edifício, embora seja visível que tal plano não foi sequer posto em prática.
Já em 1949, António Nogueira Gonçalves alertava para o facto de «a ruína total estar eminente», criticando também as entidades competentes. O autor dizia que os técnicos que podem fazer alguma coisa não têm cultura para dar «valor à modesta torre» e que aos seus olhos ela «não passará de quatro paredes mal feitas». Chega mesmo a concluir o seu artigo no Diário de Coimbra, dizendo que este serve de «elogio fúnebre, se de salvação não lhe puder ser».
É curioso que o IPPAR, hoje, para caracterizar o estado da velha torre, cite António Gonçalves. Isso mostra que volvidos mais de meio século, não se fez rigorosamente nada e a torre de defesa, que enche de orgulho Torre de Bera, está, a cada dia que passa, a caminhar para o fim, sem que ninguém de direito faça alguma coisa para o evitar.
Casa Municipal da Cultura de Coimbra, Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, IPPAR, Junta de Freguesia de Almalaguês são algumas das instituições onde se pode obter informação acerca desta torre, mas o mais extraordinário é que não consegui apurar quais as responsabilidades de cada uma e, entretanto, o trabalho prático continua por fazer.

Etiquetas: , ,

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Revolução Lenta

Começa amanhã, até Domingo, a conferência anual da Sociedade para a Desaceleração do Tempo, em Wagrain, na Áustria. Oportunidade para, a partir do livro do jornalista Carl Honoré, levantarmos a ponta do véu sobre o movimento internacional em defesa da Lentidão.

Texto Dina Cristo

É um dos recursos mais democráticos: cada pessoa tem, por dia, exactamente o mesmo número de horas disponível para viver. Para alguns basta, para outros é demais e para muitos parece insuficiente. O tempo transformou-se numa espécie ora de recurso valioso a poupar o máximo e gastar o mínimo ora de inimigo a ser constantemente vencido. Tornámos, assim, a vida num campo de batalha, uma luta permanente para ganhar… tempo. Não o ter converteu-se numa das mais habituais queixas humanas e detê-lo um dos maiores sonhos.
Mas que fazemos quando o antevemos? Tratamos de o ocupar. Sobrecarregamos as nossas agendas, preenchemo-lo o mais que podemos. Um espaço vago deixou de ser motivo de satisfação para passar a ser mais causa de angústia.
Segundo Carl Honoré a nossa relação com o tempo alterou-se desde a industrialização, com os seus impulsos ao nível da urbanização e massificação - produção intensiva e padronizada, na qual a rapidez passou a ser sinónimo de maior quantidade de produtos fabricados, de mais vendas e, portanto, capital económico e lucros financeiros. O tempo acabou por ser encarado como um recurso produtivo: nasce então a ideia de que tempo é dinheiro e que para sermos materialmente mais ricos temos de nos… despachar.
A “cotação” do tempo subiu de tal forma que os operários passaram a ser pagos à hora e não de acordo com aquilo que realmente fabricavam. A pressão para se produzir mais em cada vez menos tempo não parou, dando pouca margem ao controlo de qualidade. A acção externa e reprodutiva ganhou ênfase. O tempo demorado, natural e pessoal, anterior à Revolução Industrial, como o artesão e a sua arte de produzir, manual, individual e lentamente, passou à resistência.
Com a chegada dos relógios públicos, o tempo padronizou-se e homogeneizou-se, passou a regular a vida colectiva, como fábricas e transportes, e os humanos a ser máquinas comandadas por outras máquinas, num grande sistema de produção quantitativa, intensiva e contínua. No século XX, com o automóvel, a televisão, o computador ou o telemóvel, a indução da velocidade foi ainda maior.
Depois da “era” da mitologia e teologia, a tecnologia tem-se apresentado ao olhar humano como um novo deus, ao qual umas vezes se teme e outras se preste culto e devoção e deposite a esperança na resolução dos problemas. Quando pensamos em todas as máquinas que a evolução tecnológica nos tem disponibilizado entendemos a sua idolatria: elas permitiram-nos fazer mais (depressa). Aumentaram o potencial das nossas actividades e deram-nos os meios técnicos para nos tornarmos (automaticamente) mais rápidos. A velocidade das nossas vidas aumentou e nós adaptámo-nos a um ritmo cada vez mais célere.
O tempo, outrora, natural, artificializou-se e passámos a obedecer ao, colectiva e publicamente, estipulado como o (mais) correcto. Simbolizado nos relógios de corda que deixámos de usar (e os quais dominávamos), deixámos de ter poder sobre o tempo para ser ele a determinar (toda) a nossa vida. Prescindimos de nos levantar quando acordamos, de comer quando temos fome, de dormir quando temos sono e passámos a fazê-lo quando… são horas ditadas pelos relógios-despertadores.
Velocificados
Hoje, em que o mundo se transformou num hipermercado permanente, o acréscimo de estímulos e a possibilidade de ocupar o espaço de tempo aumentou extraordinariamente. Com cada vez mais (compras) a fazer, nós corremos. Iniciámos uma corrida colectiva contra o tempo, como doença contagiante, e aceleramos de manhã à noite, no trabalho e em férias, na estrada e na vida íntima. Hoje em dia, afirma Carl Honoré, o mundo inteiro está doente do tempo; todos pertencemos ao mesmo culto da velocidade, fora de controlo. Tornámo-nos velocificados.
Passámos a ter vidas frenéticas dirigidas pelo relógio. Adaptámo-nos ao ritmo industrial, primeiro, hoje ao informacional, submetemo-nos à economia, desequilibrámos as horas dedicadas ao trabalho e à vida. O tempo passou a nosso Senhor, ao qual prestamos vassalagem, devoção e nos sujeitamos. Ser lento e/ou chegar atrasado tornou-se num crime/pecado ou motivo de crítica social, como reflectem as anedotas acerca dos alentejanos.
A nossa visão linear do tempo, como recurso finito, que parece “voar” de forma irrecuperável, também não ajuda. Os relógios, por seu lado, têm-se tornado cada vez mais precisos na medição dos minutos e (milésimos de) segundos e quanto mais o dividimos maior a consciência da sua passagem. Cresce então a obsessão por não o desperdiçar. Foi assim que nos tornámos neuróticos: passámos a acelerar por acelerar, muitas vezes por hábito, já sem saber porquê; apressar tornou-se um vício, um reflexo condicionado.
Falta de tempo?
Numa relação de amor/ódio, sonhamos com uma agenda livre, mas tememos e angustiamo-nos perante esse vagar. Ocupamos obsessivamente os tempos livres, de crianças e adultos, e não nos sobra tempo, mesmo para as coisas mais simples e relevantes, como a alimentação, a saúde, a família, os amigos, e menos ainda para as efectuarmos devagar. Enchemos as nossas agendas, reduzimos as férias, não admitimos ficar doentes, e, por vezes, só paramos em situações (muito) graves. Assumimos uma atitude do “sempre-em-frente-sem-parar-até-cair”.
À pressão tecnológica e social para estarmos permanentemente ligados junta-se uma ocupação permanente com compromissos sem fim, pelo que a disponibilidade é, na verdade, mais aparente, parcial e superficial do que efectiva. Ter todo o tempo do mundo para alguém ou alguma coisa, fazendo uma pausa para tudo o resto, desligando o telemóvel, por exemplo, é um “luxo” quando habitualmente dispersamos a nossa atenção por várias actividades, simultaneamente. A nossa capacidade de concentração parece cada vez menor. Sem ir ao fundo de cada coisa, desmotivamo-nos, porque mesmo todas juntas nos parecem insossas.
Deixámos de possuir tempo, passámos a ter pressa. A urgência deixou de ser extraordinária. A tendência para o imediatismo, em obter, fazer e/ou ter tudo já, passou a fazer parte das nossas exigências. Tornámo-nos intolerantes em relação a pessoas, locais e actividades lentas. Rebentamos de raiva quando algo ou alguém nos atrasa e nos rouba alguns segundos da nossa vida. Em vez de apreciarmos o caminho (o aqui e agora), optámos por uma vi(d)a rápida (de que as auto-estradas são um exemplo), obcecados em chegar ao fim da meta.
Intensificámos a vida e de tanto a concentrarmos, desgastámo-la, pré-enchemo-la, esvaziando-a de sentido. De tanto perseguir a satisfação, frustrámo-nos num ciclo de superficialidade que apenas conduz à sensação de carência, motivo da procura de mais (quantidade) que por sua vez gera a substituição permanente, a procura da última “novidade”, êxito ou conquista, sempre efémera e descartável. Procuramos acumular o máximo e entrámos num ciclo vicioso de - sensação de - falta de tempo: «O resultado é uma crescente disparidade entre o que queremos da vida e o que realisticamente podemos ter, que alimenta a sensação de nunca haver tempo suficiente”
[1], explica o jornalista.
Refúgio
Carregar no acelerador - seja o tecnológico, do carro, ou o biológico, das pernas – liberta adrenalina e produz uma excitação sensorial imediata, mas é mais do que isso. A velocidade é, ainda que por vezes inconsciente, uma estratégia de fuga à vida presente (como defende Milan Kundera) e futura – tentativa de esquecer a nossa condição mortal (como defende Mark Kingwell).
Uma forma de resistência, uma fuga e uma distracção: «A doença do tempo pode também ser um sintoma de um mal mais profundo e existencial. Nos estádios finais que antecedem a exaustão, as pessoas muitas vezes aceleram para evitar serem confrontadas com a sua infelicidade. Kundera pensa que a velocidade nos ajuda a bloquear o horror e a desolação do mundo moderno”[2].
Cada vez que aceleramos aumentamos a superficialidade da nossa vida. Podemos fazer mais coisas mas quantas vezes mal feitas (porqu)e só com o corpo, sem alma para as animar. À força de tanto querer ganhar tempo, acabamos por perdê-lo ao corrigir os erros que se cometem durante a rapidez (como a correcção de mensagens electrónicas), já para não falar nos acidentes (mesmo os de viação).
Pagámo-lo também com o desgaste da nossa saúde: entramos em stress, fadiga e exaustão. Se é verdade que a velocidade nos conduz mais rapidamente à excitação, também nos leva mais depressa à impaciência, ao aborrecimento. Já Gustav Mahler defendia que perante um público enfadado a melhor solução era… abrandar.
Slow is beautiful
Os Lentos, que resistiram ao longo do séc. XIX e XX, mas não desistiram nem deixaram de existir, reaparecem agora em grupos pró-slow. O despertar do turismo, com a procura do descanso, era já um sintoma, mais recentemente sublinhado com a corrente de lazer cuja “onda” se espalha.
Em vez de afazeres humanos ou teres humanos há cada vez mais pessoas no mundo que decidem arriscar assumirem-se como seres humanos. A “heresia” de desacelerar, descontrair, demorar e preguiçar estende-se desde a Europa à América, passando pela Austrália, Japão ou Polónia, e nas mais diversas áreas, da comida à sexualidade, do trabalho às cidades, da música ao desporto, da medicina ao lazer, da educação ao cinema, a marcha lenta engrossa e as atitudes lentas também.
A simplicidade voluntária (downshifting) é um exemplo entre inúmeros. Enquanto em Espanha há cadeias de sesta, em Portugal os seus amigos explicam as virtudes de uma soneca depois do almoço. A nível internacional demonstram-se os efeitos nocivos da velocidade e programas dedicados a passatempos, como a jardinagem, atingem audiências significativas, na BBC.
Os apóstolos Lentos não defendem que se faça tudo a passo de caracol (o que seria absurdo), mas a um ritmo mais razoável e apropriado, mais sensato, natural e à medida do Ser Humano – o eigenzeit: “(…) o que o movimento Slow oferece, é um meio termo, uma receita para casar a dolce vita com o dinamismo da era da informação. O segredo está no equilíbrio: em vez de fazer tudo mais depressa, faça-se tudo à velocidade certa. Por vezes, depressa. Outras vezes, lentamente. Outras, algures no meio”
[3].
Começou episodicamente em Itália, ao nível dos vagares culinários. Tem-se alastrado pelo mundo e pelas várias áreas da vida humana. Hoje os Lentos têm à sua disposição conferências, festivais e, sobretudo, a possibilidade de debater e experienciar viver (de)vagar e com vagar, uma alternativa saudável, natural e eficaz à vi(d)a rápida. Carl Honoré explica e exemplifica como é nas horas vagas que, mais relaxado e sensível, o Ser Humano atinge mais e melhor inovação e criatividade.
(Des)acelerar?
O movimento em prol da Lentidão defende a utilidade da calma (e a futilidade da pressa), a ideia de que menos é mais (e mais é menos), de que saber demorar, apreciar e prolongar o momento (e não fugir dele), saber esperar (em vez de se impacientar), ser capaz de, por vezes, não fazer nada, o que permite estar mais atento e conduzir à descoberta. Enquanto o abrandamento, vera segurança, permite, com a sua profundidade e consciência (como no caso das ondas cerebrais), uma evolução, libertação, relaxamento, qualidade de vida e felicidade, a aceleração, sinal de insegurança, leva, com a sua superficialidade e inconsciência, a uma repetição, prisão, tensão, quantidade e raiva, documenta o autor.
Os adeptos* de que o “slow é possível” propõem um modo de vida simples, criativo, extensivo e demorado. Para tal há que estabelecer prioridades e fazer uma escolha, optar por fazer menos coisas e, assim, libertar a agenda para as que, para cada um, têm mais valor e significado. Ter espaço para o tempo livre, para o descanso, a descontracção ou actividades relaxantes, como a leitura, pesca, jardinagem, caminhada, renda, meditação ou simplesmente estar à janela.
Os seus simpatizantes colocam a economia ao serviço das pessoas e do ambiente, em vez do contrário. Ao espírito lento está subjacente o ressurgimento da memória de um tempo cíclico. Para os hindus era infinito (Kâla), para os gregos era um deus, Chronos, para Asclépio era estável, pois tinha necessidade, para além do movimento, de voltar ao princípio.
Nós transformámos a quarta dimensão numa espécie de inimigo cujo combate é diário. Para a “doença do tempo” e a “orgia da aceleração”, os activistas pró-Lentos apresentam, no entanto, um remédio: desacelerar ou mesmo travar, se e quando necessário. Sem a pressão dos ponteiros do relógio, assumem o seu próprio ritmo e desfrutam dos prazeres que a lentidão oferece: “Cada prazer (…) é mais delicioso, mais um prazer, se for tomado em pequenos golpes, se dermos tempo”, afirma Amos Oz.
Trata-se, afinal, para os povos mediterrâneos, de nada mais do que a recuperação da sua identidade, no caso português bem patente em provérbios populares que expressam os perigos da pressa, como “depressa e bem há pouco quem”, “quanto mais depressa mais devagar”, e as virtudes da lentidão, como “devagar se vai ao longe”. Afinal, como afirma Uwe Kliemt “O mundo é um lugar mais rico quando damos espaço para velocidades diferentes”.

[0] HONORÉ, Carl – O movimento slow – A corrida contra o tempo afecta o trabalho, a saúde, as relações e o sexo. É possível desacelerar e recuperar a qualidade de vida?, Estrela Polar, 2006.
[1] Pág. 36. [2] HONORÉ, Carl – O movimento slow – A corrida contra o tempo afecta o trabalho, a saúde, as relações e o sexo. É possível desacelerar e recuperar a qualidade de vida?, Estrela Polar, 2006, pág. 38. [3] Idem, pág. 240
*Eis alguns dos livros citados pelo autor ao longo do texto: BEARD, George – Nervosismo americano (efeitos da velocidade). CLAXTON, Guy – Cérebro de lebre, mente de tartaruga – porque aumenta a inteligência quando se pensa menos. ELKIND, David – A criança apressada: crescer depressa demais cedo demais. KUNDERA, Milan – Slowness. 1996. LAFARGUE, Paul – O direito a ser preguiçoso. 1883. MACHLOWITZ, Marilyn – Viciados no trabalho (Workaholics). 1980. NADOLNY, Sten – A descoberta da lentidão. 1996. OIWA, Keibo – Lento é belo. OLERICH, Henry – Um mundo sem cidades nem campos (uma civilização em Marte onde o tempo era tão precioso que se tornara moeda). PASEK, Hirsch – Einstein nunca usou cartas flash: como aprendem realmente as nossas crianças e porque precisam elas de brincar mais e memorizar menos. ROBERTSON, Morgan – Futilidade. 1989. RIFKIN, Jeremy – Guerras do tempo. RUSSELL – Em defesa da ociosidade. 1935. SAMPSON – Tantra: a arte do sexo que expande a mente. SAVORY, George Washington – O inferno na terra transformado em paraíso: os segrdos matrimoniais de um empreiteiro de Chicago. STOCKHAM, Bunker – Sexo sagrado. STOCKHAM, Bunker – Toktologia. 1883. TALSMA, W. R. – O renascimento dos clássicos. Instruções para a desmecanização da música. WEHMEYER, Grete – Prestíssimo: a redescoberta da lentidão na música.

Etiquetas: , ,