quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Revolução social?


Após a entrada do Ano Novo chinês, olhamos para o ingresso de Plutão em Capricórnio, à luz da astrologia ocidental. Uma pista para compreender o alcance da crise mundial.

Texto e desenho Zita Leonardo

Em Astrologia aprende-se que tudo é cíclico e que o que acontece na dimensão física é o resultado dum propósito maior que terá como objectivo a fusão com a alma, segundo a obediência à Lei cósmica do Karma que restabelece o equilíbrio na Natureza.
É nesta perspectiva que tentarei observar a situação actual do nosso Planeta, à qual demos o nome de crise. Procurarei defini-la e encontrar-lhe o sentido, através da observação dos planetas no céu e em relação com a Terra, agora no novo ano astrológico.
A nossa atenção é imediatamente dirigida a Plutão, é ele o responsável pela crise. Regeneração é a palavra-chave para este planeta. Plutão transforma, destrói e recria o que, obviamente, seja em que contexto for, irá sempre provocar uma grande tensão. Plutão é uma porta para outro estado de consciência mais pleno, mais elevado. Ele liga-nos a uma outra realidade.
Estando Plutão a entrar em Capricórnio, qual o tipo de transformação que ele propõe? Será, basicamente, a transformação da realidade material com profundas mudanças nas estruturas de carácter social.
Existe a visão ideal dum mundo novo, com base em valores de fé, amor, esperança e confiança, mas a verdade é que continuamos apegados a certas estruturas assentes no passado. Para que a Força de Plutão seja substituída pelo Amor Sabedoria, é eminente a resolução do conflito que se manifesta nas lutas pelo poder, na dificuldade dos relacionamentos, no repúdio por qualquer tipo de autoridade, entre outros aspectos.
Há de facto muitas tensões, mas convém não esquecer que temos condições para superá-las e reverter o processo. Existe ainda grande capacidade de regeneração, grande intuição, impulso para a busca do lado místico e ajuda ao próximo, capacidade para superar a crise melhorando a relação com os valores emocionais, materiais e existenciais, através da criação de novos hábitos, do desenvolvimento de qualidades altruístas, recomeçando por aprender o que é necessário com o fim de servir o colectivo, recriando uma nova imagem de nós mais sublime, procurando recuperar do passado ancestral a nossa relação com o Sagrado.
É certo que Plutão pode ser o executante da Lei Cósmica neste espaço-tempo em que nos encontramos; se rege os mistérios e todo o tipo de saber oculto, com a sua ajuda podemos perceber que chegou o momento da decisão e que, como diz Puiggros, essa decisão depende exclusivamente de nós, já que somos o ponto de partida.
Podemos concluir que a crise é o meio de que o Universo se serve para nos desafiar a sermos mais do que homens e a confiarmos na nossa capacidade de trazer o céu à terra.

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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Nova Era




No discurso de tomada de posse, Barack Obama anuncia um voltar de página na história dos EUA.

Tradução Oscar Filipe Pinto


«Meus caros cidadãos:
Ergo-me humildemente perante a tarefa que se adivinha. Estou grato pela confiança que em mim depositaram e bem ciente dos sacrifícios que se adivinham. Quero agradecer ao presidente Bush pelo serviço que prestou à nação, bem como a generosidade e colaboração que tem prestado durante esta fase de transição.
Já são 44 os americanos que fizeram o juramento presidencial. Essas palavras já foram proferidas durante tempos de prosperidade e águas calmas de paz. Contudo, e muito frequentemente, este juramento é feito num cenário de nuvens escuras e tempestades furiosas. Até agora, os Estados Unidos têm se mantido firmes, não só por causa da competência e visão dos seus líderes, mas também porque nós, o povo, temos nos mantido fiéis aos ideais dos nossos antepassados e temos honrado a declaração da independência.
Foi assim, e também o será nesta geração americana.
Todos sabem que estamos em crise. O nosso país está em guerra com uma rede global de violência e ódio. A nossa economia sofreu um grande revés, consequência da ganância e irresponsabilidade de alguns, mas também temos que culpar-nos a nós pela nossa indecisão e falta de empenho em preparar a nação para uma nova era. Perderam-se lares; empregos; negócios faliram dramaticamente. O nosso sistema de saúde é demasiado caro; as nossas escolas chumbam demasiados alunos; cada dia que passa torna-se mais evidente que o nosso uso da energia apenas fortalece o nosso adversário e enfraquece o nosso planeta.
São estes os indicadores da crise, comprovados por estudos e dados estatísticos. Para além disto, nota-se uma crescente falta de confiança na nossa terra. Há quem diga que o declínio da America é inevitável e que cada vez mais teremos que ser menos ambiciosos.
Digo-vos que os desafios que temos pela frente são bem reais. São problemas muito sérios e que levarão o seu tempo a serem resolvidos. Mas fiquem sabendo: serão ultrapassados.
Hoje, escolhemos a fé sobre o medo, unimo-nos por um objectivo em detrimento do conflito e da discórdia.
Neste dia, podemos dizer adeus às falsas promessas do passado, às discriminações, aos dogmas gastos, que durante demasiado tempo têm estrangulado a nossa política. Continuamos a ser uma nação jovem. Chegou a hora de provarmos que temos um espírito duradouro; temos que escolher o lado bom da nossa história e carregá-lo em frente. Deus afirmou que somos todos iguais, somos todos livres e que todos temos o direito de perseguir o ideal da felicidade.
Temos uma nação grandiosa construída com grande esforço. Nunca percorremos um caminho fácil, nem seguimos por atalhos. Não tem sido um percurso para fracos – aqueles que preferem o descanso ao trabalho, os que perseguem apenas a riqueza e a fama. Este caminho tem sido, isso sim, um percurso para os que não têm medo de correr riscos, dos que realmente querem fazer a diferença.
Por nós, arrumaram os poucos bens que tinham e atravessaram oceanos em busca de uma nova vida.
Por nós, viveram vidas de tormento no Oeste; toleraram chicotadas e cultivaram a terra dura.
Por nós, lutaram e morreram, em lugares como o Concord(New Hampshire), Gettysburg(Pennsylvania), Normandia(França) e Khe Sahn(Vietname).
Vezes sem conta, estes homens e estas mulheres fizeram sacrifícios inimagináveis por uma vida melhor. Viram nos Estados Unidos algo maior que a junção de todas as nossas ambições; algo maior que todas as diferenças de nascença, de riqueza ou de grupo social.
Hoje, continuaremos a sua viagem. Ainda somos o país mais próspero e poderoso do planeta. Os nossos trabalhadores continuam a produzir o mesmo que produziam antes do início da crise económica. As nossas mentes continuam sãs, os nossos serviços continuam a ter a mesma procura que na semana passada, no mês passado ou até no último ano. A nossa capacidade continua inabalável. Contudo, os tempos de interesses pessoais acabaram. A partir de hoje, teremos que nos erguer novamente a nós e à América.
Por onde quer que olhemos, há trabalho que precisa ser feito. O estado da economia requer uma atenção especial e nós iremos agir em conformidade. Não criaremos apenas novos postos emprego, mas construiremos, também, estradas e pontes. Criaremos ligações eléctricas e tecnológicas para sustentar o nosso comércio e ligar-nos ainda mais uns aos outros. Iremos aumentar a qualidade da saúde e diminuiremos o seu custo. Iremos investir nas energias renováveis e transformar o nosso ensino. Podemos fazer tudo isto, e tudo isto será feito.
Há quem questione a nossa ambição. Acham que estamos a prometer demasiado. Eles têm memória curta porque já se esqueceram do que o nosso país já fez. Já se esqueceram do que homens e mulheres livres podem atingir quando se junta a imaginação a um objectivo comum e o recurso à coragem.
Quando os cínicos não querem aceitar a mudança, deverão questionar apenas o que é feito. O governo não se mede pela quantidade dos seus ministros, mas sim pela quantidade de empregos que cria com salários dignos e reformas justas. O Orçamento de Estado será gasto de forma leal, sem corrupções ou negócios obscuros. Só assim será possível criar elos de confiança entre o povo e o seu governo.
A questão que se levanta não é se o mercado é uma força do bem ou do mal. Todos sabemos como é poderoso e inigualável o poder económico. O que esta crise nos ensinou é que sem a devida fiscalização perde-se dramaticamente o controlo do mercado. A nação não poderá prosperar enquanto a distribuição da riqueza for repartida injustamente como o é agora.
Os Estados Unidos é uma nação amiga de cada país, homem, mulher e criança que procure um futuro de paz e dignidade.
Lembrem-se que os nossos antepassados derrubaram o fascismo e o comunismo não apenas com mísseis e tanques, mas com alianças convenientes e com convicções sólidas. Eles entenderam que o poder por si só não nos protege, nem nos dá o direito de fazermos o que nos bem apetece. Muito pelo contrário. O verdadeiro poder adquire-se com prudência.
Nós somos os guardiões deste legado. Sabendo isto, podemos caminhar em direcção a uma maior colaboração e compreensão entre as nações. Aos poucos iremos sair do Iraque e entregá-lo ao seu povo. Igualmente, chegaremos a um acordo de paz com o Afeganistão. Com a ajuda de velhos amigos e antigos inimigos iremos lutar incansavelmente para reduzir a ameaça nuclear e encontrar meios de evitar o crescente aquecimento global. Não pediremos desculpa pelo nosso modo de vida nem o iremos defender. Aos que insistem em provocar o terror e incitar ao genocídio: não seremos postos de lado e vencer-vos-emos.
A nossa herança multicultural é uma qualidade, jamais um defeito. Somos uma nação de cristãos, de muçulmanos, de Judeus, de Hindus, bem como de ateus. Somos moldados por todos os idiomas e culturas sobre a face da Terra. Embora tenhamos saboreado a amargura de guerras civis e segregações, conseguimos superar todas as adversidades. Elas apenas nos uniram mais e nos tornaram mais fortes. Temos confiança que o ódio antigo um dia irá dissipar-se. Só com uma América unida é que poderemos ter uma nova era de paz.
Para o mundo muçulmano: procuramos um caminho de interesses e respeito mútuos. Aos líderes que teimam em culpar o mundo Ocidental pelos problemas da sua sociedade lembrem-se que serão julgados pelo que constroem, não pelo que têm destruído. A todos os líderes que governam de forma corrupta, vocês estão no lado errado da História. Contudo, estender-vos-emos as mãos se estiverem dispostos a cooperar. Aos habitantes de países carenciados: prometemos ajudar-vos a cultivar os vossos campos com água fresca. Alimentaremos os vossos corpos e mentes famintas. Às nações, como a nossa, que viva à fartura, não poderemos mantermo-nos indiferentes ao sofrimento além-fronteiras. O mundo mudou e nós temos que mudar com ele.
Enquanto analisamos o caminho árduo que nos aguarda, devemos nos recordar humildemente dos corajosos americanos que, neste preciso momento, defendem o nosso país em zonas de conflito.
Os nossos desafios poderão ser novos, assim como a forma de os resolver. Contudo, os valores mantêm-se os mesmos: trabalho árduo, honestidade, coragem, jogo-limpo, tolerância, lealdade e patriotismo.
Isto é o preço e a promessa da cidadania.
Lembrar-nos-emos deste dia cientes do que somos e do que nos é esperado.
América. Confrontados com os nossos maiores medos, no inverno dos nossos esforços, lembrai-vos destas palavras: com a esperança e a virtude enfrentar-nos-emos as maiores tempestades. Gerações futuras irão contar a nossa história. Eles dirão que, embora tentados, nunca desistimos da nossa caminhada. Recusámos parar. Recusámos voltar para trás. Com o horizonte como limite, e abençoados com a Graça de Deus espalhámos o precioso dom da liberdade e entregámo-lo, em segurança, à geração seguinte».

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A sério?

Perto do Dia Internacional do Riso, e depois do 10º "Porto Cartoon", retomamos o humor nos jornais. Agora com uma associação (FECO), eis algum do contributo da caricatura para o relato (exagerado) da realidade portuguesa.

Texto Dina Cristo imagem José Oliveira

Tal como a própria imprensa, a caricatura tem raízes anteriores, mas é no séc. XIX que podemos afirmar que é fortemente cultivada e no séc.XX que se desenvolve.
A caricatura, antes identificada com a macrocelafia distorcida, hoje apelidada de “cartoon”, é uma representação da realidade com intenção humorística, de provocar o riso, de mostrar o ridículo e assim implicar a crítica. Para fazer rir, ver e pensar: «Primeiro deformadora como uma bola panorâmica, depois fiel como um espelho, e, por último, como um reflexo (…). Primeiro fez rir, depois fez ver e agora faz pensar», como afirma Robert de Sizeranne, citado por Osvaldo de Sousa.
É uma forma, portanto, de exposição do ridículo, dos vícios, dos defeitos, do non-sense, e de crítica, de levar a pensar, a agir, a tomar partido; é uma via de oposição, de sub-cultura, uma forma de resistência; uma maneira de dizer “O Rei vai nu”; uma forma de ultrapassar a censura, política e social; uma maneira tresloucada de denunciar a loucura colectiva, numa procura de diálogo com a sociedade; um meio de dinamizar o pensamento. É o que permite diagnosticar a doença e iniciar o tratamento, através da utilização do riso como terapia. Ou como esclarecia Hipólito Collomb: «Qual é o primordial objecto da caricatura? Corrigir, reformar».
[1]
Origem

Para além de tudo o que se possa dizer da sua presença desde a mais tenra idade da história da Comunicação (Social)
[2], ela inicia-se no séc.XVI através de panfletos e folhas volantes que despertavam os “espíritos subjugados quanto ao abuso do poder” e desenvolve-se com o liberalismo, já que para a Igreja o riso era condenável.
Durante os anos 20, do séc.XIX temos jornais que vão albergar os caricaturistas modernistas, entre os de primeira geração (anos 10) e segunda (anos 30).
A gravura vai aparecendo nos anos 40/50 do séc. XIX, numa oposição a todos os governantes, e tem, nomeadamente no âmbito do cabralismo (cuja representação simbólica era a cabra), uma índole mais violenta, de sátira. Surgem os primeiros jornais com ilustrações satíricas – caso de “O Patriota”
[3] - e em anonimato; Cecília foi, assim, o primeiro grande caricaturista português.
No final dos anos 50 é introduzido o realismo pictórico por Manuel Maria Bordalo Pinheiro, Manuel Macedo e Nogueira da Silva, que dão um cunho pitoresco, mais ameno, com humor e ironia; fazem a ponte entre a crítica social e a estética. Enfim, passa-se da violência caricatural anti-absolutista ao humor com amabilidade.
Nos anos 70, Raphael Bordalo Pinheiro apresenta, com grande visão crítica, o Zé Povinho, que aparece na “Lanterna Mágica”, criada em 1875, e faz escola
[4] em Portugal. Para ele, «o caricaturista deve ser um observador que observa o mundo sempre de uma forma crítica, sendo oposição aos governos e oposição às oposições!»[5].
Com o desenvolvimento técnico aplicado à imprensa, no séc. XIX, por um lado, e com os desejos da burguesia de ser retratada, por outro, a gravura vai ter grande desenvolvimento. Entramos na era da imprensa industrial e da ilustração dos textos.
É todo um desenvolvimento técnico, através da fotogravura (1880), offset (1884), da fotografia, da litografia
[6] e da zincogravura, que vêm impulsionar a ilustração, permitindo maior velocidade e qualidade da sua re-produção. Há quem defenda que esta foi uma forma de manter o analfabetismo e o poder afastado do povo[7].
Se a caricatura nasce com o liberalismo – torna-se importante na denúncia da própria opressão anterior à implantação da República - desenvolve-se com o republicanismo. Depois de 1910 tem especial importância o denominado Grupo de Coimbra, onde raiam a abstracção e sempre à volta dos jornais. Da primeira República é igualmente marcante o Grupo dos Humoristas
[8], criado em 1911, sendo um ano depois realizado o primeiro salão dos humoristas de Lisboa, em 1912.
No dia 13 de Maio de 1926 aparece o jornal “Sempre Fixe”
[9], que se revelou o mais importante jornal humorístico português – um espelho da vida do Estado Novo - apesar de não ter sido o mais longínquo (a sua existência foi de 1926 a 1961), já que “Os Ridículos” chegaram antes, em 1895, e partiram depois, em 1975.
Mas houve ainda outros jornais com certa importância: no séc.XIX, “O Sorvete”, de Sebastião Sanhudo (durou 20 anos), “Até Maria”, de Raphael Bordalo Pinheiro (nove anos) e, no séc.XX, o suplemento humorístico de “O Século”, criado em 1897 tendo-se prolongado até 1920. A nível internacional, é criado, em 1922, o Prémio Pulitzer de “cartoonismo”.
Segundo Fernando Dacosta, «os portugueses riam no cinema, na rádio, na revista, nos cafés, nas marchas, enquanto a Europa, o lá fora, se decompunha e recompunha em cascatas de hecatombe»
[10]. Em 1946, nasce o jornal “A Bomba” que vai dar ensejo à criação das “Emissões Bomba”, da Rádio Peninsular que, por seu lado, levam à concepção dos “Parodiantes de Lisboa”, que criam, ainda, o jornal “Parada da Paródia”.
Em Portugal, no entanto, com os tempos do Estado Novo, a liberdade vai sendo cada vez mais condicionada – cai-se no nacionalismo humorístico. Nos anos 40, há já dificuldade em desenvolver temas políticos e a partir de meados dos anos 50 e nos anos 60 deixa mesmo de haver caricatura política. Nesta época os sorrisos silenciam-se ou escondem-se; sobrevive o (sor)riso do povo, através da crítica social; subsiste o humor desportivo ou de personalidades e entra-se no anedotário brejeiro, até mesmo pornográfico ou de taberna.
João Abel Manta lidera a passagem da ditadura para a democracia. De início, dá-se uma explosão satírica, com uma proliferação de títulos, mas depois o humor entra em crise. O grande êxito é a “Gaiola Aberta”, com laivos de pornografia. Um dos grandes nomes do pós-25 de Abril é António.

Género jornalístico

Como diz Osvaldo de Sousa, o investigador da caricatura em Portugal, ela caricaturiza os horrores da vida, satiriza os costumes e comenta a política relativamente ao que mais amamos ou tememos ou em relação àqueles que saem da mediania. Pode ir do mais erudito ao mais grosseiro. Foi seu suporte principal a imprensa, ao ponto de hoje se reconhecer como um género jornalístico.
Como afirma Luís Humberto Marques, director do Museu de Imprensa, promotor do “Porto Cartoon World Festival”, sempre houve publicações dedicadas à caricatura, que é uma forma de crónica social e política; aos poucos deixou de ser uma mera ilustração para passar a existir por si própria, sendo hoje imprescindível na imprensa. O humor, afirma, «é a inteligência do saber olharmo-nos no espelho, de olhar a vida e o mundo que nos rodeia com tolerância e sentido crítico. O humor é a réstia do espírito de Democracia que o tempo não matou»[11].

Bibliografia SOUSA, Osvaldo – A caricatura política em Portugal. Ed. Salão Nacional de Caricatura. 1991. SOUSA, Osvaldo – Do humor da caricatura. Ed. Salão Nacional da Caricatura. 1988. SOUSA, Osvaldo – 150 anos da caricatura em Portugal. Humorgrafe/Associação Museu de Imprensa. 1997. TREVIM – Cooperativa Editora e de Promoção Cultural – 10ª Festa da caricatura; 2ª Internacional – Lousã. Humorgrafe. 2003. DACOSTA, Fernando – Máscaras de Salazar. Ed. Notícias. 6ª ed. 1998.p.134-136. “Bronkit”, nº 27-37 in “Trevim”.
[1] SOUSA, Osvaldo – 150 anos da caricatura em Portugal. Humorgrafe/Associação Museu de Imprensa. 1997. [2] Como o bobo da corte que denuncia os problemas sociais. [3] 1847 – trata-se da primeira publicação que teve um suplemento satírico, com desenhos de autores nacionais. [4] Entretanto, Celso Hermínio e Cunha Leal trouxeram a caricatura panfletária. [5] Cf. SOUSA, Osvaldo – 150 anos da caricatura em Portugal. Humorgrafe/Associação Museu de Imprensa. 1997. [6] Que facilita o trabalho do gravador e ao mesmo tempo aumenta as possibilidades de tiragens [7] Conferir com o caso da comunicação visual actual, especificamente a televisão [8] Não eliminam o naturalismo e são ultrapassados pelo futurismo. Pertencia Stuart Carvalhais. [9] De Pedro Bordalo Pinheiro, um jornalista e homem de humor (sem parentesco com o grande caricaturista português, parece) e Francisco Valença [10] DACOSTA, Fernando – Máscaras de Salazar. Ed. Notícias. 6ª ed. 1998.p.134. [11] SOUSA, Osvaldo – 150 anos da caricatura em Portugal. Humorgrafe/Associação Museu de Imprensa. 1997, p.6.

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Literatura portuguesa I


Neste Dia Mundial da Literatura iniciamos a publicação de algumas notas, escritas há cerca de 20 anos, a partir da obra de António José Saraiva e Óscar Lopes. Começamos por evocar a importância da criação literária na afirmação da língua.

Texto Dina Cristo

O expoente máximo da língua é a literatura. A obra literária assume, para além de um pensamento lógico adequado a problemas, um empenho e uma reelaboração dos gostos, atitudes e valores que se enraízam através da língua materna e de determinada vida social.
A literatura está esboçada na língua que tem uma estilística própria. A maior parte das expressões da obra literária liga-se a significados que já vêm do uso corrente da língua. O ponto de partida da obra (de ficção literária) é uma dada experiência social, com o estilo adequado a cada idioma, camada social, época e escola literária.
A obra literária, que tem origem na transferência do significado das palavras, é uma elaboração complexa da vida social – moldada a formas linguísticas. A literatura esboça-se nas relações humanas mais elementares: há significados, símbolos e juízos na mudança das coisas; elabora-se a partir da linguagem – ligada aos actos sociais mais correntes - e reflecte, por isso, as ideologias, transformações e tensões sociais.

Os textos redigidos em português mais antigos datam de fins do século IX até inícios do séc.XIII. Até ao séc.XVI, em que o português começa a sujeitar-se a uma disciplina gramatical e escolar, decorre o período arcaico. Desde 1350 a língua portuguesa passa por uma rápida evolução fonética e nos séc.XVII e XVIII a estrutura fundamental do idioma atinge quase a normalidade do português moderno. O polimento do idioma deve-se à organização escolar eclesiástica e universitária, à prática de redigir os diplomas em língua portuguesa, à multiplicação das traduções para português e ao abandono do latim bárbaro
[1] desde o reinado de D. Dinis.

Em meados do séc.XVI está concluído o essencial da evolução que é principalmente fonética. O séc.XV serve de charneira às transições mais importantes sendo natural encontrar-se formas e construções arcaicas ao lado de outras modernas, como em D. Duarte e em D. Pedro. A língua literária, o trabalho dos gramáticos e teóricos da língua contribuem, assim, para a fixação do português padrão.
O escritor é influenciado pela linguagem corrente, tradição literária e línguas cultas estrangeiras. A literatura tende, por isso, a artificializar-se, afastar-se da língua falada pelas camadas mais largas da população. O estilo literário conota os personagens com uma linguagem, designa objectos e exprime sentimentos.

[1] Conjunto de fórmulas deformadas ou acompanhadas por construções coloquiais e que se usavam em documentos em fase já adiantada de diferenciação das línguas novilatinas. É um pseudo-latim devido à incultura dos clérigos e as dificuldades de ajustar uma língua morta a novas cirunstâncias sociais.

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Vida humana

Fez ontem 90 anos que faleceu o autor deste livro. Max Heindel escreveu há cem anos um volume que responde às perguntas básicas do Ser Humano: quem sou, de onde vim e para onde vou. Sempre numa perpsectiva rosacruciana, é com ele que inauguramos o Ano Novo.

Texto Dina Cristo

Esta obra de Max Heindel, resultado de investigações a nível metafísico, está dividida em três partes: a constituição actual do Ser Humano e o método do seu desenvolvimento; cosmogénese e antropogénese e desenvolvimento futuro e iniciação. Depois da Idade Média, da Religião e do Bem, do Renascimento, da Arte e do Belo, e da Modernidade, da Ciência e da Verdade, há agora que as reunir.
Existem sete planos (compostos por sete regiões) cinco dos quais são veículos do Ser Humano: Espírito Divino – relaciona-nos com os outros sistemas solares; Espírito de Vida – relaciona-nos com os outros planetas; Mental – liga o Espírito ao corpo, é o mundo do som
[1]; Emocional[2] – onde se expressam os desejos, sentimentos e paixões, é o mundo da cor, da luz, composto de força-matéria em movimento incessante[3] e o Físico – mundo da forma[4].
O reino humano possui, ao nível físico, corpo denso e vital, ao nível emocional, a região repulsiva e atractiva, ao nível mental, a região concreta e abstracta e uma consciência de vigília. O Ser Humano dirige-se a ele próprio, de dentro, através do espírito individual, enquanto os outros reinos são orientados de fora, por um espírito de grupo.
O reino animal, com uma consciência de sono com sonhos, não possui corpo mental, nem a região emocional de atracção. O reino vegetal, com uma consciência de sono sem sonhos, não possui nem corpo mental nem qualquer das regiões do emocional. O mineral, com inconsciência, apenas possui, dentro do físico, corpo denso (razão pela qual não cresce).
A memória humana é arquivada no corpo vital. A memória consciente é voluntária e formada pelas percepções dos sentidos; a subconsciente é involuntária, sobre a vida da pessoa e está no éter reflector, e a supraconsciente, sobre vidas anteriores, está no Espírito de Vida.
A Alma é tríplice e estabelece as seguintes relações: Espírito Divino - Corpo Denso - Alma Consciente com mais eficiência - Pai; Espírito de Vida - Corpo Vital - Alma Intelectual com mais poder - Filho; Espírito Humano - Corpo de Desejos - Alma Emocional com mais consciência - Espírito Santo.
O terceiro céu corresponde ao Mundo do Pensamento Abstracto e permite o acesso, antecipado, à próxima vida. O segundo céu corresponde ao Mundo do Pensamento Concreto – verdadeiro lar do Ser Humano, onde passa séculos assimilando a última vida, e lugar do som. O primeiro céu corresponde ao Mundo do Desejo (Atracção), lugar de estudo e progresso, onde se tem acesso a um panorama retroactivo relativo às coisas boas. O chamado purgatório corresponde ao Mundo dos Desejos (Repulsão), local de purificação e libertação dos desejos inferiores, onde se sente três vezes mais rápida e intensivamente, e o Ser Humano vê o panorama da sua vida como espectador (mantendo o cordão prateado
De acordo com a evolução, em espiral e rumo à perfeição, houve as seguintes épocas e raças: 1ª Etérica (Polar) – Corpo Denso (gás
[6]) - Adão; 2ª Hiperbórea – Corpo Vital - Caim, agricultor, vegetariano; 3ª Lemuriana – Corpo de Desejos - Abel, pastor; 4ª Atlante – Corpo Mental (Concreto) - Nimrad, caçador e 5ª Ariana – Corpo Mental (Abstracto) - Noé, bebe vinho[7].
Períodos e épocas

Os Espíritos Planetários guiam a vida em cada um dos planetas, num determinado raio. O nosso progenitor é Vaivasvata (quarto raio).
Tal como nós, o nosso planeta também se manifesta (cosmos, forma, objectividade) e depois repousa, dissolve-se (caos, espaço, subjectividade). A sua forma é a cristalização do pólo negativo do Espírito Universal, Absoluto. A Mónada adquire e expande a sua consciência, constrói os seus veículos e depois aperfeiçoa-os. Acabada a involução, em que a substância se faz cada vez mais densa, começa agora a evolução, em que a matéria se faz cada vez mais subtil, numa espiral e num grau de desenvolvimento mais elevado.
Os planetas foram arrojados do Sol pela ordem seguinte: Úrano, Saturno, Júpiter, Marte, Terra, Vénus e Mercúrio, sendo os últimos (cinco) os mais evoluídos – correspondem aos corpos densos dos sete Espíritos diante do Trono, cada um pertencendo a um determinado raio. Enquanto os de maior evolução podem originar um Sol ou até um Sistema Solar, os seres que neles se atrasam podem ocupar os satélites.
O período de Saturno corresponde ao corpo denso, num estado inconsciente semelhante ao do mineral, onde predominava o elemento fogo sob a regência dos Senhores da Chama. O período Solar corresponde ao corpo vital, com uma consciência de sono sem sonhos semelhante ao do vegetal, predominava o elemento ar sob a regência dos Querubins. O período Lunar corresponde ao corpo emocional, com uma consciência de sono com sonhos semelhante à do animal, predominava o elemento água sob a regência dos Serafins. O período Terrestre corresponde ao corpo mental, num estado de vigília, própria do Humano, em que predomina o elemento terra sob a regência dos Senhores da Forma.
No período terrestre houve as seguintes épocas:
Época Etérica, em que havia uma consciência de transe, a propagação efectuava-se através da divisão em metade e a terra estava em fusão.
Época Hiperbórea, em que havia uma consciência de sono sem sonhos, a propagação era através de uma divisão em parte desigual e a terra estava em cristalização.
Época Lemuriana, em que havia uma consciência de sono com sonhos, dá-se a separação dos sexos (sendo uma das partes convertida em actividade criadora mental) e a terra torna-se mais sólida. As raças são guiadas pelos Senhores de Vénus (que iniciam os mais avançados, os Reis) e de Mercúrio, com cada vez maior influência. A sua linguagem era sagrada.
Nesta época nasce o indivíduo propriamente dito, com sangue vermelho e sentimentos de personalidade separada. Depois da queda e do conhecimento íntimo, os espíritos lucíferos abrem-lhe os olhos para (o conhecimento de) o mundo exterior, físico. Conquista de consciência cerebral (acerca do nascimento, corpo, que se torna vertical e da morte) que é acompanhado pelo sentimento de dor e sofrimento.
Na Época Atlante aumenta ainda mais a consciência externa, procriação em conjunto, capacidade de raciocinar e de memorizar e diminui a visão interna (da alma dos seres). O Ser Humano começou a nomear. Nasceram as nações separadas e as monarquias. Esta teve as seguintes sete sub-raças: Rmoahals, Tlavatlis, Toltecas, Turânios, Semitas originais, Acádios e Mongóis.
Na Época Ariana desenvolve-se a razão. Possui cinco sub-raças: Ariana, Babilónio-Assírio-Caldaica, Perso-Greco-Latina, Céltica, Teuto-Anglo-Saxónica. Estamos, portanto, na quinta sub-raça da quinta raça-raiz[8].
Através de uma análise do génesis, Max Heindel demonstra como a Bíblia confirma o plano evolutivo descrito: a criação do Universo pelas duas forças activas, imaginação e movimento, as hierarquias (Eloim), os períodos – Saturno (calor obscuro), Solar (nebulosa brilhante), Lunar (expansão das águas), Terrestre (solidificação) e as suas várias épocas. Javé, o Deus da Raça, de que o Ser Humano deve libertar-se, tendo em vista a “Raça” humana, universal, fraterna e com uma visão interior, mas voluntária e inteligente, e objectivos epigenésicos.
Rosa e cruz
Cristo foi o mais alto iniciado da Humanidade do Período Solar (actuais Arcanjos), cujo mundo mais baixo era o Espírito de Vida, o primeiro universal. Difundiu o seu Corpo de Desejos pelo planeta, purificando-o, tornando possível a iniciação de todos pela fraternidade universal e amor altruísta. Sendo regente do Sol, tornou-se parcialmente regente da Terra[9].
A Alma usa os corpos enquanto veículos para adquirir experiência. Para que a união com o Superior se faça há, pois, que purificar o Corpo Emocional, pela religião de Raça (Espírito Santo), que deu o sentimento de união grupal, o Corpo Vital, pela Religião Cristã (Filho), que elevou à fraternidade universal, e o Corpo Denso, pela Religião do Pai, que provocará a submersão no Uno.
Ao influenciar-se um corpo afecta-se os outros. Max Heindel deixa, por isso, alguns conselhos para evitar a sua degradação e purificá-lo
[10]: evitar substâncias minerais, beber água pura, facilitar a excreção, limpar a pele, comer vegetais, evitar sempre a carne, cultivar a serenidade (o que diminui as bases para as cinzas) e gostos artístico-literários, para nobreza de emoções e aversão à futilidade. Ainda, não abusar ou usar mal a função sexual, canalizando grande parte da sua força para a espiritualidade, mas não sem antes cumprir os deveres para com a família, o país e a espécie humana.
Quando o corpo pituitário e a glândula pineal se reactivarem perceberemos de novo o mundo interno (superior), mas de forma voluntária, e o Ser Humano tornar-se-á adepto, ou seja, clarividente voluntário. Os centros dos sentidos do Corpo Emocional, que podem ser despertos através da concentração, meditação, análise visual, raciocínio lógico, contemplação e adoração, rodarão, então, na direcção dos ponteiros do relógio.
A Terra é actualmente constituída por nove extractos (mineral, fluídico, vaporoso, aquoso, germinal, ígneo, reflector, atómico e expressão material do espírito terrestre), que representam os nove graus menores, e um núcleo – simbolizando a primeira grande iniciação, que a Humanidade alcançará no fim do período Terrestre.
A verdade absoluta apenas vai sendo acessível relativamente. Para um conhecimento mais integral o coração (Religião) e a cabeça (Ciência) devem unir-se. Uma aproximação que começou no séc.XIII com Cristão Rosacruz, fundador da Ordem Rosacruz, Escola de Mistérios Menores, com sede internacional no Sul da Califórnia. O seu símbolo representa as doze hierarquias criadoras: cinco (pontas da estrela) já libertas – três de cima que trabalham voluntariamente e duas de baixo que estão prontas para se retirar – e sete (rosas) ainda em actividade.
Max Heindel deixa, no XXI capítulo do livro, dois exercícios para os aspirantes: um matinal (concentração de pensamentos) e outro nocturno (retrospecção e aprendizagem das lições).

[1] É constituído pelas seguintes regiões: 7ª – Contém a ideia germinal da forma (mineral, vegetal, animal, humana); 6ª - Contém a ideia germinal da vida (vegetal, animal, humana); 5ª – Contém a ideia germinal do desejo (animal e humano); 4ª – Contém as forças arquetípicas e a mente humana. É através dela que o espírito se reflecte na matéria. Região das Forças Arquetípicas; 3ª – Contém os arquétipos do desejo. Região aérea; 2ª Contém os arquétipos da vitalidade universal. Região oceânica; 1ª – Contém os arquétipos da forma. Região continental.
Da 1ª à 4ª trata-se da região da Mente concreta. Da 5ª à 7ª refere-se ao Espírito Humano, Abstracto. [2] Tal como os outros corpos, interpenetra os seus inferiores, neste caso o corpo vital e denso, indo um pouco além de cada um deles. Os seus centros sensoriais, de percepção, estão ainda latentes. É constituído pelas seguintes regiões: 7ª – Poder anímico; 6ª – Luz anímica; 5ª – Vida anímica; 4ª – Sentimentos ([des]interesse, [in]diferença) 3ª – Desejos; 2ª – Impressionabilidade; 1ª – Paixões e desejos inferiores;
Da 1ª à 3ª refere-se à região da repulsão. Da 5ª à 7ª`refere-se à região de atracção. [4] É constituído pelas seguintes regiões: 7ª – Éter reflector – Memória da Natureza ; 6º - Éter luminoso – Meio de percepção sensorial; 5º - Éter vital – Meio de propagação; 4º - Éter químico – Meio de assimilação e excreção; 3º - Gases; 2º - Líquidos; 1º - Sólidos;
Da 1ª à 3ª trata-se da região química. Corresponde à Lei da gravidade, contracção e dilatação e ao corpo denso. Da 4ª à 7ª trata-se da região etérea. Corresponde à Lei da inércia e ao corpo vital. [5] Criado em cada renascimento a partir do átomo-semente do corpo de desejos (fígado), do denso (coração), que se unem ao do corpo vital (plexo solar), despertando o feto. [6] “Todos os gases são minerais”, pág. 133. [7] Com o qual o Ser Humano foi perdendo a percepção espiritual para melhor valorizar a vida física.
[8] Razão pela qual há cinco continentes e cinco sentidos desenvolvidos.
[9] Conforme o amor universal for dominando assim o coração, enquanto músculo involuntário, terá, além das fibras longitudinais, também fibras transversais. [10] O “Pai Nosso” é uma forma de purificar os diversos veículos como tem vindo a demonstrar Humberto Álvares da Costa.

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