quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Culpados?

Sábado é Dia Internacional de solidariedade para com o povo palestiniano. Transcrevemos da introdução do livro “Palestina – a saga de um povo”[1], de Tariq Al-Khudayri, uma parábola de Adalberto Alves.

«Como é sabido, na Península ibérica, antes da chegada dos Árabes, em inícios do século VIII, reinava um povo godo, de origem germânica, os Visigodos. O território do que é hoje Portugal fez, também, durante cerca de três séculos, parte desse Império Visigótico. Os Godos consideravam a Hispânia como a sua pátria indisputada, situação que se manteve até virem a ser obliterados pelo domínio muçulmano.
Suponha-se agora que, num país qualquer do centro da Europa, tinha subsistido, até hoje, uma minoria identificável como goda e que, objecto de discriminação e repressão nesse tal país, tinha, em parte, optado pela diáspora.
Como os Godos ansiavam pela criação de um lar comum, constituíram um lobby de pressão em todo o mundo, no sentido de a O.N.U. decidir arranjar-lhes um território para a constituição de um Estado Godo.
Discutido o assunto e olhando à relevância, no passado, do Império Visigótico na Península Ibérica, a O.N.U. decidiu que seria nela o local correcto para a instalação da Godolândia.
A Espanha opôs-se tenazmente desde logo e, como Portugal era a parte mais fraca em questão e tinha escassa população, foi-lhe imposta a abdicação de uma parte do seu território para a instalação da Godolândia: 50% do mesmo, ou seja, todo o território a norte do Tejo. O sul ficaria para Portugal, sendo Lisboa Oriental goda e Lisboa Ocidental portuguesa.
Com o apoio de diversos países e num curto prazo, começou imediatamente o êxodo de godos em direcção ao território que lhes fora atribuído, apesar dos protestos e da oposição generalizada dos Portugueses.
Os invasores, mediante a força e a intimidação, não tardaram em ocupar cidades e campos, colonizando mediante expulsão as melhores zonas: Porto, Braga, Coimbra, Leiria, Santarém e outras foram, assim, parar às suas mãos. E à menor resistência à ocupação, as casas dos portugueses eram arrasadas para a instalação dos colonatos. Deste modo, a soberania de metade do território português passou para a mão dos Godos que impuseram, aos portugueses do norte, uma nova bandeira e uma nova língua. Em suma, haviam perdido a sua pátria.
A brutalidade da repressão goda causou numerosas mortes e, em breve, mais de dois milhões de portugueses foram deslocados das suas terras e muitos deles forçados a fugir para Espanha, Marrocos e outros países onde passaram a vegetar em miseráveis campos de refugiados.
Portugal, virtualmente, viria a desaparecer do mapa, já que o sul do território, encabeçando a resistência contra a usurpação goda, rapidamente foi invadido pelos novos senhores, que apenas deixaram nas mãos dos Portugueses a parte do Alentejo e uma faixa de terreno junto ao mar, que passou a chamar-se a Faixa de Palmela.
Por outro lado, os portugueses que ficariam a viver ou a trabalhar na Godolândia não passavam de cidadãos de 2ª categoria, ou de mão-de-obra barata para os Godos.
Os Portugueses, quase abandonados pela comunidade internacional, haviam sido forçados a reconhecer o novo Estado, passando a bater-se, ao menos, pelo reconhecimento da sua soberania total no território alentejano oriental e na Faixa de Palmela. Porém, a Godolândia nem isso aceitava, argumentando que tal iria ameaçar a sua segurança.
A O.N.U., através da Assembleia-geral, emitia resoluções atrás de resoluções, condenando o expansionismo godo, mas nenhuma acção era levada a cabo pelo Conselho de Segurança, uma vez que os E.U.A., tendo apoiado e armado a Godolândia até aos dentes, vetavam todas as tomadas de decisão favoráveis a Portugal.
E foi assim que os Portugueses, despojados das suas terras, casas e pátria, se viram condenados ao desespero num exíguo território, onde viviam em condições infra-humanas e de onde toda a esperança parecia ter fugido. No exílio, os que haviam partido sonhavam com um longínquo regresso e, como símbolo desse sonho, guardavam a chave da casa que há muito haviam deixado para trás: quem sabe, um dia voltariam ao lar…
Os Portugueses iniciavam uma longa e dolorosa luta pela sua dignidade, apesar da desproporção de meios perante o poderoso inimigo. Tinham quase só, como armas, a revolta e a dádiva da própria vida, pois, tendo perdido tudo, já nada tinham a perder.
Passaram a ser chamados de terroristas»

[1] 
Editado em 2002, pela Hugin

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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Jornalismo (e) audiovisual IX

Concluimos, neste dia 20, a monografia que aqui publicámos ao longo dos últimos meses: a verdade no cinema e a ficção no jornalismo (televisivo) - o caso de alguns "newspaper films", finalizada do Porto, em 1993.

Texto Dina Cristo

Para além de constituir um meio de distracção e possuir o seu lado estético, o cinema é também uma forma de compreender a realidade. A comprová-lo está a sua utilização como instrumento privilegiado de investigação por uma ciência como a antropologia visual.
Mesmo o cinema de ficção, ao projectar no ecrã o imaginário, está a contribuir para melhor conhecer o ser humano (pelo menos o da sociedade onde foi produzido) já que o sonho corresponde a uma grande percentagem daquilo que os indivíduos são.
O cinema é não só um reflexo da sociedade (a evolução técnica) como também a reflecte. Filmes antigos de série B constituem hoje um testemunho de uma época, contêm o modo de ser, sentir e agir dos indivíduos em grupo ou isolados revelando pormenores importantes sobre a vida de então. Os cenários naturais, como as ruas, os utensílios usados, como telefones, bem como a roupa que os personagens vestiam, constituem dados documentais sobre a época em causa.
No entanto, e apesar de conter vários elementos reais, como o documentário ou a inspiração em casos reais (frequentes nos filmes de jornalistas), não é esse o propósito do cinema.
Já o jornalismo, pelo contrário, orgulha-se de ser o espelho da realidade. “Esta é a verdade da guerra”, dizia, com regozijo, o apresentador de “Repórteres”, a propósito de um trabalho sobre Angola. É essa a perversidade do jornalismo televisivo: fazer crer que a imagem que transmite corresponde exactamente à verdade, quando sabemos que é sempre um ponto de vista. O olhar da câmara é selectivo e ao seleccionar já está a ser subjectivo.
Reafirmo que não pretendi comprovar a realidade cinematográfica e a ficção jornalística, mas sim salientar o fosso que separa os objectivos destes "mass media" da sua acção esporádica ao longo da sua existência. Foi da prática concreta, dessa parte, que me ocupei e não do cinema e do jornalismo como fenómenos totais, pois que o cinema trata de histórias e o jornalismo de notícias.
Contudo serão assim tão diferentes? As notícias não são histórias contadas ao grande público? E os relatos de cinema não abordam factos e realidades efectivamente existentes, como as que vimos ao nível do jornalismo? Este trabalho constitui uma tentativa de afirmação parcial, embora a questão permaneça em aberto, mormente numa altura em que a realidade e a ficção são conceitos que, com as realidades “virtuais” povoadas por entidades “artificiais”, serão cada vez mais relevantes.
A realidade e a ficção estão mais próximas do que se poderia supor. Não é clara nem precisa no cinema, como o não é na televisão; aliás, neste último meio é cada vez mais ambígua. “A prática televisiva tem sido marcada por procedimentos que induzem à indistinção entre publicidade e jornalismo e entre jornalismo e ficção”

[1] .

Jorge Pedro Sousa salienta: “De facto, a imagem, seja ela televisiva, fotográfica, ou similar, é facilmente manipulável e, embora, se possa fundar no real, ela mais não é que um simulacro construído da realidade, quanto mais não seja porque é sempre resultado de uma escolha feita por um ente subjectivo (o seu autor)”
[2].
O que fica, de certo modo, é uma ambiguidade de fronteiras onde a confusão entre a realidade e a ilusão dessa mesma realidade se sobrepõem. O real tornou-se pouco distinto da sua representação. «Os condicionalismos civilizacionais e a lógica imagética transformaram o jornalismo televisivo num espectáculo encenado, daí que a peça jornalística se tenda a confundir com a série ficcional ou até com o “spot” publicitário»
[3]. É que o relato de factos enquanto realidade encenada é uma construção da realidade e, portanto, até certo ponto, uma ficção.
Por outro lado, os “newspaper films”, sob a capa de puro entretenimento, acabaram por revelar, como vimos, alguns dos problemas e questões com que o jornalista se debateu, e debate, no seu dia-a-dia, como a encenação e a espectacularidade televisivas. O cinema, embora também ele manipulado, revelou algumas das realidades jornalísticas.
A verdade foi desrespeitada em “The big carnival”, como foi e é no jornalismo televisivo, e provavelmente neste trabalho, pois “Aquilo que de facto existe são várias perspectivas diferentes da realidade, algumas das quais contraditórias, mas todas resultantes da comunicação e não reflexos de verdades eternas e objectivas”
[4] .
No entanto, e embora nos afastemos da verdade objectiva, é bom que recordemos a foto (em cima) para, pelo menos, reflectirmos um pouco sobre a forma como a informação é transmitida, pois, como diz Paul Watzlawick, a relatividade da realidade é imensa: “Talvez o elemento mais mortífero da história humana seja a ilusão da realidade “real” (…)”
[5].

Bibliografia
AAVV – Enciclopédia Luso-Brasileira de cultura, Editorial Verbo, Lisboa, 1967. AAVV – Larousse du XXe Siècle 2, Maison Larousse, Paris, 1929. ALMEIRA, Manuel Faria de – Cinema documental, Edições Afrontamento, Porto, 1982. ALMEIRA, Manuel Faria de – História do cinema, Centro de Formação da RTP, Lisboa, 1978. BASTOS, Baptista – O filme e o realismo, Editora Nova Crítica, Porto, 1979. BAZIN, André – O que é o cinema, Livros Horizonte, Lisboa, 1992. BENJAMIN, Walter et All – Estéticas do cinema, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1985. BETTON, Gérald – História do cinema, Publicações Europa-América, Lisboa, 1984. CAMPOS, Jorge – A caixa negra, Escola Superior de Jornalismo, Porto, 1992. CAVALCANTI, Alberto – Filme e realidade, Livraria Martins Editora, São Paulo, S/d. CAZENEUVE, Jean (Dir.) – Guia alfabético das comunicações de massas, Edições 70, Lisboa, s/d. CHOMSKY, Noam et all – Manufacturing consent – the political economy of the mass media, Pantheon Books, New York, 1988. COSTA, Henrique Alves – A longa caminhada para a invenção do cinematógrafo, Cineclube Editorial, Porto, 1988. COSTA, João Bénard da – Histórias do cinema, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1991. FRANCASTEL, Pierre – imagem, visão e imaginação, Arte e comunicação, Edições 70, S/d. GEADA, Eduardo – O cinema espectáculo, Edições 70, Lisboa, 1978. GOOD, Howard – Outcasts: the image of journalists in contemporary film, The Scarecrow Press, London, 1989. GRANJA, Vasco – Dziga Vertov, Livros Horizonte, Lisboa, 1981. LOTMAN, Yuri – Estética e semiótica do cinema, Editorial Estampa, Lisboa, 1978. MCLUHAN, Marshall – Os meios de comunicação como extensões do homem, Editora Cultrix, são Paulo, 1964. PERNIOLA, Mário et all – Guerra virtual, guerra real, Editorial Veja, Milão, 1991. PINA, Luís de – Documentarismo educativo e cultural português: do documento da realidade à realidade do documento, Lisboa, 1973. PINA, Luís de – Documentarismo português, Edição do Instituto Português de Cinema, Lisboa, 1977. QUEIRÓS, Artur – Eu vi bombardear Bagdade, Fora do Texto, Coimbra, 1991. RIBEIRO, José – Da minúcia do olhar ao olhar distanciado, Universidade Aberta, 1993. SCHWARTZ, Tony – The responsive chord, Anchor Press Doubleday, New York, 1973. SOUSA, Jorge Pedro – Incógnitas da incerteza – reflexões sobre jornalismo e comunicação humana a propósito da Guerra do Golfo, Escola Superior de Jornalismo, Porto, 1992. THEODOR, Adorno et all – Comunicação/2 - Humanismo e comunicação de massa, Tempo brasileiro, Rio de Janeiro, 1970. TOFFLER, Alvin – Os novos poderes, Livros do Brasil, Lisboa, 1991. TUDOR, Andrew – Teorias do cinema, Edições 70, Lisboa, 1985. WESKER, Arnold – Journey into journalism, Writers and Readers, Publishing Cooperative, London, 1977. WOLF, Mauro – Teorias da comunicação, Editorial Presença, Lisboa, 1987. WOODROW, Alain – Informação manipulação, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1991. WATZLAWICK, Paul – A realidade é real?, Relógio d`Água, Lisboa, S/d. WENDERS, Wim – A lógica das imagens, Edições 70, Lisboa, 1990. WOLFE, Tom – The new journalism, Pan Books, London, 1975.
Revistas
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De Manuel Cintra Ferreira: “Absense of malice/1961” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “Tinikling – the madonna and the dragon” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “The thin blue line/1988” in Textos CP, Lisboa, Fev. 1993. “Newsfront/1978” in Textos CP, Lisboa, Fev. 1993. “A dispatch from Reuter`s/1940” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “Arise my love/1940” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “The story of G.I. Joe/1945” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “Platinum blonde/1931” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “They won`t forget/1937” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “Each dawn i dei/1939” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “The killing fields/1984” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “Defende of the realm/1985” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “Call Northside 777/1948” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “Cronaca familiare/1962” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “The lawless/1950” in Textos CP, Lisboa, Jan. 1993. “Profissão; repórter” in Expresso, 9 de Janeiro de 1993, pág.36-37R. “O jornalista como personagem” in Jornalismo e cinema, Lisboa, Jan./FEv., pág.44-47. “Cinderela acidental” in Expresso, 9 de Abril de 1993, pág.60-61 R.
Filmografia
As primeiras imagens (1888) de Marey. As primeiras imagens (1895) de Regnaud. As primeiras imagens (1896) de Lumiére. Asea Balikci (1910) de Eduard Curtis. In the land of the head hunters (1912) de Eduard Curtis. Nanook of the north (1923) de Robert Flaherty. Grass (1925) de Merian Cooper. L`home à la camera (1928) de Dziga Vertov. A propôs de Nice (1929) de Jean Vigo. Douro – faina fluvial (1931) de Manoel de Oliveira. Au pays des dogons (1935) de M. Griaule. Sous les masques noir (1938) de M. Griaule. Farrebique (1946) de G. Rouquier. Desert People (1965/66) de I. Dunlop. N`ai story of a Kung Woman (1952/80) de J. Marshall. Buchimans de Angola (1958-61) de Viegas Guerreiro. Malha em tecla (1970) de F. Simon, E. Veiga de Oliveira e B. Pereira. Olaria de malhada sorda (1970) de F. Simon, E. Veiga de Oliveira e B. Pereira. Festa, trabalho e pão em Grijó de Parada (1973) de Manuel Costa e Silva. The drums of winter (1977-88) de Sarah Elder e Leonard Karmelung. First contact (1982) de B. Connolly. Jaguar (1989) de Jean Rouch. Le reflet de la vie (1989) d E. de Latour. Chronique paysane en Gruyère (1990) de J. Veuve. De como à noite todos os gatos são pardos (1993) de Adolfo Vidal. Platinum Blonde (1931) de Frank Capra. The front page (1931) de Lewis Milestone. They won`t forget (1937) de Marvyn Le Roy. Each dawn I die (1939) de William Keighley. A dispatch from Reuters (1940) de William Dieterie. Arise my love (1940) de Mitchell Leisen. The keeper of the flame (1940) de George Cukor. Foreign correspondent (1940) de Alfred Hitchcock. His girl Friday (1940) de Howard Hawks. Citizen Kane (1941) de Orson Welles. It happened tomorrow (194) de René Clair. The story of G.I. Joe (1945) de William Wellman. Gentleman`s agreement (1947) de Elia Kazan. Call nortside 777 (1948) de Henry Hathaway. All the king`s men (1949) de Robert Rossen. The fountainhead (1949) de King Vidor. The lawless (1950) de Joseph Losey. The big carnival (1951) de Billy Wilder. Deadline USA (1952) de Samuel Fuller. Je plaide non coupable (195) de Edmond T. Greville. While the city sleeps (1956) de Fritz Lang. Beyond a reasonable doubt (1957) de Fritz Lang. La dolce vita (1959) de Frederico Fellini. The man who shot Liberty Valance (1962) de John Ford. Cronaca familiare (1962) de Valerio Zurlini. Shock corridor (1962) de Samuel Fuller. Black like me (1964) de Carl Lerner. Doctor Zhivago (1965) de David Lean. Blow-up (1967) de Michelangelo Antonioni. Tout va bien (1972) de Jean-Luc Godard. Sbatti il mostro in prima pagina (1972) de Marco Celocchio. Un linceul n`a pas de poches (1973) de Jean-Pierre Mocky. The parallax view (1974) de Alan Pakula. Magic town (1974) de William Wellman. The front page (1974) de Billy Wilder Die Verlorene ehre der Katharina Blum (1975) de Volker Schlondorff. All the president`s men (1976) de Alan Pakula. Newsfront (1978) de Philip Noyce. Apocalypse now (1979) de Francis Ford Coppola. The China syndrome (1979) de James Bridges. Reds (1981) de Warren Beatty. Absense of malice (1981) de Sidney Pollack. Under fire (1983) de Roger Spootiswood. The ploughman`s lunch (1984) de Richard Eyre. The killing fields (1984) de Roland Joffe. The right stuff (1984) de Philip Kaufmann. The king of comedy (1985) de Martin Scorsese. The mean season (1985) de Philip Borsos. Defense of the realm (1985) de David Drury. Salvador (1986) de Oliver Stone. Bradcast News (1987) de James L. Brooks. Radio Days (1987) de Woody Allen. Good morning Vietnam (1987) de Barry Levinson. The thin blue line (1988) de Errol Morris. Switching channels (1988) de Ted Kotcheff. Scandal (1988) de Michael Caton Jones. Talk radio (1988) de Oliver Stone. Batman (1989) de Tim Burton. Tinikling (1989) de Samuel Fuller. The bonfire of vanities (1990) de Brian de Palma. J.F.K. (1991) de Oliver Stone. Hero (1992) de Stephen Frears. The public eye (1992) de Howard Franklin.

[1] SOUSA, Jorge Pedro – Incógnitas da incerteza – reflexões sobre jornalismo e comunicação humana a propósito da guerra do Golfo, p.44. [2] Idem, p.66. [3] Idem, p.43.44. [4] WATZLAWICK, Paul – A realidade é real?, p.7- [5] Idem, p.192.

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Canal alternativo?


Antes do Dia Mundial da Televisão (Sexta-Feira) e próximo da comemoração dos 40 anos da RTP2 (no dia de Natal) analisamos alguns dos primeiros e últimos passos do segundo canal público português, nomeadamente o período em que se abriu à sociedade civil e foi, durante cerca de três anos, a 2:

Texto David Ortigoso desenho Dina Cristo*

Embora durante todo o ano de 1967 se tenha pensado o projecto de pôr no “ar” uma segunda emissão, a verdade é que seria preciso esperar até ao Natal do ano seguinte para vê-la. Com efeito, no dia 25 de Dezembro de 1968 entrou em funcionamento o “2º Programa”.
Mas não foi tarefa fácil. Trabalhou-se com intensidade nas montagens do emissor e também nos estúdios do Lumiar houve que adaptar as já muito adaptadas instalações. Mas foi possível, com algum engenho e boa vontade.
No que respeita à programação, ficaram desde logo as intenções expressas na emissão inaugural: “O 2º programa, que entrou na sua fase experimental, tem com objectivo fundamental propor aos senhores espectadores um programa de emissões complementares das existentes, ou de natureza diferente, quando consideradas comparativamente as emissões do 1º e 2º programas”.
Mas o que se passou foi que as emissões experimentais tinham acento tónico na repetição de rubricas de estúdio do 1º canal. O espectador começou a habituar-se a ir procurar ao 2º aquilo que lhe tinha escapado no 1º. Uma atitude que mereceu várias críticas, pelo que se exigia uma real alternativa de programação, uma escolha entre produtos que se servia à mesma hora com duas origens diferentes. Mesmo para o “Telejornal”, encontrou-se uma solução deveras estranha: a transmissão em simultâneo no 1º e no 2º, quando o que parecia mais aconselhável era a transmissão em hora diferida.
Em 1969, o tempo total de emissões foi de 1012h, à base de repetições do 1º. Mas a verdade é que “o 2º programa se foi consolidando e sendo a sua cobertura ainda circunscrita à área de Lisboa, só lentamente se tem procurado dotá-lo de programação própria”, revela o Relatório e Contas do Conselho de Administração, em 1969. Assim, em 1970, registou-se uma baixa no tempo de emissão: 888h 60m.
A partir do Inverno de 1970, a emissão começou a abrir às 20.30h, reflexos em 71, com o tempo total “no ar” a cifrar-se nas 1233h. “Só em matéria de programação, o 2º canal custa à RTP 5000 contos por ano, excluindo os encargos com a parte técnica. Logo, a pensar-se na programação independente no 2º canal, o seu custeamento terá de pertencer, pelo menos em parte à publicidade” declarou Ramiro Valadão ao Diário Popular. O problema da publicidade ficou resolvido no 2º mês de 1971 e em Abril alarga-se a área territorial interferida pelo 2º programa.
Alguns dos novos locutores chegam aos períodos nocturnos das emissões, em ambos os programas. Terão mesmo introduzido em antena “Histórias da Música”, um dos programas do ano e que assinala a estreia do maestro António Vitorino de Almeida na condução de rubricas dedicadas à música.
Em 73, continua a não haver condições financeiras para que o 2º canal tivesse uma programação totalmente autónoma, algo que permanecerá até 78.
: AutonomiaA independência do 2º canal foi um facto a partir de 16 de Outubro de 1978. Fernando Lopes, regressado à RTP, escreveu sobre a nova programação: “tudo faremos para que o 2º programa possa constituir uma verdadeira alternativa para os espectadores portugueses.”
Desde logo, uma primeira Ordem de Serviço vem definir a macro-estrutura da RTP nas áreas da programação, produção e emissão, deixando nítida separação entre elas. Foi criada a direcção de programação do 2º Canal (e do 1º), entregue a Fernando Lopes. A Informação-1 dispunha de 40 jornalistas e a Informação-2 de 25 profissionais da informação.
A partir de Outubro a RTP tem dois rostos novos. E quem a encontra começa a ter dificuldades em saber onde ficar. A escolha torna-se realmente possível e a concorrência julga-se sadia e benéfica para o auditório. A Informação deixou particularmente os espectadores agradados com o horário favorável para quem chegava mais tarde a casa. Mas sobretudo satisfeitos com o modo como davam a notícia: ia-se ao fundo, investigava-se. Hernâni Santos, jornalista, confessa dois meses depois da arrancada: “a concorrência será qualitativa mas não será absurda. Não vamos nadar às navalhadas, às goelas porque pertencemos à mesma empresa. Agora, se eu puder apresentar no 2º Canal uma notícia em primeira mão ou uma boa reportagem, certamente não a irei dar ao 1º Canal.”
A Informação-2 marcou o regresso de Joaquim Letria à RTP. Letria passou a apresentar a rubrica semanal “Directíssimo”, um festival de música e de entrevistas a personalidades. Apresentava também “A Par e Passo”, uma revista semanal de actualidades nacionais e internacionais.
Dois magazines, “Síntese” (a informação científica) e “Sete Dias da Semana” (um roteiro cultural e recreativo); três séries - “A Aventura da Arte Moderna”, “As Grandes Batalhas do Passado” e “As Grandes Viagens” - indiciaram a tentativa de afastar a programação de bases tradicionais.
Enumerando alguns dos melhores programas, diremos que “All You Need is Love” foi um dos mais importantes documentos para a compreensão da música ligeira do nosso tempo alguma vez passado na nossa TV; que houve muito boas séries como “Eu, Cláudio”, “Flash Gordon”, e o “Homem Aranha”; que da ficção portuguesa merece recordação “O Príncipe com Orelhas de Burro”; que “Cine-Clube” acabou revelando obras de realizadores menos conhecidos. E para que a semana não ficasse privada da música e do humor, “Temos Festa” e “Clube 2”. Desta maneira, a RTP2 chegara com um programação culturalmente útil.
De uma grande sondagem nacional reconhecia-se que o 2º canal era, então, uma alternativa importante, credível e que o público tinha ao seu dispor uma variedade de escolha como nunca. O mesmo inquérito distinguia o programa “Directíssimo”. Quanto ao auditório, era bastante mais elitista que o do 1º Canal.
Em 1979, a RTP muda-se para a Avenida 5 de Outubro.
Na “grelha” de programação de Inverno, “Tal & Qual” substituiu “Directíssimo”. E pela primeira vez na televisão portuguesa começam-se a caçar “apanhados”, com o repórter Manolo Belo.
Há também a destacar alguns títulos propostos: “Zé Gato”, um policial em episódios, e “E não se pode exterminá-lo?”, um dos acontecimentos teatrais do ano, agora no pequeno ecrã - ambos de produção nacional. Refiram-se, ainda, três projectos musicais: “Tu cá tu lá com a música!”, com Pedro Osório; “Soltem o Rock...mas guardem-no bem!”, em colaboração com a RDP e “Sheiks com cobertura”, uma ideia desenvolvida com um conjunto de grandes cantores: Paulo de Carvalho, Carlos Mendes, Fernando Chaby e Jorge Barreto.
Quanto a séries filmadas, podíamos assistir às afamadas “Lillie” ou a “Cenas da Vida Conjugal”.
Lembramos também “Histórias com Pés e Cabeça”, “A arte de Ser Português”, “Obrigatório Não Ver” e “A falar é Que a Gente se Entende” - todas produções nacionais.
Antes da informação-2 viu-se “Dona Bárbara”, uma telenovela que não era brasileira, mas venezuelana. Foi a primeira de muitas que viriam da América Latina. Para colocar um ponto final no assunto, deixo as séries que marcaram este ano de 1979: “Ao Piano...Rui Guedes”, “Música e Mergulhos”, “Ecrã Mágico” e a obra-prima “Holocausto”.
: Renovação
A RTP2 teve o seu fim anunciado depois de se tomar consciência da crise em que a RTP estava mergulhada. Não era apenas este canal que iria desaparecer, mas seis no total: RTP Internacional, RTP África, RTP Açores, RTP Madeira e RTP Regiões.
Não foram as audiências que ditavam este destino, porque, como veremos na análise do share, não há lugar a grandes flutuações. Foi, sim, uma questão de fundo, como já frisei anteriormente.
O Governo de Coligação tomou funções em Abril de 2002 e começou por averiguar qual a situação real dos canais. As conclusões e as medidas a adoptar encontram-se no Programa “Fénix”: um plano global de reestruturação que compreende um conjunto de iniciativas principais, abrangendo todas as áreas da RTP, inclusive a RTP2.
Depois de anunciado o programa do Governo para a Televisão, este é contestado, e no seguimento o ministro vê-se obrigado a recuar do inicialmente previsto. A solução encontrada, na apresentação das “Novas Opções para o Audiovisual”, em Dezembro de 2002, foi a abertura do canal à sociedade civil. Passou-se em seguida à nomeação de uma equipa, a Comissão Instaladora, responsável no ano seguinte por designar a nova imagem, os conteúdos, contactar as entidades civis, etc.
: Conceito
Ao quinto dia do Ano Novo, «o segundo Canal da RTP passa a ser A Dois», e não em finais de Outubro, como anuncia na entrevista Manuel Falcão, Director do novo canal. Como podemos ler, após o estudo dos principais modelos que na Europa Comunitária adoptam os segundos canais públicos, o escolhido foi o do conhecimento.
Procurando ter uma programação diferenciada para um público alargado a Dois assume vários objectivos . A abertura à sociedade civil possibilita o acesso de públicos a valores, temáticas e personalidades sistematicamente afastadas dos mass media; a disponibilidade para novas realidades e para outras faces do progresso e uma oferta diferente e por isso novos públicos.
Sabemos, também, que na altura que foi realizada a entrevista a Manuel Falcão, um conjunto de 50 instituições já estavam em fase de protocolização. E que estas deveriam retratar a sociedade no seu todo.
Relativamente aos parceiros, asseguraram a sua participação Fundações, Instituições de solidariedade Social, Ordens profissionais, Associações de diversa natureza, Institutos, órgãos de comunicação social, Universidades e O.N.G. - representados num órgão consultivo. Um processo que se pretende sempre em aberto, contínuo e disponível a entrada de novas parcerias.
O funcionamento do canal é seguido por um Conselho de Acompanhamento, com competências consultivas. Este Conselho, com composição representativa dos parceiros, tem os seus princípios de funcionamento definidos no Contrato de Concessão especial de serviço público previsto na Lei de Televisão. Este órgão avalia o cumprimento dos objectivos de serviço público e complementaridade do canal, a qualidade e diversidade da sua programação e aspectos da sua gestão corrente.
: Grafismo
A nova imagem da RTP2 é inovadora, fresca, possui um grafismo moderno e um traço que combina com a sua vertente cultural e das artes. O logotipo é o número dois, de forma quadrada, que por sua vez é dividido por quadrados brancos (ou verdes). À direita do número estão dois pontos, que penso ter um sentido lógico (é o 2º canal público) e outro mais implícito; vejamos: aos dois pontos nos sinais de pontuação ( : ) seguem-se citações, enumerações ou explicações. Os dois pontos podem igualmente ligar uma expressão/termo ao seu conceito. Portanto, podemos perfeitamente afirmar que os dois pontos nesta situação pretendem ligar o canal 2 ao seu público, mostrando o que é o serviço público, na sua perspectiva. Serve, em última análise, de apelo à descoberta.
Cada quadrado branco é como que uma janela que se abre para o mundo, mundo esse que nos traz a variedade de temáticas.
Composto pela cor verde, a cor tradicional, o grafismo tem na sua dinâmica um cubo mágico, reforçando a ideia de descoberta de cada um dos seus quadros-janelas. Este cubo, desmonta-se, dependendo da janela que se queira abrir.
Penso que os responsáveis pela elaboração do projecto quiseram dar uma imagem de abertura nas suas diversas vertentes: humana, social, artística, cultural, intelectual, profissional, académica e científica.
Debruçando-nos, agora, sobre o significado da designação “A Dois”, podemos atribuir-lhe duas explicações: por um lado, o nome coloquial pelo qual normalmente nos referíamos ao Canal 2 (sintacticamente, “A Dois” é complemento circunstancial de lugar); por outro lado, devido à constituição de protocolos entre a RTP e entidades civis, pode determinar um projecto levado a cabo por duas partes intervenientes (aqui já é complemento circunstancial de companhia).
Portanto, “A Dois” demonstra parceria, abertura, simplicidade, um novo modelo não fechado. Para além disso, capitaliza o património do antigo canal.
: Conteúdos
A publicidade já existiu no formato comercial, nos anos 80. Ou seja, a publicidade passada pela RTP1 não devia deferir muito da transmitida no canal que estou a referir. Hoje em dia, a publicidade é institucional, anuncia alguns programas que poderemos assistir e eventos culturais: peças de teatro, filmes de produção nacional, exposições, encontros, conferências, etc.
Relativamente ao conteúdo da RTP2, historicamente podemos relembrar alguns programas que se destacaram: os Jogos Olímpicos eram transmitidos neste canal; os jogos de futebol (competições nacionais e internacionais) eram transmitidos na RTP2 e os outros desportos tiveram sempre o seu lugar no “Desporto 2”, durante o fim-de-semana.
Célebre, por certo, ficou o programa “Agora Escolha”, animando as tardes da RTP2. Os documentários sobre ciência, a espécie animal e a Natureza foram bastantes. Sobre História, temos a incontornável personagem do Prof. José Hermano Saraiva retratando “A Alma e a Gente”, o “Lugar da História”, sobre épocas históricas; os “Sinais do Tempo”, documentários sobre aspectos sociais da nossa época.
Ao nível político, o “Parlamento”, no aspecto educativo, a “Universidade Aberta”. E, obviamente, destaque para o espaço infantil, com concursos interactivos. Quanto à informação, o “Jornal 2” sempre se pautou por um formato diferente dos outros canais: aprofundando os assuntos, dando lugar ao debate de ideias, baseado numa apresentação mais personalizada.
Podemos, então, assistir também a séries estrangeiras como “Mentes Assassinas”, “Jack &Jill”, “Começar de Novo” (que teve honras de repetição), “Sete Palmos de Terra”, “Viver No Campo”, “Os Sopranos” (série premiada e emitida na RTP1), “Causa Justa”, “Balada de Nova Iorque”, Britcom (séries britânicas de comédia), um espaço dedicado à Religião, entre outros.
Ao nível da informação tecnológica e científica, quem não se lembra do “Magazine 2010”?
Durante alguns anos a RTP2 teve o magazine cultural, o “Acontece”. Com a chegada da A Dois, o programa foi substituído por outro cultural, com o nome de “Artes” cuja intenção era dar mais relevo a outras áreas da cultura.
Alguns programas que surgem na nova grelha de programação de A Dois, já eram emitidos na RTP2 há vários meses ou anos (como a Britcom ou o 2010).
: Programação
Com quatro meses e meio de existência, existem na 2: programas que cessaram, outros que continuam, para gáudio de muitos, e estreias a assinalar.
Voltando à entrevista do director da 2:, ficamos a saber que «em termos de programação as alterações são substanciais.
A programação considerada de Serviço Público representa 80% do tempo total de emissão. Anteriormente era de 45%. A concretização deste Serviço passa por no que concerne à transição de conteúdos, 42% são programas novos; 34% são programas da RTP2 com formato alterado, 16% com horário alterado e 8% dos programas transitam para a 2:.
Quanto à produção, 60% da programação é de origem nacional, sendo maioritariamente da responsabilidade de produtores independentes. Neste enquadram-se documentários, transmissão de eventos culturais, magazines de informação e desporto, concursos de divulgação, talk-shows, programas religiosos e espaços universitários. Como afirmei, os canais de serviço público tinham um orçamento fixo. Com a reestruturação, A Dois pouparia cerca de 21 milhões de euros em 2004, comparativamente a 2001. E em ano cruzeiro (de maior estabilidade), gastaria menos três milhões de euros, s egundo as previsões.
Ainda a respeito da contribuição das entidades civis, devo fazer referência aos contentores de participação, referido por Manuel Falcão na sua entrevista, que evitam a fragmentação da grelha. Trata-se do formato preferencial para a participação de alguns parceiros na programação.
No primeiro contentor (bloco da manhã) começamos por visionar um pequeno filme que se relaciona com o tema em análise, no segundo (bloco da tarde) temos um debate sobre o tema. Em ambos os contentores, o programa é dividido em duas partes, de 30 minutos cada, dedicadas a um tema específico.
Para terminar a programação, referência para os conteúdos em si, os programas e a sua arrumação horária. Na mensagem de apresentação da nova grelha da RTP, a 17 de Dezembro de 2003, Manuel Falcão refere alguns dos programas a que podemos, então, assistir: «(...) Na elaboração da nova grelha, que hoje vos apresentamos confirmámos as linhas de força enunciadas no passado dia quatro de Setembro: divulgação do conhecimento, destaque para os conteúdos de natureza infantil, educativa, cultural e social, a aposta na defesa da cultura, da História e da língua portuguesas.
(...) Iniciámos a concretização da colaboração com parceiros na abordagem de temas, acções e preocupações em programas diários como “Tudo em Família” e “Causas Comuns”. (...) o primeiro filme que exibiremos é português, a mais recente obra de João Mário Grilo, «A Falha», em estreia na televisão portuguesa.
Procurámos garantir novidades e assegurar continuidade: pela primeira vez em canal aberto, todos os dias exibiremos os grandes documentários produzidos pela Discovery. E nas noites de Terça e Domingo teremos grandes produções documentais, algumas das quais serão, esperamos, de origem nacional.
Vamos ter mais debate, uma antena mais participada. O «Parlamento», agora em prime time no início da semana parlamentar. À Quarta-feira Nuno Santos regressa ao ecrã para abordar os grandes temas da sociedade. Aos Domingos, e em conjunto com a Rádio Renascença e o Público, teremos a grande entrevista no programa «Diga Lá Excelência».
As notícias que marcam os dias estão no Jornal 2, assegurado pela Direcção de Informação da RTP, e apresentado por Carlos Fino e Alberta Marques Fernandes, um jornal de síntese, de meia hora, correspondendo às recomendações do Grupo de Trabalho Sobre o Serviço Público de Televisão.»
:Programas
: zig zag infantil - A magia e a aventura estão na 2: com o ZIG ZAG. Os desenhos animados e as séries mais divertidas. E também os heróis de sempre para brincar e jogar com as crianças.
: Quiosque - é um programa diário de noticiário infanto-juvenil, de 15 minutos, emitido de 2ª à 6ª às 19h45. O público-alvo são crianças e jovens dos 8 aos 14 anos. : Nós - é um magazine dedicado ao tema da imigração na óptica de integração das comunidades que escolheram Portugal como país de acolhimento.
: Por outro lado - Programa que pretende dar a conhecer personalidades ligadas a mundos tão diferentes como as artes plásticas, a política, a ciência, o trabalho humanitário ou o desporto.
: Sete palmos de terra - Da autoria de Allen Ball, o mesmo argumentista de "American Beauty", considerada a melhor série de televisão de 2002 e premiada com dois Globos de Ouro, numa série de novos episódios.
: Conselho de Estado - Nuno Santos regressa ao ecrã para conduzir o debate sobre os grandes temas da sociedade.
: Bastidores - Espaço dedicado aos bastidores dos filmes nacionais e internacionais com estreia marcada em Portugal no circuito comercial das salas e no mercado de DVD.
: Bombordo - O mundo dos mares, os segredos dos oceanos, a riqueza e diversidade da vida marinha. Ao longo do ano novas produções nacionais sobre a mesma temática para desenvolver a nossa compreensão do mar que nos rodeia.
: Onda curta - Espaço para o cinema, num gradual impulso na produção de curtas-metragens em Portugal.
: Pop up - Dá a conhecer o melhor da cultura urbana contemporânea.
: Audiências
Para terminar, decidi incluir alguns dados sobre as audiências da RTP 2, desde o início da década de 90 até aos primeiros meses da A Dois. Realce para o monopólio dos canais públicos no momento da chegada dos canais privados à antena, 1º a SIC em 1992 e depois a TVI no ano seguinte.
De sublinhar o aumento gradual de share da SIC e o decréscimo proporcional da RTP1. Estes dados são relativos à média anual, em percentagem. Relativamente à RTP2, reduziu a sua assistência durante três anos consecutivos, mas nos anos seguintes pautou-se por uma estabilização nos 6% de quota de audiência.
No ano de 1992, passaram pela RTP2 alguns nomes bens conhecidos como Maria João Seixas, Moita Flores, António Vitorino D’Almeida, Maria Isabel Barreto, Graça Morais, Lídia Jorge e Maria Elisa, com programas que deixaram saudades. Em 2002, por exemplo, o programa “Zappping”, com Luís Osório.
Num estudo publicado no site do Ministério da Presidência sobre o público da RTP2, relativamente ao período de 1999 a 2002, procurava-se saber o perfil, a quantidade e os programas preferidos do mesmo público. Eis as conclusões: Na 1ª questão - Quantos são os espectadores da RTP 2? - a RTP2 encerra o ano de 2002 com uma média de 61.300 espectadores. Desde 1999 que a estação perde público. Este ano (2002) verifica-se a maior quebra com a fuga de 5.900 consumidores.
Na 2ª questão - Quem são? - na distribuição por sexos o público masculino lidera com uma presença média de 32.5000 espectadores o público, superando a presença feminina (28.900). O Desporto 2 dá o mote para esta liderança. O público idoso detém o maior número de presenças. O público infantil adere na manhã e na faixa 20:00-21:00 horas. Este deteve em 2002 uma presença média de 9.200 consumidores, 15% do público do canal. A classe A/B tem uma presença mais discreta, representando 16,8% do total. É junto do público da classe baixa (D) que a RTP2 detém o maior volume de espectadores; a Missa de Domingo, o Desporto 2 e o noticiário determinam esse registo. As classes médias não se afastam muito do valor alcançado pela classe baixa sendo o Jornal e o Desporto os motores desta presença.
Na 3ª questão - Que programas preferem? - de 2ª a 6ª feira é a Ficção e o Jornal 2 que marcam os picos de audiência. Ao fim-de-semana, ao Jornal 2 junta-se a Missa e o Desporto 2. Do ranking dos programas mais vistos sobressaem as séries de ficção exibidas na franja 20:00-21:00 horas.
Em 2004 a 2: registou em Fevereiro um share médio de 3,8%, share esse que foi liderado pela TVI com 29,7%. Em Março a :2 obtinha um aumento muito ligeiro para os 4%, mês que foi liderado pela SIC, com 29,1%. O universo é de 9.459 mil indivíduos.

* Nos anos 70

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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Agiotagem

E agoram que a crise financeira já nos bate à porta, recordamos uma canção de 2003, “Eis aqui o agiota”, com letra, música e interpretação de Fausto (Bordalo Dias), que completa, no final deste mês, 60 anos.

«eis aqui o agiota
eis ali a agiotagem
de novo mergulho na Luz do
astro da música
a minha cabeça
de novo à procura daquela
melodia que teima
em nascer às avessas
se ribomba no contrapasso
e se já cruza o ciberespaço
então
cuida de ti usuário
na zona escura do erário
e da folia financeira
do teu corpo fundo
e mais anónimo
à volta do mundo
atravessando fronteiras
esvoaçam
à tua volta esvoaçam
taxas de juros e câmbios
de cambistas e banqueiros
títulos e dívidas
contraseguros
visões garridas
malabaristas
e oníricas
do dinheiro
II a minha guitarra não toca
para ti
a minha guitarra rosna
obeso e rebarbativo alardeando
a engorda
o teu figurino
obesa a corruptela que mais
disfarça e transforma
selvagens capitalismos
em brandos neoliberalismos
o mais doce dos eufemismos
e então
tu provas na perfeição
que geres com o teu cifrão
a infelicidade dos outros
reduzes um drama
o do maior desemprego
à percentagem de uns poucos
encurralados
os mais jovens encurralados
em becos rasos de seringas
ontrafeitos mercadores
em praças e ruas
ruelas e avenidas
envergonhadas
e mais anuladas
as mãos estendidas
de arrumadores
III morreu a proletária ditadura
a ditadura do mercado já
nasceu
se cada vez menos produzem
mais para a maior minoria
toda a riqueza
se cada vez menos para a
imensa maioria sobram
sobras que te caem da mesa
da guerrilha dos capitais
em doces paraísos fiscais
então
cuida de ti argentário
o que retrata este sudário
é a maior parte do mundo
que sobrevive na penumbra
de olhos postos em ti
moribundo
mas que te olha já defunto
e enches a boca
de direitos humanos
enches a boca
da fala
do pensamento
mas o do trabalho nunca
e porque será
que esse direito
no esquecimento fica
se crucifica
mais
se abdica
mas fica a pergunta
IV Keynes
ao pé de ti
e arrumado a um canto
é a alegoria
ou o retrato de um santo»

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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ter razão?


Figuras humanas

Ao aproximar-se o Dia Internacional para a Tolerância, “eis” quem tem “A razão” - um poema de Carlos Paião, editado em 1984.

Pintura Alexa

«Algures na tarde
Há um fumo que arde
No sangue de dois faladores.
Discutem, agitam,
E, com o que gritam,
Atraem mais espectadores.
Têm a raiva nos dentes
E fogo no olhar,
Atiram serpentes
De fúria, ao falar!
Perguntam à toa,
Respondem que não
E, mesmo que doa,
Hão-de ter
A Razão, a Razão!
Com frases alheias
Defendem ideias
Que ouviram alguém defender.
Arriscam a fé
E enganam até,
Se sentirem que podem vencer.
E não buscam Verdade,
Que é isso, afinal?
Viva a tempestade,
Mentir não faz mal!
Avançam nos gritos
(Talvez frustração)
E por ditos não ditos
Lá têm
Razão, a Razão, a Razão!
E uma criança sem tempo
Aproximou-se, atrevida...
E tem na frente o exemplo
Do que é ser gente crescida!
Afasta-te já,
Não demores por cá,
Tu não ouves, não olhas, não vês!
Tu és simples e justa
Ai eu sei quanto custa
Tentar aprender os porquês...
Tu és vida e bonança
Depois do furor,
És sol de esperança
Dalgum sonhador.
Sorris na beleza
Da tua ilusão,
Tu tens a pureza
De não
Ter Razão, ter Razão...
Eu invejo o sorriso
Que agora te vi,
Criança, eu preciso
Lembrar-me de ti!
Na vida tão escura
Tens luzes na mão:
O sonho, a Ternura,
O Amor,
A Razão, a Razão,
A Razão! ...»

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