quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Co-dependência


Depois do dia de S. Valentim e antes do Dia Europeu da Vítima, eis uma proposta para transitar do ciclo vicioso da dependência e submissão amorosa para o virtuoso, da auto-estima.

Texto Dina Cristo

Para Robin Norwood, as mulheres que amam demais estão doentes. Trata-se de um desequilíbrio caracterizado por um ciclo vicioso, de dependência obsessiva em relação a um homem, progressivo e contínuo, que é uma compensação à dor emocional, que se pretende evitar. Em vez de enfrentá-la, a mulher projecta para cima do homem a realização emocional que não teve e, portanto, a sua carência, insatisfação emocional e um enorme anseio de amor, atenção e segurança amorosa.
Uma das principais causas apontadas é a vivência passada num lar disfuncional onde era negada a liberdade de expressão e a própria realidade. A constante tensão, a extrema rigidez, a ênfase no cumprimento de regras e a falta de contacto e intimidade tornaram-na incapaz de ver e estabelecer relacionamentos. Em adulta, a criança torna-se numa mulher carente e com tendência para a depressão, presa ao sonho, como compensação para a sua insatisfação íntima.
Curiosamente será atraída por homens emocionalmente indisponíveis, aos quais se esforçará por agradar ao máximo, num espírito serviçal. Ela ajudará na esperança de que ele goste dela e mude, acreditando que aí será feliz. Investe todas as suas forças nesta ilusão que só lhe trará, mais tarde, desilusão. Quanto mais lhe parece escapar esse objectivo, maior a dedicação, o investimento, a ajuda e a culpa e desculpa. Mas em vez da aprovação, chegará a indiferença e a distância, que fará crescer o desejo e a dor, numa espiral que levará à auto-destruição, o desespero de não (se) conseguir controlar, seguido de raiva e ressentimento.
Estas mulheres chamam amor ao medo (da perda), à dependência, à paixão, à obcecação. E tudo isso só levará à infelicidade e agravará a dor inicial e a depressão latente, mascarada com este vício. Desaguará num sofrimento dilacerante ainda maior do que o inicial. Mas então porquê esta opção, esta negação da dor emocional inicial?, pergunta a autora. Para não a sentir, para se defender e proteger dela, responde.

A cura

No instante inicial em que decide enfrentar o seu próprio sofrimento, cuja época propícia é o período menstrual, inicia-se o processo de recuperação. No restabelecimento, a mulher passa a responsabilizar-se e a controlar a sua vida, a investir em si mesma e na resolução dos seus próprios problemas; aceita-se, tolera(se) e respeita-se a si e aos outros; valoriza-se, recupera a auto-estima, tem interesses e amigos próprios, pensa primeiro no seu bem-estar e passa a confiar em pessoas adequadas – ela sabe que merece o melhor, e toma conta… de si, ajuda-se.
A mulher em regeneração deixa de fugir dos sentimentos, pois adquie consciência de que estes servem para (a) orientar e que a aceitação cura, traz paz e dá felicidade. Ela resgata as suas emoções e desapega-se. Liberta-se da responsabilidade por ele (e dos seus problemas) e do sentimento de defeito, de que não merece ser amada. Aceita mudar, enfrenta os seus medos, enceta novas experiências e arrisca novas actividades; descontrai, despe-se, encontra-se e exprime-se, torna-se genuína e autêntica.
A mulher tratada troca a ilusão sobre o outro pelo amor a si própria. Está pronta para uma relação compatível. Deixa de querer, de precisar, de mudar e controlar (ajudando) os outros. Entende que concretizou o modelo social veiculado – o que identifica o amor com a paixão, excitação, dramatização ou manipulação. Deixa de ser (a)traída por homens que amam de menos – distantes, magoados, dependentes, defensivos e frios – de desculpar toda a sua irresponsabilidade. Deixa de se culpar (pela discussões, irritações e infelicidade), de (se) julgar e de temer; ao invés abre o seu coração... à vida.

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