quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Comunicação Oculta I



Neste Dia Mundial da Filosofia encetamos a publicação de um ensaio sobre a Comunicação Oculta, Transpessoal. Iniciamos com o Logos, que permitiu a passagem do Caos para o Cosmos.

Texto e desenho* Dina Cristo

Antes do Verbo era o Caos Primordial, o Silêncio[1] Intemporal - o mais belo desígnio humano, nas palavras de Ana Isabel Neves –, o Som Causal e Insonoro, a Idade de Ouro do Ser Humano Áfono, como (d)escreve Julia Kristeva[2]

O Pai

É no seio de Mulaprakriti, a raiz da substância pré-cósmica, que surge o primeiro Logos, a Unidade, o ponto no círculo, o Pai (nosso que está no Céu), que torna a substância cósmica obscura, informe e estéril (Pradhâna) susceptível de ser fecundada e transformada em “mãe” primordial, ordenada, fértil e radiante, o Maha-Akasha ou o Akasha primordial.
É do Absoluto, a Fonte, o Tao, Para-Brahman, que irradia a Luz Primordial, Daiviprakriti, que contém toda a informação (sabedoria) a partir da qual todo o Universo vai ser construído, organizado, animado, movimentado e manifestado.
O primeiro logos corresponde ao Ser, a causa primeira, o Espírito puro, Purusha, o Uno, o ponto de partida, Atman, a Mónada, o Poder, a Vontade e a Força criativa, o conjunto de Hierarquias, Dhyani-Chohans, o Demiurgo[3], o Altíssimo e o Santíssimo, Ishvara, o Ser Humano no seu Alfa e Ómega.
O primeiro princípio é Pasyantî, o Som sintético e primordial pelo qual “todas as coisas foram feitas”[4], é a nota-chave, a emissão sonora, a modalidade eléctrica, o padrão vibratório primordial que põe, a matéria, inicialmente virgem, em movimento e impulsiona a manifestação e dá origem a um novo cosmos: «Deus canta e, ao fazê-lo, ecoa um Verbo arquetípico e soberanamente harmónico através de séculos, milénios e idades de ritmo cadenciado. Ali, na Substância Una primordial, Ele repercute os sons que darão origem à múltipla manifestação»[5].
Corresponde a sattva, à expansão, ao conhecimento, discernimento e acção desinteressada, ao primeiro raio, ao tempo, ao céu (svar), ao sol (surya), à endoderme (a parte interna), ao referente, ao programador, ao emissor, à essência, ao braço, ao Espírito, ao Um.

O Filho

O segundo aspecto do logos, semi-manifestado ou (i)manifestado, é o gérmen da diferenciação (svabhavat) – sem separação – entre os dois pólos, o da Ideação Cósmica, Mahat, o Pai, e o da Raiz da Substância, a Mãe, Adi-Prakriti. O Filho, Cristo, Vishnu, bipolarização da unidade, simultaneamente Pai e Mãe, é o intermediário de um junto do outro. Como transmitiu Clemente de Alexandria, “O Pai só vê o mundo conforme este é reflectido no Filho”.
Corresponde à Luz, Lúcifer, Madhyamâ, ao Verbo, Vâch, a deusa da linguagem do hinduísmo, à Palavra Sagrada, perdida, germinal, sintética, perfeita, completa, paradigmática, que contém o significado, o plano, o propósito de todos os universos manifestados. É o Fiat Lux, a consciência que permite expressar a Vida e ao Pai tornar-se carne, manifestar-se e (fazer) existir os mundos.
É o Fiat criador, a energia dinâmica e vitalizadora, que resulta da dualidade e interação, força atractiva, que permite a manutenção, a sustentação, a conservação, a estabilidade, o equilíbrio, a duração e a coerência da estrutura dos mundos e do Universo. Corresponde a rajas, à ambiguidade, à actividade apaixonada e interessada, ao segundo raio, ao espaço-tempo, à região (bhuvar) e à mesoderme (a parte intermédia), à atmosfera, ao software, à mensagem, ao significado, à relação, ao antebraço, à Alma, ao dois.
Equivale ao nous, a inteligência espiritual, ao “Santificado seja o vosso nome” do “Pai Nosso”. Recorde-se que, um nome é, segundo Humberto Álvares da Costa[6], um movimento oscilatório, uma periodicidade, o incessante alento, a mudança que, do ponto de vista numerológico, se relaciona com o “cinco”. Além das nossas cinco vogais, existem 50[7] (5+0=5) letras do alfabeto sânscrito, que correspondem às 50 portas de Binah, o Conhecimento; também segundo a tradição islâmica, teriam sido dadas a Adão 32 letras (3+2=5) básicas do Verbo.
O segundo logos diferencia-se entre um pólo espiritual (Yang, Teo, Sangue, Vinho, consciência, fogo, masculino, positivo, compaixão, sul) e material (Yin, Sofia, corpo, pão, substância, água, feminino, negativo, rigor, norte), numa dimensão superior (Individualidade imperecível, o abstracto, o númeno, o emissor, o Sujeito, Transpessoal, Intemporal e Pleno, o Espiritual, Sagrado, a Senhora, a Virgem) e inferior (a personalidade mortal, o concreto, o fenómeno, o receptor, o objecto, o pessoal, temporal e limitado, o psicológico, o profano, a escrava, a prostituta).
Esta dualidade revela-se igualmente num mundo inteligível (o Mundo comum, solar, transcendente, infinito, incondicionado, necessário, Subjectivo, Invisível, da Potencialidade, o Res Cogitans de Descartes, o mundo Arûpa, dos arquétipos, das ideias, da Realidade, a dimensão inteligível, de Platão e Kant) e sensível (o privado, lunar, imanente, finito, condicionado, contingente, objectivo, visível, da actualidade, a res extensa de Descartes, o mundo da forma, Rûpa, da reprodução, das cópias, o reflexo da realidade, a ilusão, a dimensão sensível, de Platão e Kant). 

Espírito Santo

Desta relação dual surgirá o terceiro logos-locus - onde se dá a separação entre o pólo espiritual, emissor, activo, ideativo, e o pólo material, receptivo, passivo e substantivo – o logos feminino, Shiva, o Espírito Santo, o transformador e renovador, Vaikharî, a palavra manifestada, a vibração do som externo de cada forma, o significante.
Corresponde a tamas, a destruição, à ignorância, às trevas, à inércia, mas também à regeneração e à actividade inteligente, ao três, ao terceiro raio e princípio “Venha a nós o vosso Reino”, ao espaço, à terra (bhur), ao fogo (agni), à ectoderme (a parte externa), ao hardware, ao receptor, à existência, à mão (com os seus cinco dedos), à personalidade, à matéria, à manifestação, à encarnação verbal, ao absoluto no relativo. É a melodia e o acorde final.
Assim, é por intermédio do logos - poder colectivo constituído por um conjunto de mónadas, a Alma Universal do Mundo, a Mente e Sabedoria Divina, a razão ordenadora que executa o Pensamento Divino - que é criado, formado, ordenado e dirigido, tal como destruído e abandonado, tudo quanto existe, sobretudo quando a atenção e a intenção forem dirigidas[8], pois ao imprimir movimento no akasha, gera o universo objectivo[9]. Por isso, o Génesis afirma que no princípio era o Verbo e este era Deus.

* Anos 70

[1] «A Voz do Espaço-Tempo expressa muita coisa; porém o Silêncio permanece ainda além» in CLUC - No domínio do Espaço-Tempo, CLUC, 2000, pág. 95. [2] KRISTEVA, Julia – História da Linguagem, Edições 70, Lisboa, 1969, pág.67-82. [3] ANACLETO, José Manuel – Demiurgo in Biosofia, nº18, pág.15-20.[4] CLUC – Ritual de circulação de Luz, CLUC, 2001, pág. 66 [5] CLUC - Introdução à Sabedoria e Técnicas Grupais, CLUC, 1990. [6] COSTA, Humberto Álvares in As sete leis fundamentais, ST, pág. 15. [7] O mesmo número de radiações emitidas pelas unidades de força dos chakras Muladhara (quatro), Svadhisthana (seis), Manipura (dez), Anahata (dois), Vishudda (dezasseis) e Ajna (dois). [8] CLUC – No templo do Espírito Santo, CLUC, 1992, pág.152. [9] Cf. Teoria das Cordas.

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