quarta-feira, 27 de maio de 2009

Qual é o veículo mais cobiçado?


Texto Elton Rodrigues Malta fotografia Ana Filipa Flores

Existe um veículo que permite aceder facilmente a muitos fins, porém há outros aos quais não consegue chegar. Este traz vantagens, tal como facilitar transferências de mercadorias ou até mesmo levar pessoas aos seus destinos, mas se há algo que não consegue é mudar o interior de quem o conduz. Pode levar o condutor a outro lugar mas ainda assim o condutor será o mesmo. Tanto pode ser conduzido por caminhos agradáveis, tranquilos e seguros, como por caminhos obscuros, turbulentos e perigosos, dependendo tanto da intenção com que é usado como da forma como se conduz. Seja como for, como veículo que é, não tem qualquer utilidade estacionado nem se conduz sozinho, é sempre necessário uma pessoa que o guie, e por isso mesmo ele não é positivo nem negativo, mas sim depende do uso que lhe é dado.
Há muitos condutores que nunca foram peões, pois quando não conduziam eram penduras e devido a essa falta de experiência nem sequer respeitam os peões que circulam na passadeira. A muitos destes a carta foi oferecida e consequentemente não sabem o código da estrada, não respeitando nada nem ninguém. Como não houve esforço nem aprendizagem não controlam o veículo, antes são controlados por ele. Não só não o conseguem conduzir em condições como nem sequer sabem coisas básicas, tais como ligar as luzes, acabando por se mover sempre no escuro. Também não sabem ligar os limpa-pára-brisas e, por isso, em condições adversas, perdem a nitidez e vêem tudo desfocado e sujo, esperando o perigo em alerta constante com medo que lhes estraguem o seu veículo.
Há outros tantos que se habituam a ele de tal forma que dormem lá dentro recusando-se a sair! Passam a fazer a sua vida fechados sobre si mesmos, isolados de todo o mundo pelas fronteiras deste meio, trancados lá dentro com medo de assaltos. Nem reparam que abdicam da sua liberdade. Identificam-se a tal ponto que condutor e veículo já são um só, o indivíduo sozinho já não é nada. Então, para não se deparar com tal facto, começa a tentar ser o melhor e para isso investe cada vez mais num que ande muito, de maior valor, mais sofisticado, na ilusão de estas características lhe permitirem chegar onde os outros não permitiam. Também começa a acumular cada vez mais mas, na verdade, de que servem eles parados? Desta luta por ser o melhor surge um despique com outros que também o querem ser, atropelando milhares de peões nestas corridas clandestinas. Começam na auto-estrada da ambição e terminam nas pistas da ganância já em competições oficiais: o respeito do karting, o prestígio da fórmula 1 e o poder do rali. O perigo nasce quando ele é dado a quem não o sabe usar e ainda por cima sem lhe ensinar como isso se faz. Torna-se uma arma nas mãos duma criança.

Velocidade atropela reflex(ã)o

É um facto que grande parte dos condutores guia sob o efeito duma droga chamada inconsciência, encontrando-se num estado dormente, o que lhes reduz os reflexos em situações inesperadas e nunca antes vividas. Tais acções cometidas levam muitas vezes à morte da liberdade, uma vez que a liberdade não consiste em conduzir por onde apetece mas sim em conduzir por caminhos que desemboquem em mais estradas em condições propícias para serem percorridas. Muitas vezes é sem má intenção mas, após um atropelamento acidental, só se pensa em fugir sem saber sequer para onde, apenas ambicionando um sítio calmo e sossegado.
Tentam-se todos os caminhos possíveis para chegar à Paz, o lugar mais desejado, mas o que as pessoas não sabem é que este veículo não consegue transportar ninguém ate lá, já que não se conduz até à Paz, conduz-se em Paz. Mas toda aquela velocidade e agitação acabam por ser impedimento à percepção do verdadeiro caminho estando neste caso os peões em vantagem para o encontrar, pois procuram-no com os pés assentes na terra. Estes peões também têm a vantagem de valorizar a sua posição e deste modo cresce dentro de si o respeito que aplicarão quando alcançarem o seu veículo. Não é a única vantagem, pois também têm a oportunidade de confiar plenamente nas suas capacidades e contar apenas consigo para percorrer o seu caminho, vivendo livres de quaisquer apegos e tranquilos pela ausência da possibilidade de perda.
Contudo, há peões que mal têm um veículo conduzem-no com tão pouco cuidado que o estragam logo e há condutores experientes que conduzem sempre com o maior respeito pelo código da estrada e a segurança humana. Seja como for, tal como em todas as leis, não é por não se saber o código da estrada que se deixa de pagar multas.
Naturalmente, o veículo é o dinheiro.

Etiquetas: , ,