quarta-feira, 4 de junho de 2008

Intoxicados

Nas vésperas do Dia Mundial do Ambiente publicamos um artigo que nos chama a atenção para as consequências nefastas da toxicidade ambiental na nossa saúde.

Texto Alberto Suarez Chang fotografia Dina Cristo

De acordo com a definição da OMS «a saúde é um estado de bem-estar completo, físico, mental e social e não apenas ausência de doença». Definição com a qual concordamos.
É precisamente esta ausência de bem-estar que caracteriza o homem moderno das grandes e pequenas cidades e centros industrializados (principalmente nos últimos 50 anos).
Sofremos hoje em dia do Sindroma do Homem Envenenado, por um lado, e do Homem Stressado, por outro. Juntos produzem um mal-estar generalizado, um sofrimento indefinido.
A cada dia que passa estamos mais expostos a centenas de novas substâncias químicas produzidas pelo Homem, tecnicamente denominadas xenobióticos. Este é o termo utilizado para designar toda a molécula estranha ao organismo humano, com capacidade para prejudicar o funcionamento normal de todos os tecidos celulares e, em muitos casos, causar danos graves.
Ambiente contaminado
Estamos constantemente rodeados de substâncias tóxicas quer estejamos dentro ou fora de casa. Dentro de casa temos o formaldeido (usado nos móveis, cortinas, tecidos de poliester, etc), partículas de gás propano, monóxido de carbono, lixívia, alumínio da água de rede, etc, etc. Fora temos dióxido de enxofre, chumbo, cádmio, benzeno, dióxinas, benzo-alfa-pirene dos grelhados, dos fritos e do fumo do tabaco.
Quase toda a alimentação convencional se encontra repleta de pesticidas e aditivos. Comemos frutas, verduras, carnes e produtos lácteos, contaminados com pesticidas e dióxinas, alguns dos quais são altamente cancerígenos (tais como as nitrosinas e o benzo-alfa-pirene). A propósito deste último, estudos realizados pelo Dr. Ames, nos EUA, durante os anos 80, revelam que toda a substância orgânica tostada ou fumada, como o café ou as carnes grelhadas, bem como a combustão dos escapes dos veículos, fumos das fábricas ou lixeiras originam benzo-alfa-pirene. Este é um hidrocarbono aromático policíclico, xenobiótico altamente tóxico, responsável de primeira linha pela formação do cancro do pulmão, esófago e cólon, esclerose em placa e esterilidade masculina.
No que a esta última diz respeito, convém mencionar que a fertilidade masculina diminuiu entre 30 a 50% nos últimos 15 anos. Estudos científicos levados a cabo em vários países europeus apontam como principal responsável a contaminação ambiental, por conter centenas de substâncias xeno-estrogénicas, isto é, que interferem com o metabolismo hormonal. Uma das muitas substâncias que diminuem a espermatogenesis, quer dizer, a criação de espermatócitos, são os insecticidas organo clorados como o metoxicloro lindano e outros pesticidas como dibromocloro propano DBCP, ou os polichlorobifenlis. Realizaram-se na Holanda, pesquisas com pessoas que consomem apenas produtos biológicos ou ecológicos e que revelaram não haver qualquer diminuição da fertilidade.
Metais pesados
Outro dos tóxicos ambientais mais preocupantes é o chumbo, devido à sua omnipresença. 70% do chumbo que ingerimos é através da poluição atmosférica. Ingerimo-lo também pelos alimentos tratados com pesticidas (arseniato de chumbo) ou dos legumes e frutas cultivados em áreas que bordeiam – ate 400m – as estradas de grande movimento.
Também absorvemos chumbo ao beber água de torneiras com canalizações de chumbo ou ao consumirmos bebidas enlatadas. Além disto, o chumbo é utilizado nos combustíveis dos automóveis como agente anti-detonante. Uma intoxicação crónica deste metal produz insuficiência renal, dores de cabeça, anemias, astenias, problemas comportamentais, baixa capacidade de concentração e de memória nas crianças e adolescentes.
O mercúrio é outro dos tóxicos que deve merecer a nossa preocupação e cuidado. São numerosos os estudos toxicológicos e epidemiológicos publicados em revistas científicas, que demonstram o perigo deste metal para a saúde. Segundo uma investigação da Universidade de Tübingen, Alemanha, feita com base na recolha de 20.000 colheitas de saliva, as doses de mercúrio são 100 vezes mais elevadas do que as toleradas pelos organismos oficiais. Este metal ao penetrar no nosso organismo pode induzir estados patológicos muito variados, desde alergias, espasmofilias, depressões, fadiga crónica e até a doença de Alzheimer. Dentro deste contexto, a Suécia aparece-nos como o primeiro pais europeu a prevenir o uso da amálgama dentária. Dentro da sua politica global de protecção do ambiente, pretendem «deschumbar» toda a população, do que adviria, por cálculo, cerca de 60 toneladas de mercúrio.
Fígado desintoxicante
Para sobrevivermos a toda esta agressão química, o nosso organismo possui um intrincado mecanismo enzimático que elimina estas substâncias. O órgão que tem este importantíssimo papel é o fígado. O fígado possui um sítio específico na membrana intercelular – retículo endoplasmático – onde as substâncias tóxicas transportadas pelo sangue são absorvidas pelas células hepáticas. Antes que elas sejam removidas do organismo pelo sistema excretório (rins ou cólon) devem primeiro ser bio-transformadas e bio-inactivadas em substâncias menos tóxicas e mais solúveis em água.
Esta primeira fase de limpeza que o fígado efectua chama-se activação ou oxidação. O problema nesta fase é que algumas substâncias podem transformar-se em radicais livres, quer dizer, em moléculas altamente reactivas, perigosas para o sistema imunitário, chegando a causar danos irreversíveis nas membranas celulares, podendo dar origem a cancro. Por isso existe uma segunda fase de limpeza – a conjugação – onde, através de enzimas anti-oxidantes (tais como o glutatione-s- transferasa, o SOD, e outros), o fígado se encarrega de neutralizar a produção de radicais livres.
Contudo, quando o nosso organismo se sobrecarrega de tóxicos, quer por exposição crónica, quer por lentidão ou deficiência destes dois processos, ele começa a acumular perigosamente estes venenos nos nossos tecidos gordurosos, especialmente nos do cérebro e nas células nervosas de todo o corpo. Podem também surgir situações de depressão, cansaço e falta de memória de que já falamos anteriormente.
Através de experiência pessoal e muitos anos de prática terapêutica, chegámos à conclusão que é possível não só proteger eficazmente, mas também regenerar todas as células hepáticas, através de toda uma série de compostos – os flavonóides – que se encontram em quase todas as plantas hepatoprotectoras e nos novos antioxidantes de última geração.

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