Informação solidária
Carlos Cardoso Aveline participou do Brasil, via internet, na conferência sobre “Informação Solidária”, de que é especialista. Eis o essencial da sua intervenção.
Texto Carlos Cardoso Aveline fotografia Dina Cristo
Texto Carlos Cardoso Aveline fotografia Dina Cristo
Meus Amigos,
Obrigado pelo convite para estar aqui em Coimbra entre vocês.
De fato, a internet tem coisas estranhas. Eu hoje posso dizer que estou mais aqui, em Coimbra, do que lá no Brasil onde meu corpo físico está a falar sozinho com algum computador.
Não há coisa mais bela do que a oportunidade de tornar alguém feliz, e assim também a missão mais nobre da comunicação social é identificar e eliminar as fontes de sofrimento da comunidade humana. Daí surge a idéia de uma informação solidária.
“Informação solidária” é aquele processo de produção e circulação de informações em que predomina a ética, a solidariedade e o bom senso.
O resultado natural disso é um compromisso dos editores com uma linha de respeito profundo pela vida, nos seus diferentes aspectos.
É preciso dizer que o processo da informação solidária não depende de estruturas externas. Pode haver Informação Solidária em empresas e instituições convencionais. Neste momento, por exemplo, em Junho de 2007, grandes grupos editoriais fazem informação solidária, no Brasil. É o caso da Editora Abril, com dezenas de revistas e websites, que acaba de assumir um compromisso explícito com o futuro do planeta. Por outro lado, também pode haver uma ausência de real solidariedade em qualquer pequeno jornal comunitário, se não houver clareza de metas e transparência nas decisões.
A vanguarda da informação solidária coloca o dinheiro ao serviço da vida, e não a vida ao serviço do dinheiro.
As grandes instituições (políticas, econômicas, sociais) devem ter a coragem e o talento necessários para perceber o ponto de vista do cidadão consciente; e também para obedecer a este ponto de vista.
A informação solidária eleva o estado de espírito da comunidade. Ela investiga e desenvolve o seu potencial positivo, mas também sabe ser crítica sempre que for necessário.
A solidariedade nas relações sociais é um resultado natural do uso do bom senso.
A falta de solidariedade é sintoma certo de falta de atividade cerebral.
Por isso pode-se falar realmente de um “despertar para a solidariedade”.
Porque na ausência de solidariedade há sempre um estado de sono, de adormecimento da consciência humana.
Normalmente é necessária alguma crise para que haja o despertar. Não podemos reclamar por falta de crises, no mundo hoje, e isso quer dizer que o despertador está tocando.
Vamos agora mencionar alguns exemplos do despertar, do que está a acontecer no Brasil, dentro do conceito amplo de Informação Solidária.
O jornalismo alternativo surge mais claramente na época da resistência à ditadura militar, nos anos 1970 e 1980. Eram pequenos jornais mensais, chamados de “nanicos”, isto é, “miúdos”. Hoje ainda temos pequenos jornais de partidos de esquerda radical, mas a grande novidade são os jornais alternativos que expressam ideais ecológicos e espirituais. Além disso, a comunicação social alternativa se transferiu em grande parte para a internet, com websites e revistas eletrônicas. Há experiências numerosas de rádios e TV comunitárias. E a grande imprensa também expressa essa renovação da comunicação social a partir da participação democrática.
Há pouco saiu publicada uma propaganda de página inteira na revista “Vida Simples”. A propaganda anunciava algo que o grande grupo editorial Abril, com suas 55 revistas e 33 sites, está a tratar em profundidade o tema do desenvolvimento sustentável, desde o início de Junho. As prioridades são soluções nas áreas do meio ambiente, energia, urbanismo, consumo, lixo, saúde, educação. O anúncio dizia: "Veja o que está acontecendo e o que você pode fazer em www.planetasustentavel.com.br".
Nessa ação, a Editora Abril tem o apoio de várias outras grandes empresas. Uma campanha como esta, por parte de um grande grupo editorial, pode ser vista como um sinal dos tempos, e um bom sinal dos tempos. Um sinal de despertar.
Um segundo exemplo de informação solidária é a própria revista
Vida Simples, do grupo Abril. Mensal, ela tem tiragem relativamente grande em termos brasileiros, e circula há vários anos. A temática da revista está toda ela voltada para o ato de viver com simplicidade, livre do consumismo, fora do processo de ansiedade, de frustração e de corrida neurótica atrás do dinheiro. O lema da revista é: “Para quem quer viver mais e melhor”.
Um terceiro exemplo é a coluna quinzenal da monja iogue Susan Andrews na revista Época, da Editora Globo. A revista Época é a segunda maior revista semanal de informação do país. É uma revista de grande porte. As suas matérias repercutem frequentemente nos jornais diários. Susan Andrews é uma mística e dirige uma comunidade de meditatores dedicados à economia solidária. Nesta edição de 28 de Maio de 2007, da Época, Susan Andrews discute como se pode escutar o som do silêncio. Ela diz: “Não fazer nada pode, algumas vezes, ser mais importante do que fazer algo”.
O quarto exemplo é o site da comunidade coordenada por Susan Andrews, o
Há também o
nosso website sobre ética, filosofia, teosofia, meio ambiente e cidadania planetária, que alguns amigos e eu criámos há poucos meses atrás. Nosso website é uma ferramenta de um e-grupo chamado Ser Atento, que se dedica à prática da arte de viver corretamente. Há também um boletim eletrônico. O site está em fase de crescimento: dentro de alguns dias vocês poderão ver nele um artigo da professora Dina Cristo, precisamente sobre informação solidária.
Para concluir, quero citar apenas dois exemplos portugueses de informação solidária.
O primeiro deles demonstra que partidos políticos também podem estar a abrir espaço alternativo em termos de comunicação social. Vejam o site do
Partido da Terra.
Um segundo exemplo português de informação solidária é a revista impressa trimestral
Biosofia, do Centro Lusitano de Unificação Cultural. Publicada em Lisboa, a Biosofia é uma revista interdisciplinar sobre teosofia, filosofia e a arte de viver. Ela aborda todas as áreas do conhecimento humano, dando um certo destaque para as obras de Helena Blavatsky. A Biosofia é editada pelo escritor José Manuel Anacleto.
Além desses exemplos, sabemos que há várias outras experiências importantes em Portugal, e elas estão sendo debatidas por vocês hoje.
Era basicamente isso o que eu tinha a dizer sobre informação solidária. Agradeço a oportunidade de fazer essa visita eletrônica a Coimbra, e fico à disposição para responder algumas perguntas, se houver.
Obrigado a todos.
Etiquetas: Carlos Cardoso Aveline, Informação solidária, Jornalismo
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