quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Informação solidária


Carlos Cardoso Aveline participou do Brasil, via internet, na conferência sobre “Informação Solidária”, de que é especialista. Eis o essencial da sua intervenção.

Texto Carlos Cardoso Aveline fotografia Dina Cristo

Meus Amigos,
Obrigado pelo convite para estar aqui em Coimbra entre vocês.
De fato, a internet tem coisas estranhas. Eu hoje posso dizer que estou mais aqui, em Coimbra, do que lá no Brasil onde meu corpo físico está a falar sozinho com algum computador.
Não há coisa mais bela do que a oportunidade de tornar alguém feliz, e assim também a missão mais nobre da comunicação social é identificar e eliminar as fontes de sofrimento da comunidade humana. Daí surge a idéia de uma informação solidária.
“Informação solidária” é aquele processo de produção e circulação de informações em que predomina a ética, a solidariedade e o bom senso.
O resultado natural disso é um compromisso dos editores com uma linha de respeito profundo pela vida, nos seus diferentes aspectos.
É preciso dizer que o processo da informação solidária não depende de estruturas externas. Pode haver Informação Solidária em empresas e instituições convencionais. Neste momento, por exemplo, em Junho de 2007, grandes grupos editoriais fazem informação solidária, no Brasil. É o caso da Editora Abril, com dezenas de revistas e websites, que acaba de assumir um compromisso explícito com o futuro do planeta. Por outro lado, também pode haver uma ausência de real solidariedade em qualquer pequeno jornal comunitário, se não houver clareza de metas e transparência nas decisões.
A vanguarda da informação solidária coloca o dinheiro ao serviço da vida, e não a vida ao serviço do dinheiro.
As grandes instituições (políticas, econômicas, sociais) devem ter a coragem e o talento necessários para perceber o ponto de vista do cidadão consciente; e também para obedecer a este ponto de vista.
A informação solidária eleva o estado de espírito da comunidade. Ela investiga e desenvolve o seu potencial positivo, mas também sabe ser crítica sempre que for necessário.
A solidariedade nas relações sociais é um resultado natural do uso do bom senso.
A falta de solidariedade é sintoma certo de falta de atividade cerebral.
Por isso pode-se falar realmente de um “despertar para a solidariedade”.
Porque na ausência de solidariedade há sempre um estado de sono, de adormecimento da consciência humana.
Normalmente é necessária alguma crise para que haja o despertar. Não podemos reclamar por falta de crises, no mundo hoje, e isso quer dizer que o despertador está tocando.
Vamos agora mencionar alguns exemplos do despertar, do que está a acontecer no Brasil, dentro do conceito amplo de Informação Solidária.
O jornalismo alternativo surge mais claramente na época da resistência à ditadura militar, nos anos 1970 e 1980. Eram pequenos jornais mensais, chamados de “nanicos”, isto é, “miúdos”. Hoje ainda temos pequenos jornais de partidos de esquerda radical, mas a grande novidade são os jornais alternativos que expressam ideais ecológicos e espirituais. Além disso, a comunicação social alternativa se transferiu em grande parte para a internet, com websites e revistas eletrônicas. Há experiências numerosas de rádios e TV comunitárias. E a grande imprensa também expressa essa renovação da comunicação social a partir da participação democrática.
Há pouco saiu publicada uma propaganda de página inteira na revista “Vida Simples”. A propaganda anunciava algo que o grande grupo editorial Abril, com suas 55 revistas e 33 sites, está a tratar em profundidade o tema do desenvolvimento sustentável, desde o início de Junho. As prioridades são soluções nas áreas do meio ambiente, energia, urbanismo, consumo, lixo, saúde, educação. O anúncio dizia: "Veja o que está acontecendo e o que você pode fazer em www.planetasustentavel.com.br".
Nessa ação, a Editora Abril tem o apoio de várias outras grandes empresas. Uma campanha como esta, por parte de um grande grupo editorial, pode ser vista como um sinal dos tempos, e um bom sinal dos tempos. Um sinal de despertar.
Um segundo exemplo de informação solidária é a própria revista
Vida Simples, do grupo Abril. Mensal, ela tem tiragem relativamente grande em termos brasileiros, e circula há vários anos. A temática da revista está toda ela voltada para o ato de viver com simplicidade, livre do consumismo, fora do processo de ansiedade, de frustração e de corrida neurótica atrás do dinheiro. O lema da revista é: “Para quem quer viver mais e melhor”.
Um terceiro exemplo é a coluna quinzenal da monja iogue Susan Andrews na revista Época, da Editora Globo. A revista Época é a segunda maior revista semanal de informação do país. É uma revista de grande porte. As suas matérias repercutem frequentemente nos jornais diários. Susan Andrews é uma mística e dirige uma comunidade de meditatores dedicados à economia solidária. Nesta edição de 28 de Maio de 2007, da Época, Susan Andrews discute como se pode escutar o som do silêncio. Ela diz: “Não fazer nada pode, algumas vezes, ser mais importante do que fazer algo”.
O quarto exemplo é o site da comunidade coordenada por Susan Andrews, o
Há também o
nosso website sobre ética, filosofia, teosofia, meio ambiente e cidadania planetária, que alguns amigos e eu criámos há poucos meses atrás. Nosso website é uma ferramenta de um e-grupo chamado Ser Atento, que se dedica à prática da arte de viver corretamente. Há também um boletim eletrônico. O site está em fase de crescimento: dentro de alguns dias vocês poderão ver nele um artigo da professora Dina Cristo, precisamente sobre informação solidária.
Para concluir, quero citar apenas dois exemplos portugueses de informação solidária.
O primeiro deles demonstra que partidos políticos também podem estar a abrir espaço alternativo em termos de comunicação social. Vejam o site do
Partido da Terra.
Um segundo exemplo português de informação solidária é a revista impressa trimestral
Biosofia, do Centro Lusitano de Unificação Cultural. Publicada em Lisboa, a Biosofia é uma revista interdisciplinar sobre teosofia, filosofia e a arte de viver. Ela aborda todas as áreas do conhecimento humano, dando um certo destaque para as obras de Helena Blavatsky. A Biosofia é editada pelo escritor José Manuel Anacleto.
Além desses exemplos, sabemos que há várias outras experiências importantes em Portugal, e elas estão sendo debatidas por vocês hoje.
Era basicamente isso o que eu tinha a dizer sobre informação solidária. Agradeço a oportunidade de fazer essa visita eletrônica a Coimbra, e fico à disposição para responder algumas perguntas, se houver.
Obrigado a todos.

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