domingo, 21 de abril de 2013

A Comunicação Oculta VI



Nesta sexta parte, esclarecemos o processo de Comunicação, circular, de aproximação sucessiva, através da Evocação e da Invocação.

Texto e desenho* Dina Cristo

No encontro entre o feed-back, a resposta, a capacidade de recepção, e a emissão, assim, re-nutrida, acontece a Comunicação - o espaço e otempo de troca, identidade, união, aproximação, fusão, expansão, movimento e transcendência entre ambos os interlocutores, o pólo activo e masculino, e o pólo passivo e feminino, que conduz à ampliação da consciência, à iluminação e à compreensão.
Ela pode efectuar-se a nível horizontal, indirecto, mais distante, desagregador e mediatizado, como no caso dos “media”, que promove a involução, ou a nível vertical, directo, íntimo e imediato, como no caso de uma revelação, qual escada de Jacob, que une e promove a evolução. Pode também ter uma direcção mais ascendente, espiritual, unificadora, impressiva e subjectiva, ou descendente, material, multiplicadora, expressiva e objectiva.
Contudo, é sobretudo ao nível interno, subtil e profundo, da Alma, mais do que ao nível externo, perceptível e superficial, da personalidade, quer no contexto Macro quer Microcósmico, que o t(r)ocar acontece, que a relação e a ligação entre os seres se efectua ou, mais propriamente, se aprofunda, dado o elo pré-existente.
É o caso dos Campos Mórficos e da Teoria da Ressonância, defendida por RupertSheldrake do modelo implícito de David Bohm, como da Biologia Quântica, por exemplo: «As células vivas parece poderem comunicar umas com as outras e essa comunicação não é afectada pela distância. É um campo energético algures», refere Cody Johnson[1].
Segundo Dion Fortune «A alma humana é como um lago que se comunica com o mar por meio de um canal submerso; embora aparentemente o lago esteja cercado por terra, o seu nível de água baixa ou se eleva com as marés, por obra dessa conexão oculta. Ocorre o mesmo com a consciência humana: existe uma conexão subterrânea entre as almas individuais e a alma do mundo, e essa comunicação se processa profundamente, confinada nos escaninhos mais primitivos da consciência»[2].
Como também explica Liliana Ferreira, Física: «Todas as coisas, seres, fenómenos são parte de uma grande rede de interconexão universal»[3]. Eckhart Tolle sublinha essas correntes psicológicas, que ligam os indivíduos, para além das electroquímicas, que juntam os átomos, através da força eléctrica coesiva: «(…) não existem fronteiras absolutas entre o corpo/ego e a totalidade da existência»[4].
Trata-se de uma espécie de co-ligação orgânica e universal prévia, comum e interior: «É através desses corredores e coordenadas cosmodésicas que vos comunicais, directamente e por via interna, com todos os comprimentos de onda de todos os Seres (…) A verdadeira comunicação, directa e não desvirtuada, só pode, pois, processar-se por via interna”[5].
«A dissemelhança existe – é absolutamente necessária – neste universo em que os contrastes geram consciência; mas estas assimetrias vivem dentro de grandes Simetrias, cujo acorde, lenta mas inexoravelmente, as conduz, as afina, as eleva a patamares superiores de consciência comungante, a novas identidades comuns» esclarece Isabel Governo[6], por isso, acrescenta a mesma autora outro artigo «Tudo se repercute, tudo se comunica no Universo»[7].

A (des)poluição do canal

A Comunicação Integra(l), holística, cuja Fonte e Destino é anímico, é frequentemente bloqueada, obstruída, embargada, barrada, perturbada e interrompida pelos vícios da personalidade, quer ao nível físico, com os químicos, toxinas, isolantes e analgésicos, quer ao nível emocional, com a resistência e tensão, e mental, com pensamentos densos e pesados.

A palavra, já de si insuficiente para traduzir e por trair o pensamento original, quando icorrectamente usada ou abusada - como no caso das banalidades, calúnias, injúrias, lamentações, mentiras, obscenidades ou a incontinência verbal - degrada a esfera comunicacional já por si sujeita à entropia: «Dos genuínos Conhecimento e Sabedoria provenientes dos níveis suprafísicos – ao atravessar os vários planos e suas inerentes resistências – algo como que se fragmenta e se perde»[8].

Um campo psicológico e fisiológico fechado, interessado, com inclinações, como diria Kant, poluído e desorganizado impede e dificulta a livre circulação, a fidelidade comunicativa, a fluidez, a sintonia junto do ecran, os sentidos do corpo físico, que permita captar o Silêncio. «Quem renega essa Presença, em regra, introduz um ruído interno tão grande que a apaga enchendo-a de dependências Temporais – apetites, sensualidade, música, arte com ênfase no sexo, etc., ou gera bloqueios que a calam»[9].

A desobstrução e a abertura dos canais faz-se através da sua purificação – física (água, [essenciais] vegetais – que franqueiam o contacto com os outros reinos, planos e níveis de consciência -, pausas, respiração, ritmo e sacrifício), emocional (amor, desapego, calma e simpatia) e mental (palavra amável, clara, exacta, prudente, sagrada, verdadeira e útil); quando a identificação com posições, preconceitos e hábitos mentais está fora do caminho, começa então a verdadeira comunicação[10].

Para a Comunicação instantânea (Nirvichâra), com o âmago da Natureza e o íntimo dos seres e dos fenómenos, é, assim, fundamental a limpidez dos canais - a concentração mental, a serenidade emocional e a descontração física. A aspiração à elevação pode, por sua vez, ser facilitada designadamente através do Silêncio, da Meditação (o Agora), do Yoga, da Alquimia, da Sexualidade, como de Mantras ou de Invocações.

* Anos 70

[1] Portugal Teosófico, nº87, p.6. [2] Citado por GOVERNO, Isabel N. – Como somos feitos… in Biosofia, n.º 29, Outubro 2006, p.16. [3] FERREIRA, Liliana - Caos e complexidade – a flecha do tempo in Biosofia nº29, Outubro 2006, p.43 [4] TOLLE, Eckhart – O poder do Agora, Editora Pergaminho, 2003, pág. 15. [5] CLUC - No Templo do Espírito Santo, Centro Lusitano de Unificação Cultural, 1992, p.20. [6] GOVERNO, Isabel – O Som e o Número, Biosofia, Inverno 2007/2008, nº32, p.26 [7] GOVERNO, Isabel N. – Como somos feitos… in Biosofia, Outubro 2006, n.º 29, p.16. [8] CLUC - No Templo do Espírito Santo, CLUC, 1992, p.74, [9] HAC – Lei da Graça – Lei das Analogias – Assim na terra como no céu. STP, p.32. [10] TOLLE, Eckhart – A prática do poder do Agora, p.109 e MARQUES, Tomás – O Advaitismo, Biosofia, nº24, Primavera 2005, p.20.

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