Informação social II
Após a entrega do III Prémio de Informação Solidária ao vencedor, o programa “Sociedade Civil” da RTP 2, que obteve 48% dos votos, no final de 2011, seguimos com Alicia Cytrynblum* o conceito de Informação Social.
Texto e fotografia Dina Cristo
O Jornalismo Social (JS) tem um papel como protagonista dos processos sociais e reflecte sobre a sua responsabilidade neles. É seu principal objectivo que a comunicação sirva para gerar um melhor diálogo entre os diferentes actores sociais. Para tal há que explorar a sua articulação, na agenda, com os temas económicos e políticos; colocá-los em igualdade e ter uma visão mais abrangente da sociedade com a incorporação de novas fontes como as organizações da sociedade civil nos “media”, de forma que a realidade, tão fragmentada se torne mais inclusiva.
O Jornalismo Social não se limita à denúncia dos problemas. Dentro do possível, investiga a solução e inclui-a como um elemento destacado da cobertura. O JS procura alguma resolução já existente, já tomada por qualquer entidade (pública, privada ou ambas) ou mesmo num país estrangeiro, já que a maior parte dos conflitos já tiveram uma decisão inovadora.
A Fundación para el Nuevo Periodismo Latinoamericano, dirigida por Gabriel Garcia Márquez, elaborou o documento “Um novo jornalismo para uma nova ordem social” onde sistematiza cinco aspectos fundamentais para promover um jornalismo que não se limite à “cultura da denúncia” que, por saturação, corre o risco de se tornar improdutivo e, por isso, uma força que, em vez de mobilizar, só paraliza as ideias da co-responsabilidade social.
Os pontos são os seguintes: diagnosticar, com a maior exactidão possível os problemas que vão ser investigados; escutar as vozes dos directamente atingidos, ampliando o trabalho de campo para a recolha de informação, sentimentos, ideias (e) alternativas; analisar a informação sobre experiências de intervenção pública em áreas relevantes para a promoção da equidade; supervisionar as responsabilidades por parte dos diferentes segmentos da sociedade e questionar os omissores e também fazer o seguimento dos temas, de forma que cada denúncia se torne numa cobertura sistemática.
A investigação de soluções (como o caso anotado da exploração laboral infantil e o seu decréscimo no Brasil) gera um impacto maior do que a mera denúncia e move para a acção. Além da história original, deixa claro que não se está a fazer o suficiente e demonstra que a falta de resposta se deve ao desinteresse ou ineficiência instando a encontrar uma solução.
Baseado na melhor tradição jornalística, como o cuidado informativo elementar, nomeadamente ao nível da confirmação, o Jornalismo Social dá um passo em frente e assume o seu compromisso com os processos sociais. Sem se conformar com os hábitos, costumes e práticas usuais, é abertamente activo nos seus propósitos e tem uma ideologia: está comprometido com o fortalecimento da democracia. São seus pontos de partida a procura de uma sociedade mais igualitária e o desenvolvimento sustentável.
Em função da defesa democrática, põe ao serviço do público todos os elementos que permitem uma participação. Convencido de que esta, tal como o controlo do cidadão são os únicos meios de evitar o estabelecimento de políticas elitistas, esforça-se, em cada artigo, para que o leitor possa aceder às fontes por ele mesmo e publica as possibilidades que tem de comprometimento com a sociedade, promovendo a acção comunitária. A sua força está no serviço. O JS não pretende ser dono da informação e disponibiliza os dados para que o leitor contacte directamente ou amplie com informação adicional, na internet ou através de bibliografia. Neste sentido, em 1995, a revista “Terceiro sector” incluiu todas as direcções das fontes referidas em notas, o que mais tarde veio a acontecer nos diários argentinos.
Ao entender que o jornalismo tem um papel formativo e de melhoria do respeito social, tem por método incluir a perspectiva das minorias, isto é, grupos ou pessoas com menor representação pública e pouco poder de resposta, cuja legitimação e qualidade de inserção depende do tratamento dos meios de comunicação, com repercussões ao nível do imaginário social. O JS respeita-as, valoriza-as e ocupa-se de transmitir à sociedade os seus direitos e prerrogativas e, perante um conflito, dá-lhes lugar como fonte.
O Jornalismo Social centra-se, aliás, precisamente no respeito pelo ser humano e abarca, em todos os casos e em toda a sua dimensão, o valor da pessoa. Por isso, não define o sujeito pela sua carência, incapacidade, impotência mas, pelo contrário, enfatiza as suas possibilidades. O JS acredita, apesar das situações limitativas que os indivíduos atravessam, que estas não servem para definir toda a sua vida, optando por definir o sujeito em toda a sua natureza humana em vez de colocar a ênfase nas dificuldades. Assim, não se tratam de “deficientes” mas de “pessoas com determinada deficiência”, por exemplo.
Ao reconhecer que o jornalismo cria uma cultura e como tal pode colaborar ou diminuir o estabelecimento de preconceitos, assume uma responsabilidade activa pelo uso da linguagem; é muito cuidadoso ao nível dos adjectivos e esforça-se para evitar a estigmatização, quando a definição só toma um aspecto do indivíduo, especialmente se é negativo, o que conduz à construção de falácias, à promoção de violência social, à discriminação e racismo; a sua repetição reafirma os preconceitos a quem já os possui, ofende o público sensível e anestesia os indiferentes.
Assim, em vez de minimizar a sua representação, o JS usa uma linguagem inclusiva que abarque a totalidade da pessoa, podendo somá-la, bem como ao grupo, ao diálogo social. Melhorar o entendimento entre actores sociais com diferentes interesses faz aliás parte dos propósitos do JS. Sendo os meios de comunicação o principal cenário onde se legitima o sentir social e cumpre a dupla função de informar e mediar, é lugar por excelência no qual a linguagem tem um impacto social.
Será, portanto, saudável que os jornalistas valorizem a qualidade das palavras e deixem de abusar delas ou de as usar de forma ingénua ou involuntária, defende a autora. A utilização de uma linguagem que respeite as diferentes expressões sociais é um processo, dinâmico, gradual e profundo, que tem lugar na consciência dos jornalistas, é uma decisão pessoal, diária e constante: «Todo o poder exige uma responsabilidade e os jornalistas têm-na na hora de falar ou escrever»1, sublinha Alicia Cytrynblum.
Especialmente presente nas secções policiais, é necessária uma cobertura que integre causas de determinado comportamento ilegal e adicionar como fontes as organizações defensoras dos direitos, como as ONG: «Assim se poderá somar humanidade à secção e a segurança de um trabalho mais cuidadoso da informação e talvez seja uma maneira de mudar “efeito por profundidade”»2, salienta a autora.
As ONG são marcas de confiança e percebidas como independentes, ao contrário das fontes estatais ou empresariais. Estas organizações sociais não só produzem informações ou conteúdos, como dados e estatísticas (caso dos 4,5% de empregados argentinos no terceiro sector) como são produtoras de novas ideias e metodologias e fontes de novos temas e líderes (como os do voluntariado ou a economia social).
No caso das novas temáticas, o Jornalismo Social propõe-se a ser didáctico. Primeiro informa-se para depois capacitar os leitores. Define novos termos e explica-os de forma que sejam efectivamente compreendidos e haja, de facto, informação. Num mundo em permanente mudança a imprensa deve actualizar-se, assimilar essas alterações de forma a transmiti-las ao público.
O jornalista social é, pois, um cidadão comprometido com a realidade e um actor social de peso. Tende a um maior pluralismo informativo e a dar um mapa mais completo da realidade, que integre com maior fidelidade todos os actores do cenário público. Não se limita a uma agenda política e económica e incorpora uma agenda social. O meio de comunicação social pode criar condições (des)favoráveis mas cabe a cada profissional construir a sua própria independência, o que começa na vontade de o ser, como refere Javier Darío Restrepo, citado pela autora.
*CYTRYNBLUM, Alicia – Periodismo social – Una nueva disciplina. La Crujía Ediciones. 2004. (1) Idem, Pág. 85. (2) Idem, Pág. 89.
Etiquetas: Dina Cristo, Informação social II, Jornalismo
0 Commentarios:
Enviar um comentário
<< Página Inicial