quarta-feira, 13 de maio de 2009

Intelectualidade?

Quando se celebra mais um ano das aparições de Nossa Senhora em Fátima e próximo dos 40 anos do II Congresso Republicano de Aveiro, reflectimos sobre a influência mediática no estado da ment(alidad)e.

Texto e fotografia Myriam Mesquita Lopes

Precipitados para o descrédito intelectual, a razão de não consternação é a aceitação medíocre de sobrevivência. A saturação informativa propagandista resulta na retracção cognitiva e esquecimento.
Com o tempo, nasceram e evoluíram grandes pensadores. A criação implica espaço à reflexão. Ser racional é ser diferente. Implica pré-disposição. Cada ser pensante é multifacetado. No entanto a massa vence, é mais forte. É defesa, disfarce ao sofrimento. Arrisco dizer que só quem acredita nas suas capacidades, é capaz de se questionar. A realidade informativa é um negócio extraordinário que trabalha a formatação cognitiva, reconhecendo uma multidão e não um indivíduo isoladamente. Reproduz artefactos indiscriminadamente e a uma velocidade abominável. Influencia, manipula desenvolvendo a homogeneidade, transformando a sociedade alienada, desconcentrada e passiva face à própria essência. A sedução, o fascínio provoca a grandiosa dependência e o facilitismo viciante que proporciona prazer. Reflexão por sua vez é uma das maiores demonstrações de esforço intelectual. Mas é uma tarefa cansativa que implica serenidade, pressupõe disponibilidade e capacidade de auto-interrogação. Não há sentido no sentido. É o vazio. A simulação mais pura do real é o “continuamente novo”. Os valores de valor submergem. O indivíduo é traído pelo desejo de bem-estar.
Delinquente, o jornalismo está nas mãos de quem jamais o fez. Cada palavra, expressão, entoação, imagem é arma mortífera numa luta onde os adversários se confundem. As minorias apologistas do saber ainda existem. Haverá esperança? Domina a passividade e o engolir sem mastigar das notícias. São indiscutivelmente impingidas. Quem se deixa hoje interrogar? Consciente o indivíduo sabe que pode jamais descobrir o seu caminho, acomodando-se, voltando à multidão que havia tentado abandonar. Que público argumentista e contestador vinga à alienação? Pressões levam à fuga de raciocínio. O poder instituído vence, mórbido de interesses e manipulações. A sociedade massificada encontra necessidade de se iludir, evadir de algo que não sabe. Há o privilégio do espectáculo face à meditação.
Democracia é provável utopia. Dissimulada é pura ilusão. Guiada por um líder transmite confiança. Com os meios de comunicação social não é diferente. Cego, o indivíduo sente-se consciente. Não há escolhas, há imposições. É o auge da ausência de reflexão. A verdade incomoda. Predomina o medo de auto – reflexão. Permanece a mentira com alma de verdade. Organizada e imperceptível devasta o sentido. Move o mundo, descontrolada, deturpa. Dá-se a concepção de uma nova censura. A verdade morreu. A sociedade contribui para a sua desconcentração. A urgência do capitalismo reflecte-se. A simplificação do real é a brilhante estratégia de cegueira intelectual. Ser diferente é mais-valia quando a norma é norma. A mudança de mentalidades urge. É a última esperança. No entanto, há vergonha, timidez. A intelectualidade está enfraquecida. É o irreversível contágio da encenação. A livre expressão é utópica, vitimiza a realidade.
Os média incutem dependências, necessidades fúteis, superficiais e comerciais. A industrialização expõe o indivíduo à demência inconsciente. A agenda mediática leva a cabo a estupidificação. A consciencialização é o único caminho para a evolução cognitiva. Compreender limitações é também compreender possibilidades. Palavras verdadeiras inexistem perante o reinado actual da imagem. Fascina. Alerto à reflexão das imagens. Há a emergência de recusa às segundas intenções. Caso contrário, o que seremos nós?.

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