Literatura portuguesa I

Neste Dia Mundial da Literatura iniciamos a publicação de algumas notas, escritas há cerca de 20 anos, a partir da obra de António José Saraiva e Óscar Lopes. Começamos por evocar a importância da criação literária na afirmação da língua.
Texto Dina Cristo
Texto Dina Cristo
O expoente máximo da língua é a literatura. A obra literária assume, para além de um pensamento lógico adequado a problemas, um empenho e uma reelaboração dos gostos, atitudes e valores que se enraízam através da língua materna e de determinada vida social.
A literatura está esboçada na língua que tem uma estilística própria. A maior parte das expressões da obra literária liga-se a significados que já vêm do uso corrente da língua. O ponto de partida da obra (de ficção literária) é uma dada experiência social, com o estilo adequado a cada idioma, camada social, época e escola literária.
A obra literária, que tem origem na transferência do significado das palavras, é uma elaboração complexa da vida social – moldada a formas linguísticas. A literatura esboça-se nas relações humanas mais elementares: há significados, símbolos e juízos na mudança das coisas; elabora-se a partir da linguagem – ligada aos actos sociais mais correntes - e reflecte, por isso, as ideologias, transformações e tensões sociais.
Os textos redigidos em português mais antigos datam de fins do século IX até inícios do séc.XIII. Até ao séc.XVI, em que o português começa a sujeitar-se a uma disciplina gramatical e escolar, decorre o período arcaico. Desde 1350 a língua portuguesa passa por uma rápida evolução fonética e nos séc.XVII e XVIII a estrutura fundamental do idioma atinge quase a normalidade do português moderno. O polimento do idioma deve-se à organização escolar eclesiástica e universitária, à prática de redigir os diplomas em língua portuguesa, à multiplicação das traduções para português e ao abandono do latim bárbaro
[1] desde o reinado de D. Dinis.
Em meados do séc.XVI está concluído o essencial da evolução que é principalmente fonética. O séc.XV serve de charneira às transições mais importantes sendo natural encontrar-se formas e construções arcaicas ao lado de outras modernas, como em D. Duarte e em D. Pedro. A língua literária, o trabalho dos gramáticos e teóricos da língua contribuem, assim, para a fixação do português padrão.
O escritor é influenciado pela linguagem corrente, tradição literária e línguas cultas estrangeiras. A literatura tende, por isso, a artificializar-se, afastar-se da língua falada pelas camadas mais largas da população. O estilo literário conota os personagens com uma linguagem, designa objectos e exprime sentimentos.
[1] Conjunto de fórmulas deformadas ou acompanhadas por construções coloquiais e que se usavam em documentos em fase já adiantada de diferenciação das línguas novilatinas. É um pseudo-latim devido à incultura dos clérigos e as dificuldades de ajustar uma língua morta a novas cirunstâncias sociais.
Etiquetas: Dina Cristo, Literatura portuguesa I, Livros
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