quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Abandonamo-la?


Numa antecipação do Dia Mundial da Música, publicamos uma conversa com uma das bandas filarmónicas portuguesas: a penichense. Em agonia, eis as suas últimas vontades.

Texto Victor Hugo Cristo fotografia Dina Cristo

- Olá banda, como estás? Há muito tempo que não te via.
- Eu estou em coma.

- Em coma!?
- Sim, em coma.
- Cheguei a ver-te tão feliz da vida.
- Isso já faz muito tempo, quando ainda cuidavam de mim.

- Não entendi!
- Há pois, não entendes, é natural. Nesse tempo havia pessoas que se interessavam por mim, pelo meu bem-estar, ficavam felizes por eu poder dar muita alegria aos outros, mas depois…
- Depois o quê?
- Depois foram uns e vieram outros, julguei que fossem melhores mas enganei-me, e a partir daí fui adoecendo e agora estou neste estado de saúde, como podes ver.
- Realmente estás muito mal, para estares em coma.
- Mas mesmo assim estou a reconhecer-te.
- Pois é, eu sou aquele que sempre tentou dar a saúde que mereces, continuo a teu lado, mas também já estou a ficar doente com tudo isto. Não queria que desaparecesses, tenho feito tudo para que isso não aconteça, tenho falado com várias pessoas, algumas delas com um certo poder, para me ajudarem a ficares realmente boa; como estás muito doente uns dizem-me que não podem outros que vão ver, mas se tivesses a gozar de boa saúde eles já podiam.
- Eu sei que tens feito tudo para me salvares e reconheço que tenho pouco tempo de vida, mas antes de eu falecer, para ficares tranquilo, queria dizer o seguinte…
- Então diz o que tens a dizer. Pelo menos para a população saber.
- Como estou muito mal, peço-te que sejas tu a dizeres.
- Então diz-me ao ouvido.
-Agradece à população os donativos (sem eles não conseguíamos os instrumentos) e aplausos nas saídas. Agradece também aos nossos forasteiros pela sua bondade e ofertas. Agradece a algumas pessoas, que foram incansáveis nos seus préstimos, à Câmara e à Associação Recreativa. Devolve ou encaminha para alguma instituição o valor emprestado por um director já falecido. Resolve a parte essencial, os instrumentos que estão espalhados pelos “músicos”, e o dinheiro que ainda está no banco. Com isto resolvido já posso morrer em paz.
- Há que teres esperança. Quem sabe se, um dia, ressuscitares, verás outra irmã pelas ruas de Peniche.

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