Reconhecer, Relativizar, Relaxar…
Uma semana após se assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental, evocamos a utilidade do reconhecimento das emoções. O medo, por exemplo, dá-nos informações sobre o perigo (real ou imaginário) e torna-nos prontos para fugir ou lutar. Perante ele, podemos deixar-nos dominar ou procurar formas pacificas de o acompanhar.
Texto Laura Bettencourt
Paz
Texto Laura Bettencourt
Gostaria de partilhar convosco um aspecto interessante das nossas emoções. Elas permitem-nos reagir a situações concretas, é certo, de forma rápida e muitas vezes eficaz. Mas ao tomarmos consciência delas, isto é, como nos fazem agir, sentir, pensar, como fica o nosso corpo, dão-nos oportunidade de (re)conhecer quais as situações que nos perturbam, o que nos faz exaltar, quem nos deixa ternos e felizes, que palavras gostamos, que tons não suportamos.
O Medo
Hoje, lanço-vos o desafio da descoberta do Medo. O Medo assusta-nos tanto que nem queremos falar dele. Faz-nos saltar o coração, deixa-nos brancos como a cal e gela-nos as mãos. Queremos afastá-lo e nem ouvir pronunciar o seu nome. Mas…, e se quanto mais falarmos dele mais o compreendermos? E se descobrirmos que ele tem uma utilidade própria? De facto, esta emoção alerta-nos para a existência de um perigo, e deixa o nosso corpo astuto e capaz de enfrentar o mais feroz dos perigos! Isto não é maravilhoso?
O medo mostra-nos, de modo imediato, que algum perigo está na eminência de acontecer, ajudando-nos a reagir de modo rápido e adequado e munindo o nosso organismo de um conjunto de respostas (tais como o aumento da força, da frequência cardíaca e dos ciclos respiratórios, a dilatação das pupilas, as alterações hormonais e metabólicas, entre outras) que me permitem fugir ou lutar.
Por outro lado, essa mesma emoção pode tornar-se exagerada quando é determinada, não por aspectos de perigo real, mas antes, por inúmeras preocupações que antecipo, imagino ou amplifico geralmente de natureza social. Nessa medida, existe uma grande diferença entre sentir medo por algo que, de facto, coloque em perigo a minha sobrevivência, como por exemplo ser ameaçada de morte por qualquer agressor, ou sentir medo de situações às quais atribuo um significado negativo, sejam elas de natureza física (por exemplo, medo de morrer, de adoecer) ou social (medo de desiludir os outros, de falhar, de ser humilhado, de ser abandonado, de perder alguém, de ficar desempregado).
Porém, o nosso cérebro responde da mesma maneira em ambos os casos: os nossos pensamentos disparam com a possibilidade de consequências catastróficas e o nosso corpo reage da mesma maneira que perante um perigo real. A este tipo de modificações rápidas e involuntárias que acontecem no nosso organismo dá-se habitualmente o nome de Resposta de Stress. Quando a situação que gerou esta resposta termina, o organismo tende a voltar ao seu estado normal. Contudo, se as situações perturbadoras forem prolongadas e frequentes podemos alterar o nosso estado de equilíbrio e facilitar o aparecimento de problemas físicos e psicológicos, particularmente, de estados de ansiedade, sentimentos de pressão e de mau estar geral.
Os três "R"
Deste modo, poderá ser importante (re)conhecer os sinais do corpo que funcionam como que mensagens e que nos podem ajudar a perceber que talvez esteja na hora de “dizer não” a determinadas situações, que podem existir formas alternativas de as enfrentar ou que, simplesmente, devemos pedir ajuda seja a amigos, familiares ou a profissionais. Ou, ainda, que talvez seja necessário relativizar e “resignificar” a importância de algumas situações que tanto nos incomodam, isto é, olhar para o problema de forma diferente, dar-lhe novas cores, novas imagens, novos começos e novos fins, novas soluções. Se todas as situações têm muitas facetas, de certo beneficiaremos se olharmos para elas de forma diversificada.
Alguns meios naturais podem ainda ajudar-nos a prevenir ou a melhorar a resistência às respostas de stress, tais como a actividade física, as actividades de relaxamento, uma boa respiração, a realização de actividades de lazer. Da mesma forma que falámos de uma resposta de stress, podemos falar de uma resposta de relaxamento que actualmente tem sido considerada como uma poderosa ferramenta na gestão da tensão física e emocional.
Esta resposta pode ser definida como um estado de profundo repouso e descontracção e a sua prática regular traz diversos benefícios, fisiológicos e psicológicos, implicados na redução dos efeitos cumulativos das reacções de stress: reduz significativamente o ritmo cardíaco e o ritmo da respiração, diminui os níveis de lactato no sangue (os quais parecem estar também relacionados com níveis elevados de ansiedade); acalma o curso dos pensamentos, tornando-os mais claros e menos conturbados, produz sensações de bem-estar e de repouso e verifica-se uma tendência para a melhoria das relações interpessoais, da empatia e da criatividade.
O relaxamento pode ser praticado de muitas formas pois é uma experiência muito pessoal, mas existem algumas mais sistematizadas, tais como a respiração abdominal, o relaxamento muscular progressivo (ou outros), técnicas de visualização, a meditação, a prática regular de Ioga, Tai Chi, de Chi Kung, etc. Ao experimentar vários métodos, poderá percebendo em si e por si, quais as diferenças entre cada um, sem contudo, esperar resultados imediatos. Quanto mais frequente for a prática destas técnicas, melhores serão os resultados.
Para terminar, deixo-vos com um conto sobre a Paz: «Certa vez um rei teve de escolher entre duas pinturas, qual melhor representava a paz perfeita. A primeira era um lago muito tranquilo, este lago era um espelho perfeito onde se reflectiam algumas plácidas montanhas que o rodeavam e sobre elas encontrava-se um céu muito azul com nuvens brancas. Todos os que olharam para esta pintura pensaram que ela reflectia a paz perfeita.
Já a segunda pintura também tinha montanhas, mas eram escabrosas e não tinham uma só planta, o céu era escuro, tenebroso e dele saíam faíscas de raios e trovões. Tudo isto não era pacífico. Mas, quando o rei observou mais atentamente, reparou que atrás de uma cascata havia um pequeno galho saindo de uma fenda na rocha. Neste galho encontrava-se um ninho. Ali, no meio do ruído da violenta camada de água, estava um passarinho calmamente sentado no seu ninho.
O rei escolheu essa segunda pintura e disse: “Paz não significa estar num lugar sem ruídos, sem problemas ou sem dor. Paz significa que, apesar de se estar no meio de tudo isso, permanecemos calmos e tranquilos no nosso coração”».
Etiquetas: Laura Bettencourt, Saúde
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