Jornalistas pela paz
Próximo da comemoração do Dia Mundial dos Jornalistas pela Paz, este Sábado, dia 27, apresentamos um livro que nos fala de um novo paradigma (d)e agenda mediática. Organizado por José Manuel Pureza e editado pela Quarteto, a obra reúne comunicações apresentadas durante um curso realizado pela Comissão Nacional da Unesco, na Universidade de Verão, na Arrábida, em 2000, Ano Internacional da Cultura da Paz.
Texto Dina Cristo
É urgente implementar uma agenda de paz, que promova o diálogo intercultural, a protecção das minorias, a cidadania global, de solidariedade, integração, adopte uma perspectiva menos alinhada com a violência e valorize o grande desvio: as iniciativas, actores e métodos pacíficos. A própria sustentabilidade informativa depende de uma agenda reestruturada, que inclua não apenas o crescimento mas também o desenvolvimento económico, social e ambiental (“profit”, “people” e “planet”). A paz, condição para transformar os conflitos de forma criativa e construtiva, é também urgente nos “media”, porque corresponde a um interesse da comunidade, a uma necessidade verdadeiramente colectiva.
A guerra (substituída pelo eufemístico “intervenção militar”) é dispensável e politicamente irracional; ela desenrola-se hoje, sobretudo, no teatro... informativo – fluxos e conteúdos que a elite no poder controla, para preservar o “status quo” que tem dominado: uma cultura política conflitual, baseada numa ideologia conservadora que só admite o “preto” e o “branco”, quando a realidade é um espectro de várias cores.
A pós-nacionalidade implica um novo paradigma de comunicação, de respeito, conhecimento mútuo e solidariedade cosmopolita e, portanto, de superação das diferenças de forma a atingir uma visão global. A globalização é cada vez mais multicultural. A intolerância informativa será suicidária e desfocada em relação às novas propostas de construção social de um mundo matizado e, assim, rico, pacífico, partilhado e unido pelos interesses realmente comuns, redescobrindo uma identidade plural.
Um novo contrato social
Um novo contrato social
Este novo contrato assenta na co-habitação, no pluralismo de culturas, no direito/dever de informação, participação e respeito mútuo para uma cultura de solidariedade e cooperação humana, transnacional e uma paz positiva, global, com uma comunidade humana integrada e harmónica. A cultura de paz implica não apenas a paz negativa (a ausência de violência directa/pessoal), mas também a inexistência de violência estrutural (repressão, exploração, imposição, segmentação e marginalização) como também a cultural - transmitida pelos “media” – substituída pela liberdade, equidade, diálogo, integração, solidariedade e participação.
A informação que (ainda) utiliza a dualidade e reproduz um discurso bipolar do mundo (o “Outro”, sobretudo o culturalmente diferente, visto com valor e intenção negativa, o “Mau”, e “Nós”, os “Bons”) não reproduzindo de forma séria e equilibrada o(s) argumento(s) do inimigo e transportando para os relatos políticos, sociais e desportivos uma linguagem bélica, tem dado mais importância à guerra do que à solução pacífica.
Mudança de paradigma
Com o nuclear, os custos da guerra, o “soft power”, a mediação internacional, surge uma deslegitimação quer da violência clássica quer da emancipadora. São então apontados factores como a sua ineficácia e ontologia, moralmente condenável e estrategicamente inadequada. Assim, as guerras entram em desuso nos anos 90, depois de inconclusivas nos anos 80. Hoje, as forças armadas têm mais missões humanitárias (e até ambientais), o pacifismo que é considerado eficaz, realista e racional, como escreve Luís Mota, professor catedrático de Sociologia das Relações internacionais.
Verifica-se actualmente uma mudança da natureza do Estado e uma nova lógica, pós-nacional – um modelo de cidadania internacional, um projecto de sociedade solidária, inclusiva, dialogante, participativa, tolerante e intercultural – o que implica um novo contrato social, no qual as fronteiras são vistas como práticas de exclusão de grupos. É um novo sistema pós-estatal da sociedade civil, de uma cidadania voluntária e responsável, baseada na informação a todos acessível - a sociedade de informação - tal como nos direitos de cidadania política (mesmo a nível externo), culturais, de identidade e participação de todos os membros da sociedade num debate aberto e numa pressão política ascendente, vinda da acção dos movimentos sociais, pela consciencialização dos riscos e interesses comuns.
A cultura conflitual, de divisão de Estados (fruto da herança positivista e realista - etnocêntrica, ideologicamente fundamentalista, estrategicamente redutora e que deu prioridade aos factos em detrimento dos valores) era baseada na territorialidade, na lealdade de proximidade e no sistema estatal. A guerra baseou-se numa legitimidade clássica, que mobilizava os cidadãos para dar a vida pela pátria, e emancipadora, como instrumento de libertação dos povos. Neste contexto, o pacifismo foi visto como ingénuo, irreal, ideal e utópico.
As tentativas de construção de uma Cultura para a Paz (tanto humanistas como socialistas) vêm desde o final do Séc.XIX (com a restauração dos Jogos Olímpicos, as Exposições Mundiais) e continuam com a criação da Cruz Vermelha, Prémio Nobel da Paz, Conselho Mundial da Paz, Sociedade das Nações Unidas, em 1919, ONU, Governo mundial para ser capaz de garantir a paz, passando por Gandhi, que provou a sua eficácia, até aos movimentos pacifistas dos anos 60 e 70.
Durante o Séc.XX houve uma investigação científica sistemática, sobretudo entre a I e a II Guerra Mundial e, depois da Guerra Fria, sobre o imperialismo e a relação entre os gastos militares e as necessidades sociais. A investigação alterna-se entre estudos de segurança e estudos de paz, pois a atenção desloca-se para a segurança ambiental (dada a crise) e humana (devidos aos desalojados e refugiados). A democracia e a liberdade passam a ser consideradas necessidades básicas fundamentais - é a emergência de um novo paradigma científico, em evolução, com uma marca mais holística e ética.
Etiquetas: Dina Cristo, Jornalismo, Jornalistas pela paz, Livros
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