Cinema comunitário
Em plena edição do Festival de Cinema Documental de Lisboa, reportamos uma outra sétima arte, a ambulante, que leva até ao Portugal profundo histórias animadas.
Texto e fotografia Sara Fidalgo
Dia Mundial da Criança. Pequenos e graúdos de mãos dadas, seguem para a Biblioteca Municipal de Montealegre para assistirem a um teatro em celebração do dia. Os mais velhos deixam a criançada “bem sentadinha e sorridente”. A calmaria é levada segundos depois. A directora Gorete Afonso* chega ao pequeno auditório, onde a pequenagem pedia para que os personagens chegassem depressa.
Simpática, protagonista de uma recepção calorosa e atenciosa, apresenta-se como a responsável do subprojecto do programa Leader Adrat, em vigor na União Europeia. Este plano trabalha sobre propostas inovadoras em prol de melhorias de vida e costumes das regiões em que actua.
Gorete Afonso adiantou que o ciclo de cinema e teatro não é um acontecimento agendado com grande frequência, no entanto, é um êxito certo sempre que se realiza. O projecto caseiro da biblioteca promete levar “som e imagem” junto dos mais novos, chegando (também) a quem deles toma conta.
Cada sessão funciona como novidade para a população. Os mais idosos afirmam que raramente viu filmes em tela, ou que a última vez que foram ao local foi a primeira vez que viram uma projecção. Novas visões do mundo, diferentes costumes e etnias são apresentadas a pessoas que raramente saíram da terra natal.
Cada sessão funciona como novidade para a população. Os mais idosos afirmam que raramente viu filmes em tela, ou que a última vez que foram ao local foi a primeira vez que viram uma projecção. Novas visões do mundo, diferentes costumes e etnias são apresentadas a pessoas que raramente saíram da terra natal.
A interacção mantém-se entre os habitantes: deixam o sofá de casa para as pequenas, mas confortáveis, cadeiras das salas de projecção. Novos hábitos criados! José Santos, vindo da toma diária do cafezinho, adianta: "Deixamos os jogos de futebol de parte, porque neste país já não têm futuro. O melhor de tudo é podermos sentarmo-nos com os nossos parceiros, beber um suminho e provar as pipocas com caramelo. Menos mal que a cervejinha foi substituída, com menos barriga ficamos."
Cinema itinerante
A prática de levar o cinema de terra em terra parece algo rudimentar mas, na realidade, é uma iniciativa com largos horizontes para o tempo futuro. O material disponível, os altos níveis de interesse e o amor à camisola são os principais factores que tornam a acção comunitária algo tão honesto.
Helena Marta, uma senhora que costuma passear com o neto, perto da Biblioteca Municipal, deu-nos o seu parecer: "É bom poder juntar uma vila inteira para assistir a um acontecimento. É fantástico haver alguém que se preocupe connosco. Uma pessoa que vem, com a casa e o filme às costas, merecia que fizessem um filme sobre ela. Talvez a malta jovem siga a ideia dos mais velhotes!"
Os lucros são mínimos, o contentamento é massivo. Das salas saem sorrisos e palavras de aprovação. Dos bastidores não saem actores, sai quem apresenta, a um dos pequenos mundos do planeta Terra, clássicos e dá provas de bem-estar a um público (quase) estreante.
"Gosto muito de poder ver os diferentes rostos, ouvir as diferentes vozes, saber os diversos pontos de vista. Dentro e fora do filme. A cara dos meus vizinhos, as expressões dos actores. As conversas dos personagens e a fofoca das senhoras do mercado. Os pontos de vista que o sábio protagonista mostra ao principiante e os comentários dos mais novos”, diz António Marques que, enquanto passava pelo local, decidiu comentar o que ouviu de uma reunião de grupo espontânea.
Os patrocínios são indispensáveis para garantir o bom funcionamento dos meios de difusão de imagem. O café local ou a Câmara Municipal podem sempre dar um pequeno contributo para o projeccionista profissionalmente amador.
Há 15 anos, a fita, levada às costas, era posta a trabalhar num simples projector direccionado a uma parede das maiores casas da vila. Hoje em dia, numa sala acolhedora e com um projector ligado directamente a um computador, a dinâmica é acrescida ao tempo do filme.
Durante anos surgiram novas tecnologias que evoluíram com uma visão pedagógica para um romance, thriller, uma comédia ou mesmo um filme de drama. Valter Carvalho, um dos simpáticos senhores de Montealegre comenta o assunto: "No meu tempo tínhamos a preocupação de cuidar da família. Os momentos em família eram passados a trabalhar ou às refeições. Graças a Deus que os nossos netos estão livres desses encargos e podem aproveitar o conhecimento e a prática do bom que o cinema lhes apresenta."
A mutação do cinema é matéria dos nossos dias. A história conta o cinema mudo e o falado, o preto e branco e a mistura de cores, a antiga tela e a pano imenso.
Actualmente, a tecnologia é algo confusa, um tanto desordenada. Este facto deve-se à ligação sinérgica entre as telecomunicações, informática, modos de produção de imagem e a sua distribuição.
Esta arte, a mais tecnológica de todas, torna-se especial por conseguir transpor o mundo da magia e o impossível para a realidade.
Existe uma vasta gama de públicos. A multiplicidade de filmes vai ao encontro de ideais antigos e novos aspectos que se pretendem cristalizar. Aqui se enquadram os idosos. À terceira idade estão direccionadas várias actividades, pedagógicas e lúdicas, que lhes permite aprendizagens e interacção.
O cinema e a vida contribuem para a criação de emoções, numa sala escura, junto de desconhecidos, onde o que atrai é o imaginário e a promessa de novas sensações.
*Directora da biblioteca em discurso directo:
A que público se dirige esta iniciativa?
O cinema é dirigido para todas as idades mas mais concretamente para os jovens que procuram o espaço.
Qual o impacto das tecnologias no público em geral?
As tecnologias têm quase um poder misterioso para os mais velhos. A receptividade é algo bastante positivo.
O que pode ser alterado na maneira de estar das pessoas?
Normalmente não há grandes alterações no comportamento a não ser a nível intelectual, pois ganham conhecimento do mundo e crescem em cultura.
Etiquetas: Cinema, Cinema comunitário, Sara Fidalgo
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