Concentrados
Em pleno segundo veto do Presidente da República à lei da pluralidade, reportamos um caso regional de concentração mediática.
Texto e imagem Tiago Carvalho
Os meios de Comunicação Social sofrem cada vez mais reestruturações a nível organizacional. A aquisição desses meios por outros, mais fortes ou em expansão no mercado, é algo inevitável e as mudanças na prática jornalística evidenciam-se.
São horas do jantar. Ao todo 30 secretárias, nesta redacção, mas hoje, apenas 17 jornalistas vagueiam entre elas. Atendem chamadas, fazem outras tantas, por vezes até mais. Consultam fontes de informação, páginas na internet, vêem televisão, ouvem rádio. Escrevem artigos. Paginam, editam, corrigem. Chega mais um fotógrafo. Novos dados são analisados. Dentro desta redacção nada pára. Cada passo é importante, e os que não são bem dados, são desaproveitados. Mas nem só de informação e de notícias vivem os jornalistas. Há mais coisas, lá fora, que os preocupa.
O novo estatuto do jornalista trouxe muitas divergências no meio comunicacional. Profissão tornada precária vê perder direitos, dizem. Os líderes mediáticos atingem um patamar elevado e o seu domínio nos grupos que comandam faz-se sentir. A concentração mediática torna-se numa predadora da carreira jornalística.
Que há estes conglomerados comunicacionais ninguém dúvida. Numa pesquisa feita por inquérito, 100% dos jornalistas[1] destacaram a existência de concentração mediática. Esta, predominantemente cruzada, provém da junção de empresas mediáticas com outras dentro da área da comunicação, apesar dos órgãos poderem ser distintos. A nível nacional são cinco os grupos que mais se destacam. A Cofina, que lidera o mercado com 25 órgãos mediáticos; seguida da Impresa, com 23; a Media Capital, com 20; a Impala, com 18 e a Controlinveste, com 13. Contudo, esta presença também se faz sentir em mass media mais pequenos e regionais.
Nem os pequenos escapam
Em Coimbra, são vários os órgãos que se evidenciam. Desde o "Diário as Beiras", passando pelo "Campeão da Província" ao "Diário de Coimbra", a informação está sempre presente nos conimbricenses.
O "Diário de Coimbra" tem vindo a demarcar-se, não só pela sua longevidade, mas também pelo contributo informativo que tem para com a cidade. Pertencente ao grupo “Adriano Lucas” é parceiro de outros regionais como o “Diário de Aveiro”, o “Diário de Leiria” e o “Diário de Viseu”.
Quanto ao impacto que a concentração mediática tem, o director adjunto do "Diário de Coimbra", João Luís Campos, afirma que esta é importante para a “subsistência de órgãos mais pequenos”, por outro lado torna “fundamental criar uma reestruturação das empresas que estão mal organizadas”.
Segundo João Luís Campos, a força mediática neste grupo é “exagerada” pois este detém jornais diários de grande calibre nacional. O que torna desnecessário a existência de tantos jornalistas a trabalhar para o mesmo grupo, principalmente fotojornalistas. “Não faz sentido”, conclui.
Em relação ao grupo Adriano Lucas, o director adjunto esclarece que há trocas de informação entre ambos e que não vê problemas em “haver notícias iguais” nos seus quatro jornais, pois como alcançam “regiões diferentes, dificilmente se cruzam”. Cada jornal tem editorias vocacionadas para as notícias das regiões demográficas respectivas, e é nas páginas das editorias “Nacional” e “Internacional” que esta repetição é mais saliente.
Nessas áreas do "Diário de Aveiro", 93,3% das notícias eram iguais ou com mudanças pouco significativas relativas às do "Diário de Coimbra", e no "Diário de Leiria" 88,5%. “Como estas páginas são feitas por jornalistas de cá ("Diário de Coimbra") e paginadas cá, os outros diários só têm benefícios, porque assim podem apostar mais no jornalista que vai ao terreno”, reforça.
Sofia Piçarra, jornalista neste diário, apesar de ser um pouco reticente perante tal situação, vê-a com “naturalidade, pois como o estatuto do jornalista o consente” é algo que se torna “previsível”.
A concentração dos media portugueses está para ficar e, enquanto isso, a carreira jornalística vai sendo reestruturada, condicionada e tornada mais precária pelos lideres mediáticos que regem a comunicação social.
[1] Dados recolhidos por inquérito, realizados a uma amostragem de 30 jornalistas.
Etiquetas: "Media", Concentrados, Tiago Carvalho
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