quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ter razão?


Figuras humanas

Ao aproximar-se o Dia Internacional para a Tolerância, “eis” quem tem “A razão” - um poema de Carlos Paião, editado em 1984.

Pintura Alexa

«Algures na tarde
Há um fumo que arde
No sangue de dois faladores.
Discutem, agitam,
E, com o que gritam,
Atraem mais espectadores.
Têm a raiva nos dentes
E fogo no olhar,
Atiram serpentes
De fúria, ao falar!
Perguntam à toa,
Respondem que não
E, mesmo que doa,
Hão-de ter
A Razão, a Razão!
Com frases alheias
Defendem ideias
Que ouviram alguém defender.
Arriscam a fé
E enganam até,
Se sentirem que podem vencer.
E não buscam Verdade,
Que é isso, afinal?
Viva a tempestade,
Mentir não faz mal!
Avançam nos gritos
(Talvez frustração)
E por ditos não ditos
Lá têm
Razão, a Razão, a Razão!
E uma criança sem tempo
Aproximou-se, atrevida...
E tem na frente o exemplo
Do que é ser gente crescida!
Afasta-te já,
Não demores por cá,
Tu não ouves, não olhas, não vês!
Tu és simples e justa
Ai eu sei quanto custa
Tentar aprender os porquês...
Tu és vida e bonança
Depois do furor,
És sol de esperança
Dalgum sonhador.
Sorris na beleza
Da tua ilusão,
Tu tens a pureza
De não
Ter Razão, ter Razão...
Eu invejo o sorriso
Que agora te vi,
Criança, eu preciso
Lembrar-me de ti!
Na vida tão escura
Tens luzes na mão:
O sonho, a Ternura,
O Amor,
A Razão, a Razão,
A Razão! ...»

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