quarta-feira, 23 de abril de 2008

Conversar é preciso



Monumento ao 25 de Abril


Perto da comemoração de mais um ano de democracia, esboçamos um contributo do jornalismo para aperfeiçoar o sistema de auto-governo e a sociedade que queremos, juntos, construir.

Texto Susana Borges fotografia Dina Cristo

Não podemos conceber um sem a outra: o jornalismo só é possível em democracia e a esta só se concretiza através da visibilidade que o jornalismo dá a actos de governo, a opiniões divergentes e à multiplicidade de experiências de vida que co-habitam neste mundo comum, como uma espécie de conversa pública que nos ajuda não só a perceber melhor o que nos rodeia, mas que também nos habilita a decidir em consciência.
Da concepção com que os primeiros pensadores liberais equacionaram a liberdade de imprensa, como instrumento de controlo dos cidadãos sobre os poderes tradicionais, até à situação actual, em que este “4º poder” parece antes servir como veículo de controlo social, mas que está em boa medida fora do nosso alcance, vai um mundo de distância.
Nessa separação, em que a maioria de nós assiste à conversa, mas da qual só muito raramente pode efectivamente participar, se cruzam as debilidades e os desafios que se apresentam ao jornalismo que temos e ao que podemos ter: como torná-lo mais democrático para que a democracia seja mais forte?

Aprofundar o debate

A complexidade do problema não augura soluções fáceis ou definitivas. De um ponto, estamos, contudo, certos: não é possível assumirmos uma maior responsabilidade sobre o nosso destino, se não for radicalmente alterada a forma como os assuntos que respeitam à vida de todos nós são tratados. Que não podem continuar a ser uma espécie de monopólio de uma minoria, que acede ao palco mediático, ficando a maioria de nós reduzidos a esta condição de espectadores, limitados a pouco mais do que assentir ou rejeitar os termos da conversa.
O caminho passa, pois, por uma maior abertura da conversa pública que tem no jornalismo o seu palco privilegiado: mais participantes, com iguais oportunidades de abrirem o debate, de definirem que assuntos são relevantes e de apresentarem as suas propostas sobre os temas em discussão.
O que nos remete necessariamente para uma radical transformação no modo de funcionamento do jornalismo, que terá de encontrar mecanismos alternativos para incorporar na agenda que faz pública, e assim comum, outras vozes, novos temas e outras formas de pensar sobre eles.
Claro que o caminho é mais fácil de conceptualizar do que concretizar. Sobretudo porque acordamos mais facilmente no diagnóstico da crise do que nas soluções a adoptar para a ultrapassar.
Sobre isso, teremos de continuar (democraticamente) a conversar. Melhorando mecanismos que são necessariamente imperfeitos, porque são fruto da vontade e do esforço contingente de mulheres e homens, mas que, por isso mesmo, vão mudando à medida em que se alteram as vontades e em que novas tentativas se conjugam. Na procura de uma maior participação sobre como pretendemos viver.

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